segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Felicidade Guerreira

Bozoca defende uma tese que em dezembro existe um cheiro quente pairando no ar que, se você procurar por ele em 30 de novembro não tem e em 1º de janeiro, ele já passou.

Confesso, não gosto de fim de ano. Trauma da faculdade, porque sempre entregava a porcaria da pasta de estágios no fio da navalha, prestes a pegar DP por causa de um monte de relatórios que logo depois iria virar comida de Baratinha, literalmente e não literalmente. Gente que estudou ou estuda na Famosp-pi sabe bem do que estou falando. E como professor tem mais é que se f*, ano passado era a Via-Sacra de entrega de diários nas três mil escolas em que eu trabalhei para compor a jornada de professor contratado do Estado. Sem contar os três mil amigo-secretos em que eu cheguei a ouvir "Como dizia o poeta Manuel Bandeira... 'Tudo vale a pena se a alma não é pequena'!"¹ dito por uma professora de português em altíssimo estado etílico. Sorte de todos os presentes que não perceberam a gafe, provavelmente por acompanhá-la no alto grau etílico da festa. Azar o meu, que não tinha bebido o suficiente.

Sem contar o quanto que se engorda nesta época do ano, recorde em orgias alimentares.

Como 2008 é o Ano do Bozo, este ano é diferente. De uma hora pra outra, meu bode decorrente de todas as bozices que aconteceram este ano, foi embora. De semi-cegueira a reprise de filme sem-graça da minha vida, passando por um assalto, um mega arranca-rabo com baixista e amigo de muitos anos e um telefone jogado pela janela por causa de empresas que não prestam um serviço decente, eu quase enlouqueci. Gente, foi por pouco, muito pouco. Não sei como eu não me joguei pela janela.

Na verdade, quando Bozoca (a verdadeira, meninas²) falou desse cheiro quente, não consegui acompanhá-la na brisa, mas agora sei exatamente do que ela está falando. É ele que me faz sentir agora a melhor das esperanças: aquela sem motivo, que surge do nada e não nos decepciona, porque não é expectativa vazia colocada em coisas externas.

Como não sei e não quero saber qual é o motivo dessa mudança de humor - quero mais é curtir, resolvi achar um bode expiatório, à mesma maneira de Volver³: a culpa é desse cheiro quente que só dezembro é capaz de ter, que me faz rir sem motivo, dançar sem parar e principalmente, achar que só de virar a folhinha do calendário, minha vida vai mudar radicalmente e pra melhor. Que venha 2009!

"N
otas inútieis"
1 - Quem escreveu isso foi Fernando Pessoa, que conste nos autos.
2 - À maneira de Silvio Santos, um esclarecimento para minhas colegas de trabalho, que me chamam de Bozo: originalmente não sou o Bozo de Calça Amarela, no trio das losers eu era a Macabéa. Alilás, vale um Feliz Aniversário pra Renata-que-não-é-a-minha-irmã, que completou primaveras dia 13, que recomendou os Textículos no seu perfil do Orkut e tudo.
3 - Neste filme do Almodovar, dizia-se que na cidade do interior de onde vinham as personagens, as mulheres enloqueciam por conta dos ventos que sopravam na região.