terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Feliz Navidad

Estamos na Oitava de Natal, então falar dele só agora não faz deste textículo um Benjamim Button, que já nasce velhinho. Quero falar com meus amigos, próximos e distantes, os antigos e os novos. 

Gostaria de dizer que não estou nem aí para vocês. Não me importa quantas pessoas me ligam ou me escrevem, não estou nem aí para quantos amigos eu tenho em redes sociais ou coisa parecida. Não coleciono álbum de figurinhas. 

Pessoas vem e vão. Algumas entram na sua vida para fazer uma ponta apenas, só uma figuração e fazem uma diferença enorme. Outras, passam uma vida inteira conosco e um belo dia a gente percebe que esteve o tempo todo ao lado de um completo estranho. Algumas nos dão imensa alegria quando vêm, outras, quando vão. 

Parece mesmo que viver é lidar o tempo todo com a separação. Não adianta se apegar, a realidade da vida é o desapego.

O que realmente me é caro neste momento é estar perto de todos vocês e  ao menos tentar retribuir todo o bem que a companhia de vocês faz à minha alma surrada. Com generosidade, sem moeda de troca. Descobri, um pouco velha, que isto é Espírito Natalino.

Mesmo para quem não é cristão, ou é só de nome, é muito bacana receber e enviar boas vibrações para as pessoas com quem a gente passou o ano todo. Isto sim é o que fica, isto sim é o que importa. Por essas e outras tenho vontade de matar o corno que inventou que Natal é tão somente comer feito glutões e ganhar presentes. Compra, compra, compra. Corre, corre, corre. Engorda, engorda, engorda. E faz dieta a partir de primeiro de janeiro.

 
Como bem disse o Estegossauro: "sejam hipócritas o ano todo e no Natal também! Até entendo e concordo com ele, mas havemos de convir que ele ainda não teve a felicidade de perceber a verdade encoberta por camadas e camadas de neve artificial.


Então meus amigos, Feliz Natal Tropical! Que o cheiro quente de dezembro esteja sempre com vocês.

Em todos os meses do ano.

Good vibrations!

Outros Natais Tropicais: 2009, 2008

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Eu já sabia!

Esta é da Vizinhança Agência de Notícias

 

Amy Winehouse tem ciúmes de cantora que vai abrir seus shows

 

                    
O motivo? Amy estaria com medo de ser ofuscada pelo sucesso da cantora norte-americana, que tem sido considerada pela imprensa musical como a maior revelação do ano (o jornal inglês "Guardian", da terra da Amy, considerou o " "The Archandroid" , álbum de Janelle, o melhor disco de 2010). A assessoria de imprensa do evento, no entanto, nega qualquer rusga entre as cantoras.

A fazedora de textículos já tinha cantado essa bola, hein? O que não me dá nenhum mérito ou ares de gênio da lâmpada, porque este barraco era a coisa mais certa e previsível que poderia acontecer. Se este caô convencer alguém, claro. 

E tenho dito: no, no, no!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Dias estranhos

Tenho vivido dias estranhos. À deriva, uma dor calada dentro do peito. Em outros tempos, eu jogaria garrafas no mar, mesmo que não adiantasse, mesmo que ninguém as encontrasse, eu gritaria contra esta solidão, este silêncio. Esta é a parte estranha da história. Eu nunca fui mansa o suficiente para ficar boiando ao léu, esperando por um milagre.

Quase sempre estou alegre ou triste, estressada ou eufórica, nunca neutra. E obviamente, esta neutralidade me mata de tédio, o que me fez questionar a noção de felicidade. Às vezes não estamos felizes ou infelizes, apenas estamos, boiando em alto-mar. Lembrei-me do filme do Jabor, A Suprema Felicidade. "Não dá pra ser feliz, no máximo dá pra ser alegre", diz o personagem do Marco Nanini (em entrevista, o diretor declarou que esta frase saiu da boca de Nelson Rodrigues: a cara dele, um tristonho inveterado).

Engraçado que eu quis escrever sobre este filme, quando assisti a ele, faz um mês, mais ou menos. Não sei se por preguiça, ou por falta de inspiração não o fiz. Na verdade, achei que me pegaria pelo nervo, mas como bem observou minha cara Gazela, faltou alguma coisa, não sei dizer o que. (Depois, li uma entrevista do Arnaldo Jabor, em que ele dizia que ele pensou nesse filme como uma espécie de auto-ajuda, para as pessoas encontrarem a felicidade dentro de si, ou questionarem se de fato há esta tal de Suprema Felicidade. Pensei: está explicado, ficou um pouco superficial. A arte não se explica, não cria propósitos em torno de si. Aliás, o melhor da arte - em todas as linguagens - é que é a única área do conhecimento humano que pode se dar ao luxo de não servir para absolutamente nada, caso queira. O resto é propaganda.)



Mesmo assim, é um filme cheio de imagens e diálogos poéticos sobre coisas que são ao mesmo tempo tão profundas e tão frugais. Ser feliz, amar sem medida, celebrar a vida - será que as pessoas à minha volta ainda se importam com isso? Estou numa idade em que amigos de infância, colegas de escola estão "dormindo de meia para virar burguês" - a adolescência já ficou para trás há algum tempo e a roda não pára de girar: a vida segue aquele roteiro pronto. "E aí, não vai casar? Ter filhos?" "E aí, já comprou seu apartamento, seu carro, sua casa no Guarujá?" Como se a vida fosse só isso. Às vezes me sinto deslocada com essas obrigações - que hoje sei que são puramente hipotéticas, possibilidades apenas. Eu me preocupo com carreira, trabalho, formar um patrimônio mínimo, mas se pensar só nisso, eu enlouqueço. Como disse minha amiga Caroline (Amorzona) uma vez: odeio ver poesia escorrendo pelo ralo. Aliás, na época em que ela disse isso, foi umas das épocas mais estranhamente felizes da minha vida: época de perdas definitivas, de luto, mas havia intensidade, a sensibilidade estava à flor da pele. Hoje, aparentemente estou bem melhor, mas este gosto de café morno me retorce por dentro.

Aí é que está: nem todo mundo tem a obrigação de ser como sou, romântica incorrigível que eternamente vê a vida como um espetáculo de vaudeville, kitsch, carregado nas tintas. Acho que a garota que vivia tudo e qualquer coisa em intensidade máxima está virando uma velha tola. Pensar nesta possibilidade me deixou um pouco triste, de ter que se adaptar aos novos tempos. Como fazer isso sem trair minha essência?

É melhor ser alegre que ser triste, disse o Poetinha, mas essa tristura me fez bem. Felicidade permanente é neurose. "Eu não tenho a obrigação moral de feliz", sempre bradou meu bufão. Esta tristurinha me lembrou o fato que não dá para ficar esperando tudo dos outros, colocar sua vida no saquinho, entregar e esperar que o mundo nos faça felizes, principalmente quando a gente se esconde dele, como eu estava fazendo. Uma hora eu pulo desse bote e saio nadando.

Toda este papo 'We are the world' me fez lembrar Beatles. Então fica de presente de Natal para minha parca seleta audiência e para todos que me ajudaram a chegar essa conclusão tão simples: All you need is love.




