quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Gente Normal É Mais Louca Que A Gente Pensa

O Agosto calorento passou. Seco e fustigante, mas não me importo. Não precisava de dois invernos rigorosos no mesmo ano. Sol de agosto é sol de inverso. Se é normal no verão, é subversivo no inverno. 

Mês de aniversário de nascimento de Nelson Rodrigues, faria 100 anos. Putz, modinha é foda. Bate com aquela frase dele - unanimemente repetida - que toda unanimidade é burra. Primeiro porque não precisei esperar o Nelsão fazer 100 anos para descobri-lo. Ok, sou professora de Artes Cênicas, está no meu metiê, só que não é só isso. Ele entrou no meu universo, furou meu óvulo: tá na carne, me penetrou.

Segundo porque está se repetindo e se exaltando (à exaustão!!) que ele era um moralista assumido, teoricamente muito mais honesto que os falsos moralistas dos anos dourados brasileiros, parente próximo do politicamente correto dos nossos tempos. Agora pergunto como um moralista pôde ter um trabalho censurado por mais de 20 anos (a peça Álbum de Família), por conter na peça toda a sorte de perversões e incestos? E ele não só revolucionou na temática como no tratamento dramatúrgico: Vestido de Noiva conta a mesma história em três planos (o real, os delírios de Alaíde e a memória), algo até então inédito no teatro brasileiro. 

Essa papagaiada a gente acha em qualquer resumo de literatura para vestibular, mas a questão que o senso comum só pensa na sacanagem do homem, pelo mesmo motivo que os personagens que outrora ele retratou eram todos meio maluquetes: sacanagem neste mundo não se pensa, se faz; e se faz, tem que ser na surdina e se sentir culpado depois. Até hoje Freud e a Bíblia é uma fábrica de tarados em série. E neste ponto, ele foi moralista mesmo: quem seguiu seus desejos foi severamente punido pelo implacável Anjo Pornográfico, que poderia ser um Arauto do Evangelho de tão puro. Só não foi porque abriu esse universo a base de bisturi sem anestesia e jogou as vísceras na cara de todo mundo, provando por A mais B um velho mote meu: gente normal é mais louca que a gente pensa. 

Dizia ele que só as mulheres normais gostam de apanhar, as neuróticas é que reagem. É a frase dele que mais ouço ser repetida, depois daquela da unanimidade. Nestas horas, ninguém torce o nariz para ele, e  nem para suas taradices. É o que mais tem sido exaltado pela imprensa marrom nos anos de Nelson no boom da sua obra. (Coitado!) Tanto que, na primeira reprise dA Vida Como Ela É, qual foi o primeiro episódio? O hilariante "Como eu esperei por esta bofetada!" 


A burrice da unanimidade deveria ter limites. Para quem consegue entender no máximo piada de papagaio e pseudo-músicas onomatopeicas, a ironia e o cinismo desta frase é demais para serem digeridos sem distorção. Apesar de neurótica (confessa, assumida e ciosa desta condição), sei exatamente do que ele está falando. A gente gosta mesmo é de ver macho - principalmente os mais empedernidos e orgulhosos desta condição - perdendo a cabeça, descendo do salto, pirando no tomate, mandando o lado direito do cérebro praputaqueopariu. Se não for por tesão, vai na porrada. E nem precisa chegar às vias de fato. Mas ouvir que mulher gosta de apanhar é música para os ouvidos de uma sociedade onde ainda o feminicídio é tratado com normalidade. 

O que ninguém tem falado sobre o Nelson, pelo menos não tenho ouvido por aí, é sobre como é bom encenar e interpretar sua obra. Detalhista, deixa claro para os atores e diretores o que quer de cada cena, cada fala. Poético até nas rubricas, e principalmente nelas. Nem um pouco minimalista, nem naturalista, tudo dilatado, afinal teatro é isso: vida com lente de aumento. Atores e atrizes que se fizeram no palco (excluindo-se os ator-mentados e atriz-tezas, é claro) se esbaldam fazendo Nelson. Dá para pôr todos os demônios à solta para brincar em cena. Como sei disso? Já fui Lúcia, de O Vestido de Noiva, a irmã fura-olho da Alaíde. Vilãs recalcadas e ressentidas: vem nimim, todinhas!



Pela minha personalidade eu deveria detestar Nelson, mas já devem ter percebido que é justamente o contrário. Ele, de tão moralista, acabou mordendo o próprio rabo e acabou virando um tarado mesmo, um tarado pela condição humana. E como é triste a nossa condição! Por uma fodinha, a gente se mete em cada presepada: homens e mulheres, puritanos e safadinhos, ninguém se salva!

PS: O legal deste boom rodrigueano são as reprises de A Vida Como Ela É e Engraçadinha. Mas  estas adaptações globais, apesar de muito boas, ficam bobinhas perto da versão teleteatro tenebrosa de O Vestido de Noiva, do Antunes Filho, Du caráleo! Quanto às encenações, são tantas opções que ainda não vi nenhuma este ano! :P

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Balada do cachorro louco

"O  homem que hoje me amar 
encontrará outro homem lá dentro.
Pois que o mate."
Elisa Lucinda

Demorei a te matar, mas matei. Passei algum tempo sofrendo por não saber o que fazer com o corpo, mas de uma hora para outra, eis que surge a grande ideia: dei-o de comer para meus cachorros.

