quarta-feira, 4 de abril de 2012

Poéticas da Dança II - Descendo para o Playground


O segundo encontro do Poéticas da Dança fez todo mundo descer para o play e ir brincar. Essas meninas são danadas, sabem o que estão fazendo. Ao ler o texto da Isabel Marques durante a semana, já me deu uma vontade incrível de brincar. Eu sempre proponho brincadeiras com meus alunos, mas como eu tenho estar atenta a uma série de coisas, como o tempo, o espaço que precisa ser modificado, a organização e a bendita da disciplina, estou o tempo todo fritando o peixe e olhando o gato. A minha vontade, então, era de brincar como brincava quando criança: brincar por brincar, porque eu quero, porque é bom. 


Então, no último dia 17 de março, a sala de dança do IA havia se transubstanciado em um playground para crianças mais avançadas em idade, mas o negócio tinha cara de ritual e não de aula: sem dizer palavra, uma das meninas me entregou a almofada de jogar amarelinha. Depois, era só circular: pular corda, elástico, jogar bola e tudo acabou com um Siga o Mestre, em que o mestre era todo mundo e ninguém ao mesmo tempo. 


Na segunda parte do encontro, a ideia era estabelecer uma relação do texto da Isabel Marques com nosso espaço de trabalho: "Em que momentos da rotina escolar você percebe os 'corpos lúdicos' e 'não lúdicos'? De que maneira ou em quais momentos sua prática contribui para reforçar a construção de  corpos 'não lúdicos'? Em quais momentos você se contrapõe?" 


Com a canção da Dani Lasalvia e as perguntas escancaradas ali no diário de bordo, eu caí em mim e fiquei triste por alguns momentos. Querer brincar num espaço tão anti-lúdico e anti-poético como o espaço da escola se configura tantas vezes é um grande desafio para professores (que querem ser) brincantes. E ele estava lá, bem na minha frente. Que será, será?





Neste ponto a minha metralhadora verbal ligou-se sozinha. Eu vivo esta ansiedade o tempo todo. Quero brincar com meus alunos, não ensinar a brincar. Às vezes eu caio nesse erro, não sei se eu já disse isso aqui, mas a professorinha cansou-se de ser didática, daquela que nos "ensinaram" desde os primeiros momentos na escola: professor é um semideus que ensina. Por mais que eu tente ir na direção contrária, eu ainda carrego este repertório. É como subir uma escada rolante que desce, saca? 

"(...) Esqueçam também aquela ideia de que vamos ensinar alguma coisa para vocês. É muita pretensão da nossa parte acreditar nisso. Aprende quem quer aprender, e ninguém aprende sem se colocar a mão na massa, sem dar a cara para bater e isto, nós, os professores, não podemos fazer por vocês. O máximo que nós podemos fazer é indicar caminhos, e nenhum será atraente para todos ao mesmo tempo. (...)"


Depois partimos para os jogos teatrais, brincadeira muito da boa que felizmente fez parte do repertório primeiro da minha graduação. Este sistema, quando bem aplicado - perdão pela palavra não-acadêmica- é foda! Subversivo, libertador, inteligente, divertido. Quem começa, não quer mais parar. Jogamos um jogo de escultor e esculturas que se metamorfoseava em dança. Comentar e analisar o que visto/jogado  é parte fundamental do sistema de Jogos Teatrais e durante a avaliação da nossa sessão vimos (ou revimos) os princípios que regem este sistema que para ser libertador, precisa ser de uma disciplina livre e orgânica, nunca imposta. E conseguir isto não é nada fácil, mas é possível!


Antes de findar esta cambalhota e já emendar uma outra, deixo para vocês o que as brincadeiras da minha infância me mostraram da vida: 


"A gente fica olhando a corda bater no chão. As outras crianças já estão cantando "Um homem bateu em minhaporta e eu a-bri!". E a gente lá, entre a ousadia e a cautela, tentando achar a hora exata de entrar. Depois que a gente entra, porém, não pode parar de pular, porque é arriscado levar um tropeção. (...). Eu sei, eu também sou assim. "Porque eu sou medrosa. Mas se eu desço pro play é pra brincar"!"


Ps: Não sei se autocitação é falta de criatividade ou de tomar vergonha e escrever algo novo, mas a questão é muito simples. Não é de hoje que estas coisas me incomodam, e acolho estes incômodos: se não me incomodassem, jamais tentaria mudá-las, certo? 

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