Love is the greatest thing that we have!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Summer Soul Festival 2011

Finalmente, Amy Winehouse fará shows no Brasil, em uma generosa turnê passando por quatro cidades - é, acho que é isso. Nem tão generosa, se formos pensar que a nossa Terra de Tupiniquins virou uma espécie de galinha dos ovos de ouro do mercado pop - aqui, o público é simpático e topa pagar caro até por Milli&Vanilli *  - é atração internacional, tamo dentro!
Bem que eu reconheci este topete...
Como sou fã, é claro que o show dessa adorável pinguça terá um sabor especial e que não vou perdê-lo por nada neste mundo. É claro também que ela virou uma sombra de si mesma, e ainda está se refazendo, mas eu tenho a sensação que estes shows da Amy por aqui serão como o show do Nirvana no Hollywood Rock - uma droga, mas mesmo assim, inesquecível.

Surpresas já estão acontecendo, em todo caso. Não conhecia as outras atrações que tocarão no Summer Festival, e caiu em meus olhos um clip da Janelle Monáe. Em poucas palavras, esta baixinha é fantástica, mermão. Algum guru escreveu em um comentário no Youtube, que Janelle é tudo que Lady Gaga não é e gostaria de ser. Apesar de gostar de LG, tenho que admitir que ela tem muito mais talento para publicidade que para a música, apesar de ser criativa.

...de algum lugar! Ghostbusters!
Intisgada com estes comentários, fui ouvir os álbuns da Janelle. Entendi o porquê. Som contemporâneo, mas que bebeu da fonte do melhor da música pop afro-americana. Produção e arranjos sofiscados, principalmente no mais recente, The Archandroid, com orquestras e samplers e temática teatral e futurista. Falar do timbre de voz, afinação e swing é chover no molhado. Que Beyoncé o quê.

And so it is, guys and girls. Aguardo ansiosamente a visita de Amy ao Brasil, torcendo que ela consiga sobreviver à caipirinha (de pinga, que é a legítima) e conferir de perto o show da irmã gêmea de topete do Egon. 

Para fechar, Janelle cantando a música preferida do Michael Jackson - Smile, tema do filme Tempos Modernos, do Chaplin. Dessa, nem eu sabia:



Piadinha tosca: Você se lembra do Milli&Vanilli?  Caso não se lembre, não perdeu nada.   


Essa cambalhota é para todos!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tropa de Elite - primeira temporada

ou
"Limpando o Rio para Copa e Olimpíada"

Algum gaiato escreveu no Facebook que nesta última semana estavam acontecendo as gravações do Tropa de Elite 3. Para variar, Vizinho foi mais longe: "Isso já virou uma série e tem material para mais de uma temporada!". Se Ó paí ó virou série, por que não Tropa de Elite?

O fato é que quando começaram a pipocar (literalmente!) as primeiras notícias a respeito dos ataques dos traficantes e da graaaaande operação da polícia, na hora me lembrei de uma das estratégias da manipulação midiática segundo Noam Chomsky, que não copiei no último textículo, mas agora vai:

"Criar problemas e depois oferecer soluções. Esse método também é denominado "problema-ração-solução". Cria-se um problema, uma "situação" previsa para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam sejam aceitas. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos."

Por isso, nem me dei o trabalho de acompanhar as notícias, só vi o Fantástico para confirmar o que o Chomsky diz. Discurso infantilizante e maniqueísta de um assunto tão sério, para o povo dizer: "É isso mesmo!" Tudo isto dito por uma Patrícia Poeta e um Zeca Camargo só mais expressivos que um travesseiro sem fronha.

O Brasil de Fato publicou uma entrevista com o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) - por nenhuma coincidência irônica foi "consultor" do José Padilha na produção do Tropa de Elite 2. Só alguns trechos:

Hoje temos um enfrentamento às favelas e não ao tráfico de armas. Não tem nenhuma ação no que diz respeito à entrada de armas, sobretudo na Baía de Guanabara e nas estradas. O enfrentamento ao tráfico de armas é frágil, ocorre mais no destino do que no caminho. E o destino é sempre o lugar mais pobre.

(...)



As UPPs representam um projeto de retomada militar de algumas áreas que interessam a um projeto de cidade. Isso não é para acabar com o tráfico, é para ter o controle militar de lugares que são estratégicos para a cidade olímpica que se pretende.



Para mim, isso é tudo. Chega de colírio alucinógeno por hoje.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As 10 estratégias de manipulação midiática por Noam Chomsky

Eles podem ser truculentos, mas não abrem mão de meios mais sutis de manipulação
Há muito tempo, ouvi essa: "Sempre achei mais fácil manipular as massas, do que somente uma pessoa." Frase de conteúdo fascista até o rabo, afinal saiu da boca de Mussolini. Pior é que o verme tinha razão. O que os nazi-fascistas fizeram no passado hoje é feito magistralmente pelo PIG, com muito mais requintes. Melhor conhecer os mecanismos e tentar blindar - pelo menos um pouco - seu cérebro contra tanto lixo midiático.

Hoje, só vou retransmitir a informação. Noam Chomsky, linguista, professor do MIT e ativista político estadunidense, velho conhecido da militância brasileira pelos seus artigos, escreveu "As 10 estratégias de manipulação midiática". O artigo inteiro está na Adital. Leia e tente identificar alguns destes aspectos no que você anda lendo e assistindo:

A estratégia da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais (citação do texto "Armas silenciosas para guerras tranquilas").

A estratégia da gradualidade. Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade. A maior parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adotar um tom infantilizante. Por quê? "Ae alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão da sugestionabilidade, então, provavelmente, ela terá uma resposta ou ração também desprovida de um sentido crítico (ver "Armas silenciosas para guerras tranquilas")".

Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de aceeso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos...

Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto. (O que retroalimenta a mídia de manchetes profícuas como a agressão aos três rapazes na Av Paulista há duas semanas atrás, por exemplo.)

A próxima merece letras garrafais, porque tem a ver com todo o calvário dos profissionais (realmente sérios) da Educação:

Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeja entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar. "

Sem mais, minha gente. Se o povo não fosse importante, não seria necessário manipulá-lo. Não precisa ser o Noam Chomsky para entender isso.

Créditos: Adital Agência de Notícias e Filmofilia (foto do brilhante Christoph Waltz na pele do Coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Princesa Moanna

Não preciso me curvar a ninguém,
Inventei minha própria realeza.
Não preciso de mesuras também
Minha loucura é toda feita de certeza.

Insurreta nata,
Quantas ditaduras tive que vencer?
Esquece: desajuste é meu aconchego
Às vezes, meu desassossego.

O que há de tão errado?
Mais comum que maria-sem-vergonha,
Nem sou tão diferente assim,

Exceto pelas gambiarras expostas em mim.
E teatro épico não agrada plateia de novela.
Foi contra estes olhos tortos que construí minha cidadela.

agosto de 2010

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Chanel 4Ever

Copiei o corte da Mayana ou...
Gente, meu cabelo está causando.  Posei para a revista Cabelos&Cosméticos,  em (mais um) passo a passo do corte de cabelo da Melina/Mayana Moura, um dos mais pedidos nos salões de cabelereiros por aí afora. O resultado ficou muito bom: o cabelereiro (ou seria hair stylist?) é fera e meu cabelo é naturalmente liso, escuro e pesado, o que cai bem  para este corte. Lógico que o meu tutorial é o mais legal!