 

Como não pensei nisso antes? Na verdade, eu sei. Tua carne é indigesta, dura, tem o gosto amargo. Comê-la não foi nada fácil, mas valeu a pena. Meus cãezinhos, agora regalados, podem sair por aí para passear um pouco e quem sabe cruzar com uma cadela rebolante mais no cio do que eu. 

Quando descobri, foi de matar. Você não vale uma foda, camarada, e como paguei caro por isso. Mas como virou comida de cachorro, seu destino é o mesmo de toda comida. Adieu!

domingo, 29 de julho de 2012

Humanos, demasiadamente humanos

Gosto de olimpíadas. Fato um tanto inusitado, principalmente se considerarmos que sempre servi de cabide dos agasalhos nas aulas de Educação Física na escola. Na verdade, não detestava esporte tanto assim: comecei a nadar aos 11 anos e sonhava em ser atleta olímpica. Por burrice, não falei com ninguém e também, de tão perfeito, o sonho me bastava. 

Raridade!
Também tive um herói olímpico: Gustavo Borges, medalha de prata em Barcelona e prata e bronze em Atlanta. Todo ano em que ele ia competir no Baby Barioni na piscina em que eu nadava, em que aprendi a nadar, parecia show de boyband: um bando de garotas gritando, tirando foto, pegando autógrafo. Duelo Claybom de Natação transmitindo pela Rede Manchete. Melhor eu sair correndo, antes que eu seja sequestrada por um dono de antiquário.

O atleta se aposentou e surgem outros mais rápidos, mais eficientes, mais mais. A natação brasileira hoje não passa vontade. Thiago Pereira levou ontem uma prata com gostinho de ouro, deixando Michael Phelps para trás bebendo água. Só que desta vez, o herói olímpico que escolhi não está na natação. 

Ser Usain Bolt e correr 100 metros rasos em poucos segundos é impressionante, mas possível. Ser Oscar Pistorius e fazer isso sem nenhuma das pernas - tão brilhantemente a ponto de fazer parecer vantagem correr com duas lâminas de fibra de carbono no lugar - não é impossível, é do caralho! 



Claro que isso não é produto só de força de vontade, ou de treino. O Blade Runner conta com suas Cheetah Flex Foot para correr. Mesmo assim eu me espanto, não só porque detesto correr até em esteira mesmo contando com duas pernas e pés inteiros, mas porque isso me mostra o quanto somos capazes, embora quase sempre a maioria de nós vibra várias oitavas abaixo do que poderia. 


Já sabia da existência do Pistorius, mas não sabia o seu nome. Dei de procurar por isso no dia em que minha prima não escapou de uma amputação, mesmo depois de meses lutando contra um câncer no calcanhar. Queria ter uma história legal para contar para ela, já que meu ânimo não andava lá essas coisas. O que infelizmente não funcionou, porque isso foi um tapa muito grande na minha cara. Vi o quanto estava sendo bunda-mole nos últimos tempos.

Pensar no que é humano têm me intrigado bastante. Nossa condição é frágil. Fôssemos abandonados completamente nus à natureza, que chances de sobrevivência teríamos? Não temos o ouvido-radar de um morcego, nem a visão de uma águia, não corremos como um leopardo. O que temos, então?

Há quem diga que é a inteligência. Diz Rubem Alves, inspirando-se no Piaget, que ela é a concha que protege o molusco que somos. Mas a pergunta é: onde ela mora? O senso comum nos faz esquecer que ela está em todo nosso ser, pronta para ser ativada a qualquer momento. Então, a concha está espalhada no molusco, não mora só no cérebro.


Força e delicadeza
A matéria de que somos feitos é firme e flexível o suficiente para ser modelada. Por toda essa maleabilidade, esta frágil condição humana é incrível, podendo ir muito além de sobreviver a grandes golpes. 

O fato de sermos frágeis não nos impede de sermos fortes. Além de me espantar, isto me comove. Só me entristece um pouco ver que a maioria de nós morre sem ao menos experimentar desta força. E neste ponto, a Keka tem dado um baile, mostrando a mesma tenacidade com que ela tem encarado a vida já há um bom tempo.

Neste ponto, eu vejo que não tenho condições de consolar ninguém, que neste caso, nem sei se precisa ser consolada. Preciso é tomar vergonha na cara, sentar e meter a mão na boca do leão, sem fazer cara feia.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Uma história de amor a três

I'm glad to see you back. I thought you were gone forever.
(Vladimir, Waiting for Godot, Act 1, Scene 1)
I
Meu kefi estava perdido, ou eu é que havia me perdido dele. Estou começando a achar que ele gosta de brincar de esconde-esconde comigo. Adora se perder para eu ter de me achar.

