quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ecce Homo

Bem que eu devia desconfiar daquele cara. Não obstante seu visu grunge que para mim ficou perdido lá nos 90 e alguma coisa, ele implicou com os bichinhos que aparecem no meu relógio digital. Disse que aquilo não parecia um canguru. É muita neurose. Comprei o relógio para ver hora, porra, não para ver canguru. Foda-se se não se parece com um. 

Lembrei-me disso numa hora bem à toa dentro do metrô, tentando trocar o canguru-que-não-se-parece-com-um-canguru pela data de hoje. Passamos mais horas dentro do metrô do que dentro do motel. E quanto mais cara de bunda você fazia por dar de cara com mais um motel lotado, mais eu ria. Nestes momentos, babe, tanto estoicismo não serve para nada: ou se tem um plano bê, pensando rápido, ou não se tem. E você não tinha. A vitória do senso prático sobre a abstração racionalista. Rá!

Saí correndo do metrô e antes de chegar ao meu destino, dei uma passada no Rei do Mate. Bem à minha frente, um copo do Romero Britto de brinde. Não aguento mais Romero Britto na minha frente. Arte Pop vendável piorada do caralho. Aí me deu vontade de rir mais ainda do que eu tinha rido da cara da recepcionista do motel barato: você detesta Romero Britto. Carne-de-vaca, você diria. 

Sabe que, se eu estivesse com tempo, até levaria um daqueles copos para você de presente? Só para ver sua boca entortando a esbravejar contra a banalização da Arte, assim, com um solene “A” maiúsculo. Só para você se recordar que é mais ordinário que aquele copo. Só para você saber que eu sou mais carne-de-vaca que todas as telas do Romero Britto juntas, e no entanto, você comeu. 

Logo, não adianta fazer cara de quem comeu e não gostou, porque você comeu, simplesmente comeu. Sem hibridismo, confluência ou contemporaneidade, pensando com o pau como qualquer um, tão carne-de-vaca quanto eu. 
Ecce homo.

2 comentários:

Gumercindo Guimarães disse...

Não vou falar do texto em si, você já está cansada de saber o que eu penso do seu estilo.
Se a história é baseada em fatos reais...foi um soco na boca do estômago mais bem dado que eu já vi. haha
Aparece nas meios de comunicação virtuais quando puder!
beijos

Frida f5 disse...

Putz, eu tenho estilo, que bom!
Não estou completamente satisfeita, queria o Ecce Homo que o 'intelectual' em questão fez e me mostrou para ilustrar o conto.
pode deixar que dia desses eu apareço por aí pra gente trocar uma ideia. Beijos