terça-feira, 29 de dezembro de 2009

TPM

Barriga, inchada.
Seios, explodindo.
Nervos, à flor da pele.

E o útero...
sempre esperando.

(29/12/2009)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Natal Tropical

Eu sei, ando consumista, frugal, mundana, quase fútil. E se eu dissesse que sinto alguma culpa nisso, é mentira. Li um texto - bem inteligente, por sinal - de um ex-famosp defendendo seu desprezo por essa época do ano. Aí fiquei pensando se eu também odeio o Natal ou não. A loucura reinante no comércio e nas ruas é desesperadora, disso eu também não gosto. (Eu ando perua e gastona, mas não boto a culpa no Natal, saca?) Assim como o caro colega, eu também tenho verdadeiro pa-vor de músicas natalinas, isso vem dos tempos em que eu cantava em coral, os ensaios começavam em agosto e quando chegava dezembro, eu já estava de saco mais cheio desse repertório que o do próprio Santa Claus. Se eu escuto um cavaquinho tocando Jingle Bells na rua, eu já começo a tremer. Também detesto os clichês europeus dessa época do ano. Todo mundo derretendo de calor e a decoração de Natal cheia de neve, renas, Pólo Norte, que agora, mais do nunca, está ficando datado, Cop15 que o diga! Nunca acreditei em Papai Noel, meus pais me fizeram esse favor. Logo, o que resta do Natal tradicionalmente celebrado?

Depois de tanta elucubração inútil, eu descobri que a-do-ro o Natal! Os clichês não estragam a minha festa. O único que impera e que eu felizmente gosto, é que festejos natalinos, mesmo para quem o comemora de uma maneira pagã - quer dizer, todo mundo, praticamente - tem cara de família. Se ela não vai bem, alguém querido foi embora ou ainda, se não liga muito para festa de fim de ano, realmente, Natal não faz muito sentido mesmo. Como a minha família é de comercial de margarina com um toque de maluquice à la Grande Família, os meus natais são divertidíssimos! E além do aniversariante tradicional, a minha irmã mais velha também completa primaveras, no caso dela, verões. Diz ela que fazer aniversário no mesmo dia de uma celebridade tão proeminente é meio chato, mas é intriga da oposição. Invariavelmente, a família toda está com ela no dia do seu aniversário.

Esta época do ano é corrida, é cansativa, mas eu adoro final de ano. Não há coisa melhor que encaixotar os diários de classe e se mandar pro playground! Não me bate nem um pouco de depressão: nos anos ruins, a gente manda o ano velho para a pqp. E quando acaba um bom, como este - apesar de toda a ralação - eu quero é mais! O cheiro quente de dezembro me deixa feliz e esperançosa.

Então, para quem gosta, para quem não gosta, para quem quer ficar em casa lendo um livro ou enchendo a cara de Cidra Cereser, para quem acredita ou não, um Feliz Natal Tropical, porque esse é o verdadeiro! See ya!


sábado, 5 de dezembro de 2009

Aprendendo a amar vol. 4 - A Máquina do Tempo ***Centésima postagem!***

Há algumas semanas, a professorinha recebeu de uma grande amiga uma verdadeira herança dada em vida - seu acervo de fitas cassete. Ela não tinha mais onde tocá-las, e viu que a professorinha ainda tinha um aparelho de som capaz de tocar essas preciosidades. Perguntou se poderia levá-las à casa da professorinha, que disse: "Manda aí!", sem saber o tamanho do tesouro. Quilos e mais quilos de fitas cassetes em maletinhas de pano, típicas dos anos 1990. "Meu Deus, que eu vou fazer com tudo isso?!" A professorinha tomou como base para calcular o tamanho do acervo de sua amiga o seu próprio acervo de cassetes, que se resume a apenas uma caixinha. Esqueceu-se que a amiga sempre foi exagerada em tudo.

Era tarde pra recusar, e ficou com o trambolho. Nem abriu as maletas, para não cair em desespero. Ficaram jogadas em um canto por uns dias, até que a professorinha tomasse uma decisão. Jamais as jogaria fora, sabia que lá estava a trilha sonora de uma vida inteira, sem contar as raridades que a amiga tinha. Um dia depois do trabalho a professorinha, abriu o baú de Jack Sparrow Dee: duas maletas com gothic rock e new wave, de corte oitentista, mais três de corte sessentista, cheia de Jovem Guarda, rockabilly, doo wop e surf music. Abriu uma por uma, revirou todas para ver se estavam nomeadas e viu seu desespero aumentar. Aquele acervo era indissiociável, aquelas fitas estavam condenadas a ficarem sempre juntas. Eram de um tempo pré CD-R e pré-download, quando os amigos trocavam músicas emprestando vinis e CD´s e gravando em fita cassete suas próprias coletâneas. Sem Napster, iTunes, e ameaças de inferno e purgatório para quem faz download ilegal. A professorinha tinha certeza que seus alunos não conheciam essa Era. Um dia, ela entrou na sala de aula com uma bolsa no formato de uma fita cassete, e um aluno perguntou: "Que é isso na sua bolsa, Prô?", e a jovem professorinha se sentiu um pterodáctilo. Cogitou até usar botox depois dessa.

Na última semana de aula, quando não haviam mais aulas de fato e o poder ultrajovem andava incontrolável pelos corredores, a professorinha estava de papo com uma aluna que amava música tanto quanto ela, falando de bandas novas e antigas, estilos, álbuns, coisa rara de se acontecer. Um duende soprou no seu ouvido e lá pelas tantas, ela perguntou para a aluna se ela tinha onde tocar fitas cassete. Como a aluna disse que sim, ela ofereceu a ela a porção gothic rock do tesouro herdado. Com certeza, ela saberia dar valor às raridades, a garota tem uma maturidade intelectual invejável. O que não a impediu de sorrir feito criança contente com a oferta.

No dia seguinte, a professorinha subiu para sala com uma das maletas recebidas da amiga e um aparelho de som da era cenozóica, disponível para uso em sala de aula. Ligou o som e foi rebobinar as fitas, o que fez ajuntar em volta dela alguns dos alunos mais curiosos. Ficou lá algum tempo conversando com o poder ultrajovem, relembrando histórias da infância e da adolescência, como a vez que, aos quatro anos, rasgou a capa do disco do Menudo das suas irmãs mais velhas e jogou no vaso sanitário gritando "Eu adoro Menudo! Eu adoro Menudo!"; ou quando ia à missa com jeans rasgado e camiseta de caveira para desespero da mãe da professorinha, aos quinze. Os alunos sabiam que a professorinha não era das mais tradicionais, mas ninguém imaginava que ela fosse tão maluca nos bastidores. Riram, e contaram das suas também fora dos muros da escola. Neste instante, o aparelho de som transmutou-se em uma máquina do tempo, que fita por fita, quebrava as barreiras de geração e autoridade, típicas da escola. Progressivamente, iam se esquecendo dos papéis de professora e alunos, para se tornarem o que realmente são: gente. Com história de vida, recordações, preferências, sentimentos. Seria bom se fosse sempre assim.

Quando o sinal tocou, e todos foram pra casa, a professorinha até se animou. Chegou em casa e abriu o baú de Jack Sparrow Dee, pegou o seu Primeiro Gradiente e deu play na primeira fita. Ia ter muito o que ouvir durante as férias.

Para Cássia e Sandra Dee

domingo, 29 de novembro de 2009

Aprendendo a amar vol. 3 - Linha no pipa

Para meus alunos e colegas de trabalho

Os mais antigos ainda acreditam que o professor é um privilegiado - tem três meses de férias por ano! Mentira. Antigamente, em dezembro, o corpo docente das escolas aproveitava a ausência dos alunos dispensados - já se esbaldando de brincar nas ruas desde 30 de novembro - para se afundar numa pilha de diários de classe, provas, trabalhos, livros de atas, relatórios e registros, com os ventiladores quase levantando voo dentro das baias. Quando o trabalho útil e inútil acabava, cogitava-se jogar Uno e comprar sorvetes no atacado até dar o dia da abolição da escravatura, dia em que todo mundo (ou quase) se mandava para a Praia Grande. Mais fácil do que encontrar uma água-viva no Boqueirão, era encontrar por lá um aluno desavisado querendo te entregar trabalho.

Isso, entretanto, acontecia em outros tempos. Agora, os engabinetados alimentam a ilusão que pode-se sustentar as aulas até 22 de dezembro, mantendo o gado confinado até o dia do abate. E ai do professor que dispensar antes por conta, vai para a panela também. Quem diria, o Natal se aproxima e os perus somos nós, com um gume afiado apontando para as nossas fuças.

Sorte nossa que o poder ultrajovem não é nada bobo. Eles sabem que desperdiçar o cheiro quente de dezembro é um verdadeiro sacrilégio. A professorinha até sorriu escondido quando viu seus alunos assinando camisetas no pátio: melhor que isso só vai ser avistar a primeira pipa subindo no céu. Sinal de que as férias já chegaram, à revelia dos engabinetados.


domingo, 22 de novembro de 2009

Strange Fruit - Chapter Two

Há algum tempo atrás ouvi uma doutora em antropologia pela UNESP, da qual só lembro o primeiro nome - Berenice, dizer que a miscigenação brasileira foi estratégia de dominação por parte do colonizador. O mestiço que surgiu da união dos portugueses com indígenas não era filho legítimo deste europeu, logo não tomaria parte do poder do colonizador, mas também não era mais um nativo para lutar contra o domínio imposto de fora. O jeito que me refiro a isso é simplista e até meio sentimental, porque na verdade o colonizador casava com mulheres indígenas com a anuência dos líderes das nações indígenas, para se tornar parte daquele povo e dizimar indígenas de outras nações. Ou seja, o nativo participou ativamente desse processo de miscigenação, por meio de alianças políticas que também interessavam a eles. E assim nasceu a nossa Nação de Vira-latas.

