segunda-feira, 30 de março de 2009

Smells like a gunpowder spirit


Na última quarta-feira, a Seleta Audiência pode ter ouvido falar que, em uma escola municipal da Zona Norte de São Paulo, um aluno de 14 anos atirou acidentalmente em sua colega com revólver calibre 38 cano longo. É uma tendência nossa acreditar que isso pode acontecer em qualquer lugar, nunca perto da gente. Pois é, Seleta Audiência, até o ano passado, eu trabalhei nessa escola. E mais: tenho uma leitora de textículos trabalhando lá agora e que estava na sala ao lado quando isso aconteceu. Por muito pouco teria sido ela a professora a estar naquela sala na hora do ocorrido.

Todo mundo acha um absurdo, todo mundo se pergunta onde vamos parar assim, e principalmente, coloca a culpa na direção e no corpo docente da escola, como vi pela TV. O mané-pipoca do Percival de Souza falou naquele 'espreme-sai-sangue' do Cidade Alerta que isso era falha da direção da escola. E a gente tem direito de revistar mochila de aluno por um acaso, Sr. Especialista em Generalidades?


Ano passado, em outra escola em que trabalho, eu vi, ouvi e cheirei uma bomba no corredor bem na volta do intervalo. A confusão foi tanta que me perguntei se estava na Faixa de Gaza e cogitei mudar o patrono da escola para "Bin Laden". Naquela época já fiquei atordoada, me perguntando com que tipo de gente eu estava lidando. Imagine hoje, ao saber que por pouco não tomei uns pipocos, se tivesse continuado naquela escola da prefeitura, isso sem contar a Bozonifácia, que acompanhou tudo de perto.


Certa vez, na minha sala de aula, um colega trouxe uma arma, só que era de brinquedo e a munição de chumbinho. Ainda assim, a professora ficou desesperada: "Menino, me dá essa arma!"


"Mas professora, é de brinquedo!" E a professora: "Claro que não é, menino, já estou sentindo o cheiro da pólvora, me dá isso!"


Depois dessa frase, a prô perdeu o respeito, a sala desabou a rir. Se não tinha nem munição, que dirá pólvora pra ter cheiro?


Imagino o desespero da minha ex-professora, hoje colega de profissão, mas não deixa de ser engraçado o pânico da pobre com aquele 'treisoitinho' em cima da carteira do meu colega. Se ela estivesse no lugar da Bozonifácia, ela cairia dura. Renata, que mal teve tempo de sentir o cheiro da pólvora, teve que sentir também o legítimo cheiro de sangue, afinal o tiro acertou o joelho da infeliz que fez o favor de ficar perto de um zé-ruela armado sabe-Deus-porquê.


Por essas e outras começo a achar românticos estes anos 90. As pequenas transgressões - como uma arma de chumbinho - tinham graça. Porque, para mim, esta notícia não é nem um pouco engraçada, assim como os ares de Mcgyver que ganhou o Magistério contemporâneo. Não tem graça nenhuma, Duley.


*Por razões óbvias troquei a imagem original por uma foto do Kurt com armas: http://media.photobucket.com/image/kurt%20cobain%20with%20guns/afewrandomdrunks/Kurt_20Cobain_20Gun.jpg

domingo, 29 de março de 2009

Desencalha, Bozo!

É cada uma na vida, gente, que pega de surpresa até os insetos mais aracnídeos¹. Você acha que já viu de tudo na vida e aí aparece na sua frente mais uma bizarrice que das duas, uma: ou você sai correndo com Síndrome do Pânico arrancando os cabelos, ou se mata de rir, porque não lhe resta mais nenhuma alternativa. Foi o que eu fiz quando a verdadeira Bozoca me mandou este link: http://www.desencalhawanderson.com.br/ . O nome do domínio já me causou espasmos, mas o melhor/pior estava por vir ao abrir o tal sítio. Nem vou descrever, para não cortar a graça da Seleta Audiência. Quem sabe eu não ajudo o cara a achar uma noiva? Se bem que acho difícil uma leitora de textículos dando bobeira por aí como eu se interessar pela figura em questão.

Mas este cara me deu um alento e uma ideia. O alento é que sou mesmo uma moça casadoira, ora essa! Para comprovar a veracidade do fato, basta ver a descrição das prerrogativas do moço para escolher a louca, ops, quer dizer, a eleita. Eu me encaixo em todas elas, apesar de não saber muito bem o que é "uma mulher que queira agradar o Deus que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há". Ele não falou nada em ser virgem...

Se vocês pensam que vou me candidatar, esqueçam que eu tenho amor a vida. Farei melhor, vou copiar a ideia do rapaz, mas sem gastar dinheiro para comprar um domínio só para isso porque já tenho meu Grande Meio de Comunicação em Massa, os TM. Estou lançando agora a campanha² "Desencalha, Bozo!", porque mesmo curtindo a vida ao máximo numa pós-adolêscencia assumida, sou filha de família de comercial de margarina e também quero casar, apesar de não parecer no textículo "Moças Casadoiras", publicado há algumas semanas atrás.

