sábado, 30 de outubro de 2010

Curtinhas

Camões ou Quasímodo?
Sinto falta do OkComput3r. Sei, porém que o Vizinho tem motivos de sobra para ter dado uma parada com seus blogs. Hoje vi uma notícia que é a cara do blog em pausa da Vizinhança: Mulher mata o próprio filho enquanto jogava Farmville. Na ausência do OkComput3r para comentar este absurdo, TM tapa este buraco, mesmo que mal e porcamente: 

Pode parecer horrível o que vou dizer, mas o bizarro dessa história não está na mãe ter matado o filho e sim, o motivo (ou circunstância causadora, como quiser). Lamentável, mas isso é mais comum do que se imagina. Eu mesma acompanhei bem de perto uma investigação policial de um caso em que a mãe era a principal suspeita da morte do filho de três anos, e foi uma das experiências mais pavorosas da minha vida. É o mito de Medéia, mais antigo que o mundo. O feminino que nutre e gera vida também é capaz de matar. Mas por causa de Farmville, porra? Que graça tem ficar plantando alface e ordenhando vaca virtual? Vai trabalhar de verdade! Além disso: "O Farmville é um jogo perfeitamente simplista, ao ponto de qualquer criança o jogar. Não requer a mínima estratégia... mas este farrapo tinha dificuldades em se concentrar com o choro da criança e assim não conseguia jogar", diz um hipotético Rui. Sem mais, assino embaixo.

Nina Becker fez dois shows no Sesc Pompeia este mês. Até pensei em ir, mas me deu uma preguiça, como diria o Rafa. Não conheço profundamente a Orquestra Imperial e fala-se tanto do duplo álbum solo lançado por ela, que acabei ignorando um pouco. Joga-se tanto confete em pouca coisa, que às vezes eu sofro de um efeito contrário - quanto mais se fala, menos eu me interesso. O excelente Zuim Podcast publicou uma playlist da Nina Becker perto da semana em que aconteceria os shows, e estou a ouvindo só agora. Pensei que era um podcast dos trabalhos dela, mas na verdade, é uma colagem das suas influências, da fontes em que ela bebe. Puta caldeirão que vai de Waldick Soriano a Baden Powell, de Carmem Miranda a Doris Monteiro. Compartilho com Nina Becker uma sincera afeição pelas canções de dor-de-cotovelo mais descaradas, mais diretas, que não enfeitam o croquete para dizer o óbvio, sem sublimação. O que não as impede que tenham sofisticação, porém. E essa viagem  musical me fez lembrar um ilustre ex-colega de turma na facu, Ednaldo Freire: original é voltar às origens. Lembro também do Skylab, no texto mais curto e mais genial que ele fez para o Godard City: "olhem com desconfiança as músicas complexas. Atrás delas pode estar um gênio. Ou uma besta." Tô com ele e não abro. Então, este show da Nina ganhou o selo de Show Que Mais Me Arrependo De Não Ter Ido Na Vida. Que SWU o quê. 

E para terminar: este debate da Globo convence alguém? De tão descaradamente manipulado, Seu Francisco pergunta: "Será que eu me acho muito esperto ou o povo é que anda burro demais?" Uma drama Tostines para matar a pau esta semana pré-eleição-com-feriado. Como diria Bob Filho: este é meu pai!

É para todos esta tripla cambalhota! Bom feriado com eleição! Se der em você alguma vontade insana de votar no Serra, vá para a praia, pule sete ondas, ofereça presentes para Iemanjá, tome você mesmo um banho de mar e vote nulo!!!!

Notitas:

  • No exato momento em que terminei o parágrafo sobre a Nina Becker, o podcast acabou. Nada a ver, mas achei interessante.
  • Para quem não se lembra do Bibo Pai & Bobi Filho:

  • Bateu uma nostalgia também do comercial da Tostines:

domingo, 24 de outubro de 2010

Sobre bruxas, vampiros, bolinhas de papel e sapatadas

O meu primo escreveu no seu MSN: "Vamos aproveitar o Halloween e acabar com uma bruxa!". Eu não sou de discutir por divergências políticas, ainda mais com a nobre linhagem dos Teodoro Alves, mas o trocadilho é muito bom, então vou ter que retrucar - eu diria para gente aproveitar o Halloween e acabar com um vampiro.