Hoje esse traço misturado do povo brasileiro é celebrado, eu mesma bem gosto de ter nascido com essa tara*. Depois de muito tempo, porém, fui perceber como a misturada rendeu formas peculiares de discriminação. Como eu já disse, não nos reconhecemos pela "raça", pelo sangue - até tentaram, havia aquela papagaiada de dizer que fulano era um "Quatrocentão", sendo que a origem desses fazendeiros paulistas era exatamente a que eu descrevi no parágrafo anterior, com o sangue índio misturado ao português. Então o que sobra é a cor da pele para se reconhecer.

Vi isso claramente há algumas semanas atrás. Na sala de informática, Bethinha, professora de inglês, mostrava fotos e vídeos de Marthin Luther King para nossos alunos de sétima série, para montar uma encenação e eu estava lá, de xereta. Ao ver as fotos de Rosa Parks, que tinha um tom de pele um pouco mais claro, os alunos teimavam em dizer que ela não era negra, e eu tentando explicar que para o estadunidense não existe meio termo (até Michael Jackson foi de negro a branco praticamente sem escala), que para eles não existe mulato, moreno cor-de-jambo, moreno café-com-leite, moreno isso, moreno aquilo, isso é coisa de brasileiro. Até quando uma aluna negra e muito bonita diz: "Se ela é negra, sou o que? Carvão?" Aí, perdi a pose, caí na risada. "Morena cor-de-disco, que tal?"

E nesta última semana, trocando figurinhas com Bethinha, fui mostrar para ela Billie Holiday cantando Strange Fruit, marco na história da música por ter sido a primeira canção que falava abertamente sobre a situação de preconceito racial nos Estados Unidos e eu acabei por descobrir coisas sobre esta canção que nem eu mesma sabia. A letra foi escrita com base em uma foto que retrata a cena mais horrorosa que eu já vi na minha vida, por isso nem me atrevo a colá-la aqui . Ninguém faz ideia do pavor que sinto só em escrever sobre ela, em ter que lembrar e tremo só de pensar que aquilo foi real. A intertextualidade entre a cena, a poesia da letra e a interpretação doída da Lady Day é perfeita.




Até se cantasse Atirei o Pau no Gato, essa mulher cantaria com todo o seu ser a dor do gato atingido. Strange Fruit, porém é a mais pungente de todas e mesmo sem saber inglês, percebe-se que ela não está falando de uma fossa habitual, o sentimento com que ela canta é indescritível com palavras, toda a dor do mundo está ali.

O resto da história está bem contada no link. Sugiro que todos cliquem e leiam atentamente, não só os corajosos e curiosos, porque é bom uma dose de realidade de vez em quando. É bom saber que gente da mesma espécie que nós, organicamente igual a você e a mim, foi capaz de cometer aquela crueldade , e nunca mais se esquecer, para que isso jamais se repita. E olha que não é difícil.

"A gente não sabia que não era um índio, a gente pensou que era um mendingo!" (1997)

Miserere nobis, Domini.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Estranhos Frutos - Parte I

Hoje é dia da Consciência Negra. Eu sou branca, e tenho pais e avós brancos também, mas como são todos brasileiros, eu diria que isso não significa absolutamente nada. Minha bisavó, mãe do meu avô paterno era negra, e ele saiu galego, como se diz lá nas Paraíba, puxando meu bisavô. Minha mãe, a cara do meu avô, é branca, de olhos verdes. De parte de pai, minha bisavó, mãe da minha avó, era mistura de cafuzo (mestiça de índio com negro) com um alemão. Logo, como boa brasileira, sou vira-lata, não tenho raça. Graças a Deus.

A gente se ilude com esta miscigenação toda, há quem pense que o preconceito racial está progressivamente ficando para trás no nosso país, por conta de algumas ações afirmativas e pela ascenção do negro na mídia, a valorização da beleza negra e a celebração do politicamente correto. (Corre pelo mundo uma piadinha de mau-gosto que com isso, até as lendas brasileiras mudaram. Saci-Pererê teria se tornado "Afro-descendente com necessidades especiais". Ficou mais polido, óbvio, mas não deixo de pensar que assim ele perdeu seu charme sapeca.)

Taís Araújo como protagonista de novela das nove da Globo, por exemplo, dividiu opiniões. Nem sei porque, ela já foi protagonista em Da Cor do Pecado. Mas quando ela apareceu em novela do Manuel Carlos, fiquei em dúvida. Justamente um autor que, novela após novela, recria sua versão de mundinho perfeito, onde todas as protagonistas são Helenas, todas as cidades são Rio de Janeiro - porém, todos os bairros são Leblon, todos os doutores são Moretti e todas as canções são bossa nova. Parecia positivo que neste contexto pequeno-burguês aparecesse uma mulher negra, belíssima e bem-sucedida no mundo da moda e não em um papel de empregada que dá pitaco na vida da patroa à torto e à direita, dando a falsa impressão de que Casa Grande e Senzala se dão muito bem por aqui. Não poderia acreditar nessa ideia de cara porque a Rede Globo dá com uma das mãos e retira com a outra. Bingo. Tive a confirmação nessa semana. Bem que Bia Abramo já tinha avisado: o teledramaturgo gosta de fazer mulher apanhar em suas novelas e se elas mesmas se estapearem, melhor ainda.




O discurso de Tereza é odioso: primeiro ela joga nas costas de Helena uma responsabilidade que seria dela, de aguentar e entender pacientemente os pitis da garota mimada, resultado da educação que ela e então marido deixaram de dar para a filha, pelo menos enquanto durasse a viagem que as duas fariam. Depois, lá pelas tantas, ela diz para Helena: "Você não teve tudo o que quis? Não chegou ao topo do mundo da moda, mesmo sendo negra? Não se casou com um homem rico? Para você não é o suficiente?" Lembrando que a desgraceira teria acontecido por causa de um aborto que Helena teria feito no início de sua carreira.

Fica claro nesse discurso como funciona o preconceito racial em terras tupiniquins: multifacetado, mutante, líquido. Primeiro que a maioria das pessoas ignora a tal da miscigenação, só enxerga o tom de pele, o externo. Tanto que a discriminação aumenta com a quantidade de melanina que se carrega na tez, como bem observou Zulu Araújo, em entrevista ao Roda Viva (TV Cultura) da última segunda-feira, no mesmo dia da cena de dramalhão global.



Ele também observou que a sociedade brasileira não é totalmente racista, mas que a elite econômica e midiática ainda o é. Logo, não há meios de sair coisa boa da Globo colocando protagonistas negras em suas novelas, porque isso de maneira nenhuma acaba com o preconceito racial no Brasil: só faz perpetuá-lo, e o que é pior, engendrando uma falsa aura de politicamente correto, para deixar todo mundo bem contente, babando em frente a TV de plasma nova, comprada na liquidação. Estranhos frutos da colonização.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pano pra manga

A garota Geisy fez o milagre da multiplicação dos tecidos. Seu suposto microvestido deu pano pra manga, nacional e internacionalmente.

Escrevi no domingo, segunda de manhã, a UNIBAN anuncia a expulsão da aluna, com um discurso pra lá de TALEBAN. Depois, MEC aperta, UNE e entidades feministas também, a instituição volta atrás e revoga a expulsão. A única coisa que não mudou é que nenhuma punição foi sequer cogitada a quem participou da arruaça. Claro, vai desagradar o público pagante? Uma coisa é um aluno, uma mensalidade. Outra coisa são quinhentos alunos, quinhentas mensalidades. E ainda acham que vão convencer alguém falando de moral. Moral de uc é rloa, mermão. Agora o discurso é que promoverão "medidas educativas" com os envolvidos no incidente.

A farofa continua, os alunos vaiaram o protesto da UNE e a Unitaleban (ou Uniburca, como vi em algum lugar) ficou com medo da repercussão negativa em torno da instituição, recuando na sua decisão e o MEC também arquivou o caso. Agora o papo de hoje é especulação em torno da especulação que revistas masculinas poderiam talvez estar fazendo agora para quem sabe ter a aluna na capa de uma dessas publicações. Essa conversinha mole convenceu alguém? Tempo!

Como já disse, ela não tem condições de se tornar ícone feminista, por mais que as entidades militantes tentem fazer isso dela. O máximo que ela consegue mesmo é ser celebridade instantânea. Mas fica a discussão de como os estudantes de ensino superior têm sido cada vez mais sectários, com um discursinho vazio e conservador, típico de quem estuda não para adquirir mais conhecimento ou para ampliar a perspectiva com que veem o mundo e sim, para única exclusivamente "obter uma qualificação profissional para conquistar uma posição de destaque no concorrido mercado de trabalho". Não é esse o tom publicitário de qualquer Unicoisa que a gente vê por aí?

O resultado está aí: diplomas e cérebros de minhoca fabricados em série, a toque de caixa. E quem acha que isso é coisa de instituições particulares que pipocaram a partir da segunda metade da década de 90, está enganado. Alunos de instituições públicas* e tradicionais também estão com sério atrofiamento mental. Vizinhíssimo, mestrando em História, sempre fala do desencanto com que vê na bicharada que entra na USP ultimamente, por exemplo. Trabalhei com alunos da PUC como estagiária numa exposição e alguns deles eram tão tontinhos e vazios que até desencanei do complexo de vira-lata que eu tinha de não estudar em uma grande instituição tradicional.

Não estou falando só na teoria. Estudei numa instituição pequena, com público C e D, conservadora até as tampas. Vi muitos colegas que só estavam a fim de conseguir o diploma ao final de três anos e de preferência, na Lei do Mínimo Esforço. As instituições estimulam esse pensamento. Esqueçam da visão iluminista da universidade como templo de conhecimento, isso é coisa do passado, na visão pragmática e mercantilista com que a Educação é tratada nos nossos tempos. Penso, logo desisto.

*Exceção: Nem tudo está perdido. No meio das notícias sobre o caso da Uniburca, surge que uma que destoa do tom fútil com que o caso é tratado pela farofa midiática. Alunos da UnB promoveram um protesto hoje em frente a reitoria da universidade em apoio a aluna da Uniban e denunciando casos semelhantes de violência contra a mulher e outras minorias acontecidos na instituição de Brasília. Alguém precisa reagir. Meus bichos feministas voltaram, oba!

domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre minissaias e universitários

Essa fornalha anda tão parada, onde se meteu a dona dos textículos? Na roda-viva, evidentemente. É incrível, pode se passar duzentos anos, meus questionamentos são os mesmos, não por falta de criatividade, mas porque os motivos permanecem. Como diz papi: "mudam as moscas, mas a merda é a mesma!" Para variar, um monte de ideias ficaram pra trás, mas nem acho isso tão ruim. Estou vivendo, e num ritmo tão frenético que capturar certos momentos é quase impossível. Foda é que não consigo viver sem isso: sem escrever, sem criar, sem Textículos. Socooooooooorro!