Minha descrição? Taí em cima: misto de Marlene Dietrich com Audrey Hepburn, tudo diluído em ácido ascórbico, mas deixa isso pra lá porque toda descrição É ridícula. Isso me lembra um papo na escola, com a Internet se popularizando, quando a gente ficava criando descrições para salas de bate-papo. Coisas do tipo "moreno alto" (negão), "seios fartos" (peituda), mignon ("tampinha"), "cheia de curvas" (gorda) e por aí vai.

Não deixarei, porém, de dar o detalhamento do pretendente ideal para minha pessoa. Diz meu pai que quem muito escolhe, acaba escolhido, mas também é preciso saber o que se quer dessa vida, né, papito? Vamos lá:

1 - No mínimo, precisa entender o que eu falo. Não sou nenhum gênio, mas eu não consigo suportar homem burro.
2 - Chega dessa cambada de machos indecisos. Cabras-macho desse mundo, uni-vos!
3 - Não gosto de cabra-frôxo e muito menos de metido a valentão. Se meu pai nunca falou mais alto comigo ou me bateu, não é qualquer mané-pipoca que pode fazer isso, se nem DNA me deu.
4 - Cabra-macho que se preze é bom de cama. Esse papo de que quem gosta de homem é viado porque mulher gosta é de dinheiro, é papo de quem não dá no couro. Mulher gosta de sexo, e no meu caso, não preciso de quem me sustente.
5 - Não estou a fim de dar golpe no baú, mas é evidente que estou muito menos a fim de sustentar vagabundo.
6 - Não vivo sem meus amigos e amigas, e se o cabra em questão quer contrato de exclusividade, esqueça a fazedora de textículos, porque essa besteira de perder a própria identidade por um tonto que pode te largar a qualquer momento eu não faço mais.
7 - Precisa suportar uma doida em estado criativo permanente. Criar é algo mais que necessário na minha vida. Lavar cuecas deixo para a máquina de lavar.
8 - De preferência, que seja engraçado. Afinal, se homem é tudo palhaço, no mínimo tem que me fazer rir!

Para os candidatos interessados: não me mandem e-mail com foto, não me procurem no Orkut, não deixem comentários no TM. Como sou romântica, gosto do charme do acaso. Um dia a gente se esbarra por aí e toca musiquinha, igual ao filme dos Normais.

Notas inútieis:
1 - Citação em homenagem ao meu batráquio amigo Zé, que fez aniversário ontem, data em que comecei a escrever este textículo, antes de ser surpreendida por uma Hora do Planeta forçada.
2 - Esta campanha não afeta em nada a minha cruzada mesopotâmica para chegar aos 30 no auge, viu, Vizinhíssimo?
3 - Quando disse que lançaria a campanha, alguns não acreditaram nela, outros acreditaram em excesso. Poderiam ser menos cartesianos, pessoal? E outra, não sou baleia para encalhar, muito menos para desencalhar. Mas o moço casadoiro não precisa ter medo do meu pH, pois, parafraseando Garnier, meu melhor lado é Ácido.

Piada amywinehouseana pronta

Esta é pronta mesmo, texticular audiência. Saiu sem cortes do G1, portal de notícias da Globo.com:

Amy Winehouse chama produtor para ‘salvar’ novo disco
Cantora pediu ajuda para Mark Ronson, produtor de ‘Back to black’. Ronson concordou em voltar a trabalhar com Winehouse, diz tabloide.

Do G1, em São Paulo

A cantora Amy Winehouse pediu para que o produtor Mark Ronson voltasse a trabalhar com ela, na tentativa de “salvar” seu novo álbum, diz o tabloide britânico “The Sun”. As demos do disco da cantora foram rejeitadas pelos executivos da sua gravadora, a Island Records. Entre os problemas apontados estão “letras sombrias e depressivas demais” a respeito de seu relacionamento com o marido Blake Fielder-Civil e uma forte influência de reggae. Grande parte das músicas foi composta por Winehouse durante suas férias no Caribe. Mark Ronson foi o produtor de “Back to black”, disco que ajudou a cantora a alcançar a fama mundial. Ele trabalhou com Winehouse pela última vez em abril de 2008, na tentativa de gravar uma canção para a trilha sonora de um filme da série James Bond. Na ocasião, se desentenderam e a música não saiu. Ronson disse que a cantora “não estava pronta” para voltar a gravar. O produtor teria evitado Winehouse devido a seu problema com drogas, mas agora parece inclinado a colaborar com a cantora. “Ele acha que ela está muito melhor agora, então concordou em voltar à bordo e trabalhar algumas músicas com ela”, diz uma fonte não identificada do jornal. “Ele espera que a mágica de ‘Back to black’ volte a acontecer”.


