quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sobre Cibercultura, Vizinhos e Muros

Como se sabe, o Muro de Berlim primeiro virou entulho para depois virar filme. (E ele deve orgulhar-se da sua transubstanciação. "Adeus, Lênin!" é um dos filmes mais lindos e poéticos que eu já vi.) Ideologias à parte, imagino que quem assistiu à queda do muro ao vivo e à cores deve ter sentido uma puta esperança de que houvesse um mundo sem divisões no pós-Guerra Fria. Que triste engano.


De lá para cá, parece que tenho visto cada vez mais muros, e maiores. O da Faixa de Gaza cumpre praticamente o mesmo papel que seu avô alemão sem a mesma aura mítica, mas com o mesmo horror. As escolas se parecem cada vez mais com presídios, e talvez o sejam mesmo. Os muros das "propriedades particulares", os muros da nossa insegurança. Os muros não-físicos, feitos de medo e intolerância ao diferente, ao feio, ao desajustado.


Nenhum muro, porém, me assustou mais que os muros da minha casa. Quando nos mudamos para cá, os muros eram baixos. Começaram a subir com os assaltos. Pronto, a residência de periferia de uma prosaica família de comercial de margarina já começava a ficar com um aspecto mais repulsivo.


Os muros que se seguiram, físicos e não-físicos, começaram a subir dos dois lados e já não era mais por segurança. Durante um bom tempo moramos ao lado de um paradoxo e também o fomos. Perto e longe. Quase incomunicáveis.


Há pouco menos de um ano, os muros deram sinais de queda. Pouco a pouco e dolorosamente foram ruindo, à custa de lições muito duras, dessas que só a Vida sabe dar.


Senti que o último muro da minha casa caiu definitivamente ontem, sem marretas nem entulho. Bastaram dois PC's conectados à Internet. Quando eu ouvi pela primeira vez que "a Internet encurta distâncias" imaginei, sei lá, o Japão. Nunca, em nenhuma hipótese, imaginei que ela atravessasse a distância de uma única parede e sem aquelas firulas de Exterminador do Futuro! O impacto foi como se eu tivesse descoberto o teleporte.


...Isso sim é Cibercultura, o resto é ficção científica.


Textículo jorrado por Mr. Mag00 em 06/02/2008

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