O que me salva é que quando acho que já me tornei definitivamente uma professorinha adequada ao status quo, esperando pacientemente o dia em que o magistério vai me deixar totalmente louca para conseguir uma licença pinel no sexto andar do Servidor, acontece uma que solta meus bichos subversivos na rua. O que me soltou os bichos dessa vez o foi o prosaico caso da minissaia na Uniban.


De início, me revoltei com a reação esdrúxula dessas pessoas. Gente de vinte e poucos anos chocada com minissaia? Como assim, Cabral? Depois, assisti à entrevista da garota na Record domingo passado. Primeiro, ela diz que sua vida se travestiu num inferno depois do ocorrido, mas não consegue disfarçar que está saboreando seus 15 segundinhos de fama com mucho gusto (os 15 minutos de Andy Wahrol, hoje em dia parecem uma eternidade), fazendo questão de conceder as entrevistas (sim, no plural) com o famigerado vestido que causou furor na multidão de estudantes sem cérebro do campus da UNIBAN de Diadema. Ela poderia se tornar uma heroína contra a neo-caretice do século XXI, como uma Rosa Parks do terceiro milênio, que com uma atitude simples de se recusar a se levantar de um lugar no ônibus reservado para brancos em Montgomery, no Alabama, provocou um boicote de 381 dias ao transporte coletivo capitaneado por Marthin Luther King em 1955. Mas aí é que tá, minha gente. A garota não tem cacife para isso. É burra feito uma porta. Soltou pérolas na entrevista como "Desde que eu me entendo POR EU uso roupas desse tipo" e "O tumulto era tão grande que eu não consegui nem SAIR PRA FORA". Dois pleonasmos viciosos em menos de 15 segundos. Pobre de mim, em frente a TV sonhando com uma revolução neo-feminista... Com esse nível de cultura, a tal estudante de turismo no máximo consegue uma vaga em um reality show ou um convite para posar nua e dar bastante trabalho para os arte-finalistas da revista se matando de disfarçar celulites no Photoshop.

A grata surpresa do caso minissaia da Uniban foi encontrar o blog Educação Política, do professor de Ciências Sociais da PUC de Campinas Glauco Cortez, um verdadeiro antídoto para essa burrice institucionalizada. Sobre este acontecido, ele disse: "O caso da estudante da Uniban, que foi covardemente insultada porque vestia uma minissaia, mostra um pouco a cara de São Paulo e também que há um aprendizado educacional no Brasil que está muito distante das humanidades e das capacidades reflexivas. É o exercício da irracionalidade."

Agora, me fala: que eu vou fazer nesse mundo, com uma elite universotária, que se enfurece com uma estudante indo para a faculdade de minissaia e que fala sair pra dentro e entrar pra fora? Este país não é mesmo sério. Aqui tudo vira farofa, não só o metal do Massacration. Por essas e outras continuo congregando pessoas para me acompanharem na minha mudança DE mundo. Quem quiser que follow me.


Notas:
*Sobre Rosa Parks e Martin Luther: Bethinha, obrigada pela troca de ideias e tanto entusiasmo!
*Sobre Massacration: essa farofa pelo menos é inteligente e engraçada. Nada como não se levar a sério, como estes GoodBlood Headbangers.
*Créditos da imagem: http://temasparamulheres.blogspot.com/2008/09/minissaia-e-maxipolmica.html

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Piadinhas...

1 - Sobre a bem-sucedida domesticação das futuras gerações:

O menino, junto com a mãe, para em frente a uma barraca de DVD´s e pergunta: "Você também tem original?" O camelô responde: "Não, só genérico!"

... Depois encontrei o mesmo menino no shopping checando seu Orkut numa Lan House.

2 - Sobre persuasivos vendedores metidos a espirituosos:

O vendedor de livros para em frente à moça, no meio da Paulista. Ela achou que ele ia pedir fogo, mas não. Faz a estupÍenda pergunta: "Você sabe qual a diferença entre corpo e alma?" "Não", responde a moça já tomando o caminho da roça. "A resposta está neste livro..." Ela hesita e para outra vez: "É de graça?". "Não, é de papel." "Ah! Então não quero!"

...E a moça vai embora, dando uma bela tragada no seu cigarro fedorento.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Rain Down - Eu tavu lá!

Está na Rolling Stone brasileira de abril, na seção de resenhas: o show do Radiohead em São Paulo deste ano foi alçado a categoria de clássico. Essa edição, com a cara do Kurt Cobain, por mim alçada a categoria de clássico também, já virou relíquia. Resolvi guardar, afinal, como sabem, eu nunca acreditei muito que estive no Just a Fest, e isso não é uma frase de efeito. É como se eu tivesse sido teleportada, abduzida, algo assim. É sério, gente!

Não acreditei até domingo retrasado, quando ganhei da única futura autoridade* em Radiohead do Brasil (quiçá do mundo) um DVD com o sugestivo nome de Rain Down, feito por um outro cabeça-de-rádio, provavelmente tão louco pela banda quanto o Vizinho Intergaláctico.

A ideia só poderia ter vindo de um fã de Radiohead. O cara coletou vídeos de câmeras fotográficas e celulares feitos pelo público no show, editou e colocou o áudio original da mesa de som, que acabou vazando na Internet e dias depois, ele disponibilizou o vídeo do Just a Fest reconstituído fielmente para quem quiser copiar na rede, desde que ele não seja comercializado e que sejam citados os créditos do seu minucioso trabalho, feito num PC que, pelo jeito, era tão ou mais tosco que este que eu uso para me comunicar com a Seleta Audiência agora-now-neste-instante.

O resultado é uma loucura, porque a atmosfera do show está toda lá, a energia. Um trabalho profissional pode ter um resultado asséptico, sem gosto. A desvantagem de um video "caseiro" talvez fosse uma coisa meio frankestein, sem pé nem cabeça, mas não foi isso que eu vi. Ele soube tirar o melhor de cada video que ele coletou e a reconstituição do show é supercoerente.

Entendi o que realmente é um deja-vù. Quando coloquei o DVD no meu aparelho, a vinheta já me deu arrepios. Afinal, é muito difícil reviver uma situação integralmente, só com um vídeo ou uma foto. Forrest já tinha me alertado que alguns momentos do video seriam incríveis e não aguentei. Pulei para Karma Police, que foi um dos pontos altos do show, e meu também. Foi quando eu desencanei: "Meu, você está aqui! O que mais você quer?" Uma verdadeira epifania. Para mim, o show começou ali. Quando vi o video, só não chorei pra valer porque eu sou durona, mas bem que eu senti os olhos marejarem. Choreeeeeeeeeeeeeeeeeeei em Karma Police!

E foi seguindo assim, pelo vídeo inteiro. Música por música. Espertamente, ele manteve o áudio original em momentos-chave do show. Fiz bem em ter me conformado de ter visto um Thom Yorke do tamanho de um Playmobil. Eu ouvi, senti, participei e quanto a ver, deixei para alguns meses mais tarde, quase sem querer. Foi uma pena não ter podido ver lá, mas graças ao Andrews Ferreira Guedis e meu Vizinhíssimo, eu vi o show refestelada no sofá com minha colcha de chenile pré-histórica preferida. Tudo bem que no show de verdade não tinha mãe falando de geladeira em promoção, mas também não dá para se ter tudo nessa vida ao mesmo tempo, não?

Agora eu acredito de verdade que eu estive no Just a Fest em março deste ano. Copiando descaradamente o Oráculo de ZÉlfos, eu encho os pulmões e exclamo num ruído luminoso, alto e claro para quem quer que seja: Eu tavu lá!


Ps.: As imagens não carecem de créditos. Meu celular também estava em ação aquele dia. :-P

domingo, 20 de setembro de 2009

Che 2 - A Guerillha

No último domingo, assisti à Che 2 - A Guerrilha e gostei, mais do que o primeiro. Gosto da estética naturalista do filme, com uma ação lenta, focada na marcha da guerrilha e não nos combates, quase sem triha sonora, com iluminação natural. Benicio del Toro é um Che Guevara sem afetação nenhuma, acertou na mosca em interpretar o líder revolucionário de uma maneira humana, sem pesar para o lado do heroísmo, mesmo assim, mostrando o grande caráter do guerrilheiro.

Essas características estão nas duas partes do filme, é óbvio, mas no primeiro filme chega uma hora em que a ação se arrasta e na segunda parte isso não aconteceu, apesar do ritmo da ação ser exatamente o mesmo.

É triste você ver na sua frente uma história que você conhece bem, sabendo que o final foi desastroso. Não é nada catártico ver o fim de Ernesto Che Guevara na sua frente. Primeiro porque é História - com H maiúsculo, não tem aquela de respirar aliviado no fim porque era mentirinha, como na tregédia clássica grega. Segundo porque sabemos qual é a implicação de não termos tido uma revolução popular na América Latina. Tivemos uma série de ditaduras militares ao longo do século XX que criaram feridas que ainda não fecharam, e duvido que vão fechar, porque sempre aparece uma contrarrevolução para estancar este processo. Honduras que o diga, e isso é sim, problema nosso. O mais estapafúrdio é a justificativa para esse golpe: preservar a democracia (?!). E como um Maquiavel ao contrário, digo que pouco importam as supostas causas nobres para os fatos, e sim os métodos totalitários adotados pelo regime golpista, como por exemplo, sitiar a embaixada brasileira em Tegucigualpa, onde o presidente deposto Zelaya se encontra.

