"É para um dia a gente contar a história da nossa turma."
Adoro histórias. Contá-las, ouvi-las. Uma, duas, dez, oitocentas vezes. A oralidade me encanta desde que me entendo por gente. Os causos do meu avô, as piadas da Dona Irene, do meu pai, as minhas próprias pataquadas da adolescência e início da idade adulta que adoro contar, recontar, rir delas quantas vezes me der vontade.
Só por isso, já me conquistaria Rock Brasilia - Era de Ouro. Confesso que só não gostei muito desse subtítulo. É piração minha ou este "Era de Ouro" engessa o furacão que bagunça meus cabelos até hoje? Deve ser mesmo excesso de análise e opinião da minha parte. Vladimir Carvalho, em entrevista à TV Brasil, fala sobre o processo de criação do documentário, que começou lá nos final dos 1970. Pegando carona na metáfora, ele estava no olho do furacão - era professor da UnB - e soube reconhecê-lo no momento. É por isso que Rock Brasília não tem cheiro de naftalina, com gente saudosa falando de um passado longínquo. Tá tudo na carne, hoje. O grito do Planalto Central ecoa em nossos ouvidos agora mesmo.
Tudo isso é a parte conhecida, é um pouco óbvio demais que eu gostaria deste documentário, sendo que não só Legião que fez minha cabeça, pele e nervos desde a adolescência. O surpreendente - ou pelo menos, desconhecido até então para mim - é a visão de dentro do furacão de momentos-chave de destas trajetórias, como o fatídico show da Legião Urbana no estádio Mané Garrincha - onde um bando de antas brasilienses identificaram o status quo na figura do Renato e da Legião e os atacaram, literalmente. Não sei se consigo captar a dor que este engano causou em toda a sua dimensão, mas conheço muito bem o sentimento mais do que amargo de fazer o diabo para conseguir um lugar ao palanque, com a ingênua ideia de subverter a ordem com o microfone "deles" na mão e ser identificado como um aparelho do sistema. Gente burra, mais do que raiva, me dá medo.
E a pegada "Pais e filhos" do documentário não é nem um pouco forçada, afinal essa galera é mesmo filha da Revolução! Filhos de diplomatas, professores universitários, funcionários públicos, eles foram os responsáveis diretos por tudo isso, acenderam a banana de dinamite sem nem se dar conta disso. Quem mandou se mudar com a família para o meio do nada, com um bando de moleques loucos por música sem xonga nenhuma para fazer, bem no final da ditadura militar, com o punk rock pegando fogo na Inglaterra? Agradeço-os imensamente por isso!
Tudo isso é a parte conhecida, é um pouco óbvio demais que eu gostaria deste documentário, sendo que não só Legião que fez minha cabeça, pele e nervos desde a adolescência. O surpreendente - ou pelo menos, desconhecido até então para mim - é a visão de dentro do furacão de momentos-chave de destas trajetórias, como o fatídico show da Legião Urbana no estádio Mané Garrincha - onde um bando de antas brasilienses identificaram o status quo na figura do Renato e da Legião e os atacaram, literalmente. Não sei se consigo captar a dor que este engano causou em toda a sua dimensão, mas conheço muito bem o sentimento mais do que amargo de fazer o diabo para conseguir um lugar ao palanque, com a ingênua ideia de subverter a ordem com o microfone "deles" na mão e ser identificado como um aparelho do sistema. Gente burra, mais do que raiva, me dá medo.
E a pegada "Pais e filhos" do documentário não é nem um pouco forçada, afinal essa galera é mesmo filha da Revolução! Filhos de diplomatas, professores universitários, funcionários públicos, eles foram os responsáveis diretos por tudo isso, acenderam a banana de dinamite sem nem se dar conta disso. Quem mandou se mudar com a família para o meio do nada, com um bando de moleques loucos por música sem xonga nenhuma para fazer, bem no final da ditadura militar, com o punk rock pegando fogo na Inglaterra? Agradeço-os imensamente por isso!