quarta-feira, 24 de junho de 2009

Peeeeeeeense positivo!

Esse é textículo mesmo, uma coisa até 'twittante' - acabei de entrar nessa coisa me perguntando: "Uátarrel is dis?"
A long, long time ago, nos tempos da Terra Média, escrevi sobre o pensamento não-positivo macabeico, e hoje estes pensamentos me vieram a tona novamente. Não cedi um milímetro na minha opinião: eu me ralo em dois empregos, preciso ser competente igualmente nos dois e ainda:
  • Não ter pontas duplas no cabelo;
  • Usar o Bankline;
  • Lembrar de usar o Renew para sinais mínimos de envelhecimento facial;
  • Utilizar fio dental;
  • Ir para a balada no final de semana, mesmo morrendo de sono;
  • Lembrar de mandar uma carta para o meu primo;
  • Fazer musculação quando não estou com a menor vontade;
  • Fechar a boca (isso serve tanto para comer como para falar menos);
  • Fazer book para meu currículo de atriz - puro, casto e imaculado no momento;
  • Mesmo sem tempo para nada, achar que sinto falta de um namorado, sendo que não sei há espaço para um na minha neste exato momento e por fim:
  • Escrever textículos engraçados, mas consistentes, inspirados e com regularidade para a Seleta Audiência que agora monitoro de perto no Google Analytics - mais uma tarefa inútil para minha vida, mas essa ao menos mata minha curiosidade insana, se alguém realmente lê este Festival de Bobagens neste mar de blogs sem fim.

E depois de tudo isso sou obrigada a ter tempo para pensar positivo?!?!?! Fala sério. Sou obrigada a fazer uma auto-citação:

"(...)Rabungentices à parte, o pior dessas auto-ajudices não é a pilha de clássicos que as pessoas deixam de conhecer. É essa obrigação permanente e implícita de vencer sempre, se dar bem sempre, ser bem comida sempre, sorrir sempre. (...)"

...Melhor mesmo é não pensar. Quem diria que eu terminaria este texto à maneira zen, hein, Alice Ruiz*?

Nota inutiél:

*Por pura sem-vergonhice não escrevi sobre a oficina de hai-kais que fiz com essa figura fodástica no Sesc Pompeia em abril. Quem sabe me dá na telha um dia desses, mas com certeza é uma experiência que pre-ci-sa ser compartilhada.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Vergonha de ser gente

Uma vez ouvi que o professor é uma criatura burra por excelência, porque nunca sai da escola. Claro que isso é um trocadilho, mas sabe-se muito bem que hoje em dia, declarar-se professor desperta no senso comum dois sentimentos, ambos antagônicos e nada lisonjeiros: piedade ou escárnio. Quem opta por essa carreira é tido como burro, mesmo que seja de uma forma velada e tem uma gente escrota que declara isso abertamente, através de discursos e de certas posturas que a gente vê em alunos e suas famílias - diria eu apenas doadoras de DNA, família para mim é outra coisa.


Já disse isso anteriormente, e isso não é papo café-com-bolacha¹ apenas. É fato. A falta de valores em que se basear é tão grande que dia desses, me dei conta que esse tipo de discurso que defendo são valores burgueses puríssimos - escola, família, lutar pra ter um emprego, etc. Por mais à esquerda que eu me considere, fui criada à maneira pequeno-burguesa e outra, a crise de valores está tão grande que qualquer valor serve - burguês ou não. Se eles ainda valessem alguma coisa, a atual juventude teria porque lutar, mas como não tem, estão cada vez mais letárgicos e agressivos - outra contradição.