Revoltante que no caso da presença de Che na Bolívia, o próprio partido comunista de lá se opôs, não queriam estrangeiros no seu ninho e abertamente boicotaram a ação. Não sei se foi ingênuo ou corajoso da parte de Che crer que todos eram tão internacionalistas quanto ele, porém quando ele poderia sentar o traseiro em um gabiente como o segundo homem mais importante da Revolução Cubana, ele começou tudo de novo. O que prova, para mim pelo menos, que ele não estava interessado em poder e sim na transformação deste mundo de fato.
Mesmo sabendo de tudo isso, não conseguia de repetir um bocado de vezes para mim mesma, até cochichando, sozinha no cinema, que eu preferia uma revolução latino-americana triunfante, do que a figura do herói morto, tatuada na minha mente.
Depois de tudo isso, foi no mínimo indigesto sair da sala escura e dar de cara com um shopping. Não consegui tomar nem um milkshake.

Pedra que rola não cria limo - A Revanche

Dessa vez não fiquei só na catarse, a jornada da heroína cômica Georgia não me foi suficiente. Ontem, saí à caça do meu kefi, do qual sempre tive a absoluta certeza da existência, só que ele andava meio perdidinho. Encontrei num lugar que eu nunca fui, ora que coisa.

Boa música e pessoas dispostas a se conhecer. Nunca tinha conversado com tanta gente assim, sem interesses prévios, sem a obrigatoriedade de "pontuar" na balada. Isso não é efeito do álcool: lugar chato com gente chata, não há absinto que salve. E cheguei em casa com a certeza: esta sou eu. Chega daquela Flávia insegura e perdida.

De primeira não gostei do lugar, achei que estava arrumada demais para o rolê em questão. Relaxei quando pensei: o lugar chama-se Sarajevo, teria algo de errado se fosse arrumado demais. E outra, eu é que estava pagando de pequeno-burguesa, sendo que não passo de uma proletária (com algum verniz, mas ainda assim proletária). Depois fui vendo que o fato do lugar ser um ovo, faz com que as pessoas fiquem mais próximas e dá pra conversar, o som não é insuportavelmente alto.

Começa o show da Soul Train. Puta merda, Dom Paulinho Lima toca bateria e faz scat singing ao mesmo tempo! Musicalmente gozante. Mais uma vez o fato do lugar ser pequeno favoreceu. Estava praticamente no palco, de tão apertada que era a pista. O clima quente e fumegante fica perfeito com a música, totalmente funky, sexy. E eu lá, requebrando feito uma negona do Bronx. Saí de lá com a impressão de ter nascido com a cor errada. Já virando abóbora, de maquiagem borrada, ainda tive pique de puxar conversa com os caras da banda na porta da balada. E conheci outro batera por lá, conversamos, raçãowhiskasblablablá... deixa essa para outro textículo.



Voltarei lá, com certeza. Mas fiz questão de não esquecer de pegar meu kefi de volta e guardar na bolsa antes de ir pra casa, com a doce certeza que jamais vou perdê-lo novamente. Desci pro play e vou brincar. Sempre.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Patrick Swayze



Pensem em alguém que sempre foi nostalgia pura, está à beira dos 27 anos e que está vendo a década em que nasceu literalmente morrer. Que está vendo os filmes de temática adolescente da Sessão da Tarde serem progressivamente substuídos por filmes estrelados por cachorros, e que, apesar de não ter mais tempo, nem saco para ver Sessão da Tarde, fica triste com isso. (?!)

Além do Curtindo a Vida Adoidado, sinônimo de Sessão da Tarde para mim, sempre foi Dirty Dancing, com aquele espetáculo de professor de dança amassando legal a mocinha do filme, feinha, mas sortuda. Lembro quando fui ver a apresentação de jazz da minha irmã mais velha, dançando o tema deste filme, The Time of My Life, quando eu tinha 7 anos e cabelo de tigelinha.

Um pouco depois, veio Ghost, esse um filme de mulherzinha meeeesmo, para acabar com a caixa de lenços de uma vez por todas. Quando aprendi a tocar violão, treinava o dedilhado com Unchained melody, fácil e com a harmonia quadradona, do jeito que eu gosto. Sou uma maria-preguiça para tocar violão, não sei nada de cor com mais de quatro acordes. Para se ter uma ideia, nem as músicas que eu faço, eu lembro como se toca. O Renato faz isso por mim numa boa, ainda bem.

Falando em música, algumas músicas de elevador tem o poder de automaticamente de me levar direto para a infância. Com cara de sábado e dia de faxina. She´s like the wind é uma delas. Coincidência ou não, achei o clipe meio soturno.

Eu sei: às vezes, os TM mais parecem a seção de obituários de um jornal. Não é por mal, nem por fixação pela morte. É que há certos cheiros, certas nuances, que a gente só percebe quando olha para trás. Não é questão de viver no passado e sim de ir catando as pecinhas que formam o mosaico da sua vida e paradoxalmente, quanto menores elas são, mais longe você precisa ir para conseguir enxergar, como se fosse uma obra do Vik Muniz.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Filme de mulherzinha


Passei a década de 90 assistindo comédias românticas. Eu gosto de filme de mulherzinha, e daí? Uma Linda Mulher (que segundo a minha mãe deveria se chamar Um Lindo Homem, e eu concordo em gênero, número e Richard Gere - Ui!), todos ou quase todos da Meg Ryan, Jerry Maguire - A grande virada e O Casamento de Muriel fizeram a minha cabeça. O roteiro deste tipo de filme é quase sempre feito de favas contadas - na verdade estou sendo boazinha, é um lugar-comum atrás do outro - e a parte água com açúcar geramente é temperada com sequências de humor impagáveis, com elencos via de regra muito bons.

Seguindo a tradição, munida da companhia gazelística, neste último sábado fui assistir à estreia de Falando Grego (My life in ruins, no original). Nia Vardalos é Georgia, uma greco-americana que se muda para Atenas para lecionar história clássica, perde o emprego e, para se virar, trabalha numa agência de turismo pra lá de fuleira, não se dá com o trabalho e quer dar aulas de história e mitologia grega pra um bando de turistas que só querem saber de se entupir de sorvete no meio do calor da Grécia. Georgia está à beira de um ataque de nervos até que ela conhece o "urso que tirou carteira de motorista" que foi contratado para dirigir o ônibus da excursão, que seria a última que ela acompanharia e aí... começa o filme, que mostra a jornada de Georgia em busca do seu kefi, palavra grega que significa alegria, vivacidade, nosso brilho natural e para isso, recebe ajuda de um turista (Richard Dreyfuss) que começa como o metido a engraçadinho da excursão e termina como um velhinho fofo, espirituoso e movido a uma "pilulazinha azul da Pfizer que o governo paga", e até bancou o Oráculo de Delfos no meio da história.

O enredo é chavão puro, claro, mas a diferença estão nas sequências de humor, baseadas ou em mal-entendidos surreais ou na cara de "ahn?" que só a Nia Vardalos consegue fazer. Tenho boas lembranças dela - foi isso que me motivou a ver o filme na estreia, coisa que nunca fiz. Casamento Grego, um dos seus filmes mais conhecidos, não assisti inteiro, só vi uma temporada da série do mesmo nome alugada em DVD na casa de Bozoca, em um dos momentos mais fundo do poço dos últimos tempos da minha vida, e me arrancou boas risadas. Se a Nia Vardalos me fez rir naquelas circunstâncias, anything is possible.

Além do humor, as paisagens. Ah, as paisagens. Pathernon, Monte Olimpo, Teatro de Epidauro... Uma mais linda que a outra, as tais ruínas onde se perdeu a vida de Georgia. O segredo do sucesso dos chavões de Hollywood está aí. Todo mundo já foi Georgia um dia, a ponto de um dia se olhar e ver que perdeu o viço, o brilho, que não faz mais o que gosta, preferindo o contrário para agradar gente de que você não gosta. E de repente, resolve-se chutar o balde, apertar o botão do foda-se, dar uma imensa banana para o mundo, mas acaba-se por nem precisar. O destino se encarrega de virar a mesa por si só, deixando para si o deus-ex-machina do final da história. Aí que tá, não foi Hollywood que inventou isso. Advinha quem foi?

Na verdade, deus-ex-machina é a solução "engenhófica" de um conflito sem solução dentro de uma trama no teatro clássico grego, onde se fundou as bases para o teatro ocidental de hoje. Quem traz a solução milagrosa de um conflito a princípio insolúvel é a ação de um deus, daí o nome, um deus feito de máquina.

A virada do personagem é a sua virada. Georgia reencontra seu kefi por você, que respira aliviado quando sobem as letrinhas dos créditos, sem ter movido uma palha para tanto. Não, você não é o único, nem eu, todo mundo faz isso, inconscientemente. E isso não é loucura, é catarse. Aliás, isso é uma maravilha, resolveu sua vida e nem desfez a escova! Acha que foi Freud que postulou sobre este comportamento?

Catarse não é invenção freudiana e sim aristotélica. O discípulo de Sócrates postulou em Poética, o processo catártico da tragédia clássica, que eu descrevi acima à minha maneira, porque obviamente, na Antiguidade clássica não existia chapinha e muito menos salas de cinema. Mas o processo é exatamente o mesmo, a jornada do herói sempre trilhará este caminho.

Vou parando por aqui, antes que vocês pensem que estou falando grego. Encurtando o papo: quem gosta de filme de mulherzinha vai adorar Falando Grego: as mocinhas e os heroicos machos sem medo de comédias românticas. Sim, eles existem.

domingo, 6 de setembro de 2009

Paralelas

Resolvi aparecer, antes que achassem que sumi - como o Belchior- e começassem a me procurar, ou que também andei cantando o Hino Nacional Brasileiro meio grogue - como a Vanusa - e achassem que estou fugindo do assédio da imprensa.

Na verdade, não é nada disso. É que ando num momento Paralelas, saca? Correndo a cem por hora atrás de objetivos, trabalhando feito louca, como sempre. "E no escritório em que eu trabalho e (não) fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor"... Estou anti-poética, sem inspiração, nem tempo.