...ela que copiou o meu?
De fato, o chanel me persegue desde a mais tenra idade, o que faz deste meu novo visual um legítimo auto-retrô. Logo eu,  que tinha veementemente abandonado a franja reta de curumim na passagem da infância para a adolescência.

Como nunca recebi tantos apelidos diferentes e engraçados por conta do meu cabelo, resolvi fazer uma colagem de referências - das glamourosas às caricatas - para homenagear este corte de cabelo eternamente moderno, prático e chique. Viva Coco Chanel!


Louise Brooks - atriz de cinema mudo
A inspiração para o cabelo da Mayana

 Playmobil
Muita chapinha e laquê de gesso

 Amelie Poulain  
Gosto dessa versão mais bagunçadinha


Velma Kelly
All that jazz! Adoro essa vedete assassina

 

Edna Moda
Gêmea perdida

Uma Thurman
Vale um twist com o Travolta!
 
Velma - ScoobyDoo
Gêmea Perdida (2)

E para terminar...


Zacarias
E essa franjinha repartida, hein, hein? Tudo!


...E é para todos esta cambalhota! Cabelos&Cosméticos esta semana nas bancas!

sábado, 30 de outubro de 2010

Curtinhas

Camões ou Quasímodo?
Sinto falta do OkComput3r. Sei, porém que o Vizinho tem motivos de sobra para ter dado uma parada com seus blogs. Hoje vi uma notícia que é a cara do blog em pausa da Vizinhança: Mulher mata o próprio filho enquanto jogava Farmville. Na ausência do OkComput3r para comentar este absurdo, TM tapa este buraco, mesmo que mal e porcamente: 

Pode parecer horrível o que vou dizer, mas o bizarro dessa história não está na mãe ter matado o filho e sim, o motivo (ou circunstância causadora, como quiser). Lamentável, mas isso é mais comum do que se imagina. Eu mesma acompanhei bem de perto uma investigação policial de um caso em que a mãe era a principal suspeita da morte do filho de três anos, e foi uma das experiências mais pavorosas da minha vida. É o mito de Medéia, mais antigo que o mundo. O feminino que nutre e gera vida também é capaz de matar. Mas por causa de Farmville, porra? Que graça tem ficar plantando alface e ordenhando vaca virtual? Vai trabalhar de verdade! Além disso: "O Farmville é um jogo perfeitamente simplista, ao ponto de qualquer criança o jogar. Não requer a mínima estratégia... mas este farrapo tinha dificuldades em se concentrar com o choro da criança e assim não conseguia jogar", diz um hipotético Rui. Sem mais, assino embaixo.

Nina Becker fez dois shows no Sesc Pompeia este mês. Até pensei em ir, mas me deu uma preguiça, como diria o Rafa. Não conheço profundamente a Orquestra Imperial e fala-se tanto do duplo álbum solo lançado por ela, que acabei ignorando um pouco. Joga-se tanto confete em pouca coisa, que às vezes eu sofro de um efeito contrário - quanto mais se fala, menos eu me interesso. O excelente Zuim Podcast publicou uma playlist da Nina Becker perto da semana em que aconteceria os shows, e estou a ouvindo só agora. Pensei que era um podcast dos trabalhos dela, mas na verdade, é uma colagem das suas influências, da fontes em que ela bebe. Puta caldeirão que vai de Waldick Soriano a Baden Powell, de Carmem Miranda a Doris Monteiro. Compartilho com Nina Becker uma sincera afeição pelas canções de dor-de-cotovelo mais descaradas, mais diretas, que não enfeitam o croquete para dizer o óbvio, sem sublimação. O que não as impede que tenham sofisticação, porém. E essa viagem  musical me fez lembrar um ilustre ex-colega de turma na facu, Ednaldo Freire: original é voltar às origens. Lembro também do Skylab, no texto mais curto e mais genial que ele fez para o Godard City: "olhem com desconfiança as músicas complexas. Atrás delas pode estar um gênio. Ou uma besta." Tô com ele e não abro. Então, este show da Nina ganhou o selo de Show Que Mais Me Arrependo De Não Ter Ido Na Vida. Que SWU o quê. 

E para terminar: este debate da Globo convence alguém? De tão descaradamente manipulado, Seu Francisco pergunta: "Será que eu me acho muito esperto ou o povo é que anda burro demais?" Uma drama Tostines para matar a pau esta semana pré-eleição-com-feriado. Como diria Bob Filho: este é meu pai!

É para todos esta tripla cambalhota! Bom feriado com eleição! Se der em você alguma vontade insana de votar no Serra, vá para a praia, pule sete ondas, ofereça presentes para Iemanjá, tome você mesmo um banho de mar e vote nulo!!!!

Notitas:

  • No exato momento em que terminei o parágrafo sobre a Nina Becker, o podcast acabou. Nada a ver, mas achei interessante.
  • Para quem não se lembra do Bibo Pai & Bobi Filho:

  • Bateu uma nostalgia também do comercial da Tostines:

domingo, 24 de outubro de 2010

Sobre bruxas, vampiros, bolinhas de papel e sapatadas

O meu primo escreveu no seu MSN: "Vamos aproveitar o Halloween e acabar com uma bruxa!". Eu não sou de discutir por divergências políticas, ainda mais com a nobre linhagem dos Teodoro Alves, mas o trocadilho é muito bom, então vou ter que retrucar - eu diria para gente aproveitar o Halloween e acabar com um vampiro.

Agora o meu ex-patrão é personagem pop. O episódio tosco da bolinha de papel virou um joguinho que me lembrou um do George W. Bush, em que você escolhia um pedaço de pau com um prego na ponta, uma toalha molhada ou um peixe ( um peixe!!) para surrar a cara dele. Bem catártico. Nessa época, nem pensaram no sapato. Aliás, quem acertou a bolinha na careca do Serra era quem devia ter jogado o sapato no Bush. Teria acertado bem no meio das fuças do infeliz. Mandou o candidato até para o hospital! Nem o capitão Mathias tem tanta mira.

Mas prefiro acertar os pingos nos is. Recebi um folheto virtual com vários paralelos entre os governos Lula e FHC baseado em fontes confiáveis, provando por A + B para quem ainda duvida que o modelo neo-liberal do PSDB de governar é desastroso para o Brasil, como é para São Paulo há pelo menos 16 anos.


Em política não existe nem heroi, nem milagre. O Brasil não está uma maravilha só por causa desses indicadores, mas está sim melhor do que era. Acho que é nisso que a gente deve focar. Então, aconselho a conferirem estes dados (foi o que eu fiz, apesar de não duvidar) e se você também prefere morar no Iraque pós-Bush do que ver o Serra eleito, faiz-favô: espalha este folheto!

sábado, 23 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


O coronel em seu lado humano e desarmado

Fui assistir Tropa de Elite 2 pensando: eu vou porque o Capitão Nascimento (Wagner Moura) é o cara - ops, agora é coronel. Logo no início do filme, percebe-se que nem tanto, mestre: o conflito da trama começa com uma cagada típica da polícia brasileira, não só da carioca: o dedinho que coça no gatilho na hora errada, vide casos como do sequestro da Eloá e do ônibus 174. A diferença é que nos casos reais morreram as vítimas, na ficção o Mathias (André Ramiro) acerta o bandido. Bom de pontaria, mas mesmo assim "puta dum mané, parceiro!" Simplesmente porque seu superior - o coronel - tinha mandado não atirar, ficar só de espreita. O que o zé-ruela fez? O total oposto, invadiu e atirou pra matar. Mesmo assim, o coronel dá cobertura para o amigo e toma a responsabilidade para ele, talvez porque no fundo era isso mesmo que ele queria fazer: mandar matar!

