domingo, 20 de setembro de 2009

Che 2 - A Guerillha

No último domingo, assisti à Che 2 - A Guerrilha e gostei, mais do que o primeiro. Gosto da estética naturalista do filme, com uma ação lenta, focada na marcha da guerrilha e não nos combates, quase sem triha sonora, com iluminação natural. Benicio del Toro é um Che Guevara sem afetação nenhuma, acertou na mosca em interpretar o líder revolucionário de uma maneira humana, sem pesar para o lado do heroísmo, mesmo assim, mostrando o grande caráter do guerrilheiro.

Essas características estão nas duas partes do filme, é óbvio, mas no primeiro filme chega uma hora em que a ação se arrasta e na segunda parte isso não aconteceu, apesar do ritmo da ação ser exatamente o mesmo.

É triste você ver na sua frente uma história que você conhece bem, sabendo que o final foi desastroso. Não é nada catártico ver o fim de Ernesto Che Guevara na sua frente. Primeiro porque é História - com H maiúsculo, não tem aquela de respirar aliviado no fim porque era mentirinha, como na tregédia clássica grega. Segundo porque sabemos qual é a implicação de não termos tido uma revolução popular na América Latina. Tivemos uma série de ditaduras militares ao longo do século XX que criaram feridas que ainda não fecharam, e duvido que vão fechar, porque sempre aparece uma contrarrevolução para estancar este processo. Honduras que o diga, e isso é sim, problema nosso. O mais estapafúrdio é a justificativa para esse golpe: preservar a democracia (?!). E como um Maquiavel ao contrário, digo que pouco importam as supostas causas nobres para os fatos, e sim os métodos totalitários adotados pelo regime golpista, como por exemplo, sitiar a embaixada brasileira em Tegucigualpa, onde o presidente deposto Zelaya se encontra.

Revoltante que no caso da presença de Che na Bolívia, o próprio partido comunista de lá se opôs, não queriam estrangeiros no seu ninho e abertamente boicotaram a ação. Não sei se foi ingênuo ou corajoso da parte de Che crer que todos eram tão internacionalistas quanto ele, porém quando ele poderia sentar o traseiro em um gabiente como o segundo homem mais importante da Revolução Cubana, ele começou tudo de novo. O que prova, para mim pelo menos, que ele não estava interessado em poder e sim na transformação deste mundo de fato.
Mesmo sabendo de tudo isso, não conseguia de repetir um bocado de vezes para mim mesma, até cochichando, sozinha no cinema, que eu preferia uma revolução latino-americana triunfante, do que a figura do herói morto, tatuada na minha mente.
Depois de tudo isso, foi no mínimo indigesto sair da sala escura e dar de cara com um shopping. Não consegui tomar nem um milkshake.

Pedra que rola não cria limo - A Revanche

Dessa vez não fiquei só na catarse, a jornada da heroína cômica Georgia não me foi suficiente. Ontem, saí à caça do meu kefi, do qual sempre tive a absoluta certeza da existência, só que ele andava meio perdidinho. Encontrei num lugar que eu nunca fui, ora que coisa.

Boa música e pessoas dispostas a se conhecer. Nunca tinha conversado com tanta gente assim, sem interesses prévios, sem a obrigatoriedade de "pontuar" na balada. Isso não é efeito do álcool: lugar chato com gente chata, não há absinto que salve. E cheguei em casa com a certeza: esta sou eu. Chega daquela Flávia insegura e perdida.

De primeira não gostei do lugar, achei que estava arrumada demais para o rolê em questão. Relaxei quando pensei: o lugar chama-se Sarajevo, teria algo de errado se fosse arrumado demais. E outra, eu é que estava pagando de pequeno-burguesa, sendo que não passo de uma proletária (com algum verniz, mas ainda assim proletária). Depois fui vendo que o fato do lugar ser um ovo, faz com que as pessoas fiquem mais próximas e dá pra conversar, o som não é insuportavelmente alto.

Começa o show da Soul Train. Puta merda, Dom Paulinho Lima toca bateria e faz scat singing ao mesmo tempo! Musicalmente gozante. Mais uma vez o fato do lugar ser pequeno favoreceu. Estava praticamente no palco, de tão apertada que era a pista. O clima quente e fumegante fica perfeito com a música, totalmente funky, sexy. E eu lá, requebrando feito uma negona do Bronx. Saí de lá com a impressão de ter nascido com a cor errada. Já virando abóbora, de maquiagem borrada, ainda tive pique de puxar conversa com os caras da banda na porta da balada. E conheci outro batera por lá, conversamos, raçãowhiskasblablablá... deixa essa para outro textículo.



Voltarei lá, com certeza. Mas fiz questão de não esquecer de pegar meu kefi de volta e guardar na bolsa antes de ir pra casa, com a doce certeza que jamais vou perdê-lo novamente. Desci pro play e vou brincar. Sempre.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Patrick Swayze



Pensem em alguém que sempre foi nostalgia pura, está à beira dos 27 anos e que está vendo a década em que nasceu literalmente morrer. Que está vendo os filmes de temática adolescente da Sessão da Tarde serem progressivamente substuídos por filmes estrelados por cachorros, e que, apesar de não ter mais tempo, nem saco para ver Sessão da Tarde, fica triste com isso. (?!)