Comentário infame 1:
Concordo em chamar o Mark Ronson, o Back to Black é sem dúvida uma obra-prima. Mas porque diabos esta burra não lança um álbum independente? Ela é mestre em polêmicas, ela ganharia dinheiro do mesmo jeito ou talvez mais e tem cacife para mandar estes generais de dez estrelas da Island Records ir enxugar gelo. Mesmo que ela não tivesse, poderia mandar do mesmo jeito, doida como ela é.
Comentário infame 2: As gravadoras tomam cada vez mais prejuízo, mas não aprendem nunca! Não entendem que os caminhos da arte são tortuosos e continuam atrás da mesa com o cu na mão. É só assistir Ray ou Johnny&June para ver que é velha essa piada de mandar na criação de um artista, sendo que o executivo mesmo não faz melhor, isso se souber tocar alguma coisa. Tio Ronnie que o diga. Ah, a citação de Faroeste Caboclo foi inevitável.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Cabeças de rádio

Lendário ano de 1998, com 15 anos, quase 16. Sentada no sofá da casa do meu namorado, esperava aquele adolescente maluco e com um cabelo que conseguia ser mais desgrenhado e revolto que o meu terminar de atender um telefonema na cozinha. Nem me lembro com quem ele falava, se senti ciúme ou não, e a verdade é que, por conta do que tinha acabado de acontecer, eu estava catatônica demais para pensar qualquer coisa que seja. E eis que dou de cara com o Thom Yorke pela primeira vez na minha vida.



A TV era grande, o sofá bem fofinho, assim eu me sentia acolhida - apesar daquela tarde ter sido puro risco. O rosto expressivo e a canção triste não tinha nada a ver com o momento que eu vivia, mas mesmo assim ela me chamou a atenção. Provavelmente não foi a primeira vez que eu ouvi Radiohead na minha vida, mas foi a primeira vez que me chamou a atenção, por um momento bem fugaz.

Essa canção não foi trilha sonora daquela tarde e se fosse, seria como de um filme do Tarantino: não faz parte da cena de um jeito arquitetado ou estético, aparece de um modo casual. Tanto que tinha me esquecido desse fato e eis que ele vem à tona com a ida ao show. Hoje, porém, percebo que esta horinha foi mais importante que eu imaginava.


Radiohead para mim sempre foi sinônimo de Luiz Filipe, o "historiador, baterista, desenhista, o último a ser escolhido nas aulas de Educação Física e contador de mentiras sobre si mesmo", que tenho como vizinho e amigo desde o 4 anos de idade. Quando o pessoal ainda chamava Fake Plastic Trees de "música do Carlinhos", ele já era louco, doente e alucinado pelo Radiohead e desde aquela época dizia que essa uma das maiores bandas de todos os tempos, coisa que tem gente descobrindo só agora, como eu.

Aliás, Fake Plastic Trees também faz parte do conjunto de lembranças esparsas da década de 90. Ainda existiam aquelas folhas com algumas letras de música traduzidas chamadas de Take One ("pegue um") distribuídas por cursos de inglês e que sumiram com a popularização da Internet. Não sei que OVNI trouxe essa letra até minhas mãos, o fato é que eu li e guardei durante muito tempo e suspeito que o mesmo disco voador a levou de volta para o lugar de onde ela surgiu. Sempre gostei de uma poesia meio dadaísta e foi nisso que Fake Plastic Trees me chamou a atenção. Na época da propaganda do Carlinhos, pasme, a gente estava sem TV em casa ou já tinha sido instalada uma antena parabólica que não faz transmissão local. Acredita que até hoje não vi essa propaganda, nem no Santo Youtube? Mesmo assim, nunca me esqueço do Mauro me chamando de Carlinhos toda vez que eu fazia uma burrada.

Quando resolvo ouvir Radiohead para valer, Forest me emprestou o The Bends, que ficou comigo durante um bom tempo. Na época, fui abduzida por High and Dry, que não é exatamente a melhor deles, mas eu gosto, pô! Simples assim.

Desde que os In-pessoa se juntaram para tocar, é grande minha aproximação com a banda, porque o Zé também é outro doido por Radiohead. Foi aí que assisti a alguns vídeos, baixei álbuns, mas tudo numa atitude de pesquisa, de curiosidade, não tinha sido tragada ainda pela profusão de sons e de timbres das guitarras cheias de pequenos detalhes, da bateria precisa, do vocal agudo e afinado do Thom. Tudo isso com a pegada experimental que rechaça de cara dois clichês mais que batidos sobre rock n´roll: que rock é um estilo pobre em sofisticação e que para fazer um som elaborado é preciso ser um virtuose mala-sem-alça. (Que chatice é essa coisa de "Steve Foi" - tão rápido que nem vi a nota que ele tocou. Ah, Cabral, fala sério.)

Durante esta semana, porém, tentando resgatar flashes de memória e guardando no corpo as memórias físicas do show, finalmente fui hipnotizada por estes cabeças de rádio. Meu mp4 chega a ter vida própria: de uma maneira totalmente instintiva, uma canção vai e volta feito bolinha de ping pong entre minhas orelhas. Advinha qual?

Acertou quem respondeu "No Surprises".