Porém, os micos da semana tornaram-se estímulo para eu retornar desse silêncio. Não gosto da desgraça alheia, mas é impossível não admitir que o chá de sumiço do Belchior - o Hugo Possolo soltou um caco sobre o tal desaparecimento em O Papa e a Bruxa e por pouco não caio da cadeira de tanto rir - e o Hino Lisérgico Nacional Brasileiro da Vanusa animaram as duas últimas semanas. Danilinho, num serviço de utilidade pública, me mostrou o video do hino na terça. Foi para isso que o senhor colocou computadores na sala dos professores, seu Serra? Se foi, meus parabéns, é uma excelente medida anti-stress para mestres esgotados pelo magistério. Deos meu, isso não é um mico, é um orangotango vestido de Carmen Miranda.¹ Não o Serra, a Vanusa.

Em entrevista a Silvia Poppovic, Vanusa declarou que estão desprezando seus 41 anos de carreira por conta de um mau momento que ela teve. Também pudera, não é um mau e sim um péssimo momento numa sessão solene da Câmara com nada mais nada menos que o Hino Nacional Brasileiro e na era Big Brother, em que a gente vive com câmeras em toda a parte. É muita ingenuidade. Nem um jogador de futebol tinha estragado nosso hino com tanto garbo e elegância.

O que é curioso é que eu dei mais risada com essa história da Vanusa não com o vexame do hino, mas com uma que Bozoca - a verdadeira - soltou um dia, no carro. Ela disse que quando ouvia Paralelas, na parte em que Vanusa canta "no apartamento, oitavo andar, abro a vidraça...", ela imaginava a cantora num clipe abrindo a janela intempestivamente, com a cabeleira loura chanel tamanho médio esvoaçando ao vento. Mais the 80´s, mais kitsch, impossível.

Quanto ao Belchior, compositor que admiro bastante, ri um tanto lembrando da homenagem feita a ele pelos Mamonas Assassinas no único disco da banda, se não me engano, na quarta faixa. Uma Arlinda Mulher é cuspida e escarradamente uma cópia do estilo de Belchior, desde a voz, a melodia, a batida do violão, até os versos. "Te ensinei os auto-reverse da vida e o movimento de translação que faz a Terra girar, te ensinei que o importante é competir, mas te mato de pancada se você não ganhar..." Sublime, poético, sacada genial daqueles doidos de Guarulhos. Só quem nasceu antes de 1995 entende isso.

Assim, decidi ceder aos apelos da cantora e mostrar um bom - talvez excelente - momento de sua carreira cantando Belchior, em um momento espetacular também. Paralelas é linda, e a gravação da Vanusa é um estouro, de longe a melhor de todas. Justiça seja feita. Todo mundo tem seu momento símio, até Fernando Pessoa disse isso².






Piadas Prontas à la Simão:
1 - O Zé não pediu, mas essa do orangotango coloquei por causa dele. Foi ele que disse que isso era piada pronta.
2 - Se você leu Poema em Linha Reta, do Fernando Pessoa, sabe do que estou falando. Também está farto de semideuses?

domingo, 16 de agosto de 2009

Prenez Soin de Vous

Pensei que nunca mais falaria nisso, mas a exposição Cuide de Você, da artista plástica francesa Sophie Calle, botou o assunto Cartas na roda outra vez.

Lembro que eu tinha dito que a minha carta de amor era inentregável, mas não impublicável. O bruto destinatário da carta a leu no blog, onde um monte de gente pôde ler também, alguns saberiam do que tratava, outros não. Sophie fez o caminho inverso. Recebeu uma "entregável" - não de amor, mas de rompimento, não-publicável na visão do remetente e por não saber o que fazer com aquilo, a jogou no mundo, literalmente.

A atitude de Calle é, sem dúvida, surpreendente, é até lugar comum dizer isso. Mais surpreendente ainda é o que ela fez com a carta, quer dizer, as mulheres convidadas por ela para interpretar sua mensagem. De mediadora de conflitos familiares a uma papagaia, passando por uma atiradora e uma dançarina de Bharata Natian, teve de um tudo. A carta foi estripada, virada do avesso. Mas ninguém foi mais certeira que a adolescente, num SMS: "Ele se acha!" (Bruna, essa é pra você. Graças à sua postagem, quando cheguei a exposição, a "opinião" da adolescente foi a primeira que eu procurei lá, hehe.)

Mas... porque só mulheres? Seria um complô feminista? O causador da exposição crê que sim, pelo menos ele disse coisa parecida em entrevista ao Metrópolis durante a FLIP deste ano. Quando vi a exposição, não vi feminismo nenhum, todas examinaram a carta com uma neutralidade quase científica e devolveram-na em outro nível. Só mulheres poderiam fazer isso, afinal, quem recebe um óvulo fecundado no útero e o transforma num novo ser humano? A metáfora é pobre, admito - mas "X" só fez doar o semên. A vários óvulos.

Nota totalmente útil:
http://www.sophiecalle.com.br/ - A exposição está no SESC Pompeia até 07 de setembro.
http://blog.sophiecalle.com.br/ - Transforme sua experiência em Arte. Eu vou mandar o meu trabalho também.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Curtindo a Vida Adoidado

Não é exatamente uma notícia exclusiva, porque está agora na primeira página do UOL.

Diretor de "Curtindo a Vida Adoidado", John Hughes morre aos 59 anos

NOVA YORK (AP) - Uma porta-voz confirmou hoje, quinta (6), a morte de John Hughes, vítima de ataque cardíaco. O cineasta, diretor de "Curtindo a Vida Adoidado" (1986), "Clube dos Cinco" (1985) e produtor da série de filmes "Esqueceram de Mim", morreu aos 59 anos. Michelle Bega disse que Hughes morreu durante uma caminhada matinal. Ele estava visitando a família em Manhattan. Ele transformou a atriz Molly Ringwald em uma jovem estrela com o "Gatinhas & Gatões" (1984), sobre o problemático aniversário de 16 anos de uma garota, às vésperas do casamento da irmã mais velha. Ringwald também estrelou "Clube dos Cinco", sobre um grupo de alunos encrenqueiros que acaba na detenção da escola no sábado, e "A Garota de Rosa Shocking" (1986). Hughes morava no estado americano de Illinois e ambientou muitos de seus filmes na região de Chicago.

Isso me inspira um antológico momento Sessão da Tarde! Ferris Bueller curtindo a vida adoidado cantando Twist and Shout:



Save Ferris!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Extra! Extra! Textículos de Mulher também são poderosos amuletos

Na tradição brasileira, existem diversas formas de espantar encostos e afins, tais como: ir à benzedeira, colocar galho de arruda atrás da orelha, tomar banho de sal grosso ou ainda... criar um blog chamado Textículos de Mulher. Primeiro, se o cara for analfabeto, vai pensar que você é um travesti, porque com esse nome, ele vai achar que você só pode ter bolas. Ou então, vai ver a cara da Marlene Dietrich fumando e de smoking e vai achar que você bota as aranhas pra brigar, como diria Raul Seixas.



Está rindo porquê, Dileta Audiência? Isso aconteceu! Nos esforços do "Desencalha, Bozo!", meu querido amigo Gazela mandou o link deste cafundó eletrônico a quem ele julgou adequado mandar e o resultado foi desastroso. (Pobre amigo. Esqueceu que a tradição machista manda a mulher conquistar um homem pelo estômago ou pela cama e jamais pelo cérebro.) Sabe o que aconteceu? O John Doe em questão bateu o olho no blog e soltou: "Pô, mas essa mina é lésbica!"


Eu nem sabia disso. Gazela me contou quase um ano depois, me explicando porque não apresenta mais ninguém nem para mim e nem para outra pessoa que seja por causa desse episódio, que o desagradou um tanto. Apesar de achar a atitude do John Doe - que graças ao Barbudão, eu nem conheço - totalmente primeva, eu ri. Eu nem poderia ficar ofendida - tenho amigos e amigas, além de parentes que são gays e sei que isso não é nem uma ofensa. (Ofensa é que se eu fosse lésbica, eu não ficaria no armário. Sei que teria culhões para assumir - usando mais uma metáfora fálica, para divertir a dileta audiência que consegue entender e confudir essa gente bur... quer dizer, sem humor.)


Como sou movida por uma curiosidade narcisista sobre como as pessoas me veem - sou uma assumidamente insólita e controversa, então sei que causo um furor em gente comum - fiquei me perguntando qual foi o código que o estupendo ser humano leu neste humilde cafundó para chegar a tão brilhante conclusão. É o nome? O layout? As fotos? O teor dos textículos? Na verdade, não quero fazer este levantamento para mudar estes elementos. Se eles servem para espantar gente dessa estirpe da minha vida, quero mais é aprimorá-los, porque descobri que meus amadíssimos Textículos de Mulher, além de ser um meio para fazer uma das coisas que mais gosto na vida, que é escrever, são um verdadeiro amuleto contra bocós. Viva meus textículos e minhas bolas cerebrais!

*Créditos da imagem: http://conversadeperua.blogspot.com/2009/01/frases-marlene-dietrich.html (Vale pela espirituosíssima frase de Dietrich)

Sobre Saramago, Twitter e Mussum Day

*Aviso aos navegantes: este textículo só é suportado em cérebros com o Software "Duplipensar 2.1"



Está provado: em matéria de redes sociais, o último grito da moda é o Twitter, mesmo que seja um grito de até 140 toques de teclado, só. Segundo o escritor português José Saramago , não é nem grito, é grunhido mesmo. O escritor, que gosta de lançar mão de "frases longas e bem elaboradas", declarou em uma entrevista ao jornal O Globo, sobre a nova febre: "(...)Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido."

Podem me bater, nunca li Saramago. Nada contra, é que nunca caiu na minha mão, se cair um dia, eu leio. Isso significa que não posso falar dele com profundidade, mas é interessante a minha reação à opinião dele a respeito da tendência ao monossílabo, porque tenho motivos para concordar e discordar dele em igual medida.

