domingo, 13 de julho de 2008

Mensagens na garrafa

Este Blog de Vida Dupla Mais sem Audiência do Ciberspaço, como sabem, veio depois dos diários de papel, mas não os sucedeu: é como se fosse meu marido e o meu diário, o amante, que pego na calada da noite em busca de proteção e abrigo.

Recomecei com os diários no fim de 2002, na época para registrar a minha meditação. Só que eu sou samsara demais para desvendar a vida sentada em flor-de-lótus. Cá estou eu na galhofa outra vez.

Aos poucos a vida comum foi entrando nesses registros, mas é meu mundo interno que impera lá, como nos diários de Frida Kahlo. Acho que isso é resqúício da meditação, da contemplação. É o meu modo de entender a vida.

Todas as cartas de amor são ridículas, todas as mulheres são putas e todos os díários são patéticos. O meu não deixaria de ser, lindamente patético. É muito engraçado ler aquela observação tão definitiva sobre uma coisa completamente fugaz. Com algum treino você não se envergonha disso.

Ultimamente, porém, estes diários da segunda fase assumiram a forma de um diário de uma adolescente, igual ao que eu tinha quando tinha 12 anos. Daqueles que os meninos roubam para ler e tripudiar da dona depois, munidos do segredo da pobrezinha. Daqueles que se fala do seu amor secreto (o meu agora é declaradamente escancarado). Daqueles em que não se fala outra coisa a não ser do menino que se gosta. O menino que eu gosto não me dá a menor bola, sabe? (Mas não tô nem aí, isso é problema dele).

Escrevendo eu me descubro e não enlouqueço, e muito cedo nesses diários que tenho feito desde os vinte anos (blues), eu vi que o que um diário mais quer é ser revelado. Ninguém escreve nada para não ser lido. O que explica o náufrago que joga no mar uma garrafa com um bilhete para qualquer um que encontrá-la? Save our souls. (Alimento essa fantasia quase sexual: que o menino que eu gosto roubasse todos meus diários e os lesse, um por um, às escondidas. Ele sabe disso.)

Ando jogando tantas garrafas no mar, que se o Greenpeace me pega, eu estou frita. Estou escrevendo demais, como se fosse morrer amanhã. E de todos os jeitos possíveis: aqui, no diário, compondo canções, cartas inentregáveis, e-mails insuportavelmente longos. Só deixei de escrever poesia, porque nem meu muso me lê! Não tem a menor graça.

Inentregáveis merecem um capítulo à parte. Cometi essa insanidade de entregar uma inentregável ao menino que gosto. E virou inlegível. O bruto não se deu o trabalho de ler, porque para ele são palavras apenas, palavras pequenas... Palavras ao vento.

Diz o ditado que palavras o vento leva, principalmente sobre essas de promessas não cumpridas, esses amores que acabam na base do 'tudo certo e nada resolvido'. Por mim, o vento pode levar minhas palavras, como aquela peninha do Forrest Gump. Alguém vai encontrar e ler as mensagens na garrafa.

O menino que eu gosto não sabe da missa a metade. Não sabe que antes de ser apaixonada por ele, sou apaixonada pela vida, que está me tratando como um cão sem dono tanto quanto ele está. E que, tanto quanto ele, me faz a mulher mais feliz do mundo, mesmo sem tê-lo agora. Mas de uma coisa ele sabe: o menino que eu gosto não é O Amor da Minha Vida. O Amor da Minha Vida é o Drummond! Só ele é capaz de me entender agora. "Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo."

Textículo jorrado em 13/07/2008

3 comentários:

Luiz disse...

Vizinha preferida...putz...estou sem palavras. Tão bonitinho o jeito que você escreve "o menino que eu gosto" putz..sem palavras mesmo. Esse texticulo foi bem pessoal e já era ansiosamente aguardado por este blogueiro fracassado.
Falando em fracasso, foi inaugurado mais um superfracasso da blogosfera. www.lfcorreia.blogspot.com

Bezitos

Frida f5 disse...

Ansiosamente esperado? Hummmm! Que bom que tenho um companheiro de blogosfera fracassada, de banda, de muro da vergonha...Se não fosse vocês, o menino que eu gosto me veria desmoronar! Sabe o que é? O menino que eu gosto é um grande boboca, mas isso é problema dele. Botei a minha saia rodada e fui dançar! Beijocas, meu querido!

¡B! disse...

Ah! O amor...rs...e já dizia o amado Drummond: "...sofrer é opcional!"...bj!