Além do Curtindo a Vida Adoidado, sinônimo de Sessão da Tarde para mim, sempre foi Dirty Dancing, com aquele espetáculo de professor de dança amassando legal a mocinha do filme, feinha, mas sortuda. Lembro quando fui ver a apresentação de jazz da minha irmã mais velha, dançando o tema deste filme, The Time of My Life, quando eu tinha 7 anos e cabelo de tigelinha.

Um pouco depois, veio Ghost, esse um filme de mulherzinha meeeesmo, para acabar com a caixa de lenços de uma vez por todas. Quando aprendi a tocar violão, treinava o dedilhado com Unchained melody, fácil e com a harmonia quadradona, do jeito que eu gosto. Sou uma maria-preguiça para tocar violão, não sei nada de cor com mais de quatro acordes. Para se ter uma ideia, nem as músicas que eu faço, eu lembro como se toca. O Renato faz isso por mim numa boa, ainda bem.

Falando em música, algumas músicas de elevador tem o poder de automaticamente de me levar direto para a infância. Com cara de sábado e dia de faxina. She´s like the wind é uma delas. Coincidência ou não, achei o clipe meio soturno.

Eu sei: às vezes, os TM mais parecem a seção de obituários de um jornal. Não é por mal, nem por fixação pela morte. É que há certos cheiros, certas nuances, que a gente só percebe quando olha para trás. Não é questão de viver no passado e sim de ir catando as pecinhas que formam o mosaico da sua vida e paradoxalmente, quanto menores elas são, mais longe você precisa ir para conseguir enxergar, como se fosse uma obra do Vik Muniz.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Filme de mulherzinha


Passei a década de 90 assistindo comédias românticas. Eu gosto de filme de mulherzinha, e daí? Uma Linda Mulher (que segundo a minha mãe deveria se chamar Um Lindo Homem, e eu concordo em gênero, número e Richard Gere - Ui!), todos ou quase todos da Meg Ryan, Jerry Maguire - A grande virada e O Casamento de Muriel fizeram a minha cabeça. O roteiro deste tipo de filme é quase sempre feito de favas contadas - na verdade estou sendo boazinha, é um lugar-comum atrás do outro - e a parte água com açúcar geramente é temperada com sequências de humor impagáveis, com elencos via de regra muito bons.

Seguindo a tradição, munida da companhia gazelística, neste último sábado fui assistir à estreia de Falando Grego (My life in ruins, no original). Nia Vardalos é Georgia, uma greco-americana que se muda para Atenas para lecionar história clássica, perde o emprego e, para se virar, trabalha numa agência de turismo pra lá de fuleira, não se dá com o trabalho e quer dar aulas de história e mitologia grega pra um bando de turistas que só querem saber de se entupir de sorvete no meio do calor da Grécia. Georgia está à beira de um ataque de nervos até que ela conhece o "urso que tirou carteira de motorista" que foi contratado para dirigir o ônibus da excursão, que seria a última que ela acompanharia e aí... começa o filme, que mostra a jornada de Georgia em busca do seu kefi, palavra grega que significa alegria, vivacidade, nosso brilho natural e para isso, recebe ajuda de um turista (Richard Dreyfuss) que começa como o metido a engraçadinho da excursão e termina como um velhinho fofo, espirituoso e movido a uma "pilulazinha azul da Pfizer que o governo paga", e até bancou o Oráculo de Delfos no meio da história.

O enredo é chavão puro, claro, mas a diferença estão nas sequências de humor, baseadas ou em mal-entendidos surreais ou na cara de "ahn?" que só a Nia Vardalos consegue fazer. Tenho boas lembranças dela - foi isso que me motivou a ver o filme na estreia, coisa que nunca fiz. Casamento Grego, um dos seus filmes mais conhecidos, não assisti inteiro, só vi uma temporada da série do mesmo nome alugada em DVD na casa de Bozoca, em um dos momentos mais fundo do poço dos últimos tempos da minha vida, e me arrancou boas risadas. Se a Nia Vardalos me fez rir naquelas circunstâncias, anything is possible.

Além do humor, as paisagens. Ah, as paisagens. Pathernon, Monte Olimpo, Teatro de Epidauro... Uma mais linda que a outra, as tais ruínas onde se perdeu a vida de Georgia. O segredo do sucesso dos chavões de Hollywood está aí. Todo mundo já foi Georgia um dia, a ponto de um dia se olhar e ver que perdeu o viço, o brilho, que não faz mais o que gosta, preferindo o contrário para agradar gente de que você não gosta. E de repente, resolve-se chutar o balde, apertar o botão do foda-se, dar uma imensa banana para o mundo, mas acaba-se por nem precisar. O destino se encarrega de virar a mesa por si só, deixando para si o deus-ex-machina do final da história. Aí que tá, não foi Hollywood que inventou isso. Advinha quem foi?