Esse tiro bem dado num traficante fudidaço em Bangu I muda a vida do Nascimento. "Os intelectuaizinhos de esquerda" e a imprensa - leia-se Diogo Fraga (Irandhir Santos), atual marido da ex-mulher do coronel - caem matando em cima do BOPE e por pouco Mathias e Nascimento não se fodem de verde e amarelo sendo expulsos da corporação. Mas a opinião pública pressiona e a Secretaria de Segurança Pública promove o coronel para o Setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Púlica e o Mathias se fode sozinho: é expulso do BOPE, voltando para um batalhão comum e o coronel não consegue livrar a cara do parceiro. Esse é o ponto de partida da trama.



José Padilha diz que não gosta de fazer "filme intelectual" e no caso do Tropa de Elite 2 ele acerta no ponto. É um puta filmaço - a pegada pop é tão forte que fiquei imaginando que o sangue que escorria da tela do cinema tinha gosto de groselha Milani. Impagável a cena dos policiais no "crematório" - a terra do presunto perdido - com um crânio incinerado na mão, citando sarcasticamente o famoso monólogo de Hamlet e o outro policial responde: "Ê, parceiro, que mal gosto ficar citando a Bíblia aqui!" "Ê, mas como você é burro, isso é coisa da novela!"




Tropa de Elite 2 é de fato uma pérola pop, da qual Tarantino se orgulharia. Duas horas e quarenta minutos que não se desgruda os olhos da tela. Esteticamente falando é perfeito, mas politicamente falando é um desastre. Como levantar a discussão de um tema tão sério - e complexo - sendo superficial? Sim, porque o raciocínio do coronel é absolutamente simplista, como se tudo fosse um western de mocinhos e bandidos. Na verdade o fim do filme marca a mudança de pensamento do nosso heroi controverso, ele percebe um pouco tarde que o buraco é mais embaixo. A impressão que se tem é que esta película não poupa ninguém - políticos, a polícia, a sociedade, a direita, a esquerda, a mídia - mas não se livra totalmente dos clichês, como por exemplo o dos direitos humanos e a esquerda - como se direitos humanos fosse coisa só para defender bandidos sanguinários e como se a esquerda tivesse sido sempre "paz e amor". No escritório do Fraga, o intelectual de esquerda e pacifista do filme, mostra ao fundo um cartaz do Marighela e em outro momento um cartaz com o logo do MST, movimento que defende a luta armada. Como é que vai ser guerrilheiro sem pegar em armas e matar, hein, parceiro? Sem contar que o filme ainda mostra a tortura policial como método de investigação. A única vantagem é que para a grande massa a discussão do filme mostra porque NUNCA vai haver legalização das drogas aqui, simplesmente porque o tráfico beneficia o "sistema", pagando iates e caviar para muita gente caishca grossa, como diria o coronel.


O filme de fato é muito bom, mas me fez mudar de ideia. Não acho mais que o coronel Nascimento seja o cara. O Wagner Moura sim é que o é. Apesar do personagem em si ser bastante fascinante, cheio de nuances e controversões, ele não teria metade do carisma que tem se não fosse a competência do ator que o interpreta.


Tropa de Elite 2 empolga, mas não dá nenhuma vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Dá vontade de fazer cinema.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cumpleaños

No ano em que nasci já existia TV a cores.
Hoje, isto não faz a menor diferença.
O que era techinicolor agora é high definition
Menos as minhas vistas, que se turvam quando estão cansadas.

O corpo não perdoa mais os abusos,
Não obstante estas olheiras de urso panda,
Delatoras de cada noite mal dormida que vivi.

Hoje, me diverte o antigo esforço em deixar a meninice para trás.
Já não sou mais garota que não parava quieta na cadeira da cabelereira e por isso estava sempre com a franja torta.

Para que tanto esforço em crescer?
De fato pouca coisa mudou, ou vai mudar.
Exceto a oração matinal, acompanhada pelo creme anti-idade:
Deus, não permita que eu vire um buldogue.
Mesmo assim, decidi que a idade me fará bem.

O único contratempo é esta luta inglória
Pela revogação da Lei da Gravidade.
Meus peitos que o digam.

Moderno é envelhecer.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Se não pode convencê-los, confunda-os


Parece ser esta a tática do PIG para tentar emplacar José Serra no segundo turno.

Não conseguindo convencer o povo pela sua figura, o ex-patrão joga óleo na pista. Chega a ser engraçada toda a sorte de pseudo-argumentos que andam espalhando por aí para tirar votos da candidata do governo. Recebo vários e-mails de meus amigos serristas, todos baseados em puro terrorismo.

1) Dilma Roussef seria lésbica - e daí?

2) Dilma é terrorista - este "argumento" só convence mesmo quem não conhece a história recente do nosso país. A luta armada ocorreu no Brasil como uma das tentativas de combater a ditadura militar e deu bastante trabalho para os milicos. Que tal conhecer as figuras de Marighela e Lamarca, por exemplo?

3) Dilma é a favor do aborto - este é para os setores religiosos e conservadores da sociedade. Como votar em uma ex-comunista que quer matar criancinhas? É perfeitamente possível ter uma religião e ser racional - a fé não precisa ser burra. Mas não é o que acontece com o setores ultraconservadores de várias religiões que pregam uma fé que além de burra, é burrificante. O Estado é laico e tem o dever de zelar pela vida de todas as pessoas, inclusive de quem faz um aborto. Este assunto deve ser entendido como um assunto de saúde pública pelos governos, não como um assunto religioso. Sou católica, não sei se faria um aborto, mas defendo que ele deve ser legalizado. Só se cria políticas públicas eficientes com dados consistentes sobre o assunto, a legalização seria um meio para isso. A Dilma poderia deixar os setores reacionários e fanáticos das igrejas rosnarem o quanto quisessem sobre isso, exceto pelo fato que aí está uma fatia considerável dos votos que podem dar a ela vitória ou derrota. A Adital está com vários artigos sobre este assunto.  E se fosse assim, também era para José Serra perder votos. Aqui Dilma lembra seu adversário que ele regulamentou o aborto no SUS quando foi Ministro da Saúde:



Há uma série de coisas que podem ser ditas contra o atual governo - se eu estivesse totalmente contente com ele, não teria votado no Plínio. No entanto, nenhuma destas verdades é dita pela oposição oficial, por um motivo muito simples: a oposição também rouba e leva vantagem. Serra desconversa quando é lembrado que seu vice seria o Arruda, por exemplo.

Logo, não sou dilmista, sou anti-Serra. Votar na Dilma para mim seria a menos pior das opções, porque ainda acho lamentável anular um voto, se lembrarmos que lutou-se anos a fio para que tivéssemos este direito. Mas gostaria de lembrar às pessoas que o governo FHC foi desastroso para o país, tanto que foi indiscutivelmente rechaçado por duas eleições seguidas.

