quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Parte II - O que fazer com o muro?

(Segunda Parte do meu Festival de Bobagens: Sur le non sens (das bobagens): O que se aproveita?)

Neste caso, não é exatamente uma bobagem, muito pelo contrário. Eu estava falando do meu trabalho e da minha pesquisa, mais precisamente de como é difícil persistir em propostas que partem de pressuspostos completamente diferentes do que regem a escola. Mas como estas questões desafiam não só meu intelecto e sim minha vida inteira, eu devo ter falado demais. Feito da aula terapia, por mais que eu não quisesse.

Entendam, não se trata de fazer da aula um Muro das Lamentações. Trata-se de estar fartx de tantos muros, os reais e os invisíveis. Trata-se de o quanto estes muros doem (mais aqui).  E, evidentemente, de nem sempre saber o que fazer com eles. Ou de identificar onde exatamente os muros conceituais estão.

Prof. Carminda, porém, com seu blend de perspicácia com delicadeza e ternura, soube fazer a síntese. Ela disse que quando a gente descobre onde está o muro, imediatamente a gente sabe o que fazer com ele. Esta é a tarefa da minha pesquisa e da minha vida, enquanto professora de Arte de escola pública.

Esta é a primeira tarefa. Muro de Berlim, 2015.

A imagem do muro me afeta profundamente já há algum tempo, e a experiência de ver o que sobrou do Muro de Berlim apenas me fez ver com meus próprios olhos o horror que estes muros representam. E como ainda não aprendemos a eliminá-los.
Primeiramente, Berlim não se desfez completamente do muro. Por onde ele passou, existe uma marca (duas fileiras de paralelepípedos, cortando ruas, calçadas, ciclovias) e às vezes a placa:

A Cidade e suas cicatrizes. Provavelmente perto da Postdamer Platz, 2015.
O que restou do Muro, de fato, é o memorial chamado Topographie des Terrors (Topografia do Terror), exatamente em frente onde ficava a sede da Gestapo. Mesmo que memórias reeditadas fiquem mais organizadas e ganhem um certo verniz, a atmosfera mantinha seu horror. Apesar de um sol bonito ainda brilhando às oito da noite no verão berlinense.


Topographie des Terrors, 2015.
Estes painéis mostram a história desde a conjuntura política pós-Primeira Guerra (República de Weimar) até a ascensão e queda do Nazismo. (Sim, fiz a turista louca e tirei foto de quase tudo, mas também eu li.) E o que estes painéis me mostraram? O quão estamos próximos, aqui no Brasil, deste clima que favoreceu o surgimento do Nazismo, na Alemanha. E depois, nas aulas sobre Currículo e Formação de Professores, ministrado pelo meu orientador, Prof. Palma, ele cita um livro (ou uma coleção, não sei ao certo, mas provavelmente este), em que diz que a educação escolar autoritária durante a República de Weimar foi fermento na massa do regime nazista. (Encontrei uma referência aqui também).


O antigo muro, agora protegido por grades. Virou “peça de museu”...
Esta citação ao muro de Berlim é para mostrar como ele ainda pode existir, apesar da tentativa em envidraça-lo e fazer dele acervo do mundo. (Aliás, como ainda está existindo, atualizado na forma dos muros levantados nas fronteiras para barrar os refugiados que tentam se salvar na Europa, por exemplo), e para refletir sobre como a Educação pode ajudar a construir estes muros.
...E também como pode destruí-los, em que pese a Ocupação das Escolas pelxs estudantes secundaristas da Rede Estadual de São Paulo, movimento este que soube usar os muros da escola a seu favor.
Sonhando com uma vida sem muros, apesar de ainda estar aprendendo a lidar com eles. Por enquanto, estou estudando suas fissuras, por onde algum vento de transformação pode soprar.

 

sábado, 19 de dezembro de 2015

Sur le non-sens (Das bobagens): o que se aproveita?

(Segundo capítulo do Escrito Errabundo II, em duas partes porque falo e escrevo muita bobagem. Aqui, a intro e primeira parte). 
 
Ser bobo tem suas vantagens: podemos ser honestos e francos sem grandes consequências. A parte desvantajosa é que isso pode acontecer por não estar sendo levado muito a sério. (É algo que invejo nos velhxs: algunxs tem a capacidade de dizer uma verdade dura - ou um desaforo - e depois fingir demência).
 
No meu caso - que não estou muito velha, sou só meio boba – falo umas bobagens às vezes para descansar do excesso de seriedade, outras por falar pelos cotovelos mesmo. O querido colega MARQUES, Diego, sempre muito perspicaz, matou a charada – eu estava à vontade até demais nas aulas de Intervenção Urbana como Práxis Arte Educativa. O “até demais” é por minha conta, porque concordo com ele.
 
Assim, como o título aponta, me coloco à procura do que essas bobagens podem interessar para ampliar a reflexão sobre o que conversamos e vivemos durante a disciplina – apostando que estes momentos bobos podem ser indícios de algo mais interessante.
 
