Às vezes, Bozoca me chama de Layr Ribeiro por conta de uns chavões proféticos que de vez em quando sai da minha boca, ou dos dedos, meus fazedores de Textículos. Mas ela não fica atrás, viu. Primeiro foi o "Nós temos Licença Poética para o festival de bobagens", que eu até anotei de tão apocalíptico que foi. Revelação das boas. Nunca tinha visto a coisa sob este prisma.
A última foi essa do título. O que importa mesmo é o impacto da pérola profética de Bozolina Doe, e o que ela tem a ver com a nossa vida. A minha, a sua, de qualquer um que leia isso e que esteja vivo, ou quase.
Medo. Cheiramos com frequência flores amarelas e medrosas¹. Esqueça os clichês de comercial das Havaianas, aquela coisa de viver a vida intensamente. Uma hora ou outra, a gente deixa de lado nossa felicidade, nossos amigos, tudo aquilo que pode nos ser caro de fato.
Eu também odeio ver poesia escorrendo pelo ralo e por isso dói a consciência de tudo que (não) tenho feito da minha vida.
A verdade é que sinto uma falta brutal dos meus amigos. Dos antigos, daqueles que presenciaram as minhas metamorfoses todas. Não é a primeira vez que isso acontece, assim como não é novidade que, de tempos em tempos, a gente se espalha e se ajunta outra vez. O que muda é que agora temos a real consciência da morte. Sofremos perdas muito duras e as feridas ainda não fecharam, se é que vão fechar. Hoje sabemos que um dia, vamos nos separar definitivamente e cair em si desse jeito, sem nenhum colchãozinho para aparar a queda é muito doloroso, pelo menos para mim.
Por essas e outras que combater o imobilismo que a rotina aos poucos nos impõe chega a ser um desafio, o décimo terceiro trabalho de Hércules. É preciso furar a bolha, derrubar os cibermuros à marretadas. Só que isso dá medo. Um medo infundado, mas medo é sempre medo.
Quando se chega à uma conclusão dessa natureza, a vida parece uma brincadeira de corda. A gente fica olhando a corda bater no chão. As outras crianças já estão cantando "Um homem bateu em minha porta e eu a-bri!". E a gente lá, entre a ousadia e a cautela, tentando achar a hora exata de entrar. Depois que a gente entra, porém, não pode parar de pular, porque é arriscado levar um tropeção.
De tudo isso, eu tiro um certo alívio. Eu sei, eu também sou assim. "Porque eu sou medrosa. Mas se eu desço pro play é pra brincar"!
1 - ANDRADE, Carlos Drummond. Reunião: 10 livros de poesia. 7ª Ed., Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1976, p. 81 (A Rosa do Povo)