Por que os governantes apreciem um povo calado, o povo fala! (Antígona)

Vamos ver o que as urnas vão dizer no dia 31.

sábado, 9 de outubro de 2010

Corpitcho bacana 2.0

Ainda não está totalmente bacana, é verdade, mas está infinitamente melhor do que era há menos de 6 meses atrás. Todos andam me perguntando o que eu fiz, já que a diferença é espantosa até pra mim: 12 kg a menos em 4 meses, sem remédios, dietas malucas ou malhação incessante. Então eu vou contar, e se servir para animar alguém que queira emagrecer - ou seja, quase todo mundo - já terei feito a minha boa ação do dia.

Foram mais de 10 anos de sobrepeso. Na época em que eu nadava, pesava 52kg e devorava um cachorro-quente a cada vez que saía do Baby Barioni. O ponteiro da balança não estava nem aí, nem se mexia.

Esta época também era anterior à minha vida de "jazz e bebida": sem noitadas, cigarro ou álcool. Parei de  nadar com 15 anos e começou minha vida junkie. Claro que engordei, só melhorou um pouquinho quando voltei a nadar. Mas parei de novo para estudar e fodeu!

Eu cheguei ao fundo do poço, quase 76 Kg - e eu sou um salva-vidas de aquário de 1,59m. Foi nessa que me matriculei na academia e somada à cirurgia de extração dois dentes do siso, eu emagreci uns 8 kg e estacionei.

Larguei, troquei de academia e nada. Claro, a alimentação estava exatamente igual à de antes, jamais faria efeito. Sem contar que não aprendi a gostar de academia nem com reza brava. É chato, odeio música que toca na academia, odeio roupa de academia e nem tem como olhar para homem bonito, porque o "tipo atlético" me dá agonia. Será que ninguém conta para os homens-coxinha que passam a vida inteira malhando só membros superiores e tórax que é HORRÍVEL aqueles braços enormes, se descendo o olhar a gente encontra um par de canelas de sabiá? É feio, desproporcional, deselegante. Regatinha mamãe-sou-forte também é péssimo, só ficava bem no Freddy Mercury. Resultado: minha incursão pelo mundo fitness foi um fracasso retumbante. Estava até engordando outra vez.

Mas a Betona salvou minha pátria. Ficou sabendo de um grupo de reeducação alimentar de uma paróquia próxima à nossa e me avisou. É um grupo pequeno e fechado, quase que somente as senhoras da igreja participam, com bons resultados. A Luciene, amiga da minha mãe, que me iniciou no grupo. Parece até maçonaria o negócio.

O grupo funciona de maneira bem similar ao Vigilantes do Peso. Semanalmente, o grupo se pesa, anota-se o resultado, recebe uma sugestão de cardápio e um incentivo  - ou puxão de orelha, dependendo da situação. Tudo isso até você chegar no seu objetivo, ninguém diz a você onde tem que chegar. A gente é quem decide e vai atrás. Algo incrivelmente simples e eficiente.

Obviamente, nada fácil também. No começo, é terrível comer metade - ou menos - do que se estava acostumada a comer, parece que o estômago vai passar para o outro lado, mas logo vem a outra refeição e é possível segurar a bronca. E assim foi: um quilinho ou um pouco menos, por semana, desde junho.

Faço agora um esforço para comer SEMPRE vegetais, frutas e legumes, o que nunca foi o meu forte. Em tese, nada é proibido. Ainda como pizza, doces e chocolates, mas na quantidade adequada. (Aliás, foi o que me atraiu para este grupo foi o fato de quem nenhum grupo alimentar é definitivamente cortado.) Ainda tenho umas pirações alimentares de vez em quando, mas aprendi a me controlar. Aliás, percalços fazem parte do caminho. Ana, a nossa grã-mestra, quando estava a um único quilo de seu objetivo, teve uma recaída que a fez recuperar todo o peso que tinha perdido. Lição número 1: excesso de peso não se perde, se elimina. Sumariamente.

Faz quase um mês que não apareço no grupo. Estou na fase da manutenção, depois de alcançar meu objetivo inicial. Só que não me dei por vitoriosa, até porque o emagrecimento me causou alguns probleminhas. O primeiro é que estou mais caída que a Dercy antes da primeira plástica, o que significa que vou ter que tomar vergonha na cara e voltar a fazer atividade física, uma que eu realmente goste. O segundo problema - mais prazeroso em resolver - é a necessidade de renovar meu guarda-roupa a toque de caixa, mas eu sou a Leide Keite ao contrário - tenho glamour, o que não tenho é grana. Mas já rezei para Nossa Senhora do Limite para meu cartão de crédito não estourar.

Estou feliz por tudo isso. Não só pela forma física, mas por ter percebido algo em que via de regra não acreditamos - a gente pode mais do que imagina. E olha que nem li auto-ajuda nestes últimos tempos.

Para quem se animou com este textículo magrinho, um conselho: é bom comprar uma balança, porque eu vou voltar no assunto. E força na peruca, a temporada de orgias alimentares de fim de ano está chegando!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mary and Max

Ou A Vida é um soco no estômago



A fofa Mary Daisy Dinkle


Esta pequena maravilha caiu nas minhas mãos no último domingo. O soco na boca do estômago foi tão forte que nem vou me alongar: digo apenas que este desenho desanimado foi uma das coisas mais lindas, poéticas e comoventes que vi em toda minha vida. Esqueça os clichês e boa sorte.



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Netinho agora, só o da Dilma


Chupa, Netinho!
Há mais coisas entre o eleitor e a urna que possa provar sua vã filosofia, Datafolha (ou Ibope, que seja). Dilma não levou de primeira. O golpe do PIG deu certo.

Se é para palpitar, acho que Serra não leva essa. O segundo turno foi orquestrado para que o candidato do PSDB não saísse totalmente desmoralizado deste pleito. Nem o Lula levou o primeiro turno nas duas eleições que ganhou. Seria a morte do tucano e sim, eles estão em extinção. O PSDB é totalmente quebrado por dentro.

Se o Datafalha não dá uma dentro, o Educação Política acertou no palpite Marina.  Ela bagunçou o coreto e agora, mais que Cléo Pires, é "a mulher mais desejada do Brasil", como vi algum gaiato comentar no Tuiter. O discursinho em cima do muro da candidata do PV é perfeito agora para ela e para o PIG, que hoje nela jogou um confetinho básico, em razão da "votação expressiva" que ela obteve. Uhum, sei.

O clima é totalmente pessimista, afinal eu vou aguentar mais quatro anos de PSDB como meu patrão. Ouvi no rádio logo de manhã Seu Alckmin falar. Quando ele é apertado pelo jornalista da Band a respeito do fracasso retumbante da educação paulista, em quem ele bota a culpa? No professor, claro. Só podia ser o Chaves mesmo. Ele disse algo mais ou menos como: "os alunos são reprovados apenas por faltas. Se ele vai à escola e não aprende, a culpa é de quem? Existe reforço para alunos que não aprendem. "

Ele se esqueceu de dizer, no entanto, que a escola não tem nenhuma garantia legal para fazer os alunos frequentarem o reforço. Conselho Tutelar? Conta outra, irmão. Desafio a me provarem que estou enganada, adoraria estar. Tanto que há pouco, o atual governo lançou a "incrível" ideia de pagar alunos para frequentar o reforço. Ideia que de tão ruim não recebeu apoio nem da Revista Nova Escola, notório aparelho do PIG para aplaudir toda porcaria que o PSDB fizer na educação por aqui, agora e sempre, amém.

