quarta-feira, 28 de julho de 2010
Demais
Pouco fôlego para um grito rouco.
Muito livro para pouco olho,
Muita música para um ouvido torto.
Água demais para um café ralo e fraco.
Tanta inspiração e um talento parco.
Muita máquina e muita técnica
Para pouco cérebro e pouca ideia.
Muito gemido para pouco orgasmo.
Pouca piada para muito sarcasmo.
Muito regime e pouca gordura.
Muita pose e pouca ternura.
Pouco cão, muito latido.
Muito verso para pouco sentido.
Falta tempo, falta gana;
Falta tesão e falta grana.
Sobra ausência, falta espaço.
Entre o tanto que penso,
E o pouco que faço.
sábado, 24 de julho de 2010
O Pequeno Nicolau
Hoje em dia, há animações tão boas no mercado de filmes para crianças, e agora em 3D, que é raro encontrar bons filmes "de verdade" com temática infantil. "O Pequeno Nicolau" é a adaptação de uma série de livros francesa do escritor René Goscinny com ilustrações de Jean-Jaques Sempé que eu também não conhecia.
Nicolas é um menino comum, que adora sua vida de filho único em uma família pequeno-burguesa parisiense e estuda em uma escola só para garotos. A possível gravidez de sua mãe é a ameaça para sua vida perfeita, ele sente medo de ser abandonado na floresta e faz de tudo para se desfazer desse bebê que nem existe de fato. A partir daí, é uma trapalhada atrás da outra, dele e de seus amigos.
Ri litros com as cenas de escola. O filme se passa nos anos 1950, tanta coisa mudou na família e na infância desses tempos para cá, mas é incrível como outras não mudam. A educação continua sendo um misto de martírio com sadismo. Pobre daquela professora.
Apesar dos moleques serem umas pestes, o filme é realmente muito bonitinho, singelo, sem duvidar da inteligência e perspicácia da garotada. Para adultos, nos lembra que a criança tem seu próprio universo, mas que não está dissociado do mundo em que ela vive. Os medos infantis - como o do abandono, por exemplo - podem ou não ter fundamento, mas dentro do seu universo são verdadeiríssimos. A gente já sentiu esses medos, alguns destes nos acompanham a vida toda, mesmo que a gente não admita. Se isso fosse mentira, Freud não teria causado metade do frisson que causou.
Gostei tanto que estou pensando levar meu sobrinho mais velho para ver, que há um ano deixou de ser filho único. Só tenho medo que ele se inspire a contratar um gângster para tentar se livrar do irmãozinho. Vai saber!
sábado, 17 de julho de 2010
Besta é tu
Imagino que quando essa galera maluquete se reuniu, eles não pretendiam genialidade. Nesse ponto, todas as bandas (pelo menos as bacanas de se ouvir) são iguais: só querem saber de tocar e se divertir. Quem coloca a vontade de ser aprovado antes da vontade de fazer música, se lasca. O reconhecimento, da crítica ou do público, vem como acréscimo.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Metablogagem Reloaded
Ultimamente só tenho feito textos sobre música, até acho que dão bem para o gasto. Mas eu vejo os textos de Skylab e fico brocha! O cara manda muito bem e muita gente pensa que ele só sabe matar passarinhos. Recomendo uma passada lá (godardcity.blogspot.com). Mas não é para brochar não. Afinal, século XXI é isso: não passamos de um bando de exibicionistas/voyeurs e todo mundo pode ser paparazzi, celebridade, escritor, músico, filósofo, mesmo que isso signifique brincar de tudo isso ao mesmo tempo, sem precisar ser de fato. Exceção é o nosso matador de passarinhos, afinal ele tem propriedade de sobra para falar sobre o que ele fala. Por isso, é bom visitar o cara, quem sabe a gente aprende.