Desta vez o encontrei no Rio de Janeiro, batendo um sambinha numa caixa de fósforo. Estava até mais bronzeado, o danadinho. Dei-lhe um costumeiro tapa no ombro: "Onde você esteve este tempo todo, seu safado?" "Tinha ido comprar cigarros, aí resolvi ficar aqui." E sorriu daquele jeitinho zombeteiro que lhe é peculiar.

"Hum, sei." E emendei: "Vou fingir que acredito. Poderia até ficar brava com você, mas não vou não, porque te manjo é de outros tempos, camarada." 

E saímos para brincar perto dos arcos da Lapa, em frente ao Circo Voador, debaixo de uma garoa indecisa. Daquelas que de quase-chuva foi virando Sol.

Conversamos sobre este assunto também: "Você ainda não se convenceu que é movida a bateria solar, mesmo, né? Olha só pra você. Cê tá amarela, menina! Vai tomar sol!"

"Ok, você venceu, estou aqui para isso. Até estiquei minha estadia, assim teremos mais tempo juntos." Demos as mãos e fomos ver se o Rio de Janeiro realmente continua lindo. E continua.

II
Passamos tanto tempo colocando o papo em dia que quando o Sol saiu em todo seu esplendor, no clímax do seu espetáculo, a gente tinha dormido. E acordamos feito o Vagabundo, com seus raios solares soando como uma sirene: "E este Sol na minha caaaaaaaaaaaara!"




"Este Sol indireto, assim batendo nesta janela enorme, me conforta. Necessariamente porque me faz saber que ele sempre esteve aqui, nunca me abandonou. Ao contrário de você, seu vagabundo!", disse-lhe. "Não seja injusta, você sabe porque eu sumo. Senti muito sua falta, sabia? Desta vez, fiquei sinceramente preocupado com você. Cheguei a pensar que não conseguiríamos nos reencontrar!" 

"Own... Mas que fofo é você. Você faz isso de propósito, pensa que eu não sei? 'Té parece índio!  Assim você vai acabar ganhando o Campeonato Mundial de Esconde-esconde, hein? Mas a sua sorte, baby, é que eu também estou ficando craque em te encontrar! Demora, mas eu te acho."

"Elementar, minha cara. Mas desta vez você me assustou com aquela coisa de melancolia, fome, mito de Narciso... Aliás, onde você estava com a cabeça que eu poderia estar em Toronto? Puta frio do cacete!"

"Ah, queria dar umas bandas.Você teria gostado de lá sim, tenho certeza. A gente pode voltar lá na primavera, que você acha? E por que você não poderia estar no Canadá? Parecia que o Brasil tinha se mudado para lá. Até a Luíza estava!"

"Engraçadinha... Embora seu trocadilho seja extremamente sem graça, vou te dar um desconto. Pelo menos você está de volta!"

... Depois de um tempo ouvindo jazz e comendo melancia, decidimos que era hora de ver o Drummond. E ficamos de fazer isso no dia seguinte. 

III

Vimos que o poeta bronzeado (afinal ele não sai daquele banco no calçadão de Copacabana) também é um poeta vigiado, um poeta 1984. Depois de seus óculos terem sido furtados uma par de vezes, agora uma câmera zela pelo poeta do alto de um edifício na Av. Atlântica. E como tudo é passível de se tornar piada pronta neste mundo, a sua estátua é patrocinada por uma marca de lentes. Pagaram a nova armação, colaram com superbonder e instalaram a câmera para não ter mais prejuízo. Rá! Nem a poesia está salva da lógica de mercado. 

Muita gente na fila para ter com o poeta, mas era rápido porque a maioria quer só tirar foto com ele. Quem passa sempre por lá, às vezes dá um sorrisinho e uma batidinha em sua careca, como se o cumprimentasse. E eu, louca, querendo abraçar aquela coisa metálica, dizer o quanto ele está debaixo do meu couro surrado, de quantas vezes ele falou diretamente comigo... Mas ele, sabendo muito bem que não era o poeta e sim sua representação, não se furtou de tirar troça da minha cara e me salvar de uma camisa de força: "Por que você não faz igual a todo mundo e tira uma foto? O poeta sabe da sua piração!" E assim o fiz, até me ofereci para tirar foto para alguns outros passantes. E ninguém sequer desconfiava que eu estava diante do Amor da Minha Vida. 

IV
Na última noite, eu não tinha medo de voltar: tudo estava no meu corpo. O sol nas minhas costas, o vento deslizando por cima delas, o balanço do mar que levei para cama. E o conto do Borges, transformado em canção de ninar naquela voz quente e doce, feito brigadeiro recém-saído da panela. 

Adormecer naquela composição era o gozo mais profundo que eu poderia oferecer. Ele, me vendo do teto, ria da minha boca aberta. Disse que parecia que eu tinha engolido uma estrela cadente. 

V
Na hora de rearranjar as malas e cair no mundo outra vez, por puro cacoete estudei onde levaria o meu amigo, até escutar um grito que quase me faz cair da beliche: "VOCÊ TÁ DOIDA???"