Começo pelo episódio “A pintura não grita”. Vou tentar puxar este fio do emaranhado e tecer umas reflexões sobre arte contemporânea: será que ela pode distanciar-se dela mesma um pouco e se questionar?
 
Parte I - A pintura não grita: e daí?
 
Não consigo me lembrar exatamente o que a Prof. Carminda disse para eu retomar esta obra que eu vi há anos no Sesc Pompeia. Entretanto, o que ela disse me fez recordar da sensação de CTRL+C/CTRL+V (copia e cola) que às vezes tenho com produções dessa categoria denominada Arte Contemporânea (ou Arte Conceitual), ao ir, por exemplo, a Bienais de Arte e não me sentir interpelada por nenhuma (E um pouco por isso é que faz muito tempo que não vou em uma, me xinguem). Justamente por esta ausência de memórias, me lembrei de uma que me suscitou alguma provocação, apesar de não ter gostado muito na época. Neste ponto, está o maior nó do emaranhado: por que fui citar uma obra que eu me recordava (e que de alguma maneira me provocou a ponto de me lembrar dela) para falar de obras que parecem se esforçar em ser provocativas ao extremo e acabam por passar em brancas nuvens?
 
Como não sabia o nome da artista nem da obra, pesquisei. Em nome da provocação dos colegas – em particular o Luís, que me disse justamente isso: se você lembra, é porque te diz alguma coisa. Mesmo que seja incômodo. Então, vamos a ela: Marcela Tiboni, O grito, 2003, videoperformance.  
 

 
A obra faz alusão à obra O Grito, de Edvard Munch e questiona o papel na pintura:
 
Como trazer a tona a discussão sobre a pintura, justamente sobre uma das técnicas mais antigas da história da arte? Aqueles que fazem pintura hoje desafiam e são desafiados a todo momento, expressar-se através da pintura é abrir-se a inúmeras possibilidades e perceber que praticamente todas elas já foram pesquisadas, e incansavelmente utilizadas. 
 
Tiboni suscitou essa discussão partindo do gesto e da tinta puros, fazendo uso de outros suportes - como fotografia e vídeo, numa abordagem radical.
 
Impregnar-me de tinta é como ter a possibilidade de entrar em uma pintura e pesquisa-la por dentro, como se daquele ângulo me fosse mais favorável desvendar seus mistérios, experimentá-los e quem sabe compreende-los. Não só tocar a pintura como experimenta-la de fato, alimentar-me dela, usar de todos os meus sentidos. 
 
Quando vi esta videoperformance na exposição Tripé, em 2005, no SESC Pompeia, não sei ao certo se fiquei incomodada ou intrigada com o que ela queria dizer. Acredito que tenha visto com olhar de criança (sem metáforas, ou simbolismos): mas por que ela está bebendo tinta? Gritando para dizer que a pintura não grita? Olhei o livro de visitas: comentários infames, alguns bem escrotos. Questionei minha colega estudante de artes plásticas (eu trabalhava no SESC como estagiária de uma exposição na época), se ela também acreditava que a pintura não podia gritar no nosso tempo. Ela disse que não concordava muito com o ponto de vista da artista, que para ela a pintura poeticamente ainda pode gritar. O assunto acabou aí, para voltar 10 anos depois.
 
Procurar a “especialista no assunto” (sendo eu naquele momento estudante de Educação Artística) para averiguar se a obra não dizia coisa com coisa ou se era eu que não tinha entendido nada, revela um sentimento comum diante dessas produções enquadradas como contemporâneas. Muitxs estudantes, colocados diante de produções modernas e/ou contemporâneas, já me fizeram este questionamento muitas vezes. Uma sensação de ignorância, como se seus sentidos não lhe bastassem para fruir a obra. Como se tivesse que ler um manual de uso antes. O fato da Arte Conceitual não fornecer respostas e sim mais perguntas, o fato de ela não se obrigar a dizer ou mostrar alguma coisa figurativamente, a não ser agradável aos sentidos, a não ser pacífica são aspectos que considero positivos, porque a torna propositora. Porém, estes aspectos perdem muito de suas qualidades caso se tornem pretexto para se enclausurar mais ainda em um mundo de poucos iniciados, se afastando mais e mais da vida.
 
Coloque o frasco num pedestal
Com um nome esperto ou abstrato
Ou na ausência de inspiração
Chame de Sem Título número quatro
(Lestics, 2009, Sem Título número 4)
 
(Por isso, gosto tanto desta canção da banda Lestics: “explica” o conceito da Arte Contemporânea com maestria, colocando-a mais perto do chão, como se fosse um bolero que ri da dor-de-cotovelo que ele mesmo conta).
 

