Esta cambalhota é para o poder ultrajovem
Todo ano eu penso em escrever no Dia dos Professores, mas nunca faço, por vários motivos. O primeiro deles é o cansaço. Outubro é o mês da ladeira da preguiça, quando ela fica mais inclinada, perto do topo. O outro é que modestamente penso que nós precisamos de respeito e não de homenagens, apesar de agradecer todo o carinho dos meus alunos, que brigam para apagar a lousa e carregar meu material todo santo dia (risos); dos meus colegas, principalmente aqueles que não perdem o bom humor frente à árdua ralação dentro e fora da sala de aula e da minha família, que ainda se orgulha de ter uma professorinha no clã. O terceiro é que durante o ano inteiro, meu ofício me instiga a escrever. Para quem nunca provou textículos, tente o marcador Educadora em Chamas ou Professorinha para comprovar o que estou dizendo.
Pensando melhor, tenho mais motivos e mais convincentes para fazer este textículo do que para não fazê-lo. O papo é diretamente com meus alunos. O negócio é com vocês, molecada. Esqueçam aquela conversa de futuro. Educação não é para o futuro, é para o presente. Se existir algum futuro, será consequência. Esqueçam também aquela ideia de que vamos ensinar alguma coisa para vocês. É muita pretensão da nossa parte acreditar nisso. Aprende quem quer aprender, e ninguém aprende sem se colocar a mão na massa, sem dar a cara para bater e isto, nós, os professores, não podemos fazer por vocês. O máximo que nós podemos fazer é indicar caminhos, e nenhum será atraente para todos ao mesmo tempo. E o melhor que vocês tem a fazer é ao menos olhar nas direções que a gente aponta. Só assim vocês vão descobrir o que gostam de fazer e o que fazem melhor.
Professores, em primeiro lugar, são seres humanos. É prerrogativa nossa errar. Professores não são pais, nem mães (pelos menos dos alunos), nem psicólogos - a não ser que seja professor de Psicologia! - nem juízes ou delegados (com alguma sorte vocês podem encontrar alguns em faculdades de Direito). O Magistério é um ofício, nada mais do que isso. Não é sacerdócio, nem martírio. Perde-se muito tempo confundindo as funções, criando um desgaste horroroso e desnecessário. Por isso tantos colegas enlouquecem - de verdade. A carga emocional é mais pesada que a intelectual e nas licenciaturas (cursos para formação dos professores), só se fala, lê e pratica questões a respeito da segunda e não se fala NADA a respeito da primeira, talvez porque não seja mesmo o nosso ofício ser madres-teresas-de-calcultá e mahatmas-ghandi da Educação.
Então, ô garotada! Parem já com esta palhaçada de colocar seus professores ora no pedestal, ora na ante-sala do inferno, porque a gente é normal - e de perto ninguém é! O poderzinho que nós temos na mão é como as forças armadas da Suíça, não serve pra nada! Se obedecer é chato, mais chato ainda é ter que ficar mandando. E além do mais, tenho o direito de ter prazer em fazer meu trabalho, porque Educação, pelo menos para mim é isso - descobrir possibilidades, talentos, habilidades, e tudo isto é diversão para mais de metro! Vou ter marcado o gol de placa da minha vida toda se vocês aprenderem a cultivar este gosto também, porque foi por isso que me tornei professora - por um amor tão grande ao conhecimento e ao ser humano. O resto são papéis, e isto o vento leva.
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