"Doida, eu??? Por quê? Cheirou, bebeu ?!" 

"Você realmente acha que eu vou me dignar a viajar junto do seu biquíni molhado e cheio de areia, para não dizer das outras coisas que você está levando aí nesta mochila? Que eu fiz pra você?"

"Tá bom, tá bom! Foi sem querer. Desculpa, tá, ô Primeira Classe! Mas você não vai voltar comigo?" Caprichei na cara de Gato de Botas.

"Claro que eu vou. Mas eu vou no chapéu da aeromoça, na ponta da asa, mas dentro da sua bolsa não!"

E assim ele fez. Quando cheguei, ele estava grudado na janela do avião. Me deu uma piscadinha e depois um tapa na bunda que me encheu de coragem para enfrentar a vida. Descendo do avião, ele me disse:

"Lembra do gravador do Lucas Silva e Silva? Quando quebrou, ele ficou desesperado, pensando em como ele faria para inventar suas histórias. Seu Orlando disse que para imaginar não era necessário o gravador. Quando ele mostra o gravador consertado, o Lucas dispensa e diz que conseguiu inventar só com a imaginação."



"Claro que eu me lembro! Lucas Silva e Silva ajudou a formar meu caráter!"

"Então, sou mais ou menos como o gravador do Lucas, gata. Agora você me tem na hora que quiser!"

Abri um sorriso enorme. Até que enfim, compreendi: meu kefi é uma entidade wi-fi! Como não pensei nisso antes?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

I´ve cried a river


I´ve cried a river
But I haven´t sunk yet
Whether the river overflows, could I be strong enough to swin through the pain?
I´m afraid that I can´t.
Perhaps, we´re stubborn survivors without a bottle for leaving a message
What message should I type?
My battery is running out
Run for your life if you can, little girl


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Poéticas da Dança - Por um mundo menos idiota

Foi perguntado a nós, integrantes do Projeto Poéticas da Dança, que dança que gostaríamos de levar para as escolas e outros espaços que trabalhamos. Afinal, existe Dança na maioria das escolas, mas é aquela em que a gente acredita? Qual nosso real intento?

Abra los ojos
Na lata pensei, mas não falei: eu quero que haja Dança nas escolas por um mundo menos idiota. Não só Dança, mas todas as Artes. E quando eu digo idiota, não é só de intelecto. Estou falando também de sensibilidade, de imaginação. Lembro-me que Therese Berterrat, no seu livro O Corpo tem suas razões  questionou: se uma pessoa com um número limitado de palavras no seu vocabulário (na época) era considerada débil mental, por que uma pessoa com uma gama limitada de movimentos no seu repertório corporal não é considerada "debil motora"?  Tenho visto debilidade não só intelectual ou motora, mas de afeto, de relações. É tudo muito pobre, muito rasteiro. Isso me deixa literalmente doente. A arte abre os olhos, num mundo onde muitos preferem a cegueira.

Não me safo disso, também tenho que lidar com as minhas ignorâncias. Esta, na verdade, é uma velha briga que eu travo com o mundo (adversário difícil para o meu tamanho): ninguém gosta de sofrer, de sentir dor, mas nessa de evitar a dor, há quem se anestesie totalmente. Não se consegue ver beleza em nada. Assim, alguém buscando realizar seu trabalho não só com afinco, mas com tesão e entusiasmo, recebe a sentença: é maluco, bagunça a escola, as crianças fazem barulho, afinal o senso comum diz professor bom é aquele que mantém uma sala em silêncio.

A nossa sorte é que não são todos assim, um ou outro é que é espírito de porco. Só que eu me cansei de fingir que essa gente não existe ou de tentar me adaptar a eles. É hora de criar um espaço digno para as Artes na escola, e por consequência no mundo, no nosso mundo.

De todas as Artes, a Dança talvez seja a linguagem que da maneira mais incontestável nos reposicione como seres humanos: antes de tudo, um corpo, que não se tem, se é. E que sendo corpo, se encontra com outros corpos. E que se não fosse este corpo, não seríamos também alma, que sinceramente é algo que tenho visto poucas vezes tendo oportunidade de se manifestar. Aparece apertada nos cantos, calada,  reprimida. Como bem diria Billy Elliot, quando eu danço eu me esqueço de mim, eu me esqueço que sou eu, corpo e alma voltam a ser um. E quando corpo e alma voltam a ser um, uma revolução acontece. E eu quero ver esta revolução acontecer.

Na verdade, não só ver, quero ter parte dela, estar metida até o couro cabeludo com esse bando de malucos que quer botar todo mundo para dançar. Felizmente, não sou a única.