 
Mesmo artistas admitem esta questão que estou levantando aqui. Em “Quem tem medo da Arte Contemporânea?”, aos 4’22’’, Tatiana Blass diz: “Para o público em geral, que não estuda arte, acho que é tão difícil entender Arte Contemporânea como entender uma cirurgia supercomplexa, um papo de médico”.
 

 
O questionamento que estou fazendo aqui nesta tentativa de esmiuçar meu próprio dissenso – minha relação com a Arte Contemporânea – é um  paradoxo. Se esta categoria: 
busca a aproximação entre arte e vida em termos de poética, materiais, temas;
desconstrói e/ou perlabora conceitos como obra e artista;
não se propõe a ser compreendida (assumindo que a fruição não desconsidera a racionalidade, mas vai além dela);
... Por que quando alguém tece uma crítica, ou manifesta uma rejeição a Arte Contemporânea, sempre terá alguém “entendido” para dizer: “Você é que não entendeu, queridx!” Entendem?
 
Neste dia em que eu citei a videoperformance O Grito - quando os colegas da turma, mesmo que num tom bem-humorado e relaxado, deram uma boa cutucada no meu cérebro - não cheguei a dizer que o incomodo não era relacionado a obra que eu citei, nem com arte contemporânea em si.  A “obrigação” de gostar de tudo que é produção desta categoria sob a pena de ser enquadrado na categoria de careta, retrógrado, quadrado, caso se manifeste em contrário é que é complicado.
 
O que estou propondo aqui, é que nós, arte educadores, artistas, performers, curadores e quem mais estiver próximo a este universo da arte aceite estes incômodos como uma oportunidade de se questionar. Se a arte contemporânea interpela, que se deixe interpelar também, porque estes incômodos são bem reveladores. Se alguém deixa de manifestá-los (com medo da pecha da ignorância), perde-se essa oportunidade de discutir, refletir, dialogar. É o que pretendo com este textículo. No meu caso, a oportunidade foi preciosa para tirar o pó de uma percepção de 10 anos atrás e também para me desvencilhar da mania antiga de dicomizar tudo em bom/ruim, presta/não presta e por aí vai.
 
Ao examinar esta lembrança, percebo que O Grito tem a cara das conversas que tivemos na disciplina, principalmente porque questiona uma técnica consagrada brincando com a disjunção entre pintura e fotografia. Gostei de ter encontrado referências da disciplina neste trabalho agora, porque vejo que não foi à toa que me lembrei dele.
 
Só que eu ainda discordo dela em um ponto. A pintura pode ainda dizer muita coisa. Os trabalhos que o Luis Quesada mostrou em aula, por exemplo são pinturas figurativas, e a meu ver são tão pós-modernas quanto o trabalho da Tiboni em termos de proposta, principalmente. E daí, só porque a técnica não é nova, ela está esgotada?
 
Este textículo-ensaio, porém, jamais teria acontecido se eu não tivesse admitido o incômodo. Aliás, esta é a recomendação que eu dou quando alguém se sentir incomodado com algum trabalho. Engulam o purgante, a tinta, o que vocês quiserem e vão (se) investigar.
 
É divertido, apesar de trabalhoso. E infinitamente mais saudável, por exemplo, do que aquela criatura vociferando contra Macaquinhos.
 
 
 
(Para esta recomendo não engolir tinta e sim uns Activia. Porque falar aquele tempo todo, com tamanho mau humor, só pode ser constipação intestinal... Olhar ou assistir um trabalho de arte e não gostar é razoável. Nada razoável é manifestação de ódio travestida de crítica de arte).

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Escritos Errabundos II - Reflexões sobre o moderno e pós-moderno que eu não sabia que “tinha esse nome”

             Quem me conhece ou me lê sabe que não bato bem do pino, por isso vou me poupar de explicar porque estou publicando um Escrito Errabundo II, sem ao menos ter-lhes explicado o que é um escrito errabundo e onde está o primeiro escrito por mim. No máximo, traço algumas narrativas. Nelas é que está a força do mundo - o Universo é feito de histórias, não de átomos (Muriel Rukeyser)
             Depois de ter lido Larrosa, descobri que além de poemas, resenhas críticas, contos e crônicas, textículos também podem ser ensaios filosóficos muito dignos. (E nutritivos, sempre). Os textículos desta série são o trabalho final da disciplina Intervenção Urbana como Práxis Arte Educativa, ministrada pela Professora (e já muito querida) Carminda Mendes André, que fiz no meu primeiro ano de Mestrado em Artes na Unesp. Já escrevi muita bobagem aqui, mas muita mesmo. Felizmente, algumas coisas se aproveitam e descobri que eles eram um bom ponto de partida para falar da relação sempre complexa que mantenho com o tempo. Como um ensaio, tem uma forma híbrida - às vezes se leva a sério como escrita acadêmica, mas uma hora eu não me aguento e tiro sarro disso. (A cambalhota do Drummond, lembram?) Todavia, não é porque estou brincando, que não estou falando sério... E LÁ VAMOS NÓS!



