sábado, 21 de março de 2009

Inclassificáveis

Fui assistir ontem ao show do Ney Matogrosso de um de seus trabalhos mais recentes, o sucesso de crítica e público Inclassificáveis. Estava tentando ir deste agosto do ano passado, quando diziam que seria a última passagem deste show em São Paulo, o que se mostrou um belíssimo papo furado. Quando fiquei sabendo que neste final de semana rolariam mais três shows, eu corri para comprar a mesa mais próxima que eu pudesse e não perder este show por nada deste mundo e ainda carreguei junto Filhutti e TioZé, amigo, companheiro de banda, parceiro e compositor que até me faz às vezes eu me sentir uma diva, por conta das canções fodásticas que ele me dá para cantar, apesar de toda a desafinação que me acompanha. Seria ele um chamariz para invadir o camarim do Ney? Mistérios insondáveis da Velha Guarda.

Eu já conhecia o produto. Em 2004 assisti ao show da turnê Vagabundo, que ele fez junto com Pedro Luís e a Parede, que eu já conhecia e gostava também. Desta vez, porém, houve um mega-salto de qualidade. No show do Vagabundo, eu fiquei no poleirão, o setor em cima do camarote do finado Olympia (ah, que saudade, assisti ao primeiro show do Offspring no Brasil lá, no inesquecível ano de 1997). Desta vez no Citibank Hall (antigo Palace e DirecTV Music Hall), fiquei nas mesas do Setor 1 e escutei até as tomadas de fôlego do Ney na hora de cantar.


Essa coisa de ser blogueiro nerd é uma bosta. No show, entre uma gozada e outra, eu só pensava nessa merda de blog, nas frases que escreveria, em como descreveria aquela pélvis endemoniada que deixa Elvis Presley parecer um coroinha de igreja. E o Elvis nem chegou aos 67 anos - idade do gostosão Ney Matogrosso - e aos 40 já parecia um cachaço perto de ser abatido. Eu tive que respirar e abstrair, para poder viver a experiência como se deve, sem pirações ciberculturais.


O show é uma rara experiência de espetáculo completo: visual, performático, musicalmente perfeito. O Ney é artista consagrado, e neste show fica evidente sua segurança, sua experiência, seu domínio de cena absolutamente indiscutível e com tudo isso, ainda executa sua performance com uma paixão de primeira vez no palco. O Vagabundo também foi assim, mas no Inclassificáveis houve uma diferença. Senti uma maior economia nos gestos, aquela malandragem que só a idade é capaz de nos trazer. É diferente de estar contido, sua rebolada continua fantástica, tanto que ele não a gasta à toa. Nada mais perfeito para o tema do álbum e do show, a passagem do tempo e como isso nos espanta, passando pelo amor, pelo sexo, e acaba sendo um retrato dele: inclassificável. Sendo gay ou não, pouco importa: a figura dele causa tesão até na ponte Rio-Niteroi, e com este show ele prova (mesmo sem precisar) que é também atemporal.


Eu já conhecia o álbum, fui atrás de me afiar que não sou besta nem nada, mas ainda assim tive surpresas. Na passagem da primeira para a segunda parte do show, quando ele tira o primeiro figurino em cena e fica apenas com uma malha finíssima que até parece que está seminu com o corpo pintado, ele canta Cavaleiro de Aruanda, do repertório do Ronnie Von na sua fase mais fantástica. Quando ele canta "Por que a gente é assim?", de longe a minha preferida do álbum, ele desce do palco e canta - literalmente - na minha frente!!!! Se não morri naquela hora, não morro nunca mais. No bis, ele canta Simples Desejo, canção do primeiro álbum da Luciana Mello, que eu também adoro. Puta que pariu, gente. É de gozar mesmo.


Falando em gozar, desde que eu comprei o ingresso até a hora de sentar à mesa, eu disse que ia gritar lindo, gostoso, vai lá em casa e etc., coisa que eu e mais um monte de malucas fizeram no show do Vagabundo lá no Poleirão do Olympia. Mas ontem, quando o show começou, eu mal piscava, e suspirava. Só conseguia fazer isso. Como o Bozo de Calça Quadrada aqui só faz se f****, tinha umas pós-balzaquianas que fizeram isso por mim e pela plateia inteira, e mais pareciam um bando de adolescentes histéricas gritando pro Zac Efron no High School Musical, e o pior, só para aparecer, porque gritavam até no meio das músicas, das mais lentas inclusive, como Coisas da Vida, por exemplo.

Nestas horas se justifica meu ódio extremo pela "crasse média" medíocre que a gente tem nesse país. Nem dá para colocar a culpa na falta de estudo, de cultura ou de dinheiro, é falta de camisinha mesmo. Nascer já foi o erro. Filhutti estava bem atrás dessas frígidas e sofreu a pobrezinha. Nem sei como eu e ela não enfiamos nosso copo na boca daquelas malditas e um nabo em outro lugar, para tentar ver se sossegavam. Traduzindo: fora pela visão de palco, grande merda ficar no Setor 1. Sem contar o trânsito de garçons, às vezes tampando a visão do show. A culpa não é nem deles, que trabalhavam como se estivessem numa trincheira de guerra, quase de joelhos: era da plateia mesmo. Quer beber, que vá pro boteco e se quer comer, que vá pro restaurante. A última coisa que interessa a este tipo de público é a música. Nota zero para eles.

E quem quiser que conte outra, porque este fim de semana tem mais: amanhã assisto ao Radiohead e Kraftwerk, primeiro show internacional que vejo em quase dez anos, acompanhada de dois verdadeiros radioheadmaníacos. Segunda tem mais textículo, para mim e para esta seleta audiência que me acompanha. É para nós esta cambalhota!

Créditos da imagem: http://portal180graus.tempsite.ws/musicapelomundo/wp-content/uploads/2008/03/ney.jpg

3 comentários:

Luiz disse...

Foda isso da galera ir pra comer e beber e não pra ver o show....
Vizinhissima, sabe que eu acompanharia a Intrépida Trupe no Ney, mas eu tive um motivo nobre para não ter ido hehe.
Estou ansioso pelo postagem sobreo o Radiohead. hehe

Beijocas

Frida f5 disse...

Ah, em breve, né? Meu PC tava todo desconectado ontem. Beijocas! Flá.

Frida f5 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.