segunda-feira, 28 de junho de 2010

Wanna be startin´somethin´

É curioso ver algo que não aconteceu. É e não é ao mesmo tempo. Assistir ao This Is It ontem na televisão me causou esta impressão.

Michael Jackson's This Is It in HD



Trailer Park Movies Vídeo do MySpace


Um relato sem palavras de uma produção de grande porte e nível técnico é um prato cheio para qualquer apaixonado por música. Com ensaios, audições, marcações de palco, montagem de cenários, luzes e figurinos à exposição, o prato torna-se ainda mais saboroso. É o que realmente me encanta na arte: o caminho, o processo criativo. Justamente por ser algo que já é sem ser.

Assistir a este making-off que acabou se tornando a própria obra me deixou ainda mais inquieta, como se eu naturalmente já não fosse. Como se eu já não estivesse pensando há algum tempo em sonhos, projetos, planos ou coisas que poderiam ter acontecido, mas não aconteceram, como essa não-turnê.

De todas essas coisas, as que mais me inquietam são as que mostram uma possibilidade de acontecer. As que poderiam ter acontecido e não aconteceram, felizmente, perderam a importância. (Até mesmo This is it: não fez diferença não ter sido concluída, porque a morte do ídolo fez justiça à sua obra, como fez a outros artistas. Ele vale mais agora morto, do que decadente e endividado, tentando se reerguer, como estava vivo.)

O que me causa um buraco no estômago são as coisas boas que posso e quero fazer, que ficaram para trás com a correria dos últimos anos. Mesmo que ainda seja jovem, a sensação é de estar aos 45 do segundo tempo sem direito à prorrogação. Não é pouca a dificuldade de parar com uma vida toda de elucubração e partir para a ação, ou melhor, para o ataque. A hora é mesmo agora. Tanto que nem esperei o fim do documentário para escrever este textículo.

Wanna be startin´something!





quinta-feira, 3 de junho de 2010

Billy Elliot - o filme

Vida de blogueira e operária ao mesmo tempo é postar no feriado. Fazer o quê, estava faltando vontade também, mesmo tendo assunto. É o tédio corroendo as paredes do meu quarto.

Há um tempo atrás caiu na minhas mãos um filme inglês de 2000, que é uma pequena maravilha: Billy Elliot, de Stephen Daldry. É tão apaixonante que fiquei me perguntando onde eu estava que não tinha visto aquele filme antes.

O personagem-título descobre no susto um talento nato para dançar e aposta nesta que era sua única ficha em um momento tenso para ele, sua família, sua cidade, até seu país. Obviamente, enfrenta preconceito e resistência por ser menino e ter se interessado por balé em uma cidade em que todo "macho" que se prezasse lutava boxe no clube da cidade. Mas não é só isso. A trilha sonora é impecável, recheada de T-Rex, The Jam, Clash e Tchaikóvsky; os números de dança são cheios de vigor, mais do que de técnica; as atuações são primorosas e como se isso bastasse, o filme tem uma história e tanto que comove sem apelar para clichês.

Acho que o único mesmo é o preconceito que meninos bailarinos devem enfrentar até hoje, o que me motivou a pegar esse filme que passa despercebido na caixa de DVD´s que a secretaria da Educação mandou para as escolas da rede estadual. Quando tenho que falar de dança em aula, o que mais ouço são comentários, geralmente dos garotos, insinuando que um ou outro é gay. Como cansei de ser mamute e dar homéricas broncas em aula, o filme foi uma alternativa para mostrar que uma coisa não está necessariamente ligada a outra, afinal Billy Elliot estava muito mais interessado em acertar um arabesco do que usar tutu. De fato, passei esse filme em sala de aula, e pelas discussões e comentários, parece que funcionou, pelo menos para começar um trabalho. Mas essa é uma questão menor no filme, que coloca no seu devido lugar o significado da palavra drama (em grego, drao): "eu faço, eu luto". Foi o que praticamente todos personagens do filme fizeram: o pai e o irmão, na greve dos mineradores ingleses, Billy, ralando para acertar um giro desgraçado, a professora, lutando contra a própria frustração, no melhor estilo, "alguém pode se salvar dessa droga toda". Partiram todos para a ação.

Resumindo: fui preparar uma aula, e acabei ganhando um filme que entrou para meu Relicário de Lembranças Adoradas.

Para fechar, a fodástica Angry Dance, ao som de Town Called Malice: