segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Felicidade Guerreira

Bozoca defende uma tese que em dezembro existe um cheiro quente pairando no ar que, se você procurar por ele em 30 de novembro não tem e em 1º de janeiro, ele já passou.

Confesso, não gosto de fim de ano. Trauma da faculdade, porque sempre entregava a porcaria da pasta de estágios no fio da navalha, prestes a pegar DP por causa de um monte de relatórios que logo depois iria virar comida de Baratinha, literalmente e não literalmente. Gente que estudou ou estuda na Famosp-pi sabe bem do que estou falando. E como professor tem mais é que se f*, ano passado era a Via-Sacra de entrega de diários nas três mil escolas em que eu trabalhei para compor a jornada de professor contratado do Estado. Sem contar os três mil amigo-secretos em que eu cheguei a ouvir "Como dizia o poeta Manuel Bandeira... 'Tudo vale a pena se a alma não é pequena'!"¹ dito por uma professora de português em altíssimo estado etílico. Sorte de todos os presentes que não perceberam a gafe, provavelmente por acompanhá-la no alto grau etílico da festa. Azar o meu, que não tinha bebido o suficiente.

Sem contar o quanto que se engorda nesta época do ano, recorde em orgias alimentares.

Como 2008 é o Ano do Bozo, este ano é diferente. De uma hora pra outra, meu bode decorrente de todas as bozices que aconteceram este ano, foi embora. De semi-cegueira a reprise de filme sem-graça da minha vida, passando por um assalto, um mega arranca-rabo com baixista e amigo de muitos anos e um telefone jogado pela janela por causa de empresas que não prestam um serviço decente, eu quase enlouqueci. Gente, foi por pouco, muito pouco. Não sei como eu não me joguei pela janela.

Na verdade, quando Bozoca (a verdadeira, meninas²) falou desse cheiro quente, não consegui acompanhá-la na brisa, mas agora sei exatamente do que ela está falando. É ele que me faz sentir agora a melhor das esperanças: aquela sem motivo, que surge do nada e não nos decepciona, porque não é expectativa vazia colocada em coisas externas.

Como não sei e não quero saber qual é o motivo dessa mudança de humor - quero mais é curtir, resolvi achar um bode expiatório, à mesma maneira de Volver³: a culpa é desse cheiro quente que só dezembro é capaz de ter, que me faz rir sem motivo, dançar sem parar e principalmente, achar que só de virar a folhinha do calendário, minha vida vai mudar radicalmente e pra melhor. Que venha 2009!

"N
otas inútieis"
1 - Quem escreveu isso foi Fernando Pessoa, que conste nos autos.
2 - À maneira de Silvio Santos, um esclarecimento para minhas colegas de trabalho, que me chamam de Bozo: originalmente não sou o Bozo de Calça Amarela, no trio das losers eu era a Macabéa. Alilás, vale um Feliz Aniversário pra Renata-que-não-é-a-minha-irmã, que completou primaveras dia 13, que recomendou os Textículos no seu perfil do Orkut e tudo.
3 - Neste filme do Almodovar, dizia-se que na cidade do interior de onde vinham as personagens, as mulheres enloqueciam por conta dos ventos que sopravam na região.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Os librianos vão dominar o mundo

Muuuuuuuuuuuuuuuuita saudade deste cafundó eletrônico e da parca audiência que me acompanha! Meu Inferno Astral começou com a banda larga do PC de casa, que miraculosamente (?!) parou de funcionar. Como a Telefonica NÃO se dignou a dar uma explicação ou consertar o negócio, isto é, se estava realmente com defeito, fui obrigada a cancelar esta droga de Speedy. E tenho dito. Vale a observação de que a Telefonica dignou-se a mandar a fatura no fim do mês de um serviço que eu NÃO usei.

Por mais que o Inferno Astral (isto existe mesmo?) tenha sido de matar este ano, gosto do mês de Outubro. Cheira a festa.

Eu faço aniversário no dia 13, espremido entre o dia das Crianças e dos Professores, datas que fazem todo o sentido pra esta docente maluca que vos fala. A gente comemora o dia das Crianças pra dar uma trégua na broncaiada do ano todo e eles (os que lembram) nos parabenizam e (alguns mais fofos) nos dão um presentinho, porque nossas pestinhas e aborrescentes nos enlouquecem e eles sabem disso. Mas no final todo mundo fica feliz mesmo é porque não tem aula no dia 15, rsrsrs.

Coleciono aniversariantes do mês de outubro e a cada ano, a lista aumenta. É incrível como todo mundo resolve nascer em outubro! Dizem que é por conta do carnaval (se você não entendeu, conta nove meses antes). Verão, carnaval, calor, aquela coisa toda¹... Enfim, pula essa parte, não precisa desenhar. E viva Dioniso! Por causa dele, os librianos (e alguns escorpianos do primeiro decanato) vão dominar o mundo.

Segundo os astrólogos, os verdadeiros e os que só leêm o horóscopo de jornal e acham que sabem alguma coisa, os librianos tem um grande senso estético e de justiça, por isso quase sempre vão parar em profissões ligadas às artes e à beleza, ou no trato com as pessoas, como advogados, assistentes sociais, ou ainda, educadores. Eu quis fazer jus a essa fama, afinal sou arte-educadora. Na mosca.

Libriano também tem fama de indeciso² porque pondera demais, é diplomático.
Se eu for a cobaia da experiência, digamos que eu demoro a me decidir, mas como eu sou osso duro de roer, se eu falei, tá falido (eca, trocadilho besta). Mas é isso aí. Não sou teimosa, sou categórica. E ai de quem teimar comigo.

Outubro também está cheio de datas comemorativas. Além das crianças e dos professores, os médicos, os aviadores, funcionário público, os fisioterapeutas (estes no dia 13, meu aniver), os dentistas e até o Pão recebem homenagens no mês de outubro. Na tradição católica, temos Nossa Senhora Aparecida, padroeira da Paróquia do meu bairro e por um acaso, do Brasil também, Santa Teresa D´Ávila (dia 15) e São Francisco de Assis (04/10). Outubro tem outras datas ótimas, como do Dia do Cão, do Poeta, do Nordestino e do Compositor. Adorei! Quem quiser saber mais, é só olhar o link que eu cacei no Oráculo³ agora.

Em pleno dia do Controlador Aéreo e do Arquivista, mato a saudade de texticular e da minha parca e seleta audiência. Assim, eu vou tentando superar as perdas, espantar os bichos, descer pro Play e ir brincar, mesmo que tudo caminhe ao contrário. É para mim mesma esta cambalhota.

Notas 'inútieis' :
1 - Bordão vindo de Marte. Este foi comprar cigarros por lá e até agora não voltou.


2 -Piada que explica a típica indecisão libriana:
Quantos librianos são necessários para trocar uma lâmpada? Bom, na realidade eu não sei. Acho que depende de quando a lâmpada foi queimada. Talvez só um, se for uma lâmpada comum, mas talvez dois se a pessoa não souber onde encontrar a lâmpada, ou...


3- Ah! No link que eu achei não tem o Dia do Saci (31/10), não por coincidência, no mesmo dia do Halloween.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sujeito Jóia

Ultimamente tenho me voltado à cena nordestina da Música Brasileira. Nos ensaios da nossa banda praticamente inbatizável, temos falado muito do Mangue Beat, Nação Zumbi, Chico Science, essa coisa toda. Só que nessa semana que passou, eu descobri o blog do sujeito mais jóia saído de Fortaleza*, que me mata de rir toda vez que dá o ar de sua graça: Falcão.

Tudo tem história, então vamos lá. Primeiro eu me lembro desse sujeito cantando "I´m not dog no", versão em inglês macarrônico de "Eu Não Sou Cachorro Não", de Waldick Soriano, mestre do brega brasileiro, que morreu nesses dias (por causa disso achei o link pro blog falconesco na UOL). Depois, me vem a mente a última vez que fui "pras Paraíba" com a minha mãe, em 1995, quando minha prima me contou que o obscuro Falcão em São Paulo (mesmo daquele tamanho e com aquela indumentária minimalista só dele) fazia o parte do top10 das paradas das rádios FM de João Pessoa e me apresentou outras pérolas do repertório desse ser. Uau.

Já em 2004, no primeiro semestre da faculdade, descobri um fã de Falcão na minha sala, o igualmente pequenino Minduim (que cai na risada toda vez que eu o mando sifu). Peguei um CD* emprestado do cabra, porque eu me lembrei do que minha prima tinha me dito e fiquei curiosa pra conhecer a obra deste gênio incompreendido. Eu chego em casa e conto a novidade e meu pai "Falcão, filha?????", desacreditado que a ex-estudante de violão erudito tinha pego emprestado pra escutar. Ele também quis ouvir e teve acessos de risos - nisso eu puxei 'Seu Teodoro', que adora uma piadinha - e não tirou o CD do som enquanto esteve de férias do trabalho. (O feitiço virou contra o feiticeiro. Eu também estava de férias nessa época. Ouvi Falcão até o uc fazer bico.)

Tirando toda a gozação dessa história, o cara é crânio sim. Arquiteto de formação e de um humor finérrimo, pisa no calo de meio mundo, muito mais que muita bandinha punk de protesto que tem por aí aos montes. Por isso, vou com as fuças desse sujeito. Ridendo castigate moris*. E tenho dito.

O que prova o que estou dizendo por a-mais-bê, é o caso clássico da versão falconiana de Another Brick in The Wall, do Pink Floyd, com a letra de Atirei o Pau no Gato, canção censurada pelo PETA do folclore brasileiro. Ele conta que a gravadora dele pediu autorização para Roger Waters para liberar as música para gravação e descobre que "este corno não libera nenhuma de suas músicas". Sobre essa atitude pouco artística de Waters, Falcão foi categórico: "Não vou ceder nenhuma música minha para o Pink Floyd também!" Lei de Talião* neles.

Recomendo ler este post do blog, onde ele conta essa história bem melhor do que eu, mas eu vou colar aqui a tradução de Atirei o Pau no Gato que ele mandou pro Waters, na tentativa de convencer o mano...



Shoot the wood in the cat
But the cat not died
Mrs. Chica appreciated
Of the meow that cat gave
Hey, Chica! Leave the cat in peace.
No let's go traumatize the pitiful animal
I only play the wood in the beast, for listen the meow!



... Que dispensa qualquer comentário. Se o leitor de textículos não gostar desse nicho jocoso da música brasileira, mesmo que ache Música Brasileira é só Bossa Nova* e MPB, ou nem isso, no mínimo vai dar boas risadas ao ler o blog deste galã bufônico. Vocês sabem, é muito raro eu gostar de Blogs (só gosto mesmo do meu, do Forrest, e o da Bozoca quando escreve), então pra eu recomendar, é porque é jóia. E féxion como o dono.

Notas 'inútieis' fora de ordem:
1 - Quem não entender o dialeto cearês em que o cantor escreve, recomendo meu textículo Léxico Nordestino, onde há endereços dos Dicionários de Pernambuquês e Cearês na rede.
2 - O CD que eu trouxe pra casa e que quase mata meu velho de rir foi o "A um passo da MPB", de 1997 e produzido por nada menos que Robertinho do Recife.
3 - Rindo se castiga os costumes. Frase de um dramaturgo zé-ruela chamado Gil Vicente, já citado por aqui.
4 - "Olho por olho e dente por dente". Esta é a Lei de Talião.
5 - É o que estou ouvindo agora-now-neste instante. O mundo é mesmo estranho.
6 - Por que a dor-de-cotovelo do Chico Buarque é chique e a do Waldick Soriano é brega? Porque o Falcão é espalhafatoso e Jimi Hendrix é "psicodélico"? É essa pergunta que motivou este textículo. I´m not dog no!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Abduzida por Tantra e Van Gogh



Fui abduzida por uma canção, há poucas horas. De vez em quando tocava no rádio e eu nem ligava muito pra ela, apesar de ter simpatia pela banda que toca. Na Antológica Festa da Chapinha, a última, que teve de tudo, desde ex-aluna presenciando minha esbórnia com meus queridíssimos amigos da Velha Guarda até fim de festa deprê em grau máximo, eu vi os meninos comentando que a canção "Corvos sobre o Campo", foi inspirada na tela "Campo de trigo com corvos", de Van Gogh. E aí, a lembrança empoeirada me veio a mente, mas não me retive muito nisso, porque O Menino que eu Gostava curtia essa banda. Ia dar curto-circuito lembrar, ainda mais naquele dia.



No último ensaio da nossa banda sem nome - o desespero é tanto que estou pensando em até fazer enquete com alguns nomes surgidos - o Renato, nosso caçula e genial guitarrista e talvez o único que tenha algum juízo na cabeça, comenta que só os primeiros versos realmente falam da imagem do quadro. Eu não exatamente discordei, porque não lembrava da letra toda, mas lembrei a ele do Universo Pirante que é Van Gogh, que seria impossível esgotar uma tela em uma canção, que dirá nos primeiros versos. Pausa para o café. Ou melhor, pra cerveja.



Do nada eu estava cantarolando essa canção na terça-feira, na mesa do bote, com a porção Velha Guarda da Banda, e Forrest me diz que é essa canção é ótima. Por sorte, lembrei de procurar e baixar hoje, qual a surpresa com o resto da letra, que vai por um caminho estranho mesmo, o que é absolutamente normal se lembrarmos que estamos falando de Vincent Van Gogh. O fato que a letra sou eu nos últimos tempos.



Como estou me despedindo definitivamente da minha dor, afinal há sobrevida depois da Pior Dor-de-Cotovelo da História, resolvi publicar a tela, com a letra de Corvos sobre o Campo. Não vou analisar a canção, nem dar o histórico do Tantra, porque acho que nosso baterista e último a ser escolhido nas aulas de Educação Física faz isso mil vezes melhor que eu. Só digo que fico satisfeita em redescobrir que os anos 90 produziu um bom rock brasileiro, ao contrário do que eu sempre disse. Corvos sobre o campo* é uma pequena maravilha, em termos de rock com pegada pop, feita para tocar no rádio a valer, e com uma letra bonita e criativa, cheia de poesia. É tudo que nós e nossa banda inbatizável queremos fazer.



Corvos sobre o campo - Tantra



Céu azul, campo amarelo

Corvos avançam em nossa direção

E não há porque se assustar

Deixa o medo entrar no seu coração



Tudo o que eu fiz foi por amor

Acho até que encontrei

O motivo de um final feliz

Nunca imaginei o nosso fim

Construí meu castelo com as pedras que eu te atirei



Yeah, yeah, yeah, nada vai durar

As maldades serão coisas belas, enfim

Nada vai durar tanto assim

Abra os olhos, então

Olha os corvos sobre o campo



Céu azul, campo amarelo

Corvos avançam em nossa direção

Vermelhos caminhos, ecos de cores

Vaga pulsação, de clara escuridão





...Minha dor se despede com a beleza lisérgica de Van Gogh. Deixa o medo entrar em seu coração. No meu, só cabe alegria agora.




Nota 'inutiél':



*Agora já tem Corvos sobre o campo no 4Shared.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O dia em que fui trabalhar na Bienal do Livro


De volta aos boletins da minha dura vida na Ilha de Caras que não interessam a ninguém, mas que insisto em fazer. A última vez que fiz isso foi quando relatei a minha emocionante estréia no mundo dos testes para atriz-teza, semi-cega, sozinha e na chuva. Nem pude ver a cara de desgosto do Hugo Possolo com meu teste, cheio de buracos de esquecimento no texto, rsrsrs.

Hoje fui à Bienal do Livro, fugindo descaradamente do instinto defenestrador de alunos que me atacou essa semana e da rouquidão -estou prestes a ficar afônica e estou sim desesperaaaaaada! Como é que vou gravar a voz da demo da nossa banda sem nome? Aulas são mero acessório nesta história - e antes dei uma passadinha no médico pra ver se dou jeito nesta tosse de cachorro. Pausa para esclarecimento - o posto não dá atestado médico, ou seja acesso negado para fugida estratégica do trabalho por vias malandras tradicionais que todo vagabundo que se preza conhece.

Na real, entrei pela porta da frente da Bienal. Porque sexta passada eu descobri que eu poderia ir à Bienal hoje, assinando ponto lá e ainda ganhando o dia de trabalho, bastava levar o holerite - atestado de pobreza e insanidade do magistério. (E nenhuma boa alma para divulgar isso na escola. Por que será??) Como eu não consegui confirmar esta notícia, eu passei no médico antes.

E essa visita ao médico merece uma parada especial, porque eu sou o Bozo de Calça Amarela. Reclamei de tosse seca por tempo prolongado e ganhei um pedido de exame de tuberculose. É, isso mesmo! Sou uma tísica em potencial. Sendo que não tive febre e tô 'gorda lisa', como diz a minha mãe. Sendo que tenho rinite e sofro com tempo seco, desde que me entendo por gente. Sendo que contei que sou professora em turno duplo e faço esforço vocal constantemente. Ainda assim, tive que cuspir no potinho - eca! (Ops, na verdade é teste de escarro, mas a minha tosse é seca. Não tem nem vapor d´água pra escarrar) e amanhã tenho que levar de novo meu cuspe para análise. Cuspe em jejum, coisa duplamente nojenta.

Livre da sina dos cuspes, eu corri pra Bienal. Com medo, afinal eu sou formiguinha, operária-padrão, com marmita e livro-ponto. Não é coisa à-toa fugir do trabalho na cara larga. Mas como eu descobri que era verdade que eu ganharia o dia na Bienal, se fosse hoje, eu não fugi do trabalho, fui trabalhar na Bienal. Com credencial e tudo, porque apresentei meu atestado de pobreza e insanidade e peguei credencial. Na sequência, fui falar com os representantes dos 'patrão' e fui muito bem recebida, diga-se de passagem. (Nota brechtiana¹: por que será que pobre adora essas pequenas provas de status, né? A 'crasse' média também gosta, então tá tudo em casa!)

Fui zanzando por lá, comprei alguns livrinhos e assisti a um bate-papo com o João Batista de Andrade, cineasta brasileiro pra lá de consagrado e diretor de O Homem que Virou Suco, filme genial, na minha modesta opinião. Comprei o livro-roteiro do filme e peguei autógrafo do cara, super boa gente. Comentei da passagem deste filme na minha vida, e como ele me influencia e tal.

Na verdade eu tinha me esquecido que ele iria participar da Bienal, fui atraída para o local da palestra por "forças estranhas". Meu destino foi desviado por um daqueles chatos que vendem livro de poesia na porta do MASP, que me assaltou com meu aval. Como eu fiquei dura, tive que sacar dinheiro para comer. Do lado do caixa eletrônico tinha uma lanchonete e o estande onde o João Batista estava.

Gosto de acreditar que a gente segue o caminho certo sem roteiro, desde que a gente saiba o que quer. Isso até me consola, já que sou uma perdida de carteirinha. É o triunfo da intuição hipertrofiada feminina que me persegue, e às vezes até me contraria. Tudo isso me fez sair do Anhembi dando pulos secretos², tal e qual uma bicha legítima presa num corpo feminino que sou³.

Saldo da epopéia: ganhei duplamente o dia, porque fiz tudo isso trabalhando!

E é para mim mesma esta cambalhota!
Notas inúteis:

1 - Princípio do Distanciamento, segundo Brecht. Se vira e vai pesquisar, estou com preguiça de explicar.

2 - Bozoca sempre sai pulando de felicidade quando consegue algo que quer muito, e eu também faço isso. Sua cunhada diz que isso é bichice pura, mas a gente pode, porque a gente É bicha, e das loucas.

3 - Tal qual Madonna e Bozoca, eu sou um viado (com 'i' mesmo) que nasceu num corpo de mulher. E tenho dito.

sábado, 16 de agosto de 2008

Madonna Cinquentona

Estava vendo clipes da Madonna até agora. Como hoje ela completa a bagatela de 50 aninhos, a primeira página da UOL está cheia de coisas sobre ela.

Eu nunca fui fã de Madonna de uma maneira específica. Quando eu era criança gostava de Papa Don´t Preach e Vogue - eu adorava aquela coreografia à la Macarena dessa música. Lembro também de quando ela esteve no Brasil - a turnê do The Girlie Show - que eu queria assistir na TV e que meu pai não deixou, afinal essa era a época em que ela estava pegando fogo, era o tempo do Erotica, Sex e Na Cama com Madonna. Sou filha de família de comercial de margarina, esqueceram?

Eu nem sabia que ela estava pra fazer aniversário, e ouvia de longe comentários sobre seu último disco elogiado - "só porque tem o Justin Timberlake", eu pensava, "mas que bosta!". (Eu vi o clipe de "4 minutes" e é legal. Gênios também se enganam, hehehe.)

Nestes últimos dias eu estava próxima da rainha do pop e não sabia. Eu tinha baixado o The Stonewall Celebration Concert, o primeiro álbum solo do Renato Russo, que, 'por increça que parível', eu não conhecia. Ele gravou Cherish, da Madonna, canção que eu mal me lembrava (se é que eu conhecia) e fui abduzida por essa música. Fui atrás da original, é claro. Mal acreditei que Cherish é dela, porque é uma canção totalmente fofa, singela. Também tenho ouvido muito as versões do Trash Pour 4 de Material Girl e Like a Virgin, incrivelmente reiventadas.

Fui navegando sem perceber por este especial da cantora, porque, por mais que eu não tenha lembranças especiais dela - fora essas que eu contei - me impressiona como ela se mantém diva indiscutível do pop, um mercado com fama de ser superficial e descartável.

Nos anos 80, quando ela surgiu, e depois nos anos 90, sinônimo de pop era Madonna e Michael Jackson. Ele, a gente já sabe que fim levou, foi tragado pela areia movediça da sua vida pessoal, que todos sabemos como é difícil e cheia de lances bizarros. Enquanto Michael estava em tribunais por seus escândalos de pedofilia e brincando de "vamos jogar Isabella" com seu filho (agora que me dei conta - ele é que começou essa moda), Madonna continuava a lançar seus discos, sem alarde. Dizem que ela ainda é controversa e polêmica, mas acho isso coisa da imprensa marrom. Acho que ela não precisa provar mais nada pra ninguém. Por isso, ela pode tudo, até beijar Britney Spears (eca!) ou interpretar Evita Péron, quase matando os argentinos do coração.

Não conheço quase nada da sua fase mais recente. Lembro só do Ray of Light, da trilha de Evita e só. Fui dar uma olhada e ainda prefiro a Madonna platinada dos anos 80 cantando Like a Virgin. Mesmo não gostando tanto exatamente do que ela tem feito hoje, é de cair o queixo a sua capacidade de ser reiventar e ainda ser Madonna. Só que isso não é de hoje. Desde o início da sua carreira, ela foi uma mulher de contrastes. É só olhar o clipe de Material Girl, com um final totalmente antagônico ao que diz a letra e o próprio clipe. Genial.




Suas controvérsias e contradições mais notórias dançam entre o sagrado e o profano. Para começar, quis o destino que ela se chamasse Madonna - ícone religioso de Maria segurando o menino Jesus ao colo. E ela sempre gostou de brincar com estes contrastes. Ela aparece rezando em um figurino discreto em La Isla Bonita, alternando com um figurino de dançarina de flamenco megavermelho - há uma certa cafonice nesse clipe, o que me faz gostar dele (Risos).




Quem é mulher sabe como é difícil equilibrar estes dois pólos. A gente não quer ser condenada por querermos ser gostosas, absolutas, devoradoras, mas também acha às vezes ser "menina de prédio criada pela avó" um porre. A maioria de nós fica no meio termo disso, ou então nega um dos lados por completo, o que causa 10 entre 10 das neuroses femininas. Madonna, não. Ela dilatou as duas polaridades e vai de uma a outra com um pé nas costas. Veja só a sua vida. A Material Girl virou estrela de comercial de margarina - casou, teve filhos, adotou um - e continua aparecendo gostosona em seus clipes. Isso é Madonna.

Então, gostando ou não dela, sendo fã ensandecida ou não, da mesma maneira chego à conclusão: loiras ou morenas, toda mulher deveria ser Madonna e mangar do tempo e dos clichês que nos perseguem. Idealismo ou não, toda mulher tem a capacidade de ser maior que estes estereótipos que nos impõem. Ela fez 50 anos! E eu aqui, com medo dos 30. Ah, meu. Tomá no uc, mermão.
Ah, e só pra provocar, escolhi uma foto da cinquentona quando ainda era ninfeta e morena, como eu. Esperá só eu chegar aos 50, ninguém me segura.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Canções que acabam antes do fim

Meninos, meninas e similares. Calipígios e onanistas,

Minha parca e seleta audiência, o silêncio de ultimamente não foi proposital. Ando calada pela dor de uma ausência banal. Como é banal, não me dei ao trabalho de chatear meus leitores por conta de uma estupidez que não é minha.

Agora, porém, vamos ao que interessa. Tenho falado muito de música ultimamente, porque é esta é uma paixão constante na minha vida, e na vida de muitas outras pessoas também. E quando eu acreditava que a música era para mim um sonho perdido, eis que ela bate à minha porta novamente - quase do nada. Eu larguei a música durante um tempo, mas ela não me largou.

Existem canções de diversas durações. Podem ser breves quanto uma canção comercial, para tocar no rádio ou durarem mais de uma hora, como uma sinfonia. Não importa a duração, canções tem que ter começo, meio e fim. Conclusão, fechamento.

Pensem em alguma música, a preferida, daquelas que são capazes de tirar a gente deste mundinho chato enquanto a gente ouve. Você está lá, pirando no seu som preferido. E de repente alguém desliga e a canção acaba, sem aquele "lá-lá-lá" do final. Simplesmente cessa. Chato, né? Um verdadeiro balde de água fria. Pois então, assim pode ser a nossa vida. Acabar antes que a canção se complete, como se do nada a pilha do rádio acabasse. Eu não tenho medo que a minha canção dure pouco e sim de que ela acabe antes do fim. Foi o que aconteceu com um colega de trabalho na última sexta. Sua canção parou de tocar de uma hora para outra. Aliás, quando ela estava apenas começando. Eu não consigo deixar de achar isso estúpido.

Por mais que a gente saiba de cor e salteado da fragilidade da nossa vida, a gente nunca aprende: sempre se acha invencível. E a nossa canção também pode acabar antes do fim, como a do Vinícius ou a do Chico (no último dia 29 fez um ano que sua canção parou de tocar). E assim, caímos sempre no mesmo erro, tal e qual um disco riscado, movidos pela mesma prepotência arrogante de sempre, o que faz a nossa canção desafinar.

Se eu falar mais alguma coisa sobre o fim da nossa canção, cairei em clichês, em melôs manjadas de Karaokê¹. Não resisto, porém, ao charme dos clichês mais piegas, por serem os mais sinceros e verdadeiros, apesar de nada criativos.

Fecho, então, com o mega-clichê sobre a morte, em uma das canções da Pitty, que não figura entre as minhas compositoras favoritas, mas vá lá: "Não deixe nada pra depois, não deixe a vida passar/ Não deixe nada pra semana que vem, porque semana que vem/Pode nem chegar."

(Espero que nossas canções cheguem até o fim. E isso não é só questão de fatalidade, inexorabilidade. Uma pequena parte da composição cabe à nós, acreditem. Os meninos não tiveram tempo de concluir as deles, mas pode ser que a gente tenha mais sorte. É melhor aproveitar.)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Amy, Amy, Amy¹

Há muito tempo essa maluca com cabelo de colméia merecia um textículo só pra ela. Ela foi meu rito de passagem para os meus 25 anos, na minha escalada por esta montanha de esperanças².


Não veio antes porque estas coisas precisam de estalos e estes ainda não tinham vindo. E eis que nessa semana Sandra Dee-que-loucura me manda um email com fotos da Amy Winehouse, numa espécie de melhores e piores momentos da maluca em questão. E me assustei, porque os piores momentos são de f****. O ó da decadência.



Não que eu não tivesse visto estas fotos antes, mas todas elas juntas dão uma certa náusea. E pena. Afinal ela é bonita (sim, originalmente Amy Winehouse é bonita), jovem e está lá, no bicaço do urubu. São motivos clichê e piegas, mas absolutamente sinceros. Porque Britney Spears e Paris Hilton, por mim, podem cheirar uma carreira de um metro que eu não tô nem aí. Só que pela Amy eu lamento sim, porque ela é talentosa pracaralho, não tem outra definição. (Muita gente também diz isso, mas geralmente referindo-se apenas a seu vozerão de negona do Bronx. E ela é inglesa.) Só que se esquecem que ela também é uma compositora fantástica. Nos seus dois álbuns tem tudo: jazz, hip hop, soul, letras surpreendentes, arranjos encorpados, e tudo isso resultou em uma coisa que anda faltando na música pop em geral: originalidade.



Acho que essa originalidade, rara hoje em dia, fez com que essa maluca inglesa roubasse minha pobre alma definitivamente. E frases como "Ele se vai, o Sol se põe/ Ele leva o dia embora, mas já sou crescidinha. /Minhas lágrimas secam sozinhas" (Tears Dry on their own), cantadas como se fosse uma prece. Só um brutamontes é capaz de não se comover com isso. E eles existem. Aos montes.










Não gosto do tratamento dado para ela na imprensa. Porque é público e notório que ela não dá as suas bozadas para aparecer. Gostei quando Andrew Lloyd Weber, que não é qualquer um, saiu em defesa da Amy, dizendo que ela é uma pessoa que não sabe lidar com seus conflitos e com seu talento. Ela realmente sofre. Claro que um papparazzo está pouco se importando com os conflitos existenciais de uma celebridade drogada e presa fácil, mas a tratam como se ela fosse uma espécie de avis rara. E ela é um ser humano. Acho que esta fonte de escândalos que ela se tornou é justamente porque ela não tá nem aí para os holofotes que a rodeiam. It´s just a girl.

Gosto dessa humanidade em excesso que ela tem. A parte ruim é que ela sofre com isso. Mas tem faltado isso nas pessoas públicas em geral, todas elas parecem ser ... de cera. (Coincidência ou não, sua estátua no Madame Tussauds foi inaugurada esses dias. Ela não quis ver. Certa ela. É como se todos estivessem já adiantando seu fim. E se ela se recusou a ir, é porque ainda estão rolando os dados.)



Este duplipensar me mata. Tratada como excêntrica porque se mostra humana em todos seus conflitos, é dada como "morta" para a música, e no entanto está aí, enchendo as páginas de escândalos, sendo celebrada e desprezada na mesma medida. Olha só:



Final de 2007. Junto com Victoria Beckham, é considerada a celebridade inglesa mais cafona. E alguns meses depois, a Vogue faz um ensaio com Isabeli Fontana posando de Amy Winehouse. E isso ecoou aqui em terras tupiniquins, na época do Fashion Week, só que com a Gisele Itié. Peraí: cafona, mas ícone fashion? Eita, mundo estranho.




Como eu quero mudar de mundo, não quero mais brincar de entender essa gente estranha. O fato é que as canções dessa desmiolada fazem parte do meu mundo e de outras pessoas também. Realmente não sei se ela sobrevive a tanto 'tóchico', mas mesmo que sobreviva, é difícil bater o Back to Black. Se ela estivesse bem já seria difícil, com toda a sorte de problemas que ela tem que superar agora - sobreviver, inclusive - eu confesso que meu coraçãozinho de fã tem poucas esperanças. Estou tentando me contentar com seus dois álbuns de estúdio.
Poucas, mas existem. Torço para que ela se reinvente, calando a boca dessa gente careta e maldita³. Ela merece, eu acho.




Referências:


1 - Última canção do primeiro álbum, Frank. A Musicoteca tem os dois álbuns na íntegra.


2 - Penúltimo textículo, "Para gente não loira".


3 - Alusão à Joana, cançao bem-humorada do segundo álbum da Ana Carolina.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Textículos ao Molho Forrest

Não há como negar, meu coração está partido, e toda vez que isso acontece é grande a necessidade de me reinventar.

Das outras vezes tosei os cabelos como Frida Kahlo¹, mas hoje não estou tão rebelde assim. Assim, o vizinho preferido resolveu acumular mais uma função: além de “baterista, desenhista, historiador e contador de mentiras sobre si mesmo”, ele resolveu atacar de chef e criou os “Textículos ao molho Forrest”, apostando nos contrastes entre a doçura da Bonequinha de Luxo, Audrey Hepburn e a acidez e androginia de Marlene Dietrich, equilibrando o sabor com um laranja brilhante ao fundo, não por causa da vitamina C, mas porque esta é a cor da minha energia, segundo Filhutti.

Assim, temos Textículos de cara nova, graças dotes culinarísticos de web designer do Vizinho das Galáxias. Valeu, querido, por este band-aid no meu coraçãozinho. Quem tem textículos, não precisa de coração!
1 - Link para o site do MoMa (Museum of The Modern Art), onde está o Self-Portrait with Cropped Hair (1940), da Frida.

sábado, 19 de julho de 2008

Para gente não loira¹

O ano era 1993, eu tinha 10 anos. Lembro quando estourou nas paradas What´s up?, canção de refrão mega-grudento, mas muito boa de se ouvir. Parece que ela estava esperando por mim, até. ("25 anos e minha vida ainda é uma escalada por uma grande montanha de esperança, por um destino". Que coisa, não?)


Naquele ano, minhas irmãs faziam encontro de jovens, coisa que nunca fiz, apesar de ter sido rata de igreja também. E lá tinha um cara, o Cao, que cantava essa música tal e qual no disco. O que me fazia perguntar se aquela música era cantada por um homem ou uma mulher. Tive sensação parecida quando ouvi Catedral, com a Zélia Duncan, pela primeira vez: é um cara de voz fina ou uma mulher de voz grossa? Não tinha me rendido ainda ao encanto de um contralto poderoso.


O fato é que minha irmã do meio adorava essa música e quis o destino que essa canção fosse o "love theme" do início de namoro dela com o cabeção que hoje é meu cunhado e pai do meu sobrinho. (Tudo bem que essa canção não fala niente de amor, mas o mundo é estranho desde essa época.)



Pula pra 1999. Minha irmã ainda namorava o cabeção e eu namorava um baterista ruim pra cacete de uma banda igualmente ruim pra cacete, se bem que até interessante em termos de punk rock e hardcore, os Intermitentes. Eles ainda existem? Acho que não, picardia não dura a vida toda.



Estávamos celebrando o fim da década e do século XX. Era um ano com gosto de adeus. O ano em que o mundo acabaria, segundo as previsões de Nostradamus. Enquanto o mundo não acabava, então, a gente enchia a cara de vinho barato, tocava violão e ouvia muito grunge. Meu camisão xadrez era capaz de ir sozinho pra escola e fazer a prova de português, de tanto que eu usava o pobre. E tal do mundo não se acabou. Ai, que chato.


No final deste ano, o namoro com o baterista ruim pra cacete já estava pior do que ele tocando bateria, dando sinais que acabaria em breve. E minha irmã acha o "inachável" CD dos 4Non Blondes para comprar, depois de anos de procura (ou não). Comprou para ela e um The Cranberries² para mim, banda que gosto bastante também.

Não contente apenas com The Cranberries, fui ouvir o 4Non Blondes da minha irmã, obviamente quando a pobre estava trabalhando e eu moscando em casa, porque eu sempre fui caçula do tipo vampiresca. E tive uma epifania, daquelas que o Forrest gosta tanto de descrever no Music Inside My Head. Que banda, que som. Fiquei completamente fissurada pela voz de leoa da Linda Perry, como sou até hoje.


Ouvindo o Better, bigger, faster, more da primeira à última faixa, percebe-se de cara que 4Non Blondes não se trata de uma simples "one hit wonder band". O álbum todo é fantástico, muito bem produzido, e tem o equílibrio perfeito entre o pop e o alternativo. Tem a sujeira grunge dos anos 90 (mesmo que a banda não fosse grunge, mas isso estava no clima da década) e fórmulas batidas do pop bem aproveitadas, mas também há raízes profundas da música norte-americana: blues, country, rock n´roll. Ou seja, é um álbum completo. Dizem até que houve um segundo álbum gravado, nunca lançado.


Nunca consegui saber direito o motivo do fim da banda, é que é difícil ser fã de uma One Hit Wonder Band, ainda mais em tempos pré-Internet. Mesmo hoje, não existe muita coisa. A teoria do oráculo Wikipédia é que Linda saiu em 1996 em carreira solo, por achar o trabalho da banda muito pop. Realmente, ela tinha potencial para ser muito mais rock n´roll do que ela vinha mostrando no 4 Non Blondes, mas mesmo assim, acho isso lorota. Devem ter ganhado tanto dinheiro com What´s up? , que daria para se aposentar por quatro gerações.


Entre a lorota e a realidade, acabo de formular a minha teoria. O primeiro álbum da banda acertou na mosca, mesmo não tendo nada de novo, necessariamente. É como eu já disse, foi muito bem feito, bem equilibrado. Não havia mais para onde ir, simplesmente. Difícil bater um álbum bom daquele, se bem que descobri nas minhas caçadas ao Santo Youtube, uma canção nunca lançada em disco que eu achei muito boa, e mostra o vozerão de leoa da Linda:


Como eu fico brava quando dizem que 4 Non Blondes é uma one hit wonder band, mesmo que seja ( E daí? Secos & Molhados duraram dois álbuns apenas, mas suficientes para abalar bangu), eu deixo o link para download no 4Shared, e que minha parca audiência tire suas conclusões. Façam suas apostas, crianças.

O fato é que este álbum está no meu relicário de lembranças adoradas (Ê, Bozoca!). Quando o namoro com o baterista ruim pra cacete estava mal, mas muito mal das pernas, eu ouvia Drifiting ('À Deriva') sem parar. Ai, meu Deus, que bode.

Depois, para curar o bode, resolvi entrar numa banda, e virei 'cantora de um hit só'. Advinha qual era a música? Isso mesmo, 'What´s up?'. Minha passada por essa banda não durou muito tempo, por algum motivo não rolou, mas aí já era tarde. Better, bigger, faster, more já tinha passado feito um rolo compressor na minha vida³.

Ps:
1 - Referência ao nome da banda, que segundo a lenda, seria "para gente não loira" (4 Non Blondes).
2 - O álbum que eu ganhei da minha irmã dos Cranberries, é o No Need To Argue, outro clássico dos anos 90.
3 - Um agradecimento singelo, porém verdadeiro a todos personagens deste 'causo' musical: desde o Cao, que com certeza não se lembra niente de mim, à minha irmã, por ter achado essa pérola em uma prateleira qualquer da Virtual Music, ao meu cunhado, porque tocava bateria enquanto eu era cantora de um hit só, e até ao Mauro, meu ex-baterista ruim pra cacete. (E ao Forrest, que não faz parte do conto, mas que me ensinou a postar vídeos do Youtube!!! Tá bom, eu descobri a pólvora, eu sei.)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Novidades nos Textículos

Empolgada pelo Music Inside My Head, do meu vizinho e crítico musical da Blogosfera sem Audiência, estou fazendo algumas mudanças nos Textículos.
Primeiro é que estou colocando links para downloads nos textículos da categoria Toptoptop, copiando descaradamente a idéia do baterista da nossa banda ainda sem nome. Estreei com o link dos álbuns do Trash Pour 4, no textículo Eu quero que você se... PopPopPop! . Aos poucos, vou colocando nos outros textos que falam de música também.
E os Textículos em breve vão ficar de cara nova. Coming Soon!

E é para mim mesma essa cambalhota!


Textículo jorrado em 17/07/2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Music makes my life

Cansei de falar do menino que eu gosto, ele é um tremendo de um boboca. Hoje vou falar do meu irmão, meu vizinho preferido e das galáxias: Luiz, Filipe, Forrest, ou se ainda preferir, Luiz Filipe.
Companheiro de blogosfera fracassada, de muro da vergonha e agora de banda, eu o conheço desde que me entendo por gente. É o meu amigo mais antigo.
Depois de passarmos por momentos muito tristes, a gente tem estado mais próximos do que nunca. E ele estreou "mais um superfracasso da blogosfera": Music Inside My Head.
Musical como ele só, consegue ouvir música tanto num copo que se quebra na cozinha, quanto no vibrafone de brinquedo do meu sobrinho. Viciado em música no último nível, de um jeito que só conheço apenas duas outras pessoas: eu e Bozoca, outra criatura mega amada que pre-ci-sa de um textículo assim, só pra ela como eu de ligas grená! (Risos)
Como ele sempre teve um senso de observação apuradíssimo, apegado a detalhes e com uma memória de elefante (não é à toa que ele virou historiador), é óbvio que ele se tornou um crítico musical da melhor qualidade. Sempre foi, na verdade. A única coisa é que agora ele parou de regular sua mixaria e resolveu socializar!
A idéia é falar das músicas que, por algum motivo, "ficam martelando na cabeça, perdemos o controle e não conseguimos parar de escutar". Canções que carregam alguma lembrança, significado, ou só prendeu a atenção naquele momento. Como ele é "historiador e contador de mentiras sobre si mesmo", suas críticas tem este charme especial, e ainda o bonitão disponibiliza as músicas de que ele fala para download. Ou seja, um verdadeiro pecado não visitar. O link está no texto e na coluna "Blogs Camaradas". Go ahead!

domingo, 13 de julho de 2008

Mensagens na garrafa

Este Blog de Vida Dupla Mais sem Audiência do Ciberspaço, como sabem, veio depois dos diários de papel, mas não os sucedeu: é como se fosse meu marido e o meu diário, o amante, que pego na calada da noite em busca de proteção e abrigo.

Recomecei com os diários no fim de 2002, na época para registrar a minha meditação. Só que eu sou samsara demais para desvendar a vida sentada em flor-de-lótus. Cá estou eu na galhofa outra vez.

Aos poucos a vida comum foi entrando nesses registros, mas é meu mundo interno que impera lá, como nos diários de Frida Kahlo. Acho que isso é resqúício da meditação, da contemplação. É o meu modo de entender a vida.

Todas as cartas de amor são ridículas, todas as mulheres são putas e todos os díários são patéticos. O meu não deixaria de ser, lindamente patético. É muito engraçado ler aquela observação tão definitiva sobre uma coisa completamente fugaz. Com algum treino você não se envergonha disso.

Ultimamente, porém, estes diários da segunda fase assumiram a forma de um diário de uma adolescente, igual ao que eu tinha quando tinha 12 anos. Daqueles que os meninos roubam para ler e tripudiar da dona depois, munidos do segredo da pobrezinha. Daqueles que se fala do seu amor secreto (o meu agora é declaradamente escancarado). Daqueles em que não se fala outra coisa a não ser do menino que se gosta. O menino que eu gosto não me dá a menor bola, sabe? (Mas não tô nem aí, isso é problema dele).

Escrevendo eu me descubro e não enlouqueço, e muito cedo nesses diários que tenho feito desde os vinte anos (blues), eu vi que o que um diário mais quer é ser revelado. Ninguém escreve nada para não ser lido. O que explica o náufrago que joga no mar uma garrafa com um bilhete para qualquer um que encontrá-la? Save our souls. (Alimento essa fantasia quase sexual: que o menino que eu gosto roubasse todos meus diários e os lesse, um por um, às escondidas. Ele sabe disso.)

Ando jogando tantas garrafas no mar, que se o Greenpeace me pega, eu estou frita. Estou escrevendo demais, como se fosse morrer amanhã. E de todos os jeitos possíveis: aqui, no diário, compondo canções, cartas inentregáveis, e-mails insuportavelmente longos. Só deixei de escrever poesia, porque nem meu muso me lê! Não tem a menor graça.

Inentregáveis merecem um capítulo à parte. Cometi essa insanidade de entregar uma inentregável ao menino que gosto. E virou inlegível. O bruto não se deu o trabalho de ler, porque para ele são palavras apenas, palavras pequenas... Palavras ao vento.

Diz o ditado que palavras o vento leva, principalmente sobre essas de promessas não cumpridas, esses amores que acabam na base do 'tudo certo e nada resolvido'. Por mim, o vento pode levar minhas palavras, como aquela peninha do Forrest Gump. Alguém vai encontrar e ler as mensagens na garrafa.

O menino que eu gosto não sabe da missa a metade. Não sabe que antes de ser apaixonada por ele, sou apaixonada pela vida, que está me tratando como um cão sem dono tanto quanto ele está. E que, tanto quanto ele, me faz a mulher mais feliz do mundo, mesmo sem tê-lo agora. Mas de uma coisa ele sabe: o menino que eu gosto não é O Amor da Minha Vida. O Amor da Minha Vida é o Drummond! Só ele é capaz de me entender agora. "Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo."

Textículo jorrado em 13/07/2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sobre este meu constante exercício de duplipensar

Estou quase acabando de ler o 1984 emprestado pelo meu Vizinho das Galáxias, mas não dá para aguentar esperar o fim, para falar que ando ‘duplipensando’ horrores ultimamente. Fui ainda incentivada por Minduim. Explico.

Em Novilíngua, Duplipensar é um estado de alienação consciente (ou de consciente alienação, se preferir). Significa manter estas duas polaridades unidas para perpetuar o poder, numa Oceania imaginária, dominado por um Ingsoc tirano, totalitário e… de esquerda.

Neste mundo de ‘democracia, com responsabilidade social e ambiental’ - tenho que citar Minduim nessa, não tem como - regado a muito Jornal Nacional e Revista Veja, parece que não há mais a ‘ameaça’ de uma Ditadura do Proletariado daquelas. Até Fidel pendurou as chuteiras! A classe média-mediana-medíocre suspira aliviada. E nem precisa de Vick Vaporub.

Tenho nojo desse mundo, dessa pseudo-liberdade. Estamos vivendo o 1984 mesmo, à base de Grande Irmão, Polícia do Pensamento e Teletela. Se eu ainda vivesse o sonho pós-geração 60, mesmo atrasado, tudo bem, já até fiz isso. Mas agora, nem nas instituições de esquerda eu acredito mais. Aliás, para mim, ultimamente estas duas esferas se completam, e essa descrença veio como se fosse canção do Cazuza, num corte lento e profundo, e sem razão definida.

O auge do meu duplipensar aconteceu na última sexta. Paralisação dos professores. Eu fui, sozinha. Não quis me misturar. Em vez disso, sentei na calçada, e abri o 1984. Depois de uma hora, fui embora, não desci a Consolação junto com a passeata. Fiquei pensando que catzo que eu sou: alienada ou covarde? Pendi mais para o lado do covarde, entendo o que está acontecendo. Só que descer pro play e não brincar nunca foi comigo, então porque fui até o vão livre do MASP? Com o livro na mão, caiu a minha ficha (sou oitentista, tá bom?): é duplipensar na sua forma mais pura.

Talvez seja o que eu faça pra não enlouquecer com a minha descrença, afinal é muito triste viver sem esperança. Mas esperança burra eu também não quero. Então, “deixai toda a esperança, vós que entrais!” Seguindo Dante Alighieri, ao cruzar os portais do Inferno, troquei o idealismo pelo cinismo: não quero mais mudar o mundo, quero é mudar de mundo. O movimento ganha cada vez mais adeptos, é só entrar na minha comunidade no Orkut. Escolha o planeta de sua preferência e go ahead, com ou sem esperança, pode entrar.

Textículo jorrado em 03/07/2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

Eu quero que você se.. Pop Pop Pop!

Para os viciados em música, como eu, às vezes é difícil admitir que se gosta de música pop. Pudera. O que lembra a expressão pop? Michael Jackson branco-transparente-sem-nariz no tribunal e Britney Spears careca. Écati!
Uma coisa, porém, devo admitir: não tem coisa melhor que um pop bem-feito. E eles duram, viu. Ou seja, quando bem produzidos, eles permanecem. Quer coisa mais pop que a Nona de Beethoven? (Risos.) Ou então, o Michael Jackson - com nariz, cantando Thriller? (Nem vem: para mim, Britney Spears não fez nada que preste nem quando era virgem.)
Estou feliz que nem pinto no lixo (Ê Jamelão!) porque baixei na íntegra os dois álbuns da excelente banda Trash Pour Quatro, que tem como proposta revisitar clássicos do Pop nacionais e internacionais de todas as épocas, com uma roupagem totalmente diferente. E o resultado é fodástico, acreditem.
Vou propor então, o Top 5 da boa música pop. Ou Pop 5, que seja. E desde já agradeço a pouca e seleta participação da audiência no Top5 das cantoras. Poucas e boas sugestões.
Lá vai o Top Pop:
1 - Girls just wanna have fun - Cindi Lauper
2 - What´s up - 4Non Blondes
3 - Whisky a go-go - Roupa Nova
4 - Estúpido cupido - Celly Campelo
5 - Será - Legião Urbana

Façam suas apostas!



Textículo jorrado em 24/06/2008

sábado, 21 de junho de 2008

Mulheres

Apesar deste Blog de Vida Dupla Mais Sem Audiência do Ciberespaço chamar-se Textículos de Mulher, sempre enfatizei os Textículos e nunca o Mulher. E hoje é o dia. Nunca contei o quanto gosto de ser mulher. É fascinante, apesar da TPM e da depilação com cera quente.