Isso parece ou não filme do Tarantino? É como se eu a película estivesse correndo para parar exatamente neste ponto. Adoro roteiros entrecortados.

terça-feira, 24 de março de 2009

Sonho de um sonho II

Neste domingo, fui uma das 30 mil pessoas que assistiram ao show do Radiohead em São Paulo, e aquela sensação duplipensante de viver o momento ao mesmo tempo em que se tenta racionalizar a experiência para relatar depois funcionou só durante alguns instantes, porque o que eu vivi foi tão surreal, que me sinto como o Segismundo, protagonista de A vida é sonho: estava dormindo e acordei aqui ou foi o contrário, tudo isso é um sonho?

Engraçado porque quem é fã absoluto e irrestrito de Radiohead não sou eu, acho difícil superar Vizinhíssimo e TioZé em loucura insana por Thom Yorke e seus parceiros, mas isso não impediu que eu me comportasse como uma fã, a começar pelo dia em que eu comprei o ingresso, uns três meses antes. Por que eu fiz isso, se não era tão fã assim? Simples, eles decidiram vir ao Brasil no seu melhor momento, e conta-se nos dedos as bandas internacionais que fazem isso. Sabia, desde sempre, que seria este um show histórico¹. E foi.

A surrealidade da experiência começa pelo fato que faz uns 10 anos que eu não vou a um grande show de rock e sinceramente pensei que esta fase já tinha passado. Clichê muito piegas, mas verdadeiro: é como se eu tivesse a minha adolescência de volta. E isso é bom demais.

Minha mente ainda tagarelava no show do Los Hermanos, que no início eu desprezei, mas que depois ganhou um gosto de piada velha envelhecida em barris de carvalho, como um bom vinho. O show foi melhor que eu esperava e achei muita graça em eu não conhecer nada de Los Hermanos que ultrapassasse a chatice da "Anna Julia". Eles que não são bobos nem nada, não tocaram essa pérola do cancioneiro chato do pop-rock brasileiro. Conclusão: apesar de ter apanhado do Chorão e de dar uns sapecos na pirralha da Mallu Magalhães, o Marcelo Camelo merece algum respeito musical, mesmo com sua cara de funcionário da Nasa dos anos 70, misturada com cara de judeu de Higienópolis com traços de estudante de sociais da USP ou coisa que o valha que me irrita um tanto, eu confesso. E o Rodrigo Amarante fez mais bonito que nosso idish-apollo13. Alguém tem o telefone dele, por favor? :-P

Outra piada velha, mas que eu conheci estes dias, portanto tem graça foi o Kraftwerk. Eles tem mais de 20 anos de carreira, mas para mim foi a descoberta da pólvora. Vi tudo naquele show: poesia concreta, Mondrian, crítica social. Mais um drama tostines na minha vida: eles são realmente vanguarda ou o que a gente faz e ouve em termos de música é que está datado? We are the robots!

O Radiohead, como bem informa a notícia do link, entrou pontualmente em cena. E aí que começou meu desespero, do alto dos meu 1,63m de altura. Não adiantava ficar na grade, como bem observou o já iniciado em shows do Radiohead - o dono do... OKcomput3r! - para que se pudesse ver o show na íntegra, com os efeitos de luz que ajudaram ainda mais a criar o clima de "isso é verdade mesmo?" que permeou todo o show. Só que era gente demais naquele lugar e ver mesmo o show, eu não vi. Demorou um tempo para entender que aquilo não era um show, era uma experiência, e que em shows de rock o legal não é ver e sim participar. Foi aí que a coisa ficou boa para mim, quando rolaram os melhores momentos do show, na minha opinião: Paranoid Android, Karma Police, e do In Rainbows, Reckoner. No bis, Fake Plastic Trees foi atrapalhada por uma briga perto de mim. Como bem observou um outro cara que estava por lá: "Brigar logo na hora do Carlinhos, pô?" Aí, estragou.

Hora de ir, quase um enrosco, em plena madrugada de domingo para segunda. E lá estávamos, mais uma vez, eu e meus companheiros de aventura, tentando sobreviver na cidade. Chegamos três da manhã em casa e em vão tentei acordar às 5h30 para ir trabalhar e abri os olhos com essa sacada do Segismundo: estou acordando agora ou voltando a dormir?

Esta pergunta se mantém sem resposta. Desde que acordei/dormi, tenho ouvido Radiohead feito uma louca, tentando "concretar o fluido", reter na memória o que passou, o que eu senti. Essa bola eu cantei para o Zé, na saída do show: acho que só vou entender o que aconteceu de verdade daqui a alguns anos. E olhe lá.

Por isso fica para o próximo textículo um pouco mais da minha relação com o Radiohead, como se fosse os TM um filme do Tarantino, que vai e volta no tempo com garbo e elegância, como eu*. É para nós mesmos esta cambalhota!