Duas notícias pinçadas recentemente exemplificam bem o que estou falando. Como contra fatos não há argumentos, deixo que elas falem por si mesmas:



Preciso dizer que a primeira notícia mostra que este caso não passa de um refinamento de algo que existe desde tempos imemoriais na instituição escolar - o bullying - com a diferença de que este citado agora fez uso das chamadas mídias 2.0 (Orkut, principalmente). A segunda trata-se de mais uma descoberta da pólvora. Escola é, por excelência, uma instituição cruel com as pessoas, por ser um microcosmo da sociedade, uma amostra grátis do pior do ambiente em que a gente vive. Muita gente não entende o oximoro que sou: quando criança e adolescente, adorava estudar, mas detestava escola, assim como sou hoje uma professora que adora seu ofício, mas que odeia a instituição escola o triplo que odiava nos seus tempos de estudante. Ô lugarzinho medíocre, e olha que adoro as minhas escolas (eu não contente com uma, tenho duas dores de cabeça para privilegiar os dois lados do cérebro).

Sem contar os casos que vejo ou que fico sabendo no dia-a-dia e que não são noticiados. Nesta semana soube de dois que são de amargar, me dá vergonha de ser gente por essas garotas. TODAS as protagonistas são garotas. Qual é a desculpa pra isso: excesso de testosterona ou falta dela?

Essa primeira notícia deu no último Jornal Nacional, e é lógico que foram consultar um "especialista em Educação". Quando ouço essa expressão já começo a tremer - algum tonto graduado vai desfilar o rosário do Bestiário Tucanês da Educação², e aposto minha coleção de figurinhas que nenhum deles pisou numa sala de aula do ensino básico. No máximo algum pode ter dado aula no ensino superior, porque se virar nos quarenta e cinco no ensino fundamental e médio é coisa pros peões da Educação, como eu. No caso do JN de hoje, bingo! O desavisado da vez bateu mais uma vez na tecla do diálogo, como se a molecada de hoje quisesse isso. Eles pedem por limite e cada vez mais de uma forma consciente. Quantas vezes não ouvi: "Professora, bate nele!" ou "Manda ele pra diretoria!". Como a impunidade é grande, os nossos alunos sentem isso e esta ânsia por limites em casa e na escola acaba virando um catalisador de contrarrevolução. Ficam com saudade do tempo da palmatória. Nem eles aceitam esse discurso hipócrita que transforma um ECA num desserviço à educação dos mais jovens, principalmente na escola, que é um espaço público e visado, ao contrário do espaço doméstico, mais difícil de fiscalizar.

Muita gente me pergunta: mas por que você não sai dessa? Um dia posso até sair, mas quando EU quiser. Quero ter o direito de gostar do que eu faço, oras. De uma hora pra outra, educação virou futebol: todo mundo entende, todo mundo dá pitaco, mas sempre prevalece a aura romântica em torno da figura do mestre, embora constantemente desmoralizada. Não sou um Dom Quixote, porra! Estudei para ser professora, não para lutar com moinhos de vento e não me sinto na menor obrigação disso, porém...

...Do que dá certo ninguém fala, só das desgraças mesmo. Tenho uma notícia muito boa para dar aqui, só estou esperando que ela tome mais consistência para ser divulgada. É como a Bruna citou no seu blog:
"A árvore cai com grande estrondo, mas ninguém ouve a floresta crescer."
Patrick Pardini


O poder ultrajovem vem aí. Aguardem!

Inútieis:
1 - Papo café-com-bolachas é a conversa típica de sala dos professores: ora reclamando da vida, ora rindo das pequenas desgraças cotidianas.
2 - Existe um outro sinônimo para o Bestiário Tucanês da Educação, criado por alguns colegas: chalitar. Quer coisa mais irritante que ele, querendo se parecer com Dalai Lama falando? Ah, me poupe!

domingo, 7 de junho de 2009

Grito em fatias

Ensaiei este início de textículo inúmeras vezes e para arrematar, ensaiei mais uma. Existem coisas sobre as quais penso em falar e não falo, outras, simplesmente me dão vontade de falar. E é a vontade quem manda. E o fato é que nestes últimos dias não tive a menor vontade de escrever nada, por mais que existam coisas que merecem e que precisam ser ditas.

