quinta-feira, 26 de março de 2009

Cabeças de rádio

Lendário ano de 1998, com 15 anos, quase 16. Sentada no sofá da casa do meu namorado, esperava aquele adolescente maluco e com um cabelo que conseguia ser mais desgrenhado e revolto que o meu terminar de atender um telefonema na cozinha. Nem me lembro com quem ele falava, se senti ciúme ou não, e a verdade é que, por conta do que tinha acabado de acontecer, eu estava catatônica demais para pensar qualquer coisa que seja. E eis que dou de cara com o Thom Yorke pela primeira vez na minha vida.



A TV era grande, o sofá bem fofinho, assim eu me sentia acolhida - apesar daquela tarde ter sido puro risco. O rosto expressivo e a canção triste não tinha nada a ver com o momento que eu vivia, mas mesmo assim ela me chamou a atenção. Provavelmente não foi a primeira vez que eu ouvi Radiohead na minha vida, mas foi a primeira vez que me chamou a atenção, por um momento bem fugaz.

Essa canção não foi trilha sonora daquela tarde e se fosse, seria como de um filme do Tarantino: não faz parte da cena de um jeito arquitetado ou estético, aparece de um modo casual. Tanto que tinha me esquecido desse fato e eis que ele vem à tona com a ida ao show. Hoje, porém, percebo que esta horinha foi mais importante que eu imaginava.


Radiohead para mim sempre foi sinônimo de Luiz Filipe, o "historiador, baterista, desenhista, o último a ser escolhido nas aulas de Educação Física e contador de mentiras sobre si mesmo", que tenho como vizinho e amigo desde o 4 anos de idade. Quando o pessoal ainda chamava Fake Plastic Trees de "música do Carlinhos", ele já era louco, doente e alucinado pelo Radiohead e desde aquela época dizia que essa uma das maiores bandas de todos os tempos, coisa que tem gente descobrindo só agora, como eu.

Aliás, Fake Plastic Trees também faz parte do conjunto de lembranças esparsas da década de 90. Ainda existiam aquelas folhas com algumas letras de música traduzidas chamadas de Take One ("pegue um") distribuídas por cursos de inglês e que sumiram com a popularização da Internet. Não sei que OVNI trouxe essa letra até minhas mãos, o fato é que eu li e guardei durante muito tempo e suspeito que o mesmo disco voador a levou de volta para o lugar de onde ela surgiu. Sempre gostei de uma poesia meio dadaísta e foi nisso que Fake Plastic Trees me chamou a atenção. Na época da propaganda do Carlinhos, pasme, a gente estava sem TV em casa ou já tinha sido instalada uma antena parabólica que não faz transmissão local. Acredita que até hoje não vi essa propaganda, nem no Santo Youtube? Mesmo assim, nunca me esqueço do Mauro me chamando de Carlinhos toda vez que eu fazia uma burrada.

Quando resolvo ouvir Radiohead para valer, Forest me emprestou o The Bends, que ficou comigo durante um bom tempo. Na época, fui abduzida por High and Dry, que não é exatamente a melhor deles, mas eu gosto, pô! Simples assim.

Desde que os In-pessoa se juntaram para tocar, é grande minha aproximação com a banda, porque o Zé também é outro doido por Radiohead. Foi aí que assisti a alguns vídeos, baixei álbuns, mas tudo numa atitude de pesquisa, de curiosidade, não tinha sido tragada ainda pela profusão de sons e de timbres das guitarras cheias de pequenos detalhes, da bateria precisa, do vocal agudo e afinado do Thom. Tudo isso com a pegada experimental que rechaça de cara dois clichês mais que batidos sobre rock n´roll: que rock é um estilo pobre em sofisticação e que para fazer um som elaborado é preciso ser um virtuose mala-sem-alça. (Que chatice é essa coisa de "Steve Foi" - tão rápido que nem vi a nota que ele tocou. Ah, Cabral, fala sério.)

Durante esta semana, porém, tentando resgatar flashes de memória e guardando no corpo as memórias físicas do show, finalmente fui hipnotizada por estes cabeças de rádio. Meu mp4 chega a ter vida própria: de uma maneira totalmente instintiva, uma canção vai e volta feito bolinha de ping pong entre minhas orelhas. Advinha qual?

Acertou quem respondeu "No Surprises".

Isso parece ou não filme do Tarantino? É como se eu a película estivesse correndo para parar exatamente neste ponto. Adoro roteiros entrecortados.

2 comentários:

Luiz disse...

Vizinhissima,
Obrigado pela parte que me toca nesta postagem hehe. Gostei muito, o texto ficou bem foda e me fez voltar um poquinho na nossa época de Derville também...
Duas observações:
1- Eu também tenho essa folhinha do Take On, com a letra de Fake Plastic, a minha eu tenho até hoje hehe.
2- Até semana passada eu nunca tinha visto o comercial do carlinhos, nem tinha encontrado no Youtube, mas eis que uma procura mais detalhada e eu consegui.
http://www.youtube.com/watch?v=hmdmfWQW4ig

Beijossss

Frida f5 disse...

Se o fã mais enlouquecido e futuro mestre em Radiohead aprovou, tá ótimo. Foda-se até se o Thom Yorke não gostasse, rsrsr
Mas aquele negócio do Mauro é sério. Ele falava assim: Fulano vai para a escola, a Flávia não. Não sei como não matei este infeliz!