Para os mestres e parceiros, que me fazem perceber que não sou louca, ou pelo menos que há outros loucos com a mesma loucura, é que viro mais essa cambalhota!




domingo, 17 de junho de 2012

Luneta

De repente, olhei para o céu.
Mas não era um céu feito de estrelas, era um céu feito de palavras
E espelhos.
Quem sabe um dia eu não compre uma luneta
Para ver estrelas, sem apelar para alucinógenos.
E com elas, me oriente.
Não para fora, mas para dentro,
Para descobrir que temos céu e sangue nas veias
Somos feitos de poeira de estrelas


domingo, 27 de maio de 2012

Poéticas da Dança IV - Fome de tudo

Faz tempo, mas vou tirar o atraso da série do Poéticas. A líder do bando gostou do último textículo, então não vou largar para lá a ideia de texticular com os encontros do Poéticas.

No feriado de 21 abril, fomos assistir ao espetáculo (performance?) Kikar, do coreógrafo israelense Nir de Wolff.


Não sabia quase nada a respeito sobre Nir de Wolff e sua companhia, a Total Brutal.  Por isso  fiquei bem satisfeita ao perceber que consegui juntar o lé com cré do processo de criação com o que é visto em cena - parte do trabalho do arte-educador é este, sabe? As características do trabalho do coreógrafo citadas na reportagem do Metrópolis (que só assisti agora para escrever este textículo retardatário) ficam evidentes na performance: o resultado é carregado - por vezes incômodo - visceral, poético. 

Quando a fome surge retorcendo o estômago e a alma, não se vê mais nada na frente. Kikar significa algo como praça em hebraico, lugar público, ponto de encontro. E o espetáculo é um encontro de várias fomes - saudade, carência, desejos, necessidades - transita por todas elas, torna-as públicas, expõe a dor da ausência. Este para mim é o maior incômodo de Kikar: confrontar-se com a própria fome. Não é possível que não se tenha nenhuma: se você está vivo, está faminto.


Enquanto não se mata a fome, a gente saliva sonhando com a hora do banquete. A condição humana passa por este território nebuloso, onírico. O sonho é uma realidade em si mesma, não é somente um porvir. Sweet Dreams are made of this. Who am I to disagree? Eu que não me atrevo, que vivo com o estômago roncando.



É para todos os parceiros e parceiras do Poéticas esta cambalhota faminta! Everybody is looking for something. Quando eu encontrar eu aviso. 

domingo, 29 de abril de 2012

Poéticas da Dança III - Subvertendo escadas

Uma flor nasceu na rua!
Furou o tédio, o asfalto e o nojo. 
Carlos Drummond de Andrade
I
O antepenúltimo encontro do Poéticas deu o que dançar. Sempre dá na verdade, mas a proposta da vez foi a  mais ousada - e divertida -  até então. 

Quantas vezes reclamei espaço, quantas vezes me vi derreter nas paredes de tédio. Algumas vezes o reivindiquei, outras, inventei. 

Na escola, reivindicar e inventar às vezes é pouco! É preciso transformar. Paredes cinza, bege ou qualquer cor inexpressiva, de preferência horrível. Grades, cadeados, chaves. Por que a gente é assim? Sinceramente, não sei. Quando cheguei já era deste jeito, e a gente só começa a entender a partir do intento de mudar. Eu poderia arriscar explicações a respeito disso, mas o momento é visceral. Deixo para os teóricos teorizarem. 



Para viver são necessários espaços vazios. Experiência não acontece a partir de lugares repletos de tralhas. E nunca vi numa escola, nas quais estudei ou trabalhei pelo menos, uma única sala que pudesse ser esvaziada. Nem a sala de vídeo escapa, vira almoxarifado em época de recebimento de materiais e insumos enviados pela Rede. Até as tentativas de deixar o ambiente mais alegre deixam o ambiente atulhado. Montes de cartazes, desenhos, frufrus e afins fariam Mies Van der Rohe se retorcer no túmulo. 

E como a professorinha se move nestes não-espaços?  Como propor que os alunos se movam nestes espaços em que se configurou no chão uma trilha batida? Como criar realidades poéticas dentro desta realidade engessada?

Este, a meu ver, foi o ponto de partida do último encontro, que culminou numa proposta de intervenção, primeiro nas escadas do IA, depois no Terminal da Barra Funda. 

II
Moro num sobrado, escadas fazem parte da minha vida desde cedo. Minha frustração de infância é que elas não possuem corrimão, para escorregar feito Lucas Silva e Silva em O Mundo da Lua. Mas, pensando bem, sem o corrimão, dava para pular dos degraus direto para o chão, começando dos mais baixos para os mais altos. Subir de dois em dois, depois de três em três degraus. Descer batucando com os chinelos, saber quem subia as escadas pelo ritmo dos passos. Subverter escadas, então, é uma antiga diversão. Seria agora a hora de subverter novas escadas?



Primeiro, as escadas do próprio IA. Mudanças de nível, planos, corrimões... A criança aqui se quebra toda, mas se diverte! Depois o grupo foi dividido em dois, e foi proposto pensar uma improvisação no esquema Viola Spolin (onde, quem, o quê), dentro do espaço da escada. Agora, parei para pensar como a realidade que a gente cria pode ser muito mais forte que aquilo que a gente vê: no momento da improvisação, a escada já não era mais escada, era cachoeira. Era capaz da gente terminar a cena ensopadas!