Paralisei não só porque os dedos congelaram de frio, mas também por ter um nó gigante na garganta, que não consigo cuspir com um grito bem sonoro, daqueles de ensurdecer o mundo.

Para não deixar minha seleta audiência mouca, eis que vem um grito em fatias.

Fatia nº1 - tenho lido jornal ultimamente: o Estado (Novo) e a Folha (Ditabranda) - de graça porque não dou um real em nenhum dos dois - e tanto um quanto o outro desataram a falar de Educação e do professorado. Não sei o que é pior: se é quando criticam ou quando resolvem defender. As duas vertentes põem a classe para baixo do cu da cobra do mesmo jeito. Mas que merda: a Educação não precisa ser um ato heroico ou fruto de idealismo puro. É uma carreira como qualquer outra, precisa ser atraente para trazer para si gente talentosa e competente, não idealista. E para deixar bem claro: atraente não só financeiramente, porque engana-se redondamente quem pensa que é só grana que move uma pessoa a escolher e permanecer numa carreira. É satisfação pessoal também, até mais que dinheiro, para alguns. E há quem chame isso de idealismo. Uma pinoia. Idealismo é coisa pra gente burra¹.

Fatia nº2: O penúltimo post do blog do Skylab recomenda um DVD do Luiz Tatit, fodíssimo compositor e estudioso da canção, que me faz pensar nas minhas, se são canções mesmo ou um monte de fórmulas repetidas ouvidas no rádio à exaustão desde os tempos da terra média. Skylab, então, cita um outro post seu, mais antigo, sobre a "nova safra" brasileira de cantoras, da Marisa Monte em diante. Nunca tinha entendido porque eu tinha enjoado da tal "nova MPB", que no início dessa década foi uma opção para mim àquele rock farofa chinfrim que tocava na rádio nessa época; entendi quando li esse texto. Tudo muito asséptico, tudo muito certinho, o que torna tudo irremediavelmente um porre. Pena que a discussão do texto descambou em quem comeria qual cantora dessa geração - papo que de fato não me interessa - por causa da piadinha final do texto: "Você comeria a Marisa Monte?"

Este texto me abriu um clarão na mente e exagero até que pode mudar a minha vida: digamos que agora sei em que cavalo apostar. Se bem que Skylab me deu uma esperança como intérprete (não-asséptica e cheia de erros, porém original) com uma das mãos, mas estrangulou a pobre com a outra, colocando todo mundo no mesmo balaio:

"qualquer cantora, da nova geração, não mencionada e qualquer outra que venha ainda a surgir, por favor, se sinta incluída – não há escapatória."

Fodeu! Desisto de ser diva. Prefiro continuar sendo vocalista de banda de rock de garagem em franca ascensão mesmo!

Fatia nº 3: Os TM estão sendo frequentados e comentados por gente nunca dantes vista, o que é realmente muito bom, mas me sinto meio como Wanderson, saca? "Não estou preparada para a repercussão: repórteres, não insistam por enquanto!" Um moço educado veio elogiar o sabor acentuado dos textículos que andou provando e citou que o trabalho do Skylab "vai além do grotesco e escatológico" e eu, como bufão e cachorro sarnento que sou, rosnei pro pobre, afinal a estética do grotesco é complexa, a ponto de ter que "ir além" dela. "Os bufões estão a nossa volta: inspirem-se neles", já postulava Titio Jorge Didaco. Foi mal aí, galera, mas é que o tal do "humor ácido" não é puramente performático, é a verdade mais profunda do bufão que vos fala.

Notas 'inútieis'

1- Idealismo vazio é coisa de gente burra sim, porque é exatamente aquele que não move uma palha do lugar. Eu ainda mantenho uma ponta de idealismo sim, mas com uma boa dose de cinismo.

2 - Ilustrar este textículo com O Grito, de Edvard Münch é um lugar-comum quase imperdoável, mas quem resiste à poesia dessa tela? Nem Homer Simpson se safou! Créditos da imagem: dimensaoestetica.blogspot.com/2008/01/o-grito...