Na verdade, deus-ex-machina é a solução "engenhófica" de um conflito sem solução dentro de uma trama no teatro clássico grego, onde se fundou as bases para o teatro ocidental de hoje. Quem traz a solução milagrosa de um conflito a princípio insolúvel é a ação de um deus, daí o nome, um deus feito de máquina.

A virada do personagem é a sua virada. Georgia reencontra seu kefi por você, que respira aliviado quando sobem as letrinhas dos créditos, sem ter movido uma palha para tanto. Não, você não é o único, nem eu, todo mundo faz isso, inconscientemente. E isso não é loucura, é catarse. Aliás, isso é uma maravilha, resolveu sua vida e nem desfez a escova! Acha que foi Freud que postulou sobre este comportamento?

Catarse não é invenção freudiana e sim aristotélica. O discípulo de Sócrates postulou em Poética, o processo catártico da tragédia clássica, que eu descrevi acima à minha maneira, porque obviamente, na Antiguidade clássica não existia chapinha e muito menos salas de cinema. Mas o processo é exatamente o mesmo, a jornada do herói sempre trilhará este caminho.

Vou parando por aqui, antes que vocês pensem que estou falando grego. Encurtando o papo: quem gosta de filme de mulherzinha vai adorar Falando Grego: as mocinhas e os heroicos machos sem medo de comédias românticas. Sim, eles existem.

domingo, 6 de setembro de 2009

Paralelas

Resolvi aparecer, antes que achassem que sumi - como o Belchior- e começassem a me procurar, ou que também andei cantando o Hino Nacional Brasileiro meio grogue - como a Vanusa - e achassem que estou fugindo do assédio da imprensa.

Na verdade, não é nada disso. É que ando num momento Paralelas, saca? Correndo a cem por hora atrás de objetivos, trabalhando feito louca, como sempre. "E no escritório em que eu trabalho e (não) fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor"... Estou anti-poética, sem inspiração, nem tempo.

Porém, os micos da semana tornaram-se estímulo para eu retornar desse silêncio. Não gosto da desgraça alheia, mas é impossível não admitir que o chá de sumiço do Belchior - o Hugo Possolo soltou um caco sobre o tal desaparecimento em O Papa e a Bruxa e por pouco não caio da cadeira de tanto rir - e o Hino Lisérgico Nacional Brasileiro da Vanusa animaram as duas últimas semanas. Danilinho, num serviço de utilidade pública, me mostrou o video do hino na terça. Foi para isso que o senhor colocou computadores na sala dos professores, seu Serra? Se foi, meus parabéns, é uma excelente medida anti-stress para mestres esgotados pelo magistério. Deos meu, isso não é um mico, é um orangotango vestido de Carmen Miranda.¹ Não o Serra, a Vanusa.

Em entrevista a Silvia Poppovic, Vanusa declarou que estão desprezando seus 41 anos de carreira por conta de um mau momento que ela teve. Também pudera, não é um mau e sim um péssimo momento numa sessão solene da Câmara com nada mais nada menos que o Hino Nacional Brasileiro e na era Big Brother, em que a gente vive com câmeras em toda a parte. É muita ingenuidade. Nem um jogador de futebol tinha estragado nosso hino com tanto garbo e elegância.

O que é curioso é que eu dei mais risada com essa história da Vanusa não com o vexame do hino, mas com uma que Bozoca - a verdadeira - soltou um dia, no carro. Ela disse que quando ouvia Paralelas, na parte em que Vanusa canta "no apartamento, oitavo andar, abro a vidraça...", ela imaginava a cantora num clipe abrindo a janela intempestivamente, com a cabeleira loura chanel tamanho médio esvoaçando ao vento. Mais the 80´s, mais kitsch, impossível.

Quanto ao Belchior, compositor que admiro bastante, ri um tanto lembrando da homenagem feita a ele pelos Mamonas Assassinas no único disco da banda, se não me engano, na quarta faixa. Uma Arlinda Mulher é cuspida e escarradamente uma cópia do estilo de Belchior, desde a voz, a melodia, a batida do violão, até os versos. "Te ensinei os auto-reverse da vida e o movimento de translação que faz a Terra girar, te ensinei que o importante é competir, mas te mato de pancada se você não ganhar..." Sublime, poético, sacada genial daqueles doidos de Guarulhos. Só quem nasceu antes de 1995 entende isso.

Assim, decidi ceder aos apelos da cantora e mostrar um bom - talvez excelente - momento de sua carreira cantando Belchior, em um momento espetacular também. Paralelas é linda, e a gravação da Vanusa é um estouro, de longe a melhor de todas. Justiça seja feita. Todo mundo tem seu momento símio, até Fernando Pessoa disse isso².






Piadas Prontas à la Simão:
1 - O Zé não pediu, mas essa do orangotango coloquei por causa dele. Foi ele que disse que isso era piada pronta.
2 - Se você leu Poema em Linha Reta, do Fernando Pessoa, sabe do que estou falando. Também está farto de semideuses?