Desde 2008, eu mantenho este blog chamado Textículos de Mulher. Atualmente com postagens mais rarefeitas, porém acredito que é por causa dele que compreendo o que é uma escrita ensaística, como Larrosa Bondía (2003), no artigo O ensaio e a escrita acadêmica, onde ele trata do artigo como uma escrita subjetiva e híbrida.

O ensaísta inicia no meio e termina no meio, começa falando do que quer falar, diz o que quer e termina quando sente que chegou ao final e não por que já nada resta a dizer, sem nenhuma pretensão de totalidade. (BONDIA, 2003, p. 12).

         A escrita de textículos – este nome genérico para textos em prosa, que podem ser crônica, conto, crítica de alguma coisa que assisti e que me provocou o pensamento, relato de uma experiência pessoal ou uma reflexão sobre um fato político ou qualquer coisa que me cause espanto – desde sempre seguiu essa não lógica, este caminhar no escuro sem motivo definido (não me obrigo nem pela vontade de manter o blog atualizado, se tenho leitores assíduos, nem fico sabendo): caminho porque quero caminhar, escrevo porque quero escrever. Ser uma fazedora de textículos, então, é um exercício de desobrigação, exatamente como Adorno (2003) coloca, citado por Larrosa:

Felicidade e jogo lhe são essenciais. Ele não começa com Adão e Eva, mas com aquilo sobre o que se deseja falar; diz o que a respeito lhe ocorre e termina onde sente ter chegado ao fim, não onde nada mais resta a dizer: ocupa, deste modo, um lugar entre os despropósitos (ADORNO, 2003 apud BONDÍA, 2003, p. 109).

Neste jogo de me deliciar com as palavras - porque organizam temporariamente minha confusão - descobri muitas obviedades, discussões que já estavam postas, mas como diz outro blogueiro que gosto bastante, Rogério Skylab, “se quer novidade, leia jornais” (Eu poderia emendar até Raul Seixas, que dispensou os jornais, porque descobriu que “mentir sozinho eu sou capaz”, mas não vou. Este é um trabalho acadêmico lotado de foco e ironia). 


          Por ter derivado tanto tempo nestes botes falantes, quando começamos a discussão sobre moderno/projeto moderno/modernidade e pós-modernidade me soava familiar, apesar de não ter lido anteriormente Lyotard, Agambem, Foucault, Baudelaire. A disjunção do contemporâneo, a modernidade grávida do pós-moderno, aquilo que nos desafia por ser novo e velho simultaneamente, por exemplo, fervilhavam na minha cabeça desde muito tempo. E saber que estes filósofos existem e tratam destes assuntos quando eu sequer sabia da existência deles não diminui a temperatura dos meus pensamentos. Eu só rio de mim mesma por ter inventado a pólvora pela segunda vez.


Como eu gosto de autocitação, vou colocar alguns parágrafos aqui – talvez seja hora de revisitá-los junto com os textos lidos e discutidos nas tardes de quarta do segundo semestre, mas a análise deixa para depois:

“(...) se é “da minha época”, é datado já, não faz parte da geração deles”.  

      É aquele “hit do momento”, condenado ao esquecimento logo depois. Hoje, a publicidade, a cultura visual e digital revisitam estas múmias do passado - não sem ironia e sarcasmo - e “velhas piadas” ganham seu F5 (comando do Internet Explorer para atualizar uma página). Reler este textículo de 2008 tem algo de muito engraçado. Como ele já tem sete anos, algumas coisas são citadas como o “último grito da moda” já não existem mais, como MSN e Orkut. E talvez meus alunos de agora desconheçam completamente essas “novas velharias”. Ou seja, ele caiu na armadilha que ele mesmo levantou.


Esta piada velha me fez rir um bocado. Traquinagem de uma colega em fim de semestre. 

                  “Velhas piadas” também me provocam velhas reflexões – apesar de “velho” hoje em dia ser um conceito bastante questionável. “Só a mulher entre as coisas, envelhece”, diz Adélia Prado. Isso fornece um gancho para o próximo textículo. Piadas Velhas, o Provocador e Eu relata meu brevíssimo encontro com Antônio Abujamra. Eu já estava formada e fui assisti-lo na FAMOSP em um projeto que se chamava Teatro na Universidade, coordenado por Paulo Goulart e Nicete Bruno. Como boas alunas egressas que éramos eu e minha amiga na época, a coordenadora do nosso curso perguntou se queríamos conversar com ele depois do espetáculo. Aceitamos. Eu por falar demais me enfiei numa minissaia justa, mas que me deu um bom caldo para reflexão: qual o problema com piadas velhas? (Clichês e coisas antigas que você conheceu só agora, mas que para um monte de gente não é nem mais novidade). Ao contrário do anterior, que quis ser moderninho e deu uma mofada, este textículo está tão novinho em folha que hoje, não mudaria dele uma palavra sequer: manteve sua promessa de poder ser consumido a qualquer momento sem perder sua validade. Sua ironia dolorida em relação ao neoconservadorismo burguês (e moderno), citado por Habermas no texto que lemos, só se tornou mais intensa e estarrecida com ela mesma – quisera ela que estivesse datada.