III
E então, o ápice do encontro: escada por escada, no Terminal da Barra Funda é o que a gente mais encontra. Vai para lá todo o bando: alunos, professoras, coordenadores, equipe de vídeo. A gente tinha 15 minutos para montar uma intervenção, a partir de duas palavras dadas.

Pressa e Contemplação. Pressa existe de sobra nestas escadas, mas há espaço para contemplação? Tivemos que criá-lo. É muito engraçado, já no ensaio a gente já tem uma prévia dos olhares com que vai se deparar. Os de estranhamento são a maioria, mas a gente também encontra quem se diverte com uma pausa nesta marcha interminável rumo a lugar nenhum.

Apresentar o nosso grupo foi moleza: a gente ensaiou com a escada vazia, mas a hora de fazer a cena foi um momento de pico, o que para nós foi uma puta sorte.

O segundo grupo escolheu uma escada rolante, o que acabou fazendo com que outras personagens involuntárias entrassem para a cena como antagonistas. Três, como as feiticeiras de Macbeth, para ser mais exata. Uma delas era a Segurança, a outra era Burocracia e a terceira, Incompetência. A direção do terminal já havia autorizado as intervenções, a Prof. Kathya estava lá com o documento comprovando a autorização e ainda assim ninguém sabia de nada, e fizeram tudo para impedir. Kathya e Roberto em cima tentando negociar, a gente embaixo, esperando com cara de glúteos com um monte de seguranças em volta. Acho que eles pensaram que dentro da câmera tinha uma bomba, ou que seria gravado um clipe póstumo do Michael Jackson, sei lá.




Quando as palavras falham, parte-se para a ação. Uma hora a Bianca se encheu de tudo isso, deu uma olhadela esperta para as outras meninas do grupo e saiu correndo subindo as escadas rolantes que desciam, e a cena acabou acontecendo. Tudo que eles fizeram para impedir, virou parte da cena: desligar as escadas, tentar impedir de quem estava embaixo subir.

Pelo menos em mim, o sentimento que este episódio foi um misto de indignação com riso. Indignada como num país e numa cidade cheia de problemas, uma intervenção de dança em um local público causa mais comoção e preocupação que se alguém tivesse sido assaltado lá dentro, e o rindo de tudo isso porque gente normal é mais louca que a gente pensa.

E a cada escada que subo ou desço naquele terminal ainda hoje, um pouco deste riso ainda permanece. Sempre me lembro da Marília, que sempre detestou aquele terminal: você ainda vê aquelas escadas da mesma maneira?

Conseguimos furar o tédio, o asfalto e o nojo, pelo menos por um dia, e o valor disso é incalculável.

É para todos nós esta cambalhota! Em breve, o registro de mais encontros!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Poéticas da Dança II - Descendo para o Playground


O segundo encontro do Poéticas da Dança fez todo mundo descer para o play e ir brincar. Essas meninas são danadas, sabem o que estão fazendo. Ao ler o texto da Isabel Marques durante a semana, já me deu uma vontade incrível de brincar. Eu sempre proponho brincadeiras com meus alunos, mas como eu tenho estar atenta a uma série de coisas, como o tempo, o espaço que precisa ser modificado, a organização e a bendita da disciplina, estou o tempo todo fritando o peixe e olhando o gato. A minha vontade, então, era de brincar como brincava quando criança: brincar por brincar, porque eu quero, porque é bom. 


Então, no último dia 17 de março, a sala de dança do IA havia se transubstanciado em um playground para crianças mais avançadas em idade, mas o negócio tinha cara de ritual e não de aula: sem dizer palavra, uma das meninas me entregou a almofada de jogar amarelinha. Depois, era só circular: pular corda, elástico, jogar bola e tudo acabou com um Siga o Mestre, em que o mestre era todo mundo e ninguém ao mesmo tempo. 


Na segunda parte do encontro, a ideia era estabelecer uma relação do texto da Isabel Marques com nosso espaço de trabalho: "Em que momentos da rotina escolar você percebe os 'corpos lúdicos' e 'não lúdicos'? De que maneira ou em quais momentos sua prática contribui para reforçar a construção de  corpos 'não lúdicos'? Em quais momentos você se contrapõe?" 


Com a canção da Dani Lasalvia e as perguntas escancaradas ali no diário de bordo, eu caí em mim e fiquei triste por alguns momentos. Querer brincar num espaço tão anti-lúdico e anti-poético como o espaço da escola se configura tantas vezes é um grande desafio para professores (que querem ser) brincantes. E ele estava lá, bem na minha frente. Que será, será?





Neste ponto a minha metralhadora verbal ligou-se sozinha. Eu vivo esta ansiedade o tempo todo. Quero brincar com meus alunos, não ensinar a brincar. Às vezes eu caio nesse erro, não sei se eu já disse isso aqui, mas a professorinha cansou-se de ser didática, daquela que nos "ensinaram" desde os primeiros momentos na escola: professor é um semideus que ensina. Por mais que eu tente ir na direção contrária, eu ainda carrego este repertório. É como subir uma escada rolante que desce, saca? 