Agora o meu ex-patrão é personagem pop. O episódio tosco da bolinha de papel virou um joguinho que me lembrou um do George W. Bush, em que você escolhia um pedaço de pau com um prego na ponta, uma toalha molhada ou um peixe ( um peixe!!) para surrar a cara dele. Bem catártico. Nessa época, nem pensaram no sapato. Aliás, quem acertou a bolinha na careca do Serra era quem devia ter jogado o sapato no Bush. Teria acertado bem no meio das fuças do infeliz. Mandou o candidato até para o hospital! Nem o capitão Mathias tem tanta mira.

Mas prefiro acertar os pingos nos is. Recebi um folheto virtual com vários paralelos entre os governos Lula e FHC baseado em fontes confiáveis, provando por A + B para quem ainda duvida que o modelo neo-liberal do PSDB de governar é desastroso para o Brasil, como é para São Paulo há pelo menos 16 anos.


Em política não existe nem heroi, nem milagre. O Brasil não está uma maravilha só por causa desses indicadores, mas está sim melhor do que era. Acho que é nisso que a gente deve focar. Então, aconselho a conferirem estes dados (foi o que eu fiz, apesar de não duvidar) e se você também prefere morar no Iraque pós-Bush do que ver o Serra eleito, faiz-favô: espalha este folheto!

sábado, 23 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


O coronel em seu lado humano e desarmado

Fui assistir Tropa de Elite 2 pensando: eu vou porque o Capitão Nascimento (Wagner Moura) é o cara - ops, agora é coronel. Logo no início do filme, percebe-se que nem tanto, mestre: o conflito da trama começa com uma cagada típica da polícia brasileira, não só da carioca: o dedinho que coça no gatilho na hora errada, vide casos como do sequestro da Eloá e do ônibus 174. A diferença é que nos casos reais morreram as vítimas, na ficção o Mathias (André Ramiro) acerta o bandido. Bom de pontaria, mas mesmo assim "puta dum mané, parceiro!" Simplesmente porque seu superior - o coronel - tinha mandado não atirar, ficar só de espreita. O que o zé-ruela fez? O total oposto, invadiu e atirou pra matar. Mesmo assim, o coronel dá cobertura para o amigo e toma a responsabilidade para ele, talvez porque no fundo era isso mesmo que ele queria fazer: mandar matar!

Esse tiro bem dado num traficante fudidaço em Bangu I muda a vida do Nascimento. "Os intelectuaizinhos de esquerda" e a imprensa - leia-se Diogo Fraga (Irandhir Santos), atual marido da ex-mulher do coronel - caem matando em cima do BOPE e por pouco Mathias e Nascimento não se fodem de verde e amarelo sendo expulsos da corporação. Mas a opinião pública pressiona e a Secretaria de Segurança Pública promove o coronel para o Setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Púlica e o Mathias se fode sozinho: é expulso do BOPE, voltando para um batalhão comum e o coronel não consegue livrar a cara do parceiro. Esse é o ponto de partida da trama.



José Padilha diz que não gosta de fazer "filme intelectual" e no caso do Tropa de Elite 2 ele acerta no ponto. É um puta filmaço - a pegada pop é tão forte que fiquei imaginando que o sangue que escorria da tela do cinema tinha gosto de groselha Milani. Impagável a cena dos policiais no "crematório" - a terra do presunto perdido - com um crânio incinerado na mão, citando sarcasticamente o famoso monólogo de Hamlet e o outro policial responde: "Ê, parceiro, que mal gosto ficar citando a Bíblia aqui!" "Ê, mas como você é burro, isso é coisa da novela!"