Essa é a pior notícia para mim e para todos os educadores da Rede Estadual que não estão anestesiados pela ideia de ganhar um bônus de merda em abril próximo. Mas sabe que estas eleições tiveram algumas boas notícias?

Todos só conseguem ver que o Tiririca ganhou um milhão de votos, mas ao menos sua candidatura foi colocada em xeque, um pouco tarde, é fato. Em contrapartida, várias velhas raposas da política estão de fora como Genoino, Jereissati e Arthur Virgílio. A bancada do PFL (porque muda o nome, mas as moscas são as mesmas) DESPENCOU em relação aos pleitos anteriores. É só ver a composição do Congresso.

E o melhor de tudo: Netinho, só se for o da Dilma. Desacreditei quando vi o partido ao qual já fui filiada tentando colocar no Senado um "camarada" que andou por aí dando uns boxes na mulher. É como diz o Vizinho das Galáxias: "Para os homens, o Netinho não tem nenhum projeto, mas para mulher, ele tem uma porrada."

Vizinho matou a pau. Depois dessa, vou dormir, Forrest. Um beijo pro meu pai, pra minha mãe e pra você.


sábado, 2 de outubro de 2010

Buraco da Memória

Para o Rafa, apesar de ele não gostar de Beatles

Lá estava ela outra vez, cutucando o que restou do esmalte. “Longo o caminho para casa neste ônibus...” E colocou o Álbum Branco para rodar no celular.

Voltou a pensar nas unhas. Tinha passado a noite anterior esfregando os azulejos da cozinha e acabara com elas. Acabou também com os ombros, ressuscitando uma bursite que se acreditava extinta. A dor maior, porém, não era esta.

Estava matando lembranças depois de ele ter ido embora de vez. Os azulejos eram as mais notórias. Impossível de se meter tudo numa caixa e esquecer. Mais pichados que trem da Central do Brasil, estavam cheio de mensagens e desenhos dos amigos. O local de expressão artística da casa por excelência, onde todos fumavam, conversavam, cozinhavam, bebiam. O ateliê e a vernissage ao mesmo tempo.

Agora nem um, nem outro: branco parede de hospital. Branco da caixa de Omo inteira que se gastou para fazer o serviço da polícia do esquecimento.

Ponderou antes, pensou em tirar uma foto antes de apagar. Desistiu: uma foto porca de celular só para minimizar a culpa seria ridículo. "Dignidade já!” Ou deixa-se como está, ou apaga-se tudo. Algumas lembranças vão permanecer por algum tempo. Depois começarão a sumir, escorregando pelo Buraco da Memória, lentamente.

Foi dormir sem pensar em nada, tinha até se esquecido que no dia seguinte estaria sem o carro. Gostou da ideia. "Chacoalhar no ônibus é um exercício filosófico". Poderia ler, ouvir música no fone, cochilar. Fez tudo isso até perder-se nos seus pensamentos a respeito da noite passada. Apagar indícios do passado também o elimina? Memória é mesmo subversão?

Todas as perguntas cessaram quando começaram os primeiros acordes de Martha My Dear. Chorou só uma lágrima, daquelas que caem rápido. Não a surpreendeu o seu peso. Carregava os azulejos, as lembranças, o Álbum Branco, o ônibus, tudo.

O Amor virou impessoa... Silly girl.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

É tudo uma questão de ângulo

"... se nossa visão é feminina é porque somos mulheres, bolas!..."

Pensei que nunca mais usaria o marcador "cartas" deste cafundó eletrônico, mas o fato é que felizmente, vou. Depois da carta inentregável e ridícula que escrevi e a carta entregável possivelmente fake da Sophie Calle, eu deixo exposta à toda comunidade texticular uma que escrevi para a Bruna (Erro de Paralax), atendendo a um pedido que ela fez séculos atrás. Só agora consegui empreender a tarefa. Já que ela disse que eu DEVO publicar - ela disse deve, bem categórica - quem sou eu para negar? Taí:

De: Flávia Teodoro Alves
Para: Bruna
Data:  28 de setembro de 2010 21:35
Assunto: É tudo uma questão de ângulo - Até que enfim o texto saiu!

Bruna,

Feliz aniversário atrasado!

Há séculos você me fez uma pergunta bem difícil de se responder e não deveria ser tanto. Gastei tinta, papel e madrugadas tentando responder. Pura bobagem. "O que é ser mulher hoje?" não deveria ser um enigma, sou mulher hoje e desde que nasci, até onde me lembro. Primeiro achei o que o problema era o "hoje", depois o "ser" e finalmente, o MULHER. Muito se fala em universo feminino, há tantos clichês sobre, pouco se sabe de fato, talvez porque os clichês satisfazem a todos, homens e mulheres. Subo no salto, pinto as unhas e os lábios de vermelho e já sou mulher. Fácil, se fosse verdade.

Cresci numa casa cheia de mulheres, mas ninguém me contou o que era ser mulher. Quando percebi isso, fiquei indignada. Depois, percebi que ninguém poderia me contar aquilo que não sabia. Resultado: estou tateando no escuro desde então e só agora uma coisa ou outra parece mais clara. Já dá para perceber, minha querida, que em vez de respostas, estou te dando mais perguntas.

Pensei primeiro no símbolo máximo do feminino, à maneira bem freudiana: a mãe. A minha é uma figura fascinante e totalmente contraditória, dependente e general, dura e amorosa, tudo ao mesmo tempo. A única instrução que ela me deu com sobre papel feminino era com relação apenas à rodos e vassouras. "Que bagunça, menina, como você vai cuidar de uma casa assim?". "Quem disse que eu quero?", resposta da adolescente insolente que escreve agora com um pé na balzaquianice.

Hoje, sei que ela não faz por mal. Também não disseram a ela xongas nenhuma o quão longe ela poderia chegar, e como tantas outras de nós, ela passou de uma prisão à outra: primeiro a família, depois o casamento. Ela nos deu, sinceramente, o que tinha e sou grata por isso. Mas, hoje não, obrigada. Tentei imitar o modelo dela e das minhas irmãs sem pensar e levei uma rasteira, talvez porque ainda precisava primeiro descobrir quem eu era antes de assumir um modelo por pura imitação. Hoje percebo que a grande maioria das pessoas faz isso, e depois se sentem profundamente enganadas. Passam a vida inteira sem saber quem são, se são alguém de fato, fazem o que a sociedade manda ou que supõem que manda, e quando encaram a frustração, a quem vão culpar?


Não sou contra o casamento, sou a favor de que nós façamos o que realmente queremos. Se isso for casar-se, por que não? O que estou percebendo e isso é tão importante, é primeiro ser autônoma antes de qualquer escolha. E não somos criadas para isso, não é? Somos parte de uma geração já considerada liberal, em tese a geração das nossas mães já era emancipada e odiosamente tudo continua tão patriarcal! Olha só que engraçado, à mesma época - os míticos anos 1960 - em que não só sutiãs, mas pílulas e minissaias também estavam pegando fogo - faziam sucesso seriados como Jeannie é um Gênio e A Feiticeira, totalmente American Way Of Life, com donas de casa imaculadamente belas e loiras cuidando de seus maridos, em suas belas casas tão bem decoradas. Mais pequeno-burguês, impossível.