“(...) Filhos da Revolução (de qual delas eu não nem sei mais), nascemos com saudades dos anos 60, até da repressão. Ah, os presos, torturados, exilados e até os desaparecidos é que foram felizes! Eles tinham uma ideologia para viver!
Tenho a impressão de que a gente cresceu com a ideia de que não era necessário lutar por mais nada. Com esta democracia instantânea (basta adicionar água e pronto), lutar por qual causa? Tantas vezes acreditei nessa piada velha, mesmo sem achar graça. Enganada redondamente, é claro. As coisas não vão nada bem, este século XXI está sendo uma grandissíssima merda, por motivos vários que renderiam um novo Textículo.” (Piadas Velhas, o Provocador e Eu, março de 2008).
Com o momento de que estamos vivendo - onde até a “democracia instantânea” corre perigo e depois de passar os olhos por Habermas e Baudelaire, a única ressalva que faço é o que meu amigo Luiz Filipe colocou nos comentários, e que hoje eu compreendo melhor: “vai saber por que essa vontade de mudar um mundo que já passou e não nos damos conta do mundo que acontece a nossa volta e que está no porvir”. 

...Felizmente, xs estudantes secundaristas de São Paulo parecem nunca ter estado contaminadxs por essa nostalgia besta que me cegou por tanto tempo. A luta É um devir, é estado permanente. Preciso me acostumar com isso.
A “nostalgia besta”, porém, não é de todo negativa. Este sentimento anacrônico que me sempre deslocou do presente é o “século fraturado” - como Agambem escreveu no O que é Contemporâneo? - que me faz perceber hoje o quanto sou contemporânea.
A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com próprio tempo, que adere a este e ao mesmo tempo, toma distâncias (...). Aqueles que coincidem muito com a época, que em todos os aspectos a esta aderem perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso, não conseguem vê-la, não podem manter fixo o olhar sobre ela. (AGAMBEM, 2009, p. 59).
            Por esta mesma contemporaneidade anacrônica é que Amy Winehouse me intrigou desde o primeiro momento que a ouvi e vi. A imagem dela é muito mais para mim que a disjunção de uma europeia judia com voz de negra estadunidense, mas este foi sim meu primeiro espanto relacionado a ela. E o primeiro amor também. Ela destoava de todas suas contemporâneas – não era fashion, não era sexy, não parecia querer ser sexy, nem saudável (aliás, entrou para o Clube dos 27 como não acontecia desde Kurt Cobain). E sua morte lenta – quem a viu no show em 2010, percebeu que ela estava qualquer coisa, menos viva – me fez refletir sobre que tempo é este que estamos vivendo. E estas reflexões brilharam como uma constelação resplandecendo numa densa treva (esta luz que não chega até nós, como Agambem colocou), cada vez que saía das aulas de quarta.
“(...) Este desejo de ser contemporâneo é mais velho que o mundo. É o mesmo que nos faz datados, amarelados pelo tempo. Aquele que causa espanto, estranheza ao fazer com que a gente se reencontre com uma versão velha de si mesmo. (Atire o primeiro álbum de fotografias quem se viu numa foto antiga e agradeceu aos céus por não ser mais aquela imagem, que mesmo mais velho, com mais dores para contar, deu graças a Deus porque enfim o tempo passou).

No passado, quisemos ser modernos.  E agora, queremos ser o que, contemporâneos, pós-contemporâneos? E no futuro, quereremos o que? Ser úbere-ultra-right-pós o que?”(Sobre o tempo II, julho de 2011.).

A morte de Amy significou, naquele momento da minha vida, a morte desta nostalgia besta, deste anacronismo. Achei que eu sucumbiria e me tornaria moderna, no sentido de sempre correr atrás da novidade, como se tivesse uma cenoura amarrada à minha frente. Apesar de ainda estar viciada na ruptura, como quem constrói um castelo de cartas e puxa a que está na base, acredito que acabei me aproximando da ideia da perlaboração (Lyotard), da pós-modernidade (onde o atual e o anacrônico convivem e as piadas velhas podem enfim, ser velhas sem ser incomodadas), e o tempo como espiral, que aprendi com a querida Rita Antunes (co-orientadora e autora do constructo que apoia minha pesquisa). Todos estes conceitos e ideias estavam orbitando, esperando a hora de entrarem em cena. E só assim, na forma de textículo, é que eles poderiam enfim, contracenar.