Tropa de Elite 2 é de fato uma pérola pop, da qual Tarantino se orgulharia. Duas horas e quarenta minutos que não se desgruda os olhos da tela. Esteticamente falando é perfeito, mas politicamente falando é um desastre. Como levantar a discussão de um tema tão sério - e complexo - sendo superficial? Sim, porque o raciocínio do coronel é absolutamente simplista, como se tudo fosse um western de mocinhos e bandidos. Na verdade o fim do filme marca a mudança de pensamento do nosso heroi controverso, ele percebe um pouco tarde que o buraco é mais embaixo. A impressão que se tem é que esta película não poupa ninguém - políticos, a polícia, a sociedade, a direita, a esquerda, a mídia - mas não se livra totalmente dos clichês, como por exemplo o dos direitos humanos e a esquerda - como se direitos humanos fosse coisa só para defender bandidos sanguinários e como se a esquerda tivesse sido sempre "paz e amor". No escritório do Fraga, o intelectual de esquerda e pacifista do filme, mostra ao fundo um cartaz do Marighela e em outro momento um cartaz com o logo do MST, movimento que defende a luta armada. Como é que vai ser guerrilheiro sem pegar em armas e matar, hein, parceiro? Sem contar que o filme ainda mostra a tortura policial como método de investigação. A única vantagem é que para a grande massa a discussão do filme mostra porque NUNCA vai haver legalização das drogas aqui, simplesmente porque o tráfico beneficia o "sistema", pagando iates e caviar para muita gente caishca grossa, como diria o coronel.


O filme de fato é muito bom, mas me fez mudar de ideia. Não acho mais que o coronel Nascimento seja o cara. O Wagner Moura sim é que o é. Apesar do personagem em si ser bastante fascinante, cheio de nuances e controversões, ele não teria metade do carisma que tem se não fosse a competência do ator que o interpreta.


Tropa de Elite 2 empolga, mas não dá nenhuma vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Dá vontade de fazer cinema.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cumpleaños

No ano em que nasci já existia TV a cores.
Hoje, isto não faz a menor diferença.
O que era techinicolor agora é high definition
Menos as minhas vistas, que se turvam quando estão cansadas.

O corpo não perdoa mais os abusos,
Não obstante estas olheiras de urso panda,
Delatoras de cada noite mal dormida que vivi.

Hoje, me diverte o antigo esforço em deixar a meninice para trás.
Já não sou mais garota que não parava quieta na cadeira da cabelereira e por isso estava sempre com a franja torta.

Para que tanto esforço em crescer?
De fato pouca coisa mudou, ou vai mudar.
Exceto a oração matinal, acompanhada pelo creme anti-idade:
Deus, não permita que eu vire um buldogue.
Mesmo assim, decidi que a idade me fará bem.

O único contratempo é esta luta inglória
Pela revogação da Lei da Gravidade.
Meus peitos que o digam.

Moderno é envelhecer.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Se não pode convencê-los, confunda-os


Parece ser esta a tática do PIG para tentar emplacar José Serra no segundo turno.

Não conseguindo convencer o povo pela sua figura, o ex-patrão joga óleo na pista. Chega a ser engraçada toda a sorte de pseudo-argumentos que andam espalhando por aí para tirar votos da candidata do governo. Recebo vários e-mails de meus amigos serristas, todos baseados em puro terrorismo.

1) Dilma Roussef seria lésbica - e daí?

2) Dilma é terrorista - este "argumento" só convence mesmo quem não conhece a história recente do nosso país. A luta armada ocorreu no Brasil como uma das tentativas de combater a ditadura militar e deu bastante trabalho para os milicos. Que tal conhecer as figuras de Marighela e Lamarca, por exemplo?

3) Dilma é a favor do aborto - este é para os setores religiosos e conservadores da sociedade. Como votar em uma ex-comunista que quer matar criancinhas? É perfeitamente possível ter uma religião e ser racional - a fé não precisa ser burra. Mas não é o que acontece com o setores ultraconservadores de várias religiões que pregam uma fé que além de burra, é burrificante. O Estado é laico e tem o dever de zelar pela vida de todas as pessoas, inclusive de quem faz um aborto. Este assunto deve ser entendido como um assunto de saúde pública pelos governos, não como um assunto religioso. Sou católica, não sei se faria um aborto, mas defendo que ele deve ser legalizado. Só se cria políticas públicas eficientes com dados consistentes sobre o assunto, a legalização seria um meio para isso. A Dilma poderia deixar os setores reacionários e fanáticos das igrejas rosnarem o quanto quisessem sobre isso, exceto pelo fato que aí está uma fatia considerável dos votos que podem dar a ela vitória ou derrota. A Adital está com vários artigos sobre este assunto.  E se fosse assim, também era para José Serra perder votos. Aqui Dilma lembra seu adversário que ele regulamentou o aborto no SUS quando foi Ministro da Saúde:



Há uma série de coisas que podem ser ditas contra o atual governo - se eu estivesse totalmente contente com ele, não teria votado no Plínio. No entanto, nenhuma destas verdades é dita pela oposição oficial, por um motivo muito simples: a oposição também rouba e leva vantagem. Serra desconversa quando é lembrado que seu vice seria o Arruda, por exemplo.

Logo, não sou dilmista, sou anti-Serra. Votar na Dilma para mim seria a menos pior das opções, porque ainda acho lamentável anular um voto, se lembrarmos que lutou-se anos a fio para que tivéssemos este direito. Mas gostaria de lembrar às pessoas que o governo FHC foi desastroso para o país, tanto que foi indiscutivelmente rechaçado por duas eleições seguidas.

Por que os governantes apreciem um povo calado, o povo fala! (Antígona)

Vamos ver o que as urnas vão dizer no dia 31.

sábado, 9 de outubro de 2010

Corpitcho bacana 2.0

Ainda não está totalmente bacana, é verdade, mas está infinitamente melhor do que era há menos de 6 meses atrás. Todos andam me perguntando o que eu fiz, já que a diferença é espantosa até pra mim: 12 kg a menos em 4 meses, sem remédios, dietas malucas ou malhação incessante. Então eu vou contar, e se servir para animar alguém que queira emagrecer - ou seja, quase todo mundo - já terei feito a minha boa ação do dia.

Foram mais de 10 anos de sobrepeso. Na época em que eu nadava, pesava 52kg e devorava um cachorro-quente a cada vez que saía do Baby Barioni. O ponteiro da balança não estava nem aí, nem se mexia.

Esta época também era anterior à minha vida de "jazz e bebida": sem noitadas, cigarro ou álcool. Parei de  nadar com 15 anos e começou minha vida junkie. Claro que engordei, só melhorou um pouquinho quando voltei a nadar. Mas parei de novo para estudar e fodeu!

Eu cheguei ao fundo do poço, quase 76 Kg - e eu sou um salva-vidas de aquário de 1,59m. Foi nessa que me matriculei na academia e somada à cirurgia de extração dois dentes do siso, eu emagreci uns 8 kg e estacionei.

Larguei, troquei de academia e nada. Claro, a alimentação estava exatamente igual à de antes, jamais faria efeito. Sem contar que não aprendi a gostar de academia nem com reza brava. É chato, odeio música que toca na academia, odeio roupa de academia e nem tem como olhar para homem bonito, porque o "tipo atlético" me dá agonia. Será que ninguém conta para os homens-coxinha que passam a vida inteira malhando só membros superiores e tórax que é HORRÍVEL aqueles braços enormes, se descendo o olhar a gente encontra um par de canelas de sabiá? É feio, desproporcional, deselegante. Regatinha mamãe-sou-forte também é péssimo, só ficava bem no Freddy Mercury. Resultado: minha incursão pelo mundo fitness foi um fracasso retumbante. Estava até engordando outra vez.

Mas a Betona salvou minha pátria. Ficou sabendo de um grupo de reeducação alimentar de uma paróquia próxima à nossa e me avisou. É um grupo pequeno e fechado, quase que somente as senhoras da igreja participam, com bons resultados. A Luciene, amiga da minha mãe, que me iniciou no grupo. Parece até maçonaria o negócio.

O grupo funciona de maneira bem similar ao Vigilantes do Peso. Semanalmente, o grupo se pesa, anota-se o resultado, recebe uma sugestão de cardápio e um incentivo  - ou puxão de orelha, dependendo da situação. Tudo isso até você chegar no seu objetivo, ninguém diz a você onde tem que chegar. A gente é quem decide e vai atrás. Algo incrivelmente simples e eficiente.