Mulheres não são perfeitas, são perfectíveis. Quando o macho previsível crê que tudo sabe sobre elas, elas já não são mais as mesmas, passaram por mais uma metamorfose. Quando se pensa que estão rendidas, destruídas, ou simplesmente, apaixonadas, o macho perdido toma delas uma bela rasteira, um frango daqueles de deixar qualquer goleiro desmoralizado. E eles parecem não aprender nunca.

É duro ter que me repetir. Então, deixo o resto pra Elisa Lucinda, que esgotou a questão com o fantástico “Aviso da Lua que Menstrua”:

Aviso da Lua que Menstrua

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua…
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moçoàs vezes parece erva, parece hera

cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
Barriga cresce, explode humanidades

e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita…
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente

que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!

Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elementoa tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na “vera”conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela

delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado

ou sem os devidos cortejos…
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a “cidade secreta”a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.

Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do cotidiano

que a mulher extrai filosofia
cozinhando, costurando
e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!…
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado

tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir

chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:

VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha…ora, não ofende.

Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!


Ah! E um pequeno PS: acho uma tremenda bobagem esse papo de “homens são de Marte e mulheres são de Vênus”. My love is Venus too.


Textículo jorrado em 21/06/2008

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Quer saber? Eu vou subir num banquinho e xingar a rainha que eu ganho mais.

Foi-se o tempo em que eu queria mudar o mundo, agora eu quero mudar de mundo. Porque não pode ser possível eu ser da mesma espécie de gente que solta uma bomba no corredor da escola em pleno horário de intervalo ou que ateia fogo em área de Preservação Ambiental em dia de tempo seco. Aliás, estou me perguntando o que estes seres precisam para serem promovidos a categoria de ser humano.

Ficar sabendo desse tipo de coisa já me preocuparia bastante. Presenciar me deixa com vontade de me enforcar no pé-de-salsinha mais próximo. Além dos motivos tradicionais, com questionamentos clichês e vazios do tipo "Onde nós vamos parar assim?", também me preocupa o fato de que esta falta de ordem total é capaz de fazer com que até Mahatma Ghandhi se torne um porco reacionário. É o meu caso.

Primeiro eu acreditava que as pessoas teriam que tirar habilitação para pôr mais gente no mundo. Pensa só: se as pessoas fazem merda no trânsito com habilitação, imagina se não existisse. É só ver no que dá qualquer um ser capaz de copular com uma fêmea, fecundá-la, e esta por sua vez, conceber um novo ser e jogá-lo no mundo. Eu também era a favor da restrição da distribuição de óvulos, até porque a maioria não é usado. E TPM dá um prejuízo do cacete.

Mas isso era antes de querer mudar de mundo. Habilitação para procriar era uma solução progressista, quase de centro-esquerda. Minha porção Stálin acordou e ela acredita que o melhor é esterilização em massa. Já tem gente demais no mundo. Chega. "Você gosta de sexo, meu filho? Então só brinca, sem procriar, por favor! Além do que seu DNA não tem nada de bonito.", ele diria.

Já que tem gente demais no mundo e gente que definitivamente não pensa, o meu Stálin de estimação acha que estes conjuntos de ossos e músculos flácidos podem servir para alguma coisa. Campo de trabalhos forçados, por exemplo. Minha porção Stálin saliva só de imaginar os autores das façanhas relatadas em uma pedreira sem nenhuma sombra, com Sol a pino, preso a uma bola de ferro, quebrando pedras com uma picareta.

Ter minha porção Stálin acordada me entristece. As gerações anteriores lutaram tanto por liberdade, tanto individual quanto política, para que anos depois alguém ateie fogo à uma área remanescente da Mata Atlântica e este seja tratado como "menor infrator". Esse tipo de coisa é capaz de deixar muita gente com saudades da Ditadura Militar.

O mundo padece de estupidez crônica. E acordar Stálin também é estupidez. Até porque esta desordem toda não é originada por falta de leis, ou de leis que não são cumpridas. A própria lei pode provocar a impunidade.

No Inglaterra, a lei é clara: "Não se pode ofender a rainha em solo sagrado". O cara resolveu testar esta lei. Pegou um banquinho, daqueles de alcançar as prateleiras mais altas do armário, foi até um daqueles guardas reais, que nem piscam mesmo que você peide na cara deles. Foi lá, subiu no banquinho e xingou a rainha. O guarda o levou preso. O acusado alegou: "Eu respeitei a lei. É proibido desacatar a rainha em solo sagrado. Eu estava em cima do banco. Este, que estava em solo sagrado, não ofendeu a rainha." O cara foi solto.

Chega. Vou externar a minha indignação, antes que eu entre para a TFP. Vou xingar a rainha em cima do banquinho que eu ganho mais.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Eu quero que você se...top top top!

Segundo o Yahoo Notícias, o tablóide britânico “The Sun” publicou uma lista com as 50 cantoras que jamais serão esquecidas. Algumas merecem, outras sabe Deus que estão fazendo aí. Mas não me preocupa quem está e sim quem não está.Então inauguro a categoria TopTopTop, com as cantoras verdadeiramente injustiçadas que não constam nessa bendita lista.

Top 5 - Cantoras
1 - Billie Holiday (como puderam esquecer da Lady Day?)
2 - Ella Fitzgerald
3- Etta James
4 - Amy Winehouse
5 - Cássia Eller

Falta algumas, é claro…Mas a brincadeira é sempre com 5 itens, apenas e de preferência que vem a mente primeiro. Mas nenhuma deste top que eu proponho estava na Lista do The Sun. Humpf!

Proponho agora, para minha pouca e seleta audiência a fazer seus Top5 de cantoras realmente inesquecíveis e mandar nos comentários no Blog de Vida Dupla Mais Sem Audiência do Ciberespaço!

Textículo jorrado em 09/06/2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Mais aniversários

O Textículos também estão aniversariando. Já são quatro meses de muita Licença Poética para um Festival de Bobagens, celebrando meus Vinte e Poucos Anos Blues, externando minhas pequenas revoltas humanas. Qual a importância disso para o Universo? Ora, nenhuma! Este ainda é o Blog Literário Mais Sem Audiência do Ciberespaço, que agora entra em vida dupla. Desde 24/05, os Textículos também existem em versão Wordpress, já que a minha Pouca e Seleta Audiência tem reclamado que não tem dado pra comentar aqui, e eu sou uma blogueira carente, preciso destes comentários. Por enquanto, os Textículos seguem nas duas versões, afinal, segundo a anatomia humana, testículos (com 's' mesmo) existem em par, né? :P
E esta cambalhota é para todos!
Textículo jorrado em 28/05/2008

Feliz Aniversário, Monicats

Ou Atualizações Inúteis

Tem textículo que já nasce velho, coitadinho. No dia em que Sobre o Tempo foi publicado, virando a madruga já, outra Vinte e Poucos Anos Blues estava completando pontos no programa de milhagem, e ficou brava comigo porque não fui ao Inferno com ela comemorar seu aniversário. Mas como curto muito essa garota, publico minha retratação por não ter ido lá. Em compensação, vi Nando Reis e os Infernais (mera coincidência), em Santos, arrastada por Bozoca. Monicats, não deu pra resistir o Barba Ruiva cantando Luz do Olhos só pra mim, hehehe. Como você é uma pessoa queridíssima, vou deixar você me xingar por isso para todo o sempre!

Textículo jorrado em 29/05/2008

sábado, 24 de maio de 2008

Sobre o tempo¹

Ou Eureka! Descobri a fórmula da nostalgia

Saudade de vocês, leitores de textículos. Eles estão ficando rarefeitos, eu sei. Creio que me entendem. Os Textículos são resultado de ato sexual tântrico, então só rola quando dá muito tesão. E meu libido anda em baixa.

Sem contar que ando me repetindo. Eu quero fazer um textículo com vários Top 5 da minha vida, outro sobre as dores e delícias do Magistério, umas críticas de uns livros que estou lendo, etc, mas não sobra tempo e quando tenho, jogo fora descaradamente, esquecendo que isto é um “recurso não renovável, altamente limitado”, como a minha paciência, que sempre foi quase nula, como oxigênio dos Andes. Alguém tem uma lhama voadora da sorte pra me vender?

Ando me repetindo, e vou me repetir de novo, usando e abusando da Licença Poética para o Festival de Bobagens. É que o passar do tempo é algo realmente fascinante, e segue me intrigando.

Tenho 25 anos. Não é tanto, eu sei. Mas é muita idade no RG para uma eterna adolescente. Eu convivo com adolescentes e tenho que dar limites a eles, que pedem por isso. Ao mesmo tempo em que entro em conflito de gerações com a garotada, me sinto mais jovem que meus alunos, como se os “caretas” fossem eles e não eu, como era no meu tempo, saca? (Já contei sobre o choque que é ver gente jovem com discurso reacionário. Avanço da tecnologia e retrocesso no pensamento. O século XXI é uma grande merda.)

Conviver com adolescentes dá outro barato doidíssimo, descobrir como eles nos veêm. Dia desses, perguntei às turmas de sexta série o que era música de velho, por conta do projeto Descubra a Orquestra, da OSESP. Eis algumas respostas:

Legião Urbana
Mamonas Assassinas
Elis Regina (caralho, ela morreu em 82, ano que em que nasci)
Roberto Carlos (bem, quando nasci, este já era meio velhinho mesmo, rsrs)
Cazuza (nem vou comentar)
Cássia Eller (ela morreu em 2001, porra!!! Nesta década ainda, como assim, velho?)

Fiquei passada com estas respostas. Coisas da minha época são de velho, além do mais, para meus pokémons música brega e de velho é quase a mesma coisa. Comentando isso na Sala dos Professores (outro lugar folclórico, cheio de histórias), um colega matou a charada: se é da minha época, é datado já, não faz parte da geração deles. Tinha que ser um professor de Matemática para apelar para a lógica assim, sem ter dó da minha velhice precoce. Sem dúvida, Fernando foi genial. Eureka pra você, caro colega.

