quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sobre este meu constante exercício de duplipensar

Estou quase acabando de ler o 1984 emprestado pelo meu Vizinho das Galáxias, mas não dá para aguentar esperar o fim, para falar que ando ‘duplipensando’ horrores ultimamente. Fui ainda incentivada por Minduim. Explico.

Em Novilíngua, Duplipensar é um estado de alienação consciente (ou de consciente alienação, se preferir). Significa manter estas duas polaridades unidas para perpetuar o poder, numa Oceania imaginária, dominado por um Ingsoc tirano, totalitário e… de esquerda.

Neste mundo de ‘democracia, com responsabilidade social e ambiental’ - tenho que citar Minduim nessa, não tem como - regado a muito Jornal Nacional e Revista Veja, parece que não há mais a ‘ameaça’ de uma Ditadura do Proletariado daquelas. Até Fidel pendurou as chuteiras! A classe média-mediana-medíocre suspira aliviada. E nem precisa de Vick Vaporub.

Tenho nojo desse mundo, dessa pseudo-liberdade. Estamos vivendo o 1984 mesmo, à base de Grande Irmão, Polícia do Pensamento e Teletela. Se eu ainda vivesse o sonho pós-geração 60, mesmo atrasado, tudo bem, já até fiz isso. Mas agora, nem nas instituições de esquerda eu acredito mais. Aliás, para mim, ultimamente estas duas esferas se completam, e essa descrença veio como se fosse canção do Cazuza, num corte lento e profundo, e sem razão definida.

O auge do meu duplipensar aconteceu na última sexta. Paralisação dos professores. Eu fui, sozinha. Não quis me misturar. Em vez disso, sentei na calçada, e abri o 1984. Depois de uma hora, fui embora, não desci a Consolação junto com a passeata. Fiquei pensando que catzo que eu sou: alienada ou covarde? Pendi mais para o lado do covarde, entendo o que está acontecendo. Só que descer pro play e não brincar nunca foi comigo, então porque fui até o vão livre do MASP? Com o livro na mão, caiu a minha ficha (sou oitentista, tá bom?): é duplipensar na sua forma mais pura.

Talvez seja o que eu faça pra não enlouquecer com a minha descrença, afinal é muito triste viver sem esperança. Mas esperança burra eu também não quero. Então, “deixai toda a esperança, vós que entrais!” Seguindo Dante Alighieri, ao cruzar os portais do Inferno, troquei o idealismo pelo cinismo: não quero mais mudar o mundo, quero é mudar de mundo. O movimento ganha cada vez mais adeptos, é só entrar na minha comunidade no Orkut. Escolha o planeta de sua preferência e go ahead, com ou sem esperança, pode entrar.

Textículo jorrado em 03/07/2008

5 comentários:

Luiz disse...

Pelo visto o 1984 fez mais um disciplulo(a), puta livrinho encardido esse não é verdade? Então vizinha preferida, acho que cada vez mais somos "obrigados" a duplipensar. Esses dias estava pensando como esse mecanismo funciona nas revistas femininas que são vendidas as pencas nas bancas de jornal e que minha mãe vive comprando, funciona mais ou menos assim:
Na capa a artista da vez, mostrando o seu corpo esguio e a seguinte chamada "perca 6 kg em uma semana"; logo abaixo outra chamada "36 deliciosas receitas para se fazer com chocolate". Que exemplo mais maravilhoso do que esse do duplipensar nas nossas vidas? rsrs
Abraços.

Frida f5 disse...

Mas é muito foda isso né verdade? Orwell com Alighieri é droga na sua versão mais potente e pura, rsrsrs
Beijo, Flá.

José disse...

as teletelas são um barato, mas baby pode se assustar, daqui para 2010 os U.S.A irão pelo proprio celular ter imagens de satelites, o mesmo q ele já fazem hj em dia mas com computadores e lap top's! do seu celular vc irá ver do espaço um rua e nisso distinguir se é um cão ou um gato q está atravessando ela eh eh eh parece o tal do proprio zaitgest ui!!!!!!

Frida f5 disse...

Lembro que há uns dez anos atrás eu falava isso de brincadeira e todo mundo dizia que eu estava louca, olha só...

Frida f5 disse...

A-há! Terminei o 1984, livro indispensável meeeeeeeesmo!