Obviamente, nada fácil também. No começo, é terrível comer metade - ou menos - do que se estava acostumada a comer, parece que o estômago vai passar para o outro lado, mas logo vem a outra refeição e é possível segurar a bronca. E assim foi: um quilinho ou um pouco menos, por semana, desde junho.

Faço agora um esforço para comer SEMPRE vegetais, frutas e legumes, o que nunca foi o meu forte. Em tese, nada é proibido. Ainda como pizza, doces e chocolates, mas na quantidade adequada. (Aliás, foi o que me atraiu para este grupo foi o fato de quem nenhum grupo alimentar é definitivamente cortado.) Ainda tenho umas pirações alimentares de vez em quando, mas aprendi a me controlar. Aliás, percalços fazem parte do caminho. Ana, a nossa grã-mestra, quando estava a um único quilo de seu objetivo, teve uma recaída que a fez recuperar todo o peso que tinha perdido. Lição número 1: excesso de peso não se perde, se elimina. Sumariamente.

Faz quase um mês que não apareço no grupo. Estou na fase da manutenção, depois de alcançar meu objetivo inicial. Só que não me dei por vitoriosa, até porque o emagrecimento me causou alguns probleminhas. O primeiro é que estou mais caída que a Dercy antes da primeira plástica, o que significa que vou ter que tomar vergonha na cara e voltar a fazer atividade física, uma que eu realmente goste. O segundo problema - mais prazeroso em resolver - é a necessidade de renovar meu guarda-roupa a toque de caixa, mas eu sou a Leide Keite ao contrário - tenho glamour, o que não tenho é grana. Mas já rezei para Nossa Senhora do Limite para meu cartão de crédito não estourar.

Estou feliz por tudo isso. Não só pela forma física, mas por ter percebido algo em que via de regra não acreditamos - a gente pode mais do que imagina. E olha que nem li auto-ajuda nestes últimos tempos.

Para quem se animou com este textículo magrinho, um conselho: é bom comprar uma balança, porque eu vou voltar no assunto. E força na peruca, a temporada de orgias alimentares de fim de ano está chegando!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mary and Max

Ou A Vida é um soco no estômago



A fofa Mary Daisy Dinkle


Esta pequena maravilha caiu nas minhas mãos no último domingo. O soco na boca do estômago foi tão forte que nem vou me alongar: digo apenas que este desenho desanimado foi uma das coisas mais lindas, poéticas e comoventes que vi em toda minha vida. Esqueça os clichês e boa sorte.



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Netinho agora, só o da Dilma


Chupa, Netinho!
Há mais coisas entre o eleitor e a urna que possa provar sua vã filosofia, Datafolha (ou Ibope, que seja). Dilma não levou de primeira. O golpe do PIG deu certo.

Se é para palpitar, acho que Serra não leva essa. O segundo turno foi orquestrado para que o candidato do PSDB não saísse totalmente desmoralizado deste pleito. Nem o Lula levou o primeiro turno nas duas eleições que ganhou. Seria a morte do tucano e sim, eles estão em extinção. O PSDB é totalmente quebrado por dentro.

Se o Datafalha não dá uma dentro, o Educação Política acertou no palpite Marina.  Ela bagunçou o coreto e agora, mais que Cléo Pires, é "a mulher mais desejada do Brasil", como vi algum gaiato comentar no Tuiter. O discursinho em cima do muro da candidata do PV é perfeito agora para ela e para o PIG, que hoje nela jogou um confetinho básico, em razão da "votação expressiva" que ela obteve. Uhum, sei.