E como ato final, respeitando o tempo do textículo-ensaio que só acaba quando ele quer, encerro com um poema que escrevi quando Marty McFly enfim chegou ao futuro, em 21 de outubro de 2015. Ainda tive que aguentar a provocação do colega Carlos Foucault dizendo: “Nossa, estas eram suas anotações das aulas da Carminda!”  E eram mesmo, descaradamente!

Assim como nas aulas, falei e escrevi muitas bobagens neste blog e na vida. O tema do próximo ensaio do meu Escrito Errabundo II será as bobagens que eu disse em aula, mas que também me serviram para a reflexão.

Referências

ALVES, F. T. (Auto citação pouca é bobagem). Textículos de Mulher. Disponível aqui mesmo!  
AGAMBEM, Giorgio. O que é contemporâneo e outros ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.
BONDÍA, Jorge Larrosa. O ensaio e a escrita acadêmica. Revista Educação & Realidade: set/dez. 2003, p. 101-115.


domingo, 31 de maio de 2015

A caixa mágica de gibis

 Para Adriana Malaquias e prima Cynthia
Escrevi este texto há doze anos, como denuncia a piadinha com o slogan do governo do JK. O tempo que passa pode até não voltar (e como ando triste com meus tempos perdidos), mas também sei hoje em dia que a vida tem lá os seus estica-e-puxas. Como numa brincadeira de elástico, este texto voltou com uma conversa muito elucidativa com a prima Cynthia sobre Barbies, Susies e Ganha-Nenês. E vejo que o tempo passa, mas a saudade do meu quarto cheio de brinquedos espalhados não! 
"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!" 
(Casimiro de Abreu)
Quem me conhece sabe que minha saudade é crônica. Saudade que nem a da música do Gonzagão, Que nem jiló, "pro cabra se convencer que é feliz sem saber".  Vivo para juntar histórias. Tanto que, se eu fosse o Juscelino, meu lema seria "200 anos em 20", ao invés de 50 anos em 5. Não que minha vida seja alucinante, ela é até bem prosaica. É que qualquer coisinha é uma dramão pra mim. Devo ser roteirista frustrada e nem fiquei sabendo. 

A saudade que me doi mesmo são a dos meus brinquedos, mais do que primeiro namorado, primeiro beijo, essas coisas. Claro que existem alguns desenhos animados da minha época em exibição na TV, mas nada se compara a minhas bonecas perdidas. Poucos brinquedos me restaram, porque é costume da minha mãe doar tudo que vê pela frente sem uso. A maioria deles foi para os meus primos mais novos e minhas preciosidades como minha boneca Ganha-Nenê e meu Cachorro-Detetive já devem ter ido para o espaço agora, porque meus primos cresceram também.



Inútil dizer que a saudade que eu tenho não é de nada material, é do que eles representam e que os desenhos animados não conseguem sintetizar da minha infância.  Minha amiga Adriana disse que quando não está bem, vai ler sua coleção de gibis. Segundo ela, isso é um bálsamo, uma espécie de Fonte da Eterna Juventude. Tenho certeza que todo mundo já disse: "Ai quero voltar para minha infância!" num momento de extremo saco cheio com a vida. Pois é, só a Dri consegue com sua caixa mágica de gibis. "


Para ver que a vida é uma brincadeira de estica e puxa, olha só quanto está valendo uma Ganha Nenê agora: http://bit.ly/1M29u4s

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sobre Formação de Professores: parem de nos tratar feito imbecis

     Primeiro preciso dizer que este não é um artigo acadêmico, no sentido mais estrito do termo. Não procedi com uma coleta rigorosa de dados, para depois fazer uma análise fria dos mesmos. Aliás, como tudo que já escrevi aqui, as reflexões de hoje vem fumegando, como bala que já cheira a sangue:


Eu tenho o maior prazer em descobrir coisas novas, sempre gostei de estudar. Então, eu simplesmente não consigo fazer nenhum curso, formação, oficina só para pontuar. (Quem é professor da Rede Municipal sabe: sempre almejamos evoluir, se não espiritualmente, ao menos na folha de pagamento. Somos verdadeiros Pokémons em busca da evolução). A maioria de nós trabalha em mais de um cargo/emprego, fazemos cursos (estão lembrados da evolução?), os casados/pais/mães tem que cuidar da casa e filhos e se sobrar algum tempo depois de tudo isso, viver. Quem sabe fazer alguma coisa que realmente nos traga prazer e satisfação. (Aliás, sobre isso, não me faço de rogada: eu gosto mesmo de estudar e de me aprimorar no meu ofício. Por incrível que pareça, diminui a angústia quando vem aquela sensação de impotência que todos nós professores experimentamos frequentemente). Justamente por gostar de estudar e pela agenda apertada, tenho que ser seletiva na hora de escolher uma formação, oficina ou curso. E posso dizer que vale a pena adotar esta postura, porque tive experiências incríveis, que realmente agregaram valor ao meu camarotezinho de professora da rede pública.
Uma delas faz parte do arquivo dos TM, o curso de extensão universitária Poéticas da Dança na Educação Básica (IA/UNESP, 2012). A última fase do curso - o projeto com meus alunos - nem foi relatado aqui por uma absurda falta de tempo já citada anteriormente. Como tudo que opera no plano real, não foi perfeito. Durou pouco tempo em relação aos objetivos que estabelecemos na equipe, porém até hoje as crianças (que ainda são meus alunos) se lembram da experiência e falam dela. Espero conseguir fazer meu trabalho de campo do mestrado com alguns destes mesmos alunos. (Se isso acontecer, a professorinha pesquisadora em formação vai ter um treco de felicidade acadêmica!).
As três vezes em que fiz parte do Descubra a Orquestra, da Osesp foram inesquecíveis e valeram mais que meus anos de estudos de música no modo tradicional. Tivemos estudos teóricos, discussão e também aprendemos ferramentas úteis para o trabalho – às vezes parecem que essas duas coisas não combinam, mas combinam, tem que combinar. Aliás, se não combinarem numa formação, corra: é uma cilada, Bino!


