sábado, 19 de julho de 2008

Para gente não loira¹

O ano era 1993, eu tinha 10 anos. Lembro quando estourou nas paradas What´s up?, canção de refrão mega-grudento, mas muito boa de se ouvir. Parece que ela estava esperando por mim, até. ("25 anos e minha vida ainda é uma escalada por uma grande montanha de esperança, por um destino". Que coisa, não?)


Naquele ano, minhas irmãs faziam encontro de jovens, coisa que nunca fiz, apesar de ter sido rata de igreja também. E lá tinha um cara, o Cao, que cantava essa música tal e qual no disco. O que me fazia perguntar se aquela música era cantada por um homem ou uma mulher. Tive sensação parecida quando ouvi Catedral, com a Zélia Duncan, pela primeira vez: é um cara de voz fina ou uma mulher de voz grossa? Não tinha me rendido ainda ao encanto de um contralto poderoso.


O fato é que minha irmã do meio adorava essa música e quis o destino que essa canção fosse o "love theme" do início de namoro dela com o cabeção que hoje é meu cunhado e pai do meu sobrinho. (Tudo bem que essa canção não fala niente de amor, mas o mundo é estranho desde essa época.)



Pula pra 1999. Minha irmã ainda namorava o cabeção e eu namorava um baterista ruim pra cacete de uma banda igualmente ruim pra cacete, se bem que até interessante em termos de punk rock e hardcore, os Intermitentes. Eles ainda existem? Acho que não, picardia não dura a vida toda.



Estávamos celebrando o fim da década e do século XX. Era um ano com gosto de adeus. O ano em que o mundo acabaria, segundo as previsões de Nostradamus. Enquanto o mundo não acabava, então, a gente enchia a cara de vinho barato, tocava violão e ouvia muito grunge. Meu camisão xadrez era capaz de ir sozinho pra escola e fazer a prova de português, de tanto que eu usava o pobre. E tal do mundo não se acabou. Ai, que chato.


No final deste ano, o namoro com o baterista ruim pra cacete já estava pior do que ele tocando bateria, dando sinais que acabaria em breve. E minha irmã acha o "inachável" CD dos 4Non Blondes para comprar, depois de anos de procura (ou não). Comprou para ela e um The Cranberries² para mim, banda que gosto bastante também.

Não contente apenas com The Cranberries, fui ouvir o 4Non Blondes da minha irmã, obviamente quando a pobre estava trabalhando e eu moscando em casa, porque eu sempre fui caçula do tipo vampiresca. E tive uma epifania, daquelas que o Forrest gosta tanto de descrever no Music Inside My Head. Que banda, que som. Fiquei completamente fissurada pela voz de leoa da Linda Perry, como sou até hoje.


Ouvindo o Better, bigger, faster, more da primeira à última faixa, percebe-se de cara que 4Non Blondes não se trata de uma simples "one hit wonder band". O álbum todo é fantástico, muito bem produzido, e tem o equílibrio perfeito entre o pop e o alternativo. Tem a sujeira grunge dos anos 90 (mesmo que a banda não fosse grunge, mas isso estava no clima da década) e fórmulas batidas do pop bem aproveitadas, mas também há raízes profundas da música norte-americana: blues, country, rock n´roll. Ou seja, é um álbum completo. Dizem até que houve um segundo álbum gravado, nunca lançado.


Nunca consegui saber direito o motivo do fim da banda, é que é difícil ser fã de uma One Hit Wonder Band, ainda mais em tempos pré-Internet. Mesmo hoje, não existe muita coisa. A teoria do oráculo Wikipédia é que Linda saiu em 1996 em carreira solo, por achar o trabalho da banda muito pop. Realmente, ela tinha potencial para ser muito mais rock n´roll do que ela vinha mostrando no 4 Non Blondes, mas mesmo assim, acho isso lorota. Devem ter ganhado tanto dinheiro com What´s up? , que daria para se aposentar por quatro gerações.


Entre a lorota e a realidade, acabo de formular a minha teoria. O primeiro álbum da banda acertou na mosca, mesmo não tendo nada de novo, necessariamente. É como eu já disse, foi muito bem feito, bem equilibrado. Não havia mais para onde ir, simplesmente. Difícil bater um álbum bom daquele, se bem que descobri nas minhas caçadas ao Santo Youtube, uma canção nunca lançada em disco que eu achei muito boa, e mostra o vozerão de leoa da Linda:


Como eu fico brava quando dizem que 4 Non Blondes é uma one hit wonder band, mesmo que seja ( E daí? Secos & Molhados duraram dois álbuns apenas, mas suficientes para abalar bangu), eu deixo o link para download no 4Shared, e que minha parca audiência tire suas conclusões. Façam suas apostas, crianças.

O fato é que este álbum está no meu relicário de lembranças adoradas (Ê, Bozoca!). Quando o namoro com o baterista ruim pra cacete estava mal, mas muito mal das pernas, eu ouvia Drifiting ('À Deriva') sem parar. Ai, meu Deus, que bode.

Depois, para curar o bode, resolvi entrar numa banda, e virei 'cantora de um hit só'. Advinha qual era a música? Isso mesmo, 'What´s up?'. Minha passada por essa banda não durou muito tempo, por algum motivo não rolou, mas aí já era tarde. Better, bigger, faster, more já tinha passado feito um rolo compressor na minha vida³.

Ps:
1 - Referência ao nome da banda, que segundo a lenda, seria "para gente não loira" (4 Non Blondes).
2 - O álbum que eu ganhei da minha irmã dos Cranberries, é o No Need To Argue, outro clássico dos anos 90.
3 - Um agradecimento singelo, porém verdadeiro a todos personagens deste 'causo' musical: desde o Cao, que com certeza não se lembra niente de mim, à minha irmã, por ter achado essa pérola em uma prateleira qualquer da Virtual Music, ao meu cunhado, porque tocava bateria enquanto eu era cantora de um hit só, e até ao Mauro, meu ex-baterista ruim pra cacete. (E ao Forrest, que não faz parte do conto, mas que me ensinou a postar vídeos do Youtube!!! Tá bom, eu descobri a pólvora, eu sei.)

3 comentários:

Luiz disse...

Ei vizinha preferida, gostei muito da postagem para gente não loira. Sabe que nessa época não estávamos tão próximos, mas querendo ou não de longe dava pra acompanhar muitas coisas...
A história do camisão é impagável, lembra que eu tinha um parecido com o seu? Que também me perceguia por todos os cantos do mundo? hehehe
Ah e o post dos Textículos ao molho forrest também ficou bom, o ruim é que posso começar a ficar convencido e me achar um cozinheiro de verdade.

Beijos.

Frida f5 disse...

Ah, a gente voltava de ônibus juntos naquele ano, com aquele povo todo. Vai dizer que você não lembra da sua performance fodástica de engraçada ao melhor estilo "Singing in the rain", cantando "Foi Deus que fez ocê!"? Ah, fala sério. Agora estou começando a entender aquele 1999.
Quanto aos textículos ao molho forrest, é até divertido um pouco de presunção, haha!

¡B! disse...

Mais vale um (do bom) na mão do que vários (nem tanto) voando... Abraço!