No mesmo dia, estava com outras professoras lembrando coisas que nossos sobrinhos, filhos e alunos jamais verão, e se virem, vai ser numa vitrine com uma sala com ar condicionado para conservar as peças:

Vida pré-MSN e Orkut
Máquina de escrever
Câmera fotográfica tradicional, que precisa de flash e filme
Plano Collor, Cruzeiro, Cruzado e Verão (desses ninguém sente saudade)
Disco de Vinil
Fita k7 (em tempos de mp5, eu ainda tenho e escuto!)

…Entre outras coisas, como o tempo em que linha telefônica da TELESP (quiéisso, psora?) era “O” patrimônio e não uma dor de cabeça disfarçada de multinacional espanhola, além dos celulares da primeira geração, que mais pareciam palmtops de tão grandes. Tempos românticos esses.

No Dia das Mães, eu fiz uma busca arqueológica no Limewire por hits dos anos 80 a pedido da minha irmã, que desenterrou pérolas de fazer pular ácaros do monitor, e por um acaso é a seleção que embala este textículo. Quem mais se lembraria de Rick Astley, além da Renata? Acertei em cheio em dar o Almanaque 80 de aniversário para ela.

Há muito tenho me perguntado junto com O Vizinho das Galáxias, o Forest, porque diabos os “Vinte e Poucos Anos Blues” são tão nostálgicos. Será que a gente é tão obsoleto assim? Com a resposta do Fernando, na última sexta, mais estas viagens sentimentais que tenho feito ao passado, descobri a fórmula da nostalgia. A gente viveu e não envelheceu, a não ser em termos biológicos ou cronológicos (temos uma pança de chopp respeitável). A nossa idade não corresponde à nossa realidade interna. E que uma coisa fique clara: nós amadurecemos, sim. Descemos aos infernos, perdemos gente que amávamos, sofremos desilusões, aquela coisa toda. Apesar de ter me dado conta que a adolescência acabou, eu me sinto muito mais ‘forever young’, do que quando tinha 17 ou 18 anos, época em que não via mais novidade em nada. Hoje, em compensação, estou me divertindo muito com essa sensação de ser “vintage”. Eu sou caçula e cresci com a impressão que eu era uma folha em branco, e já tenho algumas páginas acumuladas. O Éder² tinha razão. Agora que tá começando a ficar bom.

Estamos todos no ponto. Chegamos aos Vinte e Poucos com fôlego de criança para viver outros 20, 30, 40, até 50 outros Anos Blues. A vida ainda nos apaixona. E que se foda o calendário, tanto quanto meus clichês e minha pieguice.

Post Scriptum ao contrário:
2. Um Vinte e Poucos Anos Blues acumulou pontos no programa de milhagem essa semana. Feliz Aniversário, querido. (Sem contar o gatão-de-meia-idade mais amado da FAMOSP, que vai me matar se ler este textículo, que também é um taurino 20 de maio.)
1. O título deste textículo me fez cantarolar uma das primeiras músicas do Pato Fu: “Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei, pra você correr macio”… Descobri exatamente neste momento que ela se chama Sobre o tempo! Juro que não sabia.

Textículo jorrado em 24/05/2008

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Benditos aqueles que desafiam o poder

Enquanto a imprensa tagarela em torno da prisão preventiva do casal bungee-jump-sem-corda, uma notícia se espreme na mídia hoje: a absolvição do mandante do assassinato da Irmã Dorothy Stang, morta em 2005. E isso só aconteceu porque esta notícia deu mais algumas páginas de má fama brasileira na mídia estrangeira. Os conflitos de terra continuam matando muita gente no interior desse país, o pau come na Amazônia e isso não dá noticiário. Alguém aqui conhece Margarida Alves, por exemplo?

Irmã Dorothy tombou pela causa missionária e da Amazônia, disso não há dúvidas. Sua morte, porém, só ganhou repercussão porque seu país de origem era os EUA. É uma constatação meio clichê de teoria da conspiração, mas não consigo ver outra razão para o assassinato da Irmã Dorothy ter sido levado a público na época de sua morte.

O assassino propriamente dito, réu confesso, foi condenado. O mandante também tinha sido, mas recorreu e conseguiu absolvição. Isso é pior que impunidade. Significa que aqui só é assassino só quem mancha suas mãos de sangue. É algo que só posso classificar como nojento.

O que tenho como consolo é a célebre frase de outro mártir, Ernesto Che Guevara: "Podem pisar as flores, mas jamais vão conseguir acabar com a primavera." Outros mártires vão tombar, muitos batismos de sangue haverão de acontecer e ainda assim, haverá primavera.

Além de dar boletim de imprensa, não gosto também de publicar poesia. Ninguém lê ou curte essa joça. Mas creio que a Irmã Dorothy merece:


Novas Bem-Aventuranças

(À Dorothy Stang)


Benditos aqueles que desafiam o poder,

Aqueles que brincam no quintal

em dia de chuva sem medo do resfriado.


Benditos os que não agonizam calados.

Aqueles que gritam, incomodando a gorda vizinhança,

que insiste em não perder a novela.


Kyrie Eleison.

(20/02/05)


...Miserere nobis.


Textículo jorrado em 07/05/2008

Pobre mocinha indefesa

Sou uma pobre mocinha indefesa. Tipo aquelas nas mãos do King Kong gritando "Socorro!", saca?
Percebi isso ontem.
Depois dos fatos, boletim de ocorrência, ligações e mais ligações para bloquear cartões e afins, não lamento nada a não ser o meu direito violado de andar lunaticamente pela rua à noite. Desde que me entendo por gente que volta pra casa sozinha às 11 da noite, faço isso.
Engraçado que só agora li o tal artigo do Luciano Huck sobre seu rolex roubado nos Jardins, que deu aquele pano pra manga imenso há uns seis meses atrás. Não consegui ler a réplica do Férrez. Algum assinante do Uol me manda, por favor?
O mote do tal artigo do Luciano Huck era "Eu sou tão bonzinho. Por que roubaram meu rolex? Sou até presidente de ONG!!", e construiu seus argumentos com questionamentos velhíssimos como "Onde vamos parar assim?", ou, citando Flamingão: "O mundo tá perdido!" (Chu, é o seguinte: tenho pra mim que o mundo não está perdido, ele nasceu perdido.)
Agora que este caso é piada velha e arquivada, acho graça. Porque eu, em situação parecida com a dele e não pela primeira vez - eu já tinha tido um assalto para chamar de meu - não estou nem aí com os bens perdidos, nem quero este papel de vítima que ele fez. (De fato, ele e eu e mais um monte de gente tem este papel na conjuntura dos acontecimentos, mas não quero carregar nas tintas, sabe?)
Além do meu direito de ser lunática violado, lamento também a Lucíola de zebra linda que Ju e Li fizeram só para mim perdida e a constatação do início deste textículo. Não sou a Lara Croft, porra. Sou uma pobre mocinha indefesa. Meeeeeeeeeeerda.
Ps: Antes que me perguntem, está tudo bem. E não tô a fim de passar o BO outra vez.

domingo, 4 de maio de 2008

Texticulando

Leitores de textículos...saudade de vocês.

Não texticulei antes não por falta de assunto e sim por excesso. Muitas coisas a dizer. Devo ter muita p**** na cabeça mesmo, só pode ser isso.

Devo dizer que este último textículo (Vinte e poucos anos blues) foi profético para mim. Estava escrevendo num momento de êxtase para mim, ao mesmo tempo vendo a dor de outras pessoas, queridíssimas. Deu um nó na minha cabeça fálica. Santa Teresa* que me ajude.

Mal sabia eu que iria passar por isso, tal e qual está aí. Vinte e poucos anos blues às últimas consequências. Dor, dor e mais dor. Sem motivo aparentemente nobre. Aparentemente, ressalto.

Então me encontro aqui fazendo o que eu mais detesto fazer neste Blog Literário Mais Sem Audiência do Ciberespaço: dando boletim de imprensa desta vida sem importância frente à imensidão e vastidão do Universo. (Desculpa, gente. É que assisti a "O sentido da Vida", do Monthy Pynton, e ando um tanto cínica em relação a estas questões. Sem perder o bom humor, é claro.)

Resumindo a ladainha, este é só para dar sinal de vida à minha pequena Grande audiência, para que saibam que o Blog Literário Mais Sem Audiência do Ciberespaço não virou um Latifúndio Improdutivo na Rede. Saibam que ainda estão rolando os dados. E é para mim mesma esta cambalhota.


*Antes que eu me esqueça: A imagem do textículo anterior é "O Êxtase de Santa Teresa D´Ávila", de Borromini. E deste é São Sebastião na Coluna, de Perugino. Está no MASP essa, recomendo ir ver pessoalmente.


Textículo jorrado em 04/05/2008.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vinte e poucos anos blues


Eu levo meu signo solar às últimas conseqüências. Não contente em ser uma balança, sou uma gangorra emocional. E vejo todo o mundo à minha volta brincando nessa gangorra em alta velocidade. Ainda assim, conseguem ver um pouco de estabilidade em mim, nesta libriana enlouquecida que vos fala. Ou então, misericórdia. Descobri um talento de “Madre Teresa Emocional” em mim.

O que está acontecendo com nós todos, na casa dos vinte e poucos anos? Tudo tão à flor da pele, como se fôssemos adolescentes ainda. Com o agravante de termos uma consciência agora que nessa época não tínhamos, sem espaço algum para alegar inocência. Ainda assim, o somos. Quem tem culpa?

Não há mesmo consciência sem dor. A gente chora, ri, gargalha, explode e tudo isso dói. E quanto maior a dor, maior o êxtase. Fugindo da dor, o prazer também vai embora. Os dois vêm no mesmo pacote, numa espécie de ‘venda casada’ do Universo, este fanfarrão megalomaníaco.
Precisamos conviver com a dor da dúvida, mesmo precisando saber onde vai dar essa gangorra que desafia as leis da Física continuamente. (Certeza é coisa pra doido. Esta é uma das poucas que tenho.)