Já conversamos sobre isso no dia do ensaio, para mim a emancipação do feminino de fato não aconteceu, porque é tempo demais com as sociedades desprezando o feminino. Jean-Yves-Leloup, padre e psicólogo junguiano francês, diz que as aparições da Virgem Maria, como em Lourdes e Fátima, acontecem em épocas de profunda negação do feminino. Não só de desprezo à mulher em si, mas tudo que se refere à polaridade feminina no universo. E esse desprezo continua, desgraçadamente. Tantos crimes atentando com a vida da mulher, como o caso Eliza Samudio e Mercia Nakashima, mostram que para certos homens, o corpo da mulher ainda são propriedades e lhe é negado qualquer poder de escolha. Se isso fosse mentira, A Lei Maria da Penha não teria a menor razão de ser.

Tudo que estou compartihando com você me instiga desde muito tempo. Às vezes me pego pensando: não é fácil ser mulher. Quando me pergunto o porquê, não consigo entender de fato. Talvez porque o feminino é interno, recôndito, implícito. Da Lua, símbolo tão fortemente feminino, só conhecemos uma face. Às vezes penso que este desprezo, na verdade, é pavor pelo desconhecido.

Às vezes eu brinco com as pessoas: falo que se houver uma reencarnação minha, que ela seja homem. De vez em quando me canso de tanta menstruação, meu feminino é muito dilatado. Mas que minha próxima encarnação seja homem e gay. Ser um homem feminino, como na canção. Não afeta em nada o meu lado masculino.


Sabe que já me perguntaram se sou lésbica. Ao perguntar o porquê da pergunta, a resposta: ah, você é feminista. Que grande idiotice: para você assumir o seu feminino perante a sociedade, tem que ser feminista e ser feminista é ter raiva de homem? Se for meu caso, não tenho, não. Já tive, me sentia vítima dos garotos por quem me apaixonava. Mas tenho verdadeira fascinação pelo que se poderia chamar de universo masculino. Vivo penetrando em Clubes do Bolinha, falicamente. Felizmente, meu pai, nunca foi "pai de donzela" - aliás, ele sempre disse que todo pai de donzela moralista e metido a machão que ele conheceu pagou a língua, logo, ele nunca pegou no nosso pé. Meus amigos mais antigos são homens, sou a única garota da banda, você viu.

É tudo uma questão de gênero, e isto muda a todo tempo. Vejo as pessoas se apropriarem apenas de rótulos, não de suas polaridades femininas e masculinas. E todos têm as duas. Acho que deveriam tentar se entender.

Então não sei o que é ser mulher hoje, minha amiga. Só sei que gosto de ser. Para fechar, deixo com você um poema da Elisa Lucinda já publicado no TM antes, talvez elucide suas buscas! Boa Sorte!


Beijos,


Flávia.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Para não virar comida de porco

Fontes desinformantes da classe média brasileira
Minhas bolas voltam à esquerda, que beleza. A coisa mais entediante deste nosso tempo é que no geral, as pessoas - eu, inclusive - se esquivam de se posicionar sobre questões importantes. Parece que ninguém quer desmanchar a escova. Eu não era assim, fiquei assim. Mas agora acordei de novo e isto é o que importa. 

Como eu disse, é preci-necessário não fazer o que grande mídia quer que façamos, não pensar (ou achar que estamos pensando) do jeito que a mídia quer que pensemos. Mas como fazer isso vendo Jornal Nacional e lendo Folha todo dia?

É preciso buscar fontes alternativas e confiáveis de informação. Se tiver tempo e paciência é interessante cruzar as diferentes visões do mesmo assunto. Quem nunca fez isso, pode perceber quanta merda anda lendo. O Sedentário&Hiperativo já cantou essa bola.  

Depois da minha "grande" descoberta do Google Reader, estou entre resgatar antigas fontes e buscar novas. Então,  deixo aqui alguns links de jornais, blogs e agências de notícias que destoam deste raçãowhiskasblablablá neurótico da mídia brasileira.

Revista Caros Amigos - Publicação em circulação há mais de dez anos, tenho um precioso e pequeno acervo delas em casa. Incrível: não ficam datadas, no máximo, amareladas.

Jornal Brasil de Fato - Este curiosamente não leio muito, estive no lançamento regional de São Paulo, no Teatro Oficina. Desde 2003 em circulação.

Educação Política - Descoberta recente, e excelente. Bastante conteúdo, foi de onde eu tirei esse porquinho simpático aí em cima...

ADITAL - Agência de Informação Frei Tito para América Latina -Já conhecia, mas não acessava, assinei o Feed agora. Para quem não sabe quem foi Frei Tito, recomendável assistir ao filme Batismo de Sangue, direção de Helvécio Ratton, baseado em livro homônimo de Frei Betto.

Para começar, está de bom tamanho. Até porque ainda tenho que organizar todos estes links entre readers e feeds para voltar a lê-los religiosamente, agora e após o pampeiro das eleições. Só de não virar comida de PIG, já é grande o alívio.

"As criaturas de fora olhavam
de um porco para um homem,
de um homem para um porco.
Mas já era impossível distinguir
quem era homem, quem era porco."

(Revolução dos Bichos, George Orwell)


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Jogando na retranca

Texticular audiência,

Gostaria de usar meu meio de comunicação em massa para comentar as eleições. Um pouco tarde, mas é que o cenário político está deprimente de uma tal maneira que me calei, quase completamente. Logo agora, que é hora de se posicionar.

Assisti ao debate de ontem, foi o único até agora. De outros, vi apenas trechos. Estava envergonhada de tanta alienação - afinal antes mesmo de ter título de eleitor eu já era militante e agora tão desinformada! - depois que assisti ao debate da Record, a vergonha passou - vi que não perdi nada. Mesmo. Exceto pelo candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, todos os presentes só faziam jogar na retranca, repetindo as frases feitas ordentadas pelos marqueteiros, e quando eram confrontados mais diretamente, respondiam qualquer frase desconexa, mas sempre pronta. Parecia até jogo da última Copa.

Marina disse que Dilma e Serra são muito parecidos. A democracia burguesa, na verdade, deixa a todos eles muito parecidos, inclusive a própria Marina. Eles não só desviavam do confronto direto quando eram questionados, mas como também não encostaram de verdade seus adversários na parede. Exceto o Plínio, outra vez.

É claro que não quero que debate eleitoral vire Programa do Ratinho, em sua época de mais áurea baixaria. Mas é que eram nos debates o momento de cair as máscaras dos candidatos, principalmente quando eram questionados pelos seus opositores. As emissoras tinham um trabalho danado na edição, na hora de manipular a coisa toda. Agora o que a gente tem é um horário eleitoral ao vivo, com todos os candidatos na mesma sala, treinados para exibir o mais puro sangue de barata. E a mídia sem se dar ao trabalho de manipular o que já vem de fábrica, enlatado.

