sábado, 12 de março de 2011

Cisne Negro

"There are two tragedies in life. One is not to get your heart's desire. The other is to get it."*
George Bernard Shaw

"Estar pronto é tudo."
  Hamlet, ato V, cena II.


God save The Swan Queen!
O que dizer de um filme que já levou o Oscar, foi ovacionado pela crítica e que provalmente já foi destrinchado, dissecado, analisado por todo o tipo de gente?

Não vou dizer que este filme nasceu clássico, que a câmera dança junto com a Natalie Portman, que ela entrou definitivamente para o panteão das deusas do cinema. Sua beleza bastaria para isso, mas sua atuação é a coisa mais visceral que eu vi em toda a minha vida.

Este filme não é apenas sobre balé, ou como a perfeição atlética exigida das bailarinas pode levá-las à loucura. Também não trata somente do fio da navalha que há na intrincada relação entre intérprete e personagem.

Este filme nos encara profundamente e diz, sem rodeios: incorpore sua sombra, aquela parte obscura, selvagem, incontrolável que cada um carrega dentro de si. Acolha sua sombra ou será deglutido por ela. O que seria do bordado sem o seu avesso? Então, vire do avesso de vez em quando. Exiba-o. Ame-o. Orgulhe-se dele.

Ainda pensa que Bem vai vencer o Mal? Na vida real, eles são parceiros, babe. Um exalta o brilho do outro. Nunca ouviu falar em yin e yang? Acorda, Nina.



Isso, na verdade, é bem junguiano. Cisne Negro é o processo de individuação de Nina, ela tragicamente incorpora sua sombra a seu self. (Falei alguma besteira, psicólogos? Se falei, por favor, corrijam.) Todo mundo precisa passar por este dolorosíssimo processo. Nina leva o seu magistralmente às últimas consequências e não aguenta o tranco, afinal, era uma garota presa no corpo de uma mulher, como Olga  presa no corpo de um cisne.
Saí do cinema chapada, chapadinha. A coisa mais pesada que usei foi água com gás. Entre o milhão de coisas que se passaram pela minha mente, coração e libido, me lembrei de uma canção que eu escrevi há algum tempo e que sem um pingo de modéstia, adoro. Somente agora, tendo assistido ao Cisne Negro, entendi de fato o que ela queria me dizer:
 
"Permanecer na superfície
A todo custo evitando a descida aos infernos é besteira  
(...)
Trate de abandonar a utopia
De que o ser humano é inteiro sensatez
Perca o juízo de vez
(...)Solte os bichos"
...Solte os bichos. O que mais nos resta fazer?
  
*Há duas tragédias na vida. Uma é não conseguir o que nosso coração deseja. A outra é conseguir.

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