"(...) Esqueçam também aquela ideia de que vamos ensinar alguma coisa para vocês. É muita pretensão da nossa parte acreditar nisso. Aprende quem quer aprender, e ninguém aprende sem se colocar a mão na massa, sem dar a cara para bater e isto, nós, os professores, não podemos fazer por vocês. O máximo que nós podemos fazer é indicar caminhos, e nenhum será atraente para todos ao mesmo tempo. (...)"


Depois partimos para os jogos teatrais, brincadeira muito da boa que felizmente fez parte do repertório primeiro da minha graduação. Este sistema, quando bem aplicado - perdão pela palavra não-acadêmica- é foda! Subversivo, libertador, inteligente, divertido. Quem começa, não quer mais parar. Jogamos um jogo de escultor e esculturas que se metamorfoseava em dança. Comentar e analisar o que visto/jogado  é parte fundamental do sistema de Jogos Teatrais e durante a avaliação da nossa sessão vimos (ou revimos) os princípios que regem este sistema que para ser libertador, precisa ser de uma disciplina livre e orgânica, nunca imposta. E conseguir isto não é nada fácil, mas é possível!


Antes de findar esta cambalhota e já emendar uma outra, deixo para vocês o que as brincadeiras da minha infância me mostraram da vida: 


"A gente fica olhando a corda bater no chão. As outras crianças já estão cantando "Um homem bateu em minhaporta e eu a-bri!". E a gente lá, entre a ousadia e a cautela, tentando achar a hora exata de entrar. Depois que a gente entra, porém, não pode parar de pular, porque é arriscado levar um tropeção. (...). Eu sei, eu também sou assim. "Porque eu sou medrosa. Mas se eu desço pro play é pra brincar"!"


Ps: Não sei se autocitação é falta de criatividade ou de tomar vergonha e escrever algo novo, mas a questão é muito simples. Não é de hoje que estas coisas me incomodam, e acolho estes incômodos: se não me incomodassem, jamais tentaria mudá-las, certo? 

terça-feira, 20 de março de 2012

Enjoy the silence

"Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem!"
Belchior
 

Não existe nem velho, nem novo. O que existe mesmo é o tempo!
Enjoy the silence!

domingo, 11 de março de 2012

Poéticas da Dança I -Living on the edge!

Sim, faz mais de um mês que começaram as aulas e a professorinha está correndo mais que queniano na São Silvestre. 

Há duas semanas começou a segunda fase do Projeto Poéticas da Dança, do Grupo de Pesquisa em Dança, Estética e Educação (GPDEE) do Instituto de Artes da Unesp. A primeira tarefa para o Grupo A foi registrarmos da maneira que quiséssemos como nós estávamos com nosso corpo no deslocamento da casa pro trabalho, nas tarefas cotidianas, na sala de aula e quaisquer outras coisas que quiséssemos contar. 

Como estou fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, como tanta gente neste mundo, a única palavra que veio a minha mente foi CANSAÇO. Físico, e também emocional: cansada das mesmas coisas, dos mesmos tratamentos, dos mesmos modos engessados de ver o mundo. De saber que não se é nenhuma Leila Diniz, mas de acabar se sentindo como se fosse, de tão encaretada que está a vida, disfarçada de moderna. 

Até comecei um registro esparso das coisas, gostaria de contar (não só mostrar) aos parceiros e parceiras de viagem algumas coisas sobre a minha (re)descoberta do corpo, mas uma folha A4 com a única palavra que bastava expressava muito mais. Este olhar parece pessimista, mas é o contrário: não jogo a toalha nem a pau! 

Depois fomos convidadas a escolher outro diário de bordo, escolhi o da Bianca, várias linhas paralelas pontilhadas e em cima estava escrito: CORDA BAMBA. Descobri que o cansaço vem daí, eu gosto mesmo é de viver na corda bamba!

Os ombros suportam o mundo
Depois as pessoas se juntaram a partir dos trabalhos que escolheram. Grata surpresa foi a Marília. Também está cansada, aquela Barra Funda cheia de gente é tão anti-poética!  A partir desta discussão, a proposta era criar uma cena corporal que trouxesse à tona estas questões. Aí eu descobri que não tenho sequer metade da força que preciso, mas que tenho que criá-la de algum jeito. Chega um tempo que o cansaço é tamanho que é maior o peso dos ombros sobre o mundo! Mas Marília se mostrou muito mais resistente, aguentou o peso do mundo sobre os ombros muito mais do que eu!

Só a partir deste momento que surgiram as referências que ajudam a contar esta história, algumas deixo para vocês aqui:

Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião: 10 livros de poesia. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975, p. 55




Se não desisti em 2004, vou desistir agora? 
 Em breve, mais Poéticas da Dança! Esta cambalhota é para vocês!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sobre os últimos tempos

Eu sei: tenho chorado demais, tenho dormido demais
(mas não o suficiente para hibernar até a próxima estação)
E não tenho visto alternativas diante do futuro, que pelo menos agora
Mostra-se como uma massa amorfa e previsível.