Tentei, numa tentativa bem pouco convicta, tornar estes TM uma celebridade internética. Quem sabe não ganho um programa na MTV também? Segui as dicas da matéria sobre blogueiras de "sucesso" da edição da Gloss do mês passado, até porque nenhuma era absurda. Não sei se deu certo, mas eu fiquei pensando: para que diabos quero ser celebridade internética? Não tenho paciência para Twitter, texticulo de uma maneira quase bissexta. Para ganhar algum tutu com fazendo uma coisa para mim que é um grande divertimento, talvez. Mas tenho horror só de pensar neste painel alternando Audrey Hepburn e Marlene Dietrich cheio de links de publicidade em volta. Aí cheguei a uma magra conclusão que eu só quero que mais gente prove textículos, mas mesmo assim, é uma conclusão arbitrária. Ué, não era para mim mesma essa cambalhota?
Olha, não sei. Ando tão cansada de mim mesma que tenho feito tudo ao contrário do que eu habitualmente faria. E por um acaso alguém é obrigado a fazer tudo igual a vida toda? No entanto, é inegável a minha falta de talento para fazer das tripas coração para ser notada. Nunca precisei fazer muita força para isso. Não, eu não sou uma beldade de torcer o pescoço da homarada na rua. Mas para gente "normal", eu sou estranha. Tudo bem, perto da Lady Gaga pareço normal. Ai, ficou prolixo.
Então, vamos fazer assim, esquece essa história de celebridade internética. Vamos confiar na teoria do caos, uma hora alguém interessante "me descobre". Se não descobrir também, vou continuar me divertindo. E tenho dito!
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Perdeu, playboy
Lamentavelmente só agora, as pessoas vão se lembrar disso, até porque o quarto poder vai tirar o foco da Copa do Mundo e voltar-se para as eleições. Mais previsível que um pênalti com paradinha, é fácil cantar essa bola, mas é sempre bom lembrar. Daniel teve o cuidado de dar essa alfinetada mesmo antes de a Copa começar. Rita Lee, no ano de 1998, alfinetou a farofada em torno da Copa com uma canção inteligente e sapeca e acabou sendo profética. A França que o diga:
Fica o refrão: A gente explode se for campeão, depois se f*** na eleição! Melhor o contrário. Nunca é tarde para virar o jogo, não é mesmo, Holanda?
quinta-feira, 1 de julho de 2010
O Universo Bufônico de Lady Gaga
Bufões jamais são minimalistas, tudo é exagero. Ou é muito magro, ou muito gordo. Ou é anão ou é gigante. Se não tiver nenhuma protuberância, falta-lhe uma parte do corpo. Não sendo nada disso, pode ser um excluído da sociedade, como mendicantes, putas ou bêbados. Ou somente um serzinho deslocado na galhofa. "Não tenho par nisto tudo neste mundo"...
Todos têm um bufão na alma, é questão de encontrar. E a experiência para quem encontra é doidíssima: aquele ser é você e é outro. A Susi tem muito da Flávia, a Flávia se exagera na Susi. As duas se necessitam e não se contrapõem.
Em um dos comentários, algum gagaólogo proferiu: "não sei qual é a surpresa, antes de criar a LG, era esse o estilo com que ela se apresentava por aí, é só colocar 'Stefani Germanotta' no Google que vai aparecer." O gagaólogo tinha razão. Desde muito tempo ela mostrava maturidade na composição, segurança na performance, enfim, estava pronta faz tempo. E o bufão já estava lá.
Feinha, nariguda, meio magrela, cabelos "pretos como piche" - segundo ela mesma, uma deslocada, que se trancava no banheiro e copiava makes de estrelas hollywoodianas. Já era um ser estranho. Lady Gaga só veio para dilatar a garota esquisitinha, mas cheia de talento e decisão. Mais montada que dez drag queens juntas, tem o poder de se desmontar e remontar como bem entende.
Olhando por esse ângulo, ela não é tão doida quanto parece. Aliás, é capaz de uma lucidez que só os bufões são capazes de ter. Eu não disse que bufões se reconhecem? Ora pois, se não.