Concordando: estamos vivendo um tempo de esvaziamento da palavra e o pior, do seu sentido. Como bem observa Vizinhíssimo, a imagem vai ganhando contornos digitais, altíssima definição e as tecnologias sonoras, conforme avançam, vão ficando cada vez mais pobres em fidelidade (vinil - CD - mp3). Quem leu 1984, sabe a importância que a Novilíngua tinha para o regime totalitário - a ideia era tornar o idioma cada vez mais sintético, com menos palavras possíveis, para se tirar o poder de reflexão das pessoas, de perceber as nuances da realidade e exprimir essa percepção. Não pelos mesmos motivos, mas estamos vivendo essa tendência à Novilíngua hoje. Exemplo: você fala "miguxês"? Gente velhinha como eu há de convir que esse dialeto internético soa bem como grunhidinhos, bem como disse Saramago. Estou em sala de aula, então sei muito bem o sacrifício que é desenvolver um discurso mínimo que seja. A grande maioria da molecada não consegue acompanhar. Não é nem que eles julgam chato o que estou falando, a maioria para de ouvir antes de chegar a essa conclusão, simplesmente porque não conseguem, não tem o ouvido treinado para formas de comunicação mais lentas, já que o mundo digital é ultrarrápido, e deixa os dinossauros da sala de aula como eu, a comer poeira, com toda "tecnologia" disponível na grande maioria das escolas para os professores - giz, lousa, saliva e olhe lá. Então, por essas e outras, concordo com Saramago.

Discordando: apesar de ser uma verborrágica incorrigível, não creio que períodos longos sejam imprescindíveis para exprimir ideias longas, às vezes é até o oposto. Uma palavra só, deixada como um fio solto, pode deixar um monte de sentidos à solta também, e provocar muito mais que um discurso "pequenino" de Fidel Castro (diz a lenda que os menores deles tinham no mínimo umas duas horas). Para a comédia, para um hai-kai, poesia concreta ou mesmo para a composição, a concisão é sim, a alma do negócio. Na literatura dramática, é recomendado ao novo dramaturgo evitar diálogos só com monossílabos, mas Nelson Rodrigues, por exemplo, fazia isso como ninguém, sempre abusando das intenções de fala do ator e o resultado era quase sempre, fantástico. Titio Shakespeare também dizia: "A brevidade é alma da sagacidade." Então, acho até bacana ter só aqueles 140 toques para exprimir uma ideia, porque me tira do conforto de uma postagem sem fim. Quem me lê há algum tempo sabe que estes textículos de "ículos", não tem nada, mas é como eu disse no começo: sempre primando pela brevidade, prolixidade ou incoerência, ou o que vier primeiro. (Escrevi assim, porque já contava que não seguiria um padrão.)

Estou usando o Twitter faz pouco tempo: depois de uns três convites chegando na minha caixa de entrada, resolvi aderir. E como eu disse, o limite de caracteres estão me ajudando a ter 'timing' na hora de soltar a piada e também gosto de como ele pode exprimir coisas e momentos bem fugazes, aquele que quando você pára para olhar, já passou. Sem contar que gente bem bacana ajudou a "fazer" o Twitter, como o Marcelo Tas, por exemplo, que até o fechamento da edição da Continuum (revista do Itaú Cultural), tinha 118 mil e tralalá seguidores. Ainda não sei bem que bicho pega lá, mas o poder de mobilização é grande. Dizem que, em matéria de trend topics- ranking dos assuntos mais abordados no Twitter- mais que o Fora Sarney, só mesmo o Mussum Day. Cacildis!
Um textículo que começa com Saramago e termina com Mussum é no mínimo surreal, mas não é por isso que vou me furtar a conclui-lo:


Do grunhido ao sermão, o que importa é o sentido: fazer, não fazer, inventar, que seja. Palavra é subversão.



Ai! Eu não resisto a uma nota no final:
*A imagem do textículo é um verdadeiro achado. Nunca tinha me ligado que Mussum é um palíndromo! Benvindo ao maravilhoso mundo das palavras. Créditos da imagem: www.eupodiatamatando.com

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Piada amywinehouseana pronta 2.0

Essa chegou até mim através do Vizinho, que ficou impressionado com a frase de Lupicínio Rodrigues: "As mulheres que mais me chutaram foram as que mais me fizeram ganhar dinheiro". Pois é, amizade, agora nem se vingar de um fora com arte você pode mais, tem que dar comissão para o (a) infeliz que te fez sofrer. É mole?



"O ex-marido da cantora Amy Winehouse, Blake Fielder-Civil, estaria prestes a pedir indenização à artista por ter sido usado como inspiração para músicas.

Blake deve pedir uma indenização de 6 milhões de libras (equivalente a R$ 19 milhões), de acordo com o site do jornal britânico News of The World.
No processo ele deve usar argumentos envolvendo os problemas que teve com Amy.O disco "Back to Black", responsável pelos sucessos de Amy, foi escrito no período em que os dois estavam em crise e envolvidos em boatos de traição.
"Amy escreveu Back to Black quando Blake a deixou, mas qual o motivo para ela dar algo para ele por tê-la deixado mal?", indagou uma amiga da artista ao jornal.
Já Winehouse adiantou dizendo que não pretende dar nem um centavo ao ex-companheiro.

"É mole? Mas sobe, ora essa! :
Estava caçando imagens da Amy para colocar no textículo, mas não deu, a bicha tá feia demais. Em compensação, achei uma preciosidade cômica: os antepassados brasileiros de Winehouse.
fubap.org/vladivostok/tag/amy-winehouse/
Imperdível!

sábado, 18 de julho de 2009

Furo de última hora

Para mim e não para a notícia, que fique bem claro. Achei esta notícia enquanto caçava imagens para o textículo anterior:

01/07/2009 18h07
Karl Malden, de Um Bonde Chamado Desejo, morre aos 97 anos
Ele concedeu uma longa entrevista para os extras de Uma Rua Chamada Pecado (ai, que bronca deste título em português), falando da primeira montagem da peça, da amizade com Marlon Brando, da experiência de trabalhar com Elia Kazan. Um ator de sólida e longa carreira, um coadjuvante de peso. E era o último sobrevivente que andou no bonde de Tennesse Williams.

Um Bonde Chamado Desejo

Todo mundo já pegou este bonde, eu por pouco não me esmaguei nele, descendo ladeira abaixo. Tenessee Williams mostrou que pegar este bonde pode ser trágico, mas não se desiste dele. Tomei uma overdose desse cara nos últimos tempos.

Assisti a Gata em Teto de Zinco Quente (com um Paul Newman lindo e uma Liz Taylor deslumbrante), e como nunca tinha lido sua obra mais célebre, resolvi dar uma conferida na peça e comprei uma edição barata de bolso de Um Bonde Chamado Desejo e no último domingo, encontrei o DVD da versão cinematográfica deste texto a um preço módico, cujo título em português sei lá por qual motivo se tornou Uma Rua Chamada Pecado. O título original (A Streetcar Named Desire) é a cara do texto, achava mais justo uma tradução literal. Depois eu vi que muita coisa do original foi mudada, para escapar da censura, e que a mudança do título é um fato mínimo em relação a mudança da gênese do conflito da protagonista.

Quando se assiste a um filme baseado em um livro que já foi lido, geralmente a preferência é pela obra original ou a gente lê o livro depois de ter visto o filme e percebe que o filme não é tão bom quanto o livro - li O Diabo Veste Prada e descobri que Andrea Sachs não era aquela tonta com a cara da Anne Hathaway. No caso de Uma Rua Chamada Pecado, mesmo com as perdas em relação original, isso não aconteceu. Adorei o filme. Talvez porque o roteiro foi assinado pelo próprio Tenessee Williams e o diretor foi o mesmo da primeira montagem - Elia Kazan, com o elenco teatral em peso, exceto a protagonista, no filme vivida pela Vivien Leight, que também interpretou Blanche no teatro, só que em Londres (alguém lembra da Scarlett O´Hara, de ...E o Vento Levou ? Então, é ela alguns anos mais velha, mas uma atriz ainda sensacional que correspondeu exatamente à imagem que fiz da quase-doida Blanche DuBois enquanto lia o texto da peça).
O brucutu Stanley Kowalski é um caso à parte. É mau-caráter, nojento, semi-humano, mas está no corpo (e que corpo!) do Marlon Brando, interpretando seu personagem com uma fúria impressionante. Morre-se de ódio e de tesão por este cara.



Este DVD é um verdadeiro achado: duplo, no primeiro disco apresenta o filme em sua versão integral, contendo as cenas cortadas para o filme não ser condenado pela Legião da Decência(Pensou sacanagem? Foi só o olhar decidido da Stella antes de correr para seu marido depois de ter tomado uns sopapos do próprio e o blues quente que toca ao fundo no primeiro contato de Blanche e Stanley, simbolizando uma tensão sexual entre os dois) e o segundo, com extras sobre a montagem teatral, o teste de Marlon Brando para Um Rebelde Sem Causa (para o personagem que se tornou antológico com James Dean), detalhes sobre a censura e os takes não utilizados para o filme.

Fui totalmente tragada pelo filme, chorei mais de uma hora pelo trágico destino de Blanche Dubois e perdi uma rara tarde de ócio com este DVD de Informações Especiais. Não sou cinéfila, só ando louca por cinema ultimamente. :P

Gostou? Morra de inveja:
Uma Rua Chamada Pecado, 1951. Dir: Elia Kazan. Com Marlon Brando, Vivien Leight, Kim Hunter e outros.
Um Bonde Chamado Desejo, de Tennesse Williams. Tradução de Beatriz Viégas-Faria. L&PM Pocket, 2008.

sábado, 11 de julho de 2009

Ídolos

Ah, ídolos. A pseudo-morte do Michael Jackson e as comemorações do 50 anos de carreira do Roberto Carlos tem me feito pensar como a vida fica divertida com eles.

Minha mãe sempre dizia para minhas irmãs (com quilos e quilos de pôsteres e revistas primeiro do Menudo e depois do New Kids On The Block) que idolatria era pecado, sendo ela própria, fã-fanzaça-fanzoca do Rei: mais da metade dos discos de vinil de casa são de Sua Majestade O Brasa, mora?

Lá pelos distantes anos 1980, eu não escutava discos, eu via discos. Crianças não mexiam nas ainda incipientes parafernalhas eletrônicas e quando uma mãozinha esperta se aproximava do 3 em 1, era batata escutar: "Tira a mão daaaaaaaaaaaaííííííííííííííí, meninaaaaaa!". O máximo que a gente fazia sem ter os tímpanos estourados era ligar a TV -sem controle remoto.

Com essa restrição tecnológica me restava entrar no meu mundim estranho e perder tardes e mais tardes fuçando os discos de casa, o que explica o fato de a memória do que eu escutava por tabela quando era criança ser visual. (Eu disse que era estranho!) Manusear as capas dos discos era muito mais fácil para minhas mãos pequenas de então, do que equilibrar o braço do toca-discos entre dois dedinhos e colocar a agulha no início da faixa com precisão.

As capas dos discos então, é o que restou de tudo, apesar de ainda existirem os vinis. Depois de quebrar o toca-discos, a gente matava a saudade olhando para elas, grandes e muito mais vistosas que os encartes de CD. Duas capas povoam meu imaginário até hoje: do disco da Clara Nunes, a Guerreira, com aquela imagem célebre, coroada de búzios e olhando ao longe e o Thriller, do Michael Jackson. Sim, texticular audiência: a família Teodoro contribuiu para as estatísticas do Guiness Book. Eu olhava perplexa para a capa e pensava: Ué, ele era negro???? Nem lembrava das músicas do álbum, mas tudo indica que dei meus primeiros passos na Vila Ede escutando isso por tabela, porque ao escutar Thriller agora, eu reconheci todas as músicas - Beat It, Billie Jean e Thriller não valem, é claro - porque são os maiores hits do álbum.

Pois é, procura-se este exemplar do disco mais vendido em toda a história desesperadamente. Há uns três anos atrás, fui mostrar este disco para uma amiga e cadê o dito cujo? Sumiu, escafedeu-se, finou-se. Então, de todas as dúvidas que povoam a morte do ídolo, para mim a maior delas é: Onde foi parar meu Thriller? Paga-se bem, porque isso é pior que procurar agulha no palheiro. Já estou até conformada, crendo até que achar o Santo Graal é mais fácil.

Pelo menos aqui em terras tupiniquins, os holofotes estão mais voltados para a turnê do Rei do que para a morte do Rei do Pop. O que a gente não faz para agradar a nossa mãe? Fui comprar os ingressos do show do Brasa hoje e passei duas horas dando com os burros n´água tentando comprar os benditos no site de uma rede de compra de ingressos chamada Ingresso RÁPIDO. Fico pensando se a rede se chamasse Ingresso Lento, quantos dias essa provação iria durar. A turnê do mais popular artista brasileiro, patrocinada pelos gigantes Nestlè e Itaú, não tem uma operação específica de venda de ingressos. O Rei não merecia um hotsite só pra ele, ora essa?

Resultado: tive que ligar. Quando consegui, era a 74ª na fila de espera e quando consegui comprar, tinha a cadeira azul, Vip dos Vips? Que nada, os clientes Personalitté paparam todas, sem exceção. Assim não tem nem graça ser classe média! Nunca quis tanto ser cliente Irritaú Personalittè.

O máximo que consegui foi o setor verde, meio de banda, na penúltima fila, desembolsando mais de 300 cru e falando com um atendente pra lá de garoto-enxaqueca. E para que fazer tudo isso? Além de deixar Betona feliz, uma maluca por música perderia este momento histórico? Mais que assistir à turnê de 50 anos de carreira do Roberto Carlos, só ver o Jimi Hendrix tocando Star Spangled Banner em pleno Woodstock. Mas para conseguir isso, só com sessão espírita ou máquina do tempo, e não disponho de nenhum dos recursos agora. Ou seja: que venha o Rei!

Peço a texticular audiência que lancem mão de seus credos religiosos, sejam lá quaisquer que forem, porque há outra provação que está por vir para chegar no Ginásio do Ibirapuera: o trânsito!

E é para mamãe esta cambalhota*!

Notas:
* Outra história da carochinha, mas esta é da minha irmã. Ela ficava olhando na janelinha da porta da casa da Vila Ede, morrendo de medo, toda vez que minha mãe ouvia a fita do Brasa com a música: "O leão está solto nas ruas, já faz uns dias que ele fugiu...." Não é de se estanhar que ela fosse brincar comigo ainda bebê, usando um coelho azul com fundo de ferro. Eita, era de Aquário!

* Meu pai também gosta de Roberto Carlos e foi ele que ficou esperando no telefone, porque sabia que eu ia desistir, se eu ficasse na linha. Morrer de ciúmes do Brasa, só mesmo o Lineu Silva, dA Grande Família, porque com meu pai não tem crise.

* E a imagem que ilustra este textículo é uma das minhas capas preferidas - o disco também - de Sua Majestade O Brasa, com pérolas como Eu sou Terrível, Quando e O Sósia.

sábado, 4 de julho de 2009

Orgulho de ser gente

Quer ver como Educação virou futebol? Quem mais fala de Educação? Gilberto Dimenstein (jornalista), Içami Tiba (médico), sem contar um tal de Gustavo Não-Sei-O-Quê¹ (economista) - este último não tem nem um mestrado na área ou ao menos uma pós em docência do ensino superior para falar uma linha sequer sobre educação com alguma propriedade. Todos estes apontam o "fracasso escolar", expressão banalizada de uma maneira tal, que se transformou numa instituição difícil de ser derrubada, pois serve de munição para as formulações e teorias destes "figurões". Se de repente tivermos uma educação digna da Escandinávia, de quem eles vão falar mal, na falta dos professores? Dos lixeiros? Dos garis? Dos personal stylists?

O fato é que certas coisas foram feitas para não dar certo e a Educação escolar, nos moldes tradicionais, é uma delas. Até porque se der certo, um monte de burocratas sentados vão perder o emprego. A gente trabalha engessado, escola é uma instituição engessada, num formato que remonta ao fim do século XVIII, aliás! Ou seja, não existe fracasso escolar, ele está dando muito certo.

Estou, a partir de agora, na contramão do coro de lamentações que até nós, professores ajudamos a engrossar: está na hora de falar de iniciativas bem-sucedidas.

A Secretaria Municipal de Educação possui um projeto de rádio escolar intitulado EDUCOM e a escola onde trabalho participa deste projeto. Como estava parado há algum tempo e na iminência de perder os equipamentos por conta disso, a coordenação pedagógica pediu para reativarmos este projeto, repletos de possibilidades pedagógicas. Nova na escola, senti meus olhos míopes brilhando neste momento, afinal eu sempre quis trabalhar com rádio, e é lógico que dei meu nome e a cara à tapa para participar desta empreitada.

Desde 28 de maio, estamos tocando o projeto de reativação da Radio Jovem Cidadão, com dois ou três alunos de algumas turmas do Ciclo II e a molecada é talentosíssima. Estávamos em compasso de espera até sábado passado, 04/07/2009, quando a radio funcionou ao vivo na Festa Junina da escola, com inserções que divulgavam desde o Conselho de Escola até as matrículas para o EJA, anunciando as barracas e as atrações da festa. Tudo muito simples, porém eficiente e regado com o carisma dos nossos meninos e meninas, agora locutores, roteiristas, operadores de som e tudo mais que uma rádio de verdade tem direito. Ah, antes que eu me esqueça, também me aventurei na locução neste dia.

Este dia funcionou como um pré-lançamento da rádio, que funciona pra valer a partir do segundo semestre. Já temos uma grade de programação montada com música, informação e prestação de serviços, um acervo variadíssimo montado a toque de caixa, para contar com uma programação musical que vai do funk ao samba-canção, e alguns roteiros prontinhos para rodar, sem contar os canais de comunicação via Internet, para interagir com a galera.

Grande parte destas ações partiram espontaneamente da garotada, rápida no gatilho a ponto de me deixar zonza, com tantas ideias para organizar. E olha que me deixar zonza é tarefa para poucos, porque sou ligada no 440.

Então só posso agradecer ao poder ultrajovem destes meninos e meninas. Será que vou esquecer de alguém? Vamos lá: Murilo, Douglas, Victor, Fabio, Jéssica, Sarah, Eduarda, Cássia, Cris, Alan (o único valente a operar o som das 8 às 15 da tarde), Prof Nelson, pioneiro nesta iniciativa e veterano da Radio Jovem Cidadão, e à Mariana, minha parceira no Velharia: aquele abraço!

Lembrando a todos que estamos apenas começando, porque muita coisa boa ainda está por vir!
Uma cambalhota coletiva para os que ainda preferem o fracasso escolar!

Nota:
1. Lembrei. O nome do cabra é Gustavo Ioschpe. O bonitão fez mestrado em Economia em Yale! Mas por que cargas d´água não vai falar de Economia? Só a Veja para nos brindar com bobageiras-de-terno de tão alto nível.

2. A imagem não precisa de créditos, porque é minha-feita-por-mim-mesma. Quem quiser ver as outras, estou postando no Orkut.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Peeeeeeeense positivo!

Esse é textículo mesmo, uma coisa até 'twittante' - acabei de entrar nessa coisa me perguntando: "Uátarrel is dis?"
A long, long time ago, nos tempos da Terra Média, escrevi sobre o pensamento não-positivo macabeico, e hoje estes pensamentos me vieram a tona novamente. Não cedi um milímetro na minha opinião: eu me ralo em dois empregos, preciso ser competente igualmente nos dois e ainda:
  • Não ter pontas duplas no cabelo;
  • Usar o Bankline;
  • Lembrar de usar o Renew para sinais mínimos de envelhecimento facial;
  • Utilizar fio dental;
  • Ir para a balada no final de semana, mesmo morrendo de sono;
  • Lembrar de mandar uma carta para o meu primo;
  • Fazer musculação quando não estou com a menor vontade;
  • Fechar a boca (isso serve tanto para comer como para falar menos);
  • Fazer book para meu currículo de atriz - puro, casto e imaculado no momento;
  • Mesmo sem tempo para nada, achar que sinto falta de um namorado, sendo que não sei há espaço para um na minha neste exato momento e por fim:
  • Escrever textículos engraçados, mas consistentes, inspirados e com regularidade para a Seleta Audiência que agora monitoro de perto no Google Analytics - mais uma tarefa inútil para minha vida, mas essa ao menos mata minha curiosidade insana, se alguém realmente lê este Festival de Bobagens neste mar de blogs sem fim.