Antes do debate já tinha a minha escolha, pelo menos para presidente, consolidada. Conheci o Plínio de Arruda Sampaio ainda como uma das figuras fundadoras e mais respeitáveis de um partido que se perdeu na sua própria trajetória, chamado PT. Na Igreja, no MIRE e no MST ouvi suas palavras atentamente e várias vezes e posso dizer seu discurso continua coerente. A troca de partido se deu depois de muitas e contundentes tentativas de recobrar a trajetória de sua legenda anterior.

A minha opção pelo candidato Plínio não se refere apenas à sua coerência, mas também à minha própria. Minha militância política foi curta, mas verdadeira, ainda tenho compromisso com o que eu acredito. E posso dizer que votar neste ou noutro candidato agora não é solução mágica para o país. Mas quem tem um mínimo de consciência política e não se conforma com este jogo de compadres, sabe que agora é hora de bagunçar o coreto, jogar óleo na pista. Não vamos seguir o script da grande mídia, que elege e derruba quem ela bem quer.

"Eu me organizando posso desorganizar, eu desorganizando posso me organizar."

E viva o Chico Ciência!


domingo, 12 de setembro de 2010

Solidão 2.0

Solidão

Estou feliz, de uma maneira bem diferente. Primeiro porque descobri que o engarrafamento que peguei no meio do feriado que me fez perder a peça que assistiria em Santos foi providencial. O tempo estava frio, chuvoso, um tanto melancólico, e eu, com a sensação de que não tinha mais muita coisa a dizer e de tanto ler Morte e Vida Severina, quase cheguei a crer que era hora de pular fora da vida. Hoje o tempo está uma delícia, a estrada livre, cheguei aqui numa boa e estou texticulando à beira-mar. Parece que eu vivo de segundas chances.

A única coisa que estraga um pouco é que estou só aqui e o engraçado disso é que escolhi esta solidão. Não quis pedir licença para fazer o que me deu vontade e a obrigação de estar acompanhada me parecia pedir esta licença. Então, mas que nada, sai da minha frente que eu quero passar.

Acho que nunca fui livre de fato. A vida do ser humano é uma eterna prisão e ela tem varios nomes ao longo da vida: sociedade, escola, família, casamento. Nunca me rebelei contra elas, até aceitei as algemas de bom grado. Acontece que em algum ponto da minha vida este projeto se perdeu e como cachorro que caiu da mudança, me vi nessa busca pela liberdade mais verdadeira que o ser humano pode experimentar. Patético é não saber o que fazer com ela. Eu não sabia. Resolvi fazer nada ou talvez um textículo, com uma breve parada para ver o pôr-do-sol se finar de vez.

Eta vida besta, meu Deus!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Find Gaga

É, minha gente, acho que a autora de Bad Romance anda mentindo a idade. Parece que ela fez uma pontinha no último longa do Monty Python, The Meaning of Life, em 1983:



Fishy, Fishy, Fishy!

domingo, 15 de agosto de 2010

Urbana Legio Omnia Vincit

Dedicado à minha irmã Renata

1980 e alguma coisa, com 5 ou 6 anos, uma música tocava na rádio e frases soltas ficavam ecoando, dançando na minha mente. Falava de pais, filhos, de amar sem amanhã. Não consigo precisar quanto tempo isso me consumiu, mas eu já estava impressionada com a letra e nem sabia disso.

Anos depois, a professora de português da 8ª série leva logo esta música para a gente analisar! Professora Miyoko, gente boníssima, me emprestou o CD, a essa altura eu já era fã da banda. No ônibus, lendo o encarte, um garoto mais ou menos da mesma idade me aborda: "Ei, você é fã de Legião?"

"Fã? Não. Doente. D-o-e-n-t-e!"

Ficamos amigos: ele tinha banda, eu escrevia. Dois roqueirinhos deslocados em salas lotadas de gente besta e insensível, cada um na sua escola, eu estudando no Derville, ele no Cedom. A gente passou a pegar o mesmo ônibus, depois, perdemos contato e nos reencontramos um ano depois, eu acho. Rolou uma paixonite aguda adolescente, lógico. Meio torta, enviesada. Como conseguir gostar de dois ao mesmo tempo? "Flávia, tô com medo. Longe de você, tenho medo de mim mesmo." Respondi: "Sete Cidades!" Foi o único beijo. "Se eu ao menos conseguisse me salvar, Lu... Não tenho como ser sua heroína..." Depois ele sumiu, como se tivesse sido somente uma viagem minha.

Meu Deus, são tantas lembranças!  Essa banda passou feito um rolo compressor pela minha vida, e sei que não sou a única. O dia em que o Renato morreu eu tenho inteiro na minha mente. Dois dias antes do meu aniversário de 14 anos, de manhã, eu tinha ido ao shopping escolher meu presente de aniversário, um tênis - em tempos de dureza extrema, usei até o bicho se desintegrar. Chegamos em casa, ouvi a notícia no rádio. "O quê??????" (Lembrem-se, ninguém sabia que ele estava doente.) Fui para escola de cara amarrada, o Gil, meu amigo, com a mesma cara. "Com tanta porcaria, morrer logo ele! Que merda!" Peguei o ônibus, mais que rápido para dar tempo de ver o Jornal Nacional. Só estava a Cris em casa, ela nem tinha se casado. No dia do meu aniversário, todo mundo aqui, até o padre legiãomaníaco que tinha acabado de chegar na paróquia. Todo mundo meio passado, cantamos Perfeição. Estranho, os bons morrem antes.

Durante a minha fase de perda de identidade, parei de ouvir Legião, sem deixar de gostar, claro. Voltei a ouvir em 2007, aninho desgraçado, cheio de perdas. E fui recuperar logo essa parte da minha vida! Comprei o primeiro álbum da Legião, o meu preferido, 10 conto nas Americanas. Sorvi no volume máximo, como sempre Dado, Bonfá e Renato recomendaram. O especial de TV Por Toda a Minha Vida do Renato também foi um marco na minha história, porque tomei consciência dos sonhos parados no meio do caminho, de que precisava voltar à minha essência, a ser aquilo que eu sempre gostei de ser. Para que ser certinha, se gosto da perturbação? Ver a Aninha, Chiquinho, Tio Nico e Seu Fernando partindo cedo demais aumentou meu desepero. Não temos tempo a perder. Se parar pra pensar, na verdade, não há. Ruuuuuuuuuuuuuuun, Forrest, ruuuuuuuuuuuuun! Não cheguei, mas tô correndo.



Semana passada, Gazela chamou a gente para assistir ao monólogo Renato Russo, em cartaz desde 2006. Como gostei da atuação do Bruce Gomslevsky no especial de TV - ele não interpreta, praticamente recebe a entidade, além do que ele naturalmente se parece muito com o Renato -  fui achando que era tiro certeiro, como bala que já cheira a sangue. De fato, foi, mas ainda havia surpresas. As soluções cênicas para resumir em duas horas uma vida de 36 anos controversa, cheia de poesia, conflitos e descobertas foram brilhantes e a produção é irretocável.

Não é só nostalgia. Legião Urbana e Renato Russo não fazem parte do meu passado. Fazem parte do meu DNA, até o fundo do osso. Ver a peça só fez aumentar essa certeza.

I´ve got you under my skin, Renato. Always, always, always. Forever.

Urbana Legio Omnia Vincit!


Ps: Renata, essa é pra você, minha irmã: UrbanaLegio...GiovannaBaby????? Kkkkkkkkkkk...