1 - Aos que sobreviveram para contar esta história comigo, aquele abraço!

sábado, 21 de março de 2009

Inclassificáveis

Fui assistir ontem ao show do Ney Matogrosso de um de seus trabalhos mais recentes, o sucesso de crítica e público Inclassificáveis. Estava tentando ir deste agosto do ano passado, quando diziam que seria a última passagem deste show em São Paulo, o que se mostrou um belíssimo papo furado. Quando fiquei sabendo que neste final de semana rolariam mais três shows, eu corri para comprar a mesa mais próxima que eu pudesse e não perder este show por nada deste mundo e ainda carreguei junto Filhutti e TioZé, amigo, companheiro de banda, parceiro e compositor que até me faz às vezes eu me sentir uma diva, por conta das canções fodásticas que ele me dá para cantar, apesar de toda a desafinação que me acompanha. Seria ele um chamariz para invadir o camarim do Ney? Mistérios insondáveis da Velha Guarda.

Eu já conhecia o produto. Em 2004 assisti ao show da turnê Vagabundo, que ele fez junto com Pedro Luís e a Parede, que eu já conhecia e gostava também. Desta vez, porém, houve um mega-salto de qualidade. No show do Vagabundo, eu fiquei no poleirão, o setor em cima do camarote do finado Olympia (ah, que saudade, assisti ao primeiro show do Offspring no Brasil lá, no inesquecível ano de 1997). Desta vez no Citibank Hall (antigo Palace e DirecTV Music Hall), fiquei nas mesas do Setor 1 e escutei até as tomadas de fôlego do Ney na hora de cantar.


Essa coisa de ser blogueiro nerd é uma bosta. No show, entre uma gozada e outra, eu só pensava nessa merda de blog, nas frases que escreveria, em como descreveria aquela pélvis endemoniada que deixa Elvis Presley parecer um coroinha de igreja. E o Elvis nem chegou aos 67 anos - idade do gostosão Ney Matogrosso - e aos 40 já parecia um cachaço perto de ser abatido. Eu tive que respirar e abstrair, para poder viver a experiência como se deve, sem pirações ciberculturais.


O show é uma rara experiência de espetáculo completo: visual, performático, musicalmente perfeito. O Ney é artista consagrado, e neste show fica evidente sua segurança, sua experiência, seu domínio de cena absolutamente indiscutível e com tudo isso, ainda executa sua performance com uma paixão de primeira vez no palco. O Vagabundo também foi assim, mas no Inclassificáveis houve uma diferença. Senti uma maior economia nos gestos, aquela malandragem que só a idade é capaz de nos trazer. É diferente de estar contido, sua rebolada continua fantástica, tanto que ele não a gasta à toa. Nada mais perfeito para o tema do álbum e do show, a passagem do tempo e como isso nos espanta, passando pelo amor, pelo sexo, e acaba sendo um retrato dele: inclassificável. Sendo gay ou não, pouco importa: a figura dele causa tesão até na ponte Rio-Niteroi, e com este show ele prova (mesmo sem precisar) que é também atemporal.


Eu já conhecia o álbum, fui atrás de me afiar que não sou besta nem nada, mas ainda assim tive surpresas. Na passagem da primeira para a segunda parte do show, quando ele tira o primeiro figurino em cena e fica apenas com uma malha finíssima que até parece que está seminu com o corpo pintado, ele canta Cavaleiro de Aruanda, do repertório do Ronnie Von na sua fase mais fantástica. Quando ele canta "Por que a gente é assim?", de longe a minha preferida do álbum, ele desce do palco e canta - literalmente - na minha frente!!!! Se não morri naquela hora, não morro nunca mais. No bis, ele canta Simples Desejo, canção do primeiro álbum da Luciana Mello, que eu também adoro. Puta que pariu, gente. É de gozar mesmo.


Falando em gozar, desde que eu comprei o ingresso até a hora de sentar à mesa, eu disse que ia gritar lindo, gostoso, vai lá em casa e etc., coisa que eu e mais um monte de malucas fizeram no show do Vagabundo lá no Poleirão do Olympia. Mas ontem, quando o show começou, eu mal piscava, e suspirava. Só conseguia fazer isso. Como o Bozo de Calça Quadrada aqui só faz se f****, tinha umas pós-balzaquianas que fizeram isso por mim e pela plateia inteira, e mais pareciam um bando de adolescentes histéricas gritando pro Zac Efron no High School Musical, e o pior, só para aparecer, porque gritavam até no meio das músicas, das mais lentas inclusive, como Coisas da Vida, por exemplo.

Nestas horas se justifica meu ódio extremo pela "crasse média" medíocre que a gente tem nesse país. Nem dá para colocar a culpa na falta de estudo, de cultura ou de dinheiro, é falta de camisinha mesmo. Nascer já foi o erro. Filhutti estava bem atrás dessas frígidas e sofreu a pobrezinha. Nem sei como eu e ela não enfiamos nosso copo na boca daquelas malditas e um nabo em outro lugar, para tentar ver se sossegavam. Traduzindo: fora pela visão de palco, grande merda ficar no Setor 1. Sem contar o trânsito de garçons, às vezes tampando a visão do show. A culpa não é nem deles, que trabalhavam como se estivessem numa trincheira de guerra, quase de joelhos: era da plateia mesmo. Quer beber, que vá pro boteco e se quer comer, que vá pro restaurante. A última coisa que interessa a este tipo de público é a música. Nota zero para eles.