          
E outra experiência recente sensacional foi o Encontro para Professores de Arte da Rede Municipal de São Paulo em agosto do ano passado, no IA da UNESP, promovido pelo Grupo de Pesquisa em Formação de Professores, capitaneado pela Prof.ª Luiza Christov. Além das oficinas que podíamos escolher (fiz uma sobre Aikidô e suas possibilidades de administrar conflitos pacificamente), o mais incrível foi a postura de escuta adotada pelo grupo: não fomos lá simplesmente para ‘receber’ formação. As narrativas coletadas no encontro foram discutidas, documentadas e resultaram numa ação prática: já assinou a petição online solicitando à Secretaria Municipal de Educação mais uma aula de arte no currículo do 1º ao 5º ano? Assina, gente!


Estas são algumas das experiências mais marcantes que tive, sem contar a epopeia pelo mestrado no Instituto de Artes da UNESP e meu contato com a Professora Sandra Batistão, que nos levou a pensar para além das questões que faziam parte da formação, que sozinha já tem tanto a se dizer e fazer (inclusão de alunos com deficiência intelectual). Mas em termos de formação continuada de professores, ainda se caminha a passos de centopeia lesa e isso me deixa beeeem irritada. Vou apontar o que considero falho e soluções possíveis. (Vai que eu seja lida e ouvida pelo ministro ou secretário da educação municipal, não é? Otimismo é tudo nessa vida, gente!)


A primeira delas consta no PME (Plano Municipal de Educação de São Paulo, rede onde atualmente trabalho), mas possibilidades reais e avanços, eu como recente mestranda não vejo: aumentar a quantidade de docentes mestres e doutores na rede. Pós-graduação scrictu sensu exige, entre outras coisinhas, dedicação em muita leitura e pesquisa, trabalho de campo, escrever e revisar, tudo isso dentro dos prazos dos programas das universidades (dois anos para mestrado, por exemplo). Isso demanda horários flexíveis (as aulas dos programas quase nunca são num período só) e dinheiro. Ou você tem bolsa, ou trabalha. O que temos de fato nas redes de ensino, como já citei, são jornadas acachapantes e nada flexíveis. O mínimo que se poderia fazer para aumentar a quantidade de professores pesquisadores, com pós-graduações scrictu sensu, seria uma licença sem prejudicar os vencimentos, específica para este fim e que nem precisaria durar todo o tempo do programa de pós. Isto existe na nossa Rede? Ando procurando e não encontrei ainda. O que há é uma licença para apresentar trabalhos científicos em congressos, que já utilizei duas vezes. (Mas se não há tempo para pesquisa, vamos apresentar o quê? Trabalhos acadêmicos não são recebidos por inspiração divina). Ficar recebendo formações continuadas tem seu mérito, mas não é tudo. Se quiséssemos mesmo melhorar a qualidade da educação do país, seria necessário encorajar os docentes a buscar seus próprios caminhos, pesquisando e compartilhando suas soluções. O sistema educacional da Finlândia por exemplo, que tanta gente ama idolatrar, exige para o exercício docente no mínimo o grau de mestre. Temos excelentes programas de pós-graduação em educação aqui – inclusive mestrados profissionais em rede específicos para professores - porque não usamos? E se usamos, temos que fazer milagres dignos de Matrix para dar conta do programa + jornada de trabalho. Se você é um mestrando ou doutorando dentro da escola, salvo raras exceções, será tratado como um ET. Prepare seu OVNI.

Outra coisa que me intriga é: se o docente tiver uma real proficiência em um segundo idioma, porque não se pode entregar sua certificação para pontuar? Isso existe em uma alguma rede pública de ensino do país? Nas que eu trabalhei/trabalho não existe essa possibilidade. E mais: cursos de um segundo idioma oferecidos em formação continuada só existem para professores de LEM (língua estrangeira moderna). Ou seja, você só pode falar inglês se for professor de inglês. If you are not, forget it! (Será por isso que tantos alunos fazem cara de se descobrem que um professor que não é de LEM ou de língua portuguesa fala outro idioma?)

