Neste caso, não é exatamente uma bobagem, muito pelo contrário. Eu estava falando do meu trabalho e da minha pesquisa, mais precisamente de como é difícil persistir em propostas que partem de pressuspostos completamente diferentes do que regem a escola. Mas como estas questões desafiam não só meu intelecto e sim minha vida inteira, eu devo ter falado demais. Feito da aula terapia, por mais que eu não quisesse.
Entendam,
não se trata de fazer da aula um Muro das Lamentações. Trata-se de estar fartx
de tantos muros, os reais e os invisíveis. Trata-se de o quanto estes muros
doem (mais aqui).
E, evidentemente, de nem sempre saber o
que fazer com eles. Ou de identificar onde exatamente os muros conceituais
estão.
Prof. Carminda,
porém, com seu blend de perspicácia
com delicadeza e ternura, soube fazer a síntese. Ela disse que quando a gente descobre onde está o muro, imediatamente a gente sabe
o que fazer com ele. Esta é a tarefa da minha pesquisa e da minha vida,
enquanto professora de Arte de escola pública.
Esta
é a primeira tarefa. Muro de Berlim,
2015.
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A imagem
do muro me afeta profundamente já há algum tempo, e a experiência de ver o que
sobrou do Muro de Berlim apenas me fez ver com meus próprios olhos o horror que
estes muros representam. E como ainda não aprendemos a eliminá-los.
Primeiramente, Berlim não se desfez
completamente do muro. Por onde ele passou, existe uma marca (duas fileiras de
paralelepípedos, cortando ruas, calçadas, ciclovias) e às vezes a placa:
A Cidade e suas cicatrizes. Provavelmente perto
da Postdamer Platz, 2015.
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O que
restou do Muro, de fato, é o
memorial chamado Topographie des Terrors (Topografia
do Terror), exatamente em frente onde ficava a sede da Gestapo. Mesmo que
memórias reeditadas fiquem mais organizadas e ganhem um certo verniz, a
atmosfera mantinha seu horror. Apesar de um sol bonito ainda brilhando às oito
da noite no verão berlinense.
Estes
painéis mostram a história desde a conjuntura política pós-Primeira Guerra
(República de Weimar) até a ascensão e queda do Nazismo. (Sim, fiz a turista
louca e tirei foto de quase tudo, mas também eu li.) E o que estes painéis me
mostraram? O quão estamos próximos, aqui no Brasil, deste clima que favoreceu o
surgimento do Nazismo, na Alemanha. E depois, nas aulas sobre Currículo e
Formação de Professores, ministrado pelo meu orientador, Prof. Palma, ele cita
um livro (ou uma coleção, não sei ao certo, mas provavelmente este),
em que diz que a educação escolar autoritária durante a República de Weimar foi
fermento na massa do regime nazista. (Encontrei uma referência aqui
também).
Esta
citação ao muro de Berlim é para mostrar como ele ainda pode existir, apesar da
tentativa em envidraça-lo e fazer dele acervo do mundo. (Aliás, como ainda está
existindo, atualizado na forma dos muros levantados nas fronteiras para barrar
os refugiados
que tentam se salvar na Europa, por exemplo), e para refletir sobre como a
Educação pode ajudar a construir estes muros.
...E
também como pode destruí-los, em que pese a Ocupação das Escolas pelxs
estudantes secundaristas da Rede Estadual de São Paulo, movimento este que
soube usar os muros da escola a seu favor.
Sonhando
com uma vida sem muros, apesar de ainda estar aprendendo a lidar
com eles. Por enquanto, estou estudando suas fissuras, por onde algum vento
de transformação pode soprar.
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