E quem quiser que conte outra, porque este fim de semana tem mais: amanhã assisto ao Radiohead e Kraftwerk, primeiro show internacional que vejo em quase dez anos, acompanhada de dois verdadeiros radioheadmaníacos. Segunda tem mais textículo, para mim e para esta seleta audiência que me acompanha. É para nós esta cambalhota!

Créditos da imagem: http://portal180graus.tempsite.ws/musicapelomundo/wp-content/uploads/2008/03/ney.jpg

quarta-feira, 18 de março de 2009

E no país da piada pronta...

...Há piadas prontas de todas as cores, sabores e tamanhos. Como todas são extremamente sem graça - afinal uma é pior que a outra - na dúvida, conto todas. :-S

A primeira delas é a mais recente, fresquinha como a piada da androide. Depois do textículo de anteontem, vejam só o que caiu nos meus olhos assim que eu abri a página da UOL hoje: Desencalhe! Os cinco erros que estão mantendo você solteira. Eu, como boa moça casadoira que sou, fui conferir. Imperdível, gente, principalmente se quiserem passar raiva. Descobri que estou cometendo três deste cinco erros e fiquei muito triste com isso. Queria cometer os cinco na sequência. Se quiser rir, leia. É besteirol machista escrito por mulheres da mais alta qualidade.

A piada pronta número dois foi cunhada pelos meus patrões. Número dois mesmo, porque é merda das grandes, tanto que foi noticiada pela grande mídia, que geralmente passa a mão na cabeça (careca) do governo estadual. A Secretaria da Educação soltou um material para alunos e professores contendo um erro crasso em Geografia. Uma América do Sul com dois Paraguais e nenhum Uruguai, nem Equador. E o dileto patrão bota panos quentes no acontecido: "Para Serra, o fato de o material didático distribuído em escolas públicas de todo o Estado mostrar duas vezes o Paraguai em um mapa da América do Sul 'não é um erro grave, mas é um erro'." No mesmo dia, o Secretaria divulgou o Idesp das escolas, índice que seria a base de cálculo para o pagamento do bônus para os professores da rede, mas nada ofuscou o brilho da primeira notícia, que, de tão gritante, até a grande mídia teve que noticiar. Há mais coisas entre SEESP e o professorado que possa provar nossa vã filosofia, mas paro por aqui. Estou em estágio probatório, hehe. Detalhe: a piada pronta número dois é na verdade, dois-em-uma, porque o tal índice geral de qualidade das escolas estaduais está abaixo da crítica. It´s all true, folks!

Apesar da consistência de tantas piadas prontas, hoje ninguém riu delas, afinal as atenções estavam todas voltadas ao funeral de Clodovil, deputado federal que dispensa apresentações. Tanto que a última piada pronta será póstuma - e também uma piada velha - do deputado, o seu primeiro discurso na Câmara:





Quando a gente vê uma turma de alunos incapaz de calar a matraca até na hora de responder chamada, e não sabe porque isso acontece, é só ver esse vídeo. A falta de educação (no sentido mais elementar, como comer com os cotovelos na mesa, por exemplo) começa dos altos escalões de poder do país, logo, a molecada não tem nenhum bom exemplo para se mirar. Procurando o vídeo do 'Estupra, mas não mata', achei este e até comentei com uma das minhas turmas exatamente o que eu disse aqui. Não gostava muito do Clodovil, não acho que basta morrer para 'virar bonzinho', mas dessa piada velha eu gostei. Tanto que rendo uma singela homenagem póstuma a este subversivo que não vestiu as Sandálias da Humildade do Pânico nem a pau*.


*Queria terminar este textículo com alguma coisa engraçada, já que estamos falando de piadas, mas todos os meus trocadilhos pobres ficaram de extremo mau gosto. Para gente como eu, rir da morte ainda é um privilégio para poucos.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Moças Casadoiras

Dedicado à toda equipe que se esforçou em me casar a todo custo!

Tinha começado, há pouco, um textículo de solteirona em crise à la Sex and The City; o fato é que estou f-a-r-t-a desse tipo de discussão. Não sei porque ser amada precisa ser um luxo hoje em dia e como diz Amorzona Layr Ribeiro, não sei também se eu tenho mesmo que arrumar um "namoradinho crasse média" e ir pra Ubatuba todo fim de semana. Será?

Como boa Pré-Balzaquiana em Crise Anônima (agora declarada), só por hoje não vou cair na besteira de achar que preciso casar antes do 30. Sinto, porém, que avancei um dos doze passos, hehe.

Há uma semana atrás, "ganhei" um pretendente, segundo a Bozo de Calças Vermelhas, fofo, inteligente e educado. Inclusive, me senti nos anos 1950, vestida de I Love Lucy. Quem, em plenos anos 2000 (por mais contra-revolucionários que tem sido), vai ter um pretendente, igualmente casadoiro como você?