E depois de tudo isso sou obrigada a ter tempo para pensar positivo?!?!?! Fala sério. Sou obrigada a fazer uma auto-citação:

"(...)Rabungentices à parte, o pior dessas auto-ajudices não é a pilha de clássicos que as pessoas deixam de conhecer. É essa obrigação permanente e implícita de vencer sempre, se dar bem sempre, ser bem comida sempre, sorrir sempre. (...)"

...Melhor mesmo é não pensar. Quem diria que eu terminaria este texto à maneira zen, hein, Alice Ruiz*?

Nota inutiél:

*Por pura sem-vergonhice não escrevi sobre a oficina de hai-kais que fiz com essa figura fodástica no Sesc Pompeia em abril. Quem sabe me dá na telha um dia desses, mas com certeza é uma experiência que pre-ci-sa ser compartilhada.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Vergonha de ser gente

Uma vez ouvi que o professor é uma criatura burra por excelência, porque nunca sai da escola. Claro que isso é um trocadilho, mas sabe-se muito bem que hoje em dia, declarar-se professor desperta no senso comum dois sentimentos, ambos antagônicos e nada lisonjeiros: piedade ou escárnio. Quem opta por essa carreira é tido como burro, mesmo que seja de uma forma velada e tem uma gente escrota que declara isso abertamente, através de discursos e de certas posturas que a gente vê em alunos e suas famílias - diria eu apenas doadoras de DNA, família para mim é outra coisa.


Já disse isso anteriormente, e isso não é papo café-com-bolacha¹ apenas. É fato. A falta de valores em que se basear é tão grande que dia desses, me dei conta que esse tipo de discurso que defendo são valores burgueses puríssimos - escola, família, lutar pra ter um emprego, etc. Por mais à esquerda que eu me considere, fui criada à maneira pequeno-burguesa e outra, a crise de valores está tão grande que qualquer valor serve - burguês ou não. Se eles ainda valessem alguma coisa, a atual juventude teria porque lutar, mas como não tem, estão cada vez mais letárgicos e agressivos - outra contradição.

Duas notícias pinçadas recentemente exemplificam bem o que estou falando. Como contra fatos não há argumentos, deixo que elas falem por si mesmas:



Preciso dizer que a primeira notícia mostra que este caso não passa de um refinamento de algo que existe desde tempos imemoriais na instituição escolar - o bullying - com a diferença de que este citado agora fez uso das chamadas mídias 2.0 (Orkut, principalmente). A segunda trata-se de mais uma descoberta da pólvora. Escola é, por excelência, uma instituição cruel com as pessoas, por ser um microcosmo da sociedade, uma amostra grátis do pior do ambiente em que a gente vive. Muita gente não entende o oximoro que sou: quando criança e adolescente, adorava estudar, mas detestava escola, assim como sou hoje uma professora que adora seu ofício, mas que odeia a instituição escola o triplo que odiava nos seus tempos de estudante. Ô lugarzinho medíocre, e olha que adoro as minhas escolas (eu não contente com uma, tenho duas dores de cabeça para privilegiar os dois lados do cérebro).

Sem contar os casos que vejo ou que fico sabendo no dia-a-dia e que não são noticiados. Nesta semana soube de dois que são de amargar, me dá vergonha de ser gente por essas garotas. TODAS as protagonistas são garotas. Qual é a desculpa pra isso: excesso de testosterona ou falta dela?

Essa primeira notícia deu no último Jornal Nacional, e é lógico que foram consultar um "especialista em Educação". Quando ouço essa expressão já começo a tremer - algum tonto graduado vai desfilar o rosário do Bestiário Tucanês da Educação², e aposto minha coleção de figurinhas que nenhum deles pisou numa sala de aula do ensino básico. No máximo algum pode ter dado aula no ensino superior, porque se virar nos quarenta e cinco no ensino fundamental e médio é coisa pros peões da Educação, como eu. No caso do JN de hoje, bingo! O desavisado da vez bateu mais uma vez na tecla do diálogo, como se a molecada de hoje quisesse isso. Eles pedem por limite e cada vez mais de uma forma consciente. Quantas vezes não ouvi: "Professora, bate nele!" ou "Manda ele pra diretoria!". Como a impunidade é grande, os nossos alunos sentem isso e esta ânsia por limites em casa e na escola acaba virando um catalisador de contrarrevolução. Ficam com saudade do tempo da palmatória. Nem eles aceitam esse discurso hipócrita que transforma um ECA num desserviço à educação dos mais jovens, principalmente na escola, que é um espaço público e visado, ao contrário do espaço doméstico, mais difícil de fiscalizar.

Muita gente me pergunta: mas por que você não sai dessa? Um dia posso até sair, mas quando EU quiser. Quero ter o direito de gostar do que eu faço, oras. De uma hora pra outra, educação virou futebol: todo mundo entende, todo mundo dá pitaco, mas sempre prevalece a aura romântica em torno da figura do mestre, embora constantemente desmoralizada. Não sou um Dom Quixote, porra! Estudei para ser professora, não para lutar com moinhos de vento e não me sinto na menor obrigação disso, porém...

...Do que dá certo ninguém fala, só das desgraças mesmo. Tenho uma notícia muito boa para dar aqui, só estou esperando que ela tome mais consistência para ser divulgada. É como a Bruna citou no seu blog:
"A árvore cai com grande estrondo, mas ninguém ouve a floresta crescer."
Patrick Pardini


O poder ultrajovem vem aí. Aguardem!

Inútieis:
1 - Papo café-com-bolachas é a conversa típica de sala dos professores: ora reclamando da vida, ora rindo das pequenas desgraças cotidianas.
2 - Existe um outro sinônimo para o Bestiário Tucanês da Educação, criado por alguns colegas: chalitar. Quer coisa mais irritante que ele, querendo se parecer com Dalai Lama falando? Ah, me poupe!

domingo, 7 de junho de 2009

Grito em fatias

Ensaiei este início de textículo inúmeras vezes e para arrematar, ensaiei mais uma. Existem coisas sobre as quais penso em falar e não falo, outras, simplesmente me dão vontade de falar. E é a vontade quem manda. E o fato é que nestes últimos dias não tive a menor vontade de escrever nada, por mais que existam coisas que merecem e que precisam ser ditas.

Paralisei não só porque os dedos congelaram de frio, mas também por ter um nó gigante na garganta, que não consigo cuspir com um grito bem sonoro, daqueles de ensurdecer o mundo.

Para não deixar minha seleta audiência mouca, eis que vem um grito em fatias.

Fatia nº1 - tenho lido jornal ultimamente: o Estado (Novo) e a Folha (Ditabranda) - de graça porque não dou um real em nenhum dos dois - e tanto um quanto o outro desataram a falar de Educação e do professorado. Não sei o que é pior: se é quando criticam ou quando resolvem defender. As duas vertentes põem a classe para baixo do cu da cobra do mesmo jeito. Mas que merda: a Educação não precisa ser um ato heroico ou fruto de idealismo puro. É uma carreira como qualquer outra, precisa ser atraente para trazer para si gente talentosa e competente, não idealista. E para deixar bem claro: atraente não só financeiramente, porque engana-se redondamente quem pensa que é só grana que move uma pessoa a escolher e permanecer numa carreira. É satisfação pessoal também, até mais que dinheiro, para alguns. E há quem chame isso de idealismo. Uma pinoia. Idealismo é coisa pra gente burra¹.

Fatia nº2: O penúltimo post do blog do Skylab recomenda um DVD do Luiz Tatit, fodíssimo compositor e estudioso da canção, que me faz pensar nas minhas, se são canções mesmo ou um monte de fórmulas repetidas ouvidas no rádio à exaustão desde os tempos da terra média. Skylab, então, cita um outro post seu, mais antigo, sobre a "nova safra" brasileira de cantoras, da Marisa Monte em diante. Nunca tinha entendido porque eu tinha enjoado da tal "nova MPB", que no início dessa década foi uma opção para mim àquele rock farofa chinfrim que tocava na rádio nessa época; entendi quando li esse texto. Tudo muito asséptico, tudo muito certinho, o que torna tudo irremediavelmente um porre. Pena que a discussão do texto descambou em quem comeria qual cantora dessa geração - papo que de fato não me interessa - por causa da piadinha final do texto: "Você comeria a Marisa Monte?"

Este texto me abriu um clarão na mente e exagero até que pode mudar a minha vida: digamos que agora sei em que cavalo apostar. Se bem que Skylab me deu uma esperança como intérprete (não-asséptica e cheia de erros, porém original) com uma das mãos, mas estrangulou a pobre com a outra, colocando todo mundo no mesmo balaio:

"qualquer cantora, da nova geração, não mencionada e qualquer outra que venha ainda a surgir, por favor, se sinta incluída – não há escapatória."

Fodeu! Desisto de ser diva. Prefiro continuar sendo vocalista de banda de rock de garagem em franca ascensão mesmo!

Fatia nº 3: Os TM estão sendo frequentados e comentados por gente nunca dantes vista, o que é realmente muito bom, mas me sinto meio como Wanderson, saca? "Não estou preparada para a repercussão: repórteres, não insistam por enquanto!" Um moço educado veio elogiar o sabor acentuado dos textículos que andou provando e citou que o trabalho do Skylab "vai além do grotesco e escatológico" e eu, como bufão e cachorro sarnento que sou, rosnei pro pobre, afinal a estética do grotesco é complexa, a ponto de ter que "ir além" dela. "Os bufões estão a nossa volta: inspirem-se neles", já postulava Titio Jorge Didaco. Foi mal aí, galera, mas é que o tal do "humor ácido" não é puramente performático, é a verdade mais profunda do bufão que vos fala.

Notas 'inútieis'

1- Idealismo vazio é coisa de gente burra sim, porque é exatamente aquele que não move uma palha do lugar. Eu ainda mantenho uma ponta de idealismo sim, mas com uma boa dose de cinismo.

2 - Ilustrar este textículo com O Grito, de Edvard Münch é um lugar-comum quase imperdoável, mas quem resiste à poesia dessa tela? Nem Homer Simpson se safou! Créditos da imagem: dimensaoestetica.blogspot.com/2008/01/o-grito...