O clima é totalmente pessimista, afinal eu vou aguentar mais quatro anos de PSDB como meu patrão. Ouvi no rádio logo de manhã Seu Alckmin falar. Quando ele é apertado pelo jornalista da Band a respeito do fracasso retumbante da educação paulista, em quem ele bota a culpa? No professor, claro. Só podia ser o Chaves mesmo. Ele disse algo mais ou menos como: "os alunos são reprovados apenas por faltas. Se ele vai à escola e não aprende, a culpa é de quem? Existe reforço para alunos que não aprendem. "

Ele se esqueceu de dizer, no entanto, que a escola não tem nenhuma garantia legal para fazer os alunos frequentarem o reforço. Conselho Tutelar? Conta outra, irmão. Desafio a me provarem que estou enganada, adoraria estar. Tanto que há pouco, o atual governo lançou a "incrível" ideia de pagar alunos para frequentar o reforço. Ideia que de tão ruim não recebeu apoio nem da Revista Nova Escola, notório aparelho do PIG para aplaudir toda porcaria que o PSDB fizer na educação por aqui, agora e sempre, amém.

Essa é a pior notícia para mim e para todos os educadores da Rede Estadual que não estão anestesiados pela ideia de ganhar um bônus de merda em abril próximo. Mas sabe que estas eleições tiveram algumas boas notícias?

Todos só conseguem ver que o Tiririca ganhou um milhão de votos, mas ao menos sua candidatura foi colocada em xeque, um pouco tarde, é fato. Em contrapartida, várias velhas raposas da política estão de fora como Genoino, Jereissati e Arthur Virgílio. A bancada do PFL (porque muda o nome, mas as moscas são as mesmas) DESPENCOU em relação aos pleitos anteriores. É só ver a composição do Congresso.

E o melhor de tudo: Netinho, só se for o da Dilma. Desacreditei quando vi o partido ao qual já fui filiada tentando colocar no Senado um "camarada" que andou por aí dando uns boxes na mulher. É como diz o Vizinho das Galáxias: "Para os homens, o Netinho não tem nenhum projeto, mas para mulher, ele tem uma porrada."

Vizinho matou a pau. Depois dessa, vou dormir, Forrest. Um beijo pro meu pai, pra minha mãe e pra você.


sábado, 2 de outubro de 2010

Buraco da Memória

Para o Rafa, apesar de ele não gostar de Beatles

Lá estava ela outra vez, cutucando o que restou do esmalte. “Longo o caminho para casa neste ônibus...” E colocou o Álbum Branco para rodar no celular.

Voltou a pensar nas unhas. Tinha passado a noite anterior esfregando os azulejos da cozinha e acabara com elas. Acabou também com os ombros, ressuscitando uma bursite que se acreditava extinta. A dor maior, porém, não era esta.

Estava matando lembranças depois de ele ter ido embora de vez. Os azulejos eram as mais notórias. Impossível de se meter tudo numa caixa e esquecer. Mais pichados que trem da Central do Brasil, estavam cheio de mensagens e desenhos dos amigos. O local de expressão artística da casa por excelência, onde todos fumavam, conversavam, cozinhavam, bebiam. O ateliê e a vernissage ao mesmo tempo.

Agora nem um, nem outro: branco parede de hospital. Branco da caixa de Omo inteira que se gastou para fazer o serviço da polícia do esquecimento.

Ponderou antes, pensou em tirar uma foto antes de apagar. Desistiu: uma foto porca de celular só para minimizar a culpa seria ridículo. "Dignidade já!” Ou deixa-se como está, ou apaga-se tudo. Algumas lembranças vão permanecer por algum tempo. Depois começarão a sumir, escorregando pelo Buraco da Memória, lentamente.

Foi dormir sem pensar em nada, tinha até se esquecido que no dia seguinte estaria sem o carro. Gostou da ideia. "Chacoalhar no ônibus é um exercício filosófico". Poderia ler, ouvir música no fone, cochilar. Fez tudo isso até perder-se nos seus pensamentos a respeito da noite passada. Apagar indícios do passado também o elimina? Memória é mesmo subversão?

Todas as perguntas cessaram quando começaram os primeiros acordes de Martha My Dear. Chorou só uma lágrima, daquelas que caem rápido. Não a surpreendeu o seu peso. Carregava os azulejos, as lembranças, o Álbum Branco, o ônibus, tudo.

O Amor virou impessoa... Silly girl.