O fato é que fui apresentada ontem, com ares de mega-evento de Caras e casamento arranjado à moda indiana - na onda da novela - a meu pretendente, como eu já disse fofo, inteligente e educado. Mas sabe o que acontece? Nem ele, nem eu estamos na vibe de caçar um noivo e casar amanhã. Há outras necessidades, outras prioridades, outros desejos. Ficamos amigos sem dor no coração, pelo menos de minha parte. Dele também, eu acho.

Pode ser que as coisas mudem? Sim, por que não? Não importa, só por hoje eu desencanei, e é um grande avanço não se agarrar a ninguém numa crise de carência, causando dor e decepção totalmente desnecessárias para mim e para outra pessoa que não tem nada a ver com a Light. Demorou anos para a Bozo de Calça Quadrada aqui entender esse preceito básico. E isso me faz bem.
(E outra: não tenho mais medo dos 30. Iniciei, acompanhada pelo igualmente nascido em 1982 Vizinho das Galáxias, uma cruzada mesopotâmica para se chegar aos 30 no auge em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Que 'moça véia' que nada.)

*Renata, Fernanda, João, os bozos-cupidos de plantão: aquele abraço! Ao Carlos também, o pretê-gonista dessa história.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Mulheres-andróide*

Sabe que ando com muito assunto e pouco tempo, e não gosto de texticular quando a vontade de escrever é mediana. Só que tomei vergonha na cara ao dar uma passadinha no OKComput3r, vizinhíssimo anda postando feito doido por lá. E todas as postagens são excelentes, então esse papo de quantidade X qualidade é conversa de blogueiro preguiçoso, como eu.

Um dos assuntos que eu tinha planos pra falar aqui foi sobre o Dia Internacional da Mulher e aniversário da Bozoca*, que nasceu num dia "danado de porreta". Acabei falando meio de soslaio, com a última postagem, porque a piada pronta da semana foi o dileto arcebispo meter a colher onde não foi chamado bem na semana do 8 de março, pra deixar os movimentos feministas beeeeeeeeeem contentes. E não pude deixar passar.

Comecei este textículo ontem, mas apaguei tudo quando li uma notícia no Terra, agora mesmo, cujo título dispensa qualquer comentário:


Ah, Cabral, fala sério. Mulher para ser perfeita tem que fazer café? Então, apaguei tudo, porque eu vi que minha discussão estava séculos atrasada. Eu falando de igualdade (de condições) entre gêneros, violência à mulher, patriarcado, raçãowhiskhasblábláblá e o babado está bem mais forte que eu pensava. Diz a notícia que "o inventor canadense Le Trung decidiu não perder tempo em busca da mulher ideal e criou sua própria. Aiko é uma robô androide que fala inglês e japonês, é boa em matemática e, segundo Trung, é muito paciente e nunca reclama." Lá pelas tantas, a notícia conta que "além de fazer companhia ao inventor e ajudá-lo com as contas, Aiko tem habilidades mais servis, como limpar o banheiro" e mais: "prepara chá e café, serve sushi, faz o café da manhã e limpa as orelhas de seu criador." O doutíssimo inventor ainda declara: "Ela não precisa de feriados, comida ou descanso, e pode trabalhar quase 24 horas por dia. Ela é a mulher perfeita."

Percebam que para a anta do inventor mulher perfeita não pensa, não tem desejos, não cria. É boa em matemática para as contas de um suposto orçamento doméstico e lava banheiros! E, apesar de ter sensores "lá embaixo" - palavras dele - é garantidamente virgem! Ou seja, para o tal, mulher perfeita nem precisa ser boa de cama.

Existe um paradoxo -quase um oximoro - entre o arcaico e o contemporâneo na ideia do tal cara. Uma pessoa capaz de criar um software de 50 mil reais tem um cérebro de minhoca desse? E o cabra choveu no molhado: alguém precisa contar para ele que cafeteira já existe e robô-empregada também. Lembram da Rose, dos Jetsons? E o Luís Fernando Veríssimo já tinha feito o seu exercício futurista sobre um cara que compra um robô-mulher-perfeita para substituir a esposa. Está no A Mãe do Freud (L&PM Pocket).

Então, quanto mais a gente discute sobre cibercultura, Vizinho das Galáxias, eu me pergunto: cheguei ao século XXI para isso? É contra-revolução pura, mermão! No meu tempo, o futuro era uma coisa bem mais interessante: os Jetsons eram descolados e a Rose é muito mais fofa que a tal da Aiko. Me manda direto pros 1960, por favor.

* Créditos da imagem: http://naredesaude.files.wordpress.com/2008/12/rose.jpg


terça-feira, 10 de março de 2009

Estupra, mas não mata

Essa pérola que nomeia este textículo foi proferida não sei há quanto tempo atrás, pelo "célebre" político brasileiro Paulo Maluf, hoje deputado federal, e com uma folha corrida de processos* na justiça de dar inveja ao Fernandinho Beira-Mar. Evidentemente, a frase é dar nojo, mas vindo de quem vem, não é de se surpreender, e depois de alguns segundos, ela até pode nos causar risos, só que de desespero. Esta frase também ganhou ares folclóricos, pela tradição que ele criou de frases inglórias como esta e como: "As professoras não são mal pagas, são é mal casadas." e "Se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim!"



