terça-feira, 4 de outubro de 2011

Solar

                                                            Para meus cachorros

Quem sabe também não estejamos lá
Eu e meus cachorros, 
Às seis horas da tarde, no Viaduto do Chá
À espera do ocaso, se acaso ele chegar.

Trouxe Pozzo e Lucky na coleira, mas nem precisaria.
Eles não avançariam em você nem por um afago, estão tristes como o quê.
Não latem mais, rabos retraídos, a tigela de comida intacta.
Parece até que descobriram que não enxergam em colorido.

Pôr-do-sol no centro da cidade, mas que bobagem.
Só você mesmo para ter uma ideia dessas.
Como se Sol não fosse Sol em qualquer lugar do mundo,
Como se ele só se pusesse em São Paulo.

Esperar o Sol se por é pior que esperar Godot
Ele nunca chega, é justamente o oposto:
Poente é sempre partida. E disso eu entendo
Que estou sempre esperando, que estou sempre de partida.

Você é tão engraçado! Age como um semideus.
Acende um cigarro e pronto,
Procurar sentido é coisa para mortais.
Deixa isso para bestas melancólicas que levam cães para passear como desculpa. 

Você e seus cigarros, eu e meus cachorros.
Não dá valsa nem samba,
Ninguém dança de armadura.                                     
Cada um com seus escudos, paralelos, absurdos.

E quando a noite chegar? Eu fico me perguntando quem vai levar Godot para casa.
Mas é claro que estou variando.
O Sol, Godot, você e até meus cachorros,
Todos já se foram.

Agora, tudo são cadeiras vazias e uma noite sem fim.
Entretanto, sem esperar por mim, novos dias sempre chegam.
Então, antes que eu de fato enlouqueça,
Em vez de pôr-do-sol, é melhor que amanheça. 

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