Descemos pro play, agora não tem escapatória. Vamos brincar até o último minuto de sol.

domingo, 6 de abril de 2008

Sobre João Hélios e Isabelas

A grande mídia é uma grande merda também. Cada dia é um espetáculo novo, e quanto mais sangue e horror, melhor. Será que não saímos do Império Romano? Costumo dizer que o lema do Império Romano sempre foi imcompleto: não é só Pão e Circo para manter o povo quieto, deveria ser "Pão, circo e sangue". Ou então esqueceram de contar que o circo era sangrento. Quem duvida disso é só lembrar que diversão de romano era jogar cristão na arena para os leões, ver dois trogloditas se degladiando até a morte e ainda os mimos, os bisavôs do Happy Tree Friends feito com gente de verdade.
Neste Império Romano e midiático, estão aparecendo aos montes os piores crimes contra crianças e adolescentes. Adolescentes acorrentadas, Isabelas atiradas, João Hélios arrastados. É impossível não se perguntar para que serve a porcaria do ECA e seus respectivos Conselhos Tutelares.
(Essa piada velha eu preciso explicar: no professorado às vezes rola uma impressão, algo que nem sempre é falado abertamente, que o ECA só serve pra tolher o trabalho do professor e para os menores folgados em questão dizer na sua cara que você não pode fazer nada contra eles. "Eu sou dimenor!!!", eles falam. Hahaha, comigo não, violão. Cansei de dizer: "Ah, é? Vai agora no Conselho Tutelar me denunciar, mas vai agora, tá?" Como eles não sabem se isso é de comer, de encaixar ou montar, eles deixam pra lá. Touché!
Baideuéi, preciso explicar também que esta falta de limite deliberada é um perigo, porque é uma porta aberta para cada vez mais e mais regressão. Eu não quero sentir falta da palmatória, até porque, graças ao Barbudão, isso não foi usado comigo. E pasmem vocês: se alguém experimentar pedir a opinião da molecada sobre essa falta de limite na educação deles próprios, vocês vão ver as respostas mais conservadoras, algumas até reacionárias. Fico bege de pensar na possibilidade de meus alunos serem mais caretas que eu.)
Voltando à arena do Coliseu, volta e meia o contrário também ocorre. Um menor comete um crime terrível, e a burra unanimidade começa a discutir se não era hora de reduzir a idade penal, porque o ECA só serve pra proteger bandidos da periculosidade do Champinha, e bláblábláraçãowhiskasblábláblá. A outra parte da unanimidade burra, por sua vez, diz que os coitadinhos não tem culpa, a culpa é da pobreza. É, só se for dos pobres, na cabeça de Veja desse povo. Sérgio Adorno, sociólogo estudioso das questões da violência já afirmou categoricamente: a violência urbana é fruto da riqueza, e não da pobreza.
O que ninguém diz, por falta de informação ou coragem, é que a violência contra nossos jovens, crianças e adolescentes vai além das histórias conhecidas, que o índice de homicídios de tendo jovens como vítimas aumentou assustadoramente nos últimos anos. Vítimas anônimas, as quais ninguém mais chora além de suas mães. Ninguém fala também que, dessas vítimas anônimas, boa parte não estava metida com o tráfico, ou devendo pra eles. Muitos apenas estavam no lugar errado em hora mais errada ainda.
Tudo isso já me assusta muito, pela natureza dos fatos. Eu também me pergunto: "De quantos paus se faz um ser humano?". O que me assusta muito mais é o tratamento dado a eles pelo senso comum e pela "grande mídia". Aquilo que a gente vê na televisão não pode ser chamado de realidade, não chega a ser nem um recorte dela. São como reality shows: só tem show, realidade mesmo não tem.
Choro por todas as vítimas, espetacularizadas ou não. Choro mais ainda porque este mundo que os matou não dá nenhuma pista que vá mudar tão cedo. Muito pelo contrário, vamos regredir ainda mais, até não ser possível mais distinguir quem é humano e quem é porco, sentados à mesa, na sala de jantar, preocupados em nascer e morrer. Morrer, principalmente.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Inentregáveis

Lembram do poema do Álvaro de Campos? "Todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas...Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são...ridículas."
As minhas cartas, não só de amor, eram ridículas porque eu não as entregava nunca. Tanto que Bozolina e eu pensamos na idéia de blogar só com estas cartas inentregáveis.
Há muito tempo eu não fazia isso, muito tempo mesmo. No começo deste ano fiz uma, inentregável. Não pelo seu conteúdo, mas pela sua necessidade, franqueza, pelo seu desespero contido.
É inentregável...mas perfeitamente publicável. Quem me conhece, sabe quem é o destinatário, os motivos, tudo. Publico hoje, porque me agora me sinto livre do peso das confissões que ela carrega, ela perdeu sua razão de ser. Mas não sua verdade e sua beleza. Por isso, merece estar aqui.
"SP, 07/01/2008
DR* é uma chatice, eu sei. Quando não tem mais o “R”, deixa de ser chatice para se tornar aberração, daquelas que nem Freud explica. Nossa, como eu e minha camarada Nadja Caroline Um Tanto Lispector Macabéa Charlie Brown rimos com isso. (Comprido o nome dela, né?)
Tudo isso só para dizer que eu queria muito explicar – ou tentar, que seja – as razões das reações esdrúxulas que eu tive com você nos últimos anos, o que aconteceu comigo internamente para eu surtar daquela maneira. Mas sabe o que é? Eu não acho justo com você e não conserta nada. Mesmo assim, a minha necessidade de palavrório inútil não passa. Coisa de maluco isso.
Sinto saudade, também. Já devo ter falado isso para você da maneira mais casual possível, para não assustá-lo. Porque esta saudade que sinto é muito grande, não cabe em mim direito. Tanto que demorou meses para eu entender (ou admitir) que era exatamente isso que sentia/sinto. Saudade. De teclar com você todos os dias. De chamar você de Chuchu, ou Chu. De deixar que você me chamasse assim. Do seu jeito avoado. (Porra! Olha só a minha melancolia. Logo eu, que acho que você merece o total oposto, uma alegria leve e descompromissada. Você merece ser absurdamente feliz, já disse isso? :) )
Já disse para você tanta coisa sobre amor, culpa e perdão, mas nunca falei em vergonha. As atitudes imaturas que tomei me fizeram sentir muita vergonha. Ainda fazem, é lógico. Tanto que travo os quatro pneus só de pensar em procurar você. T-R-A-V-0. Simplesmente. Mesmo sabendo que você não daria o troco. Não é de você que eu sinto medo. É de me expor. Se eu comparo a minha atitude com as suas, minha vergonha triplica. Acompanhei, mesmo à distância, as adversidades que você enfrentou nos últimos anos, e vi você fazer isso com muita dignidade, muita força. Eu disse inúmeras vezes que gosto de você, que você é querido, mas nunca disse que o admiro. Sempre gostei de enfatizar os seus defeitos, mas nunca disse que as suas qualidades tem faltado para muita gente. Fico feliz em saber que o garoto que eu conheci se tornou um cara bacana, do bem.
A DR alongou-se por demais, justamente o que eu não queria. Por favor, entenda. Fiquei um tempo considerável sem admitir essas questões sequer para mim mesma, o que dirá confessá-las todas a você. Isto se você chegar a ler essa pataquada toda. Suspeito que essa carta seja da espécie das “inentregáveis”, daquelas que a gente faz para nós mesmos. Como se fosse um espelho, talvez. Ou uma punheta, quem sabe.
Ternura. Entendi o significado desta palavra, vendo o quanto eu te quero bem, sem aquela afetação de 'Eu te amos' e coisa e tal. E tem sido assim, e como é bom. Tenho o maior carinho por você, pela nossa história, e por tudo que ela nos ensinou. Espero encontrar você em ocasiões mais alegres.
With terderness,
Flávia.

PS.: DR – discutir relação. Aquele vício chatérrimo que algumas mulheres (como eu) carregam. Mas eu sigo firme no meu tratamento de desintoxicação."

domingo, 30 de março de 2008

Até o último minuto de Sol

Tenho vocação para a felicidade. Não é por nada, mas sou boa nisso. Fico pensando no último sábado de aleluia, quando enfim consegui viajar um pouco depois de passar férias de molho em casa. Eu literalmente esperei até o minuto de Sol pra me convencer que o dia tinha acabado para me render e ir para o quarto.
Desde que me entendo por gente tenho esta gulodice pela vida, lambendo a tampa do iogurte e o papel que embala o chocolate, só saindo do banho com os dedos enrugados, indo embora da festa quando começam a varrer o salão, dançando até a última música.
É bem verdade, fomos expulsos do paraíso. Depois dos últimos anos, não veremos mais a vida com a inocência malvada de outros tempos. Sabemos de fato agora: não somos indestrutíveis. A descoberta é recente e dá medo, é muito estranho começar a considerar a própria morte. Preciso considerar também que minha melancolia me diverte, e tem gente que vai entender a teoria da relatividade e não vai entender isso.
Neste final de semana, porém, que aproveito até o último minuto deste domingo mal dormido, eu comprovei que depois da expulsão do Paraíso, é possível descer pro play e ir brincar até se esfalfar. Foi exatamente o que eu fiz e mais um monte de gente, comemorando o aniversário do Tiozé numa santa gulodice, com amigos novos e antigos. Comprovei também a existência de uma invenção do teatro grego clássico, o deus-ex-machina. A reaproximação com uma pessoa mega-querida que eu estava ensaiando há meses aconteceu sem emendas no roteiro.
Isso sem contar a ida à Sala São Paulo com meus pais. Além do concerto em si, as histórias do meu pai no centro de São Paulo, os 'zóio verde' da Betona brilhando naquela sala é uma coisa Mastercard: não tem preço, rsrsrsrsrs.
E vai ser assim...até o último minuto de Sol.
Textículo jorrado em 30/03/2008