Essas pancadas de chuva, anunciando a chegada do Verão
De certa maneira me confortam. Vai passar.
Daqui a pouco estia, daqui a pouco as nuvens esquecem que passaram por aqui
E vão chover noutro lugar.

Aí é que está. Você é que não quer esquecer
E insiste em manter uma nuvem carregada bem debaixo da sua cabeça
Essa mania de ser cientista...
Estudar p´ra quê?

Ainda não tem o poder de evitar catástrofes
E até os animais correm para se refugiar
Diante da iminência do perigo
Não precisam de ciência, não assistem à moça do tempo.

Para que se precaver tanto, como velhos que estocam comida com medo da guerra?
Mesmo em tempos de paz, você vê a todo tempo civis trocando olhares de ameaça
Só para mostrar quem manda.
Alguns idiotas se submetem, outros pagam com a mesma moeda.
Cegos e banguelas,
Levando a cabo a Lei de Talião até o último dente.

E quem não topa nem eu uma coisa nem outra, faz o quê?
Subversivos por natureza não aceitam nem a dominação e nem a cegueira da guerra.
À margem e sem carona,
A gente só quer um pouco de diversão nesta estrada que não vai a lugar algum.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Plínio Marcos

Alheia aos apelos dos bons,
Sigo remendando meus buracos.
É um soco no prego, outro na ferradura.
Dando ponto sem nó, sem preocupação
Com a perfeição da sutura.

Mostrar defeitos é para os fracos.
Diriam os defensores da alta costura.


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A song for Almodovar

The skin that I live in
it´s just one a possibility

The skin that I live in
It's just one of tricks for survival
That I Keep with me
Save the chameleons.

The skin that I live in
It´s just one of the masks that I can wear
But they don’t hide my face,
They are my faces,
And all of them are true

I´m an actress, don´t forget.
Before you can expect what I will do,
I´ve already changed.

A banana é vitamina que engorda e faz crescer

Para Mayara Alexandre

É, talvez seja como todos estão dizendo. Talvez eu realmente tenha que amadurecer. Talvez isso devesse acontecer com todo mundo, talvez não aconteça com a frequência desejada com quem prega este discurso.

Banana amadurecida no jornal não tem gosto de nada
Foda é que ninguém me ensinou como fazer isso, simplesmente me arrancaram a infância. Foda é descobrir que chega um dia na vida em que você vai ter que eximir todo mundo em sua volta da responsabilidade pelo seu bem-estar, inclusive quem já fodeu ou tentou foder com a sua vida. Foda é você descobrir que não tem nem nunca teve que provar nada a ninguém, depois de ter se matado de fazer isso inutilmente por anos a fio. E mesmo depois de se sentir quite consigo mesmo e com o mundo, pode aparecer alguém que por insegurança ou vaidade queira te desestabilizar, talvez para mitigar a própria insegurança. Foda é descobrir que mais da metade da sua insegurança vem de bobagens que você escutou a vida inteira, ditas apenas para te controlar, só porque medo é estratégia de dominação.

Só gostaria de saber o que é ser madura, e talvez de saber quando isso acaba. Porque a impressão que eu tenho é que está sempre começando, e parece ser assim com todo mundo que está vivo de fato. Envelhecer não é se engessar, pelo menos poderia não ser assim. Experiência ajuda, mas não resolve: a vida prega peças o tempo todo, às vezes só para se certificar se você está mesmo alerta. De qualquer maneira, só acumula experiência quem experimenta, eu imagino. E se parar de experimentar, viver para que?

Já que as pessoas que mais me cobram agem como se fossem crianças de cinco anos, é melhor não dar muita pelota. Aos vinte e nove, sou mais parecida comigo mesma quando eu tinha cinco anos do que eu podia imaginar quando eu tinha cinco anos de fato. Só fiquei mais teimosa. Idade não é tudo isso que falam. Há quem passe pela vida sem aprender porra nenhuma. No fim de tudo, a gente acerta contas é com a nossa própria consciência, é daí que vem a maior cobrança. Somente a ela – e a mais ninguém - a gente vai ter que satisfazer. 

Ps.: Talvez seja legal provar Textículos sabor banana Andy Wahrol e Raul Seixas ouvindo Teorema: 



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Things I have learnt in Canada - Chapter three

Fringe Festival


Perto das coisas e pessoas de quem a gente gosta, qualquer lugar do mundo pode ser a nossa casa.
Any place in the world can be our home, when we are close to things and people that we make us fine.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Things I have learnt in Canada - Chapter two

Full Moon
A interferência do olho altera a imagem. 
The eyes´s interference changes the picture. 

Things I have learnt in Canada

But I would have learned in any place in the world - Chapter One




Não é porque minha casa não tem portão que você tem permissão para invadi-la.
Not because my home has no gate that you are allowed to invade it.