Maluf dizer isso é uma coisa, um líder religioso dizer a mesma coisa, só que em outras palavras, é outra. Estou falando de Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda, que afirmou: "Quem cometer estupro está cometendo um pecado gravíssimo, aqueles que cometem assaltos também, estão cometendo pecados gravíssimos, e a Igreja também os condena. Mas, para estes pecados, a Igreja não prevê a excomunhão. Quem cometeu o aborto é um crime mais grave ainda, porque é tirar a vida de alguém inocente, indefeso", ao defender o fato de ter excomungado os médicos que realizaram o aborto na menina de 9 anos estuprada pelo padastro, grávida de gêmeos, e a mãe da menina também. Trocando em miúdos, estupra, mas não mata.

Sou católica até o osso. Até pouco tempo atrás eu era beata, papa-hóstia, rato de igreja. Só de uma outra cepa. A "minha igreja" é a igreja das CEB´s, da Teologia da Libertação, de bispos progressistas como Dom Paulo Evaristo, Dom Angélico, Dom Pedro Casaldáliga. Para essa gente conservadora que anda rodando por aí, eu sou uma católica comunista.

Mas isso foi em outros tempos, infelizmente, porque hoje o que se vê é um retrocesso cada vez maior. Falo das bases, porque o Vaticano não tem como retroceder, porque nunca avançou um milímetro sequer. Se ainda assim, algo ruim pode se tornar pior, o ultra-conservadorismo da Igreja Católica Apostólica Romana foi coroado quando o cardeal Joseph Ratzinger se tornou Bento XVI. Antes de se tornar papa, o cardeal Ratzinger foi o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, instituição eclesial herdeira da Santa Inquisição, e nesta condição que o ex-combatente do exército nazista impôs um voto de silêncio - ou seja, um cala-boca - no então frade Leonardo Boff, pela sua opção preferencial pelos pobres, acusando-o de comunista, esquecendo-se talvez que era esta a mesma opção do mandachuva desse negócio todo, mais conhecido como Jesus Cristo.

O próprio Leonardo Boff afirmou que os cardeais do Vaticano são como cavaleiros medievais perdidos no tempo, e com razão, porque a postura da Igreja Católica Apostólica Romana de condenar brutalmente aborto e anticoncepção conta mais contra os propósitos da Igreja de conquistar e manter mais adeptos do que a favor. Essas posturas endurecidas estão afastando as pessoas da Igreja e mesmo com o "crescei-vos e multiplicai-vos" a todo vapor, todo este rebanho Divino vai acabar pastando em outras paragens...

Eu não estou a fim de pastar outro capim, mas este caso da excomunhão me deu nojo de ser católica. Sou contra o aborto, não faria um. Mas sou a favor da total legalização do aborto, além dos casos já permitidos, porque estima-se que são feitos em torno de um milhão de abortos ilegais no Brasil. Com a legalização, o Ministério da Saúde teria números exatos e maior controle sobre a situação, o que daria condições de evitar a morte de mulheres que fazem abortos nas condições mais abjetas possíveis. A ideia não é defender a vida?

“Pregar sua doutrina no interior dos templos é um direito legítimo de todos os religiosos. Agora, quando um representante da Igreja Católica Apostólica Romana tenta interferir nas decisões da Justiça, ou faz essas declarações à imprensa, está claramente procurando exercer inapropriada influência pública sobre o Estado laico, construindo um discurso de intolerância e intransigência oposto à idéia de vida que alega defender”, como bem afirmou o movimento feminista. Ou seja, o dileto arcebispo meteu a sua colher onde não foi chamado. A Igreja pode se posicionar politicamente, mas não pode interferir nas decisões do Estado.

Minhas bolas voltam para esquerda, até. A indignação que tomou conta de mim é tamanha que jorro e jorro este textículo - sem condom, pois minha religião não permite - e não consigo concluir, sem contar que por castigo divino, sei lá, perdi quase todo o textículo na hora de finalizá-lo. Não contavam com minha astúcia: minha memória está tinindo. Escrevi tudo outra vez, por pura subversão.

Neste mar de contra-revolução, a onda de retrocessos é tão grande que anda pegando até os "peixes mais anfíbios", como eu*. É tanto caldo de ando tomando, que tô ficando até zonza. Citando Macaco Simão, no país da piada pronta, a gente ri é de tristeza.

Notas 'Inútieis':

* Não existe folha corrida de processos, até onde eu sei, existe pilha. Mas fica a construção poética da coisa, até porque tenho mais medo do Maluf do que do Fernandinho Beira-Mar.

**Esta pérola foi proferida pelo meu batráquio amigo Zé, após me ver tomar um triplo caldo no mar da Big Beach, alegria de todo paulistano que só vê água salgada quando faz macarrão.