O tempo que se perde com obviedades em alguns cursos, oficinas e afins que são um verdadeiro desperdício de tempo e energia é o que mais me indigna deste pequeno compêndio de problemas com formação continuada de professores. Talvez seja o que mais me irrita porque é o mais simples de resolver de todos que estou elecando aqui e não se resolve, porque vida de professor é muito fácil e precisa de uma emoçãozinha a mais. Desde a graduação, tenho uma coleção de casos – que é lógico que não vou contar, para não ser decapitada - em que somos tratados como verdadeiras bestas quadradas, nivelados previamente para baixo do centro da terra. Então, fica a dica: parem de nos tratar como imbecis. O mundo não é necessariamente aquilo que a gente pensa, né?

Essa é para fechar a madrugada que logo mais tem aula. Citando Giovanni Improtta: vamos embora que o tempo urge e a Sapucaí é grande!

           Um beijo, José Wilker!

(Se você não entendeu a piada, clique.)

domingo, 3 de maio de 2015

Conversas sobre dentes do siso e pós-graduações me enchem de ternura

Talks about wisdom teeth and master´s degree programs fill me with tenderness

Para Marina Abramovic e Leandro Testa

Meu dente caiu, mas não como frutas maduras que caem do pé: sozinhas. Por não mastigar nada mais além da própria boca e ainda carear os dentes próximos, meu molar mártir foi imolado – como um Cordeiro de Deus na Sexta-feira da Paixão, por uma sacerdotisa japonesa vestida de branco.
Meu sobrinho de cinco anos me perguntou se eu ia deixar o dente debaixo do travesseiro. “Para que fazer isso?”, perguntei a ele. “Para aparecer a Fada-do-Dente, ué!”
As fadas-do-dente da minha infância não buscavam dente debaixo do travesseiro: elas os buscavam em cima dos telhados. “Elas eram muito mais ninjas, porque tinham que fazer rapel”, contei para a criança que agora não vê a hora de deixar seus dentes no telhado de casa.
         Simpatizei com a ideia de ter com a Fada-do-Dente. Deixei o mártir-molar debaixo do travesseiro, para que seu sacrifício não fosse em vão.
No limiar entre a vigília e o sono, eis que surge de vestido e manto negros, como uma Nossa Senhora dos Bálcãs, ela: Marina Abramovic! Só acredito quando ela tira o véu, deixando a cabeleira espessa e tão negra quanto suas vestes aparecer e diz, com seu sotaque sérvio:
“So, what do you want in exchange for your tooth, honey?”
“Well, I can´t be sure exactly right now, I´m confused… Is this some kind of… performance?”
“Yes, it is. After pursuing intense exchange of energy and interaction with my audience for long periods and through simple actions, now I have been interested in performing with semi-conscious partners, as you are at this moment.”
“Oh my f*** God! But why me? Why have you come as Tooth Fairy?”
“It is all about losses and grief. You´ve shed your tooth and you know: this time it won´t erupt another one to replace it. This is not easy, not at all.”
“You´re right: it´s not easy, but I´m not suffering... Actually, all this stuff is too good to be true: I got rid of a weird tooth and Marina Abramovic is paying me a visit! Don´t pinch me, please! I wanna believe. I think I have a wish now!”
“And what do you want? A new bicycle or a new doll? Girl, you´re bluffing! If you don´t feel for your tooth, you wouldn´t let him under your pillow… But, tell me about your real desire!”
“I don´t know how to express it, but first I must confess: my life is full of rupture and reinvention. I wasn´t made for it; I was made for being the same my whole life! However, mama, after so many backwards and forwards, ups and downs, I have to admit: I kinda like it! I just don´t do this more often because it hurts as hell, always, no matter how many times it happens in my life.”
“Pain protects us, honey…Your wish?”
“It´s about my master´s degree… Again: I had to play the Drama Queen role for gaining my entrance at the University. It was a long road, but I am really aware of this is just beginning!  I must rock, mama, and it´s not for vanity at all. It´s because I feel the weight of a great responsibility on my shoulders, every time I am studying or reading about it. And you know: I am so mature as my 5 years old nephew! I should be reading right now, writing articles and presentations, but I am here, talking about wisdom teeth and master´s degree programs with you, mama!”
“Talks about wisdom teeth and master´s degree programs fill me with tenderness, honey. You´ re blessed now and you can go on, you know it. Don´t blame yourself for having fun with your imagination sometimes… your brain needs some breath, just as your heart. Satisfy your guts first, so you will satisfy your soul.”
…E desapareceu, me deixando aqui sem um dente, mas cheia de ternura.


São Paulo, 06 de Abril de 2015.