Ensaiei este início de textículo inúmeras vezes e para arrematar, ensaiei mais uma. Existem coisas sobre as quais penso em falar e não falo, outras, simplesmente me dão vontade de falar. E é a vontade quem manda. E o fato é que nestes últimos dias não tive a menor vontade de escrever nada, por mais que existam coisas que merecem e que precisam ser ditas.
Paralisei não só porque os dedos congelaram de frio, mas também por ter um nó gigante na garganta, que não consigo cuspir com um grito bem sonoro, daqueles de ensurdecer o mundo.
Para não deixar minha seleta audiência mouca, eis que vem um grito em fatias.
Fatia nº1 - tenho lido jornal ultimamente: o Estado (Novo) e a Folha (Ditabranda) - de graça porque não dou um real em nenhum dos dois - e tanto um quanto o outro desataram a falar de Educação e do professorado. Não sei o que é pior: se é quando criticam ou quando resolvem defender. As duas vertentes põem a classe para baixo do cu da cobra do mesmo jeito. Mas que merda: a Educação não precisa ser um ato heroico ou fruto de idealismo puro. É uma carreira como qualquer outra, precisa ser atraente para trazer para si gente talentosa e competente, não idealista. E para deixar bem claro: atraente não só financeiramente, porque engana-se redondamente quem pensa que é só grana que move uma pessoa a escolher e permanecer numa carreira. É satisfação pessoal também, até mais que dinheiro, para alguns. E há quem chame isso de idealismo. Uma pinoia. Idealismo é coisa pra gente burra¹.
Fatia nº2: O penúltimo post do blog do Skylab recomenda um DVD do Luiz Tatit, fodíssimo compositor e estudioso da canção, que me faz pensar nas minhas, se são canções mesmo ou um monte de fórmulas repetidas ouvidas no rádio à exaustão desde os tempos da terra média. Skylab, então, cita um outro post seu, mais antigo, sobre a "nova safra" brasileira de cantoras, da Marisa Monte em diante. Nunca tinha entendido porque eu tinha enjoado da tal "nova MPB", que no início dessa década foi uma opção para mim àquele rock farofa chinfrim que tocava na rádio nessa época; entendi quando li esse texto. Tudo muito asséptico, tudo muito certinho, o que torna tudo irremediavelmente um porre. Pena que a discussão do texto descambou em quem comeria qual cantora dessa geração - papo que de fato não me interessa - por causa da piadinha final do texto: "Você comeria a Marisa Monte?"
Este texto me abriu um clarão na mente e exagero até que pode mudar a minha vida: digamos que agora sei em que cavalo apostar. Se bem que Skylab me deu uma esperança como intérprete (não-asséptica e cheia de erros, porém original) com uma das mãos, mas estrangulou a pobre com a outra, colocando todo mundo no mesmo balaio:
"qualquer cantora, da nova geração, não mencionada e qualquer outra que venha ainda a surgir, por favor, se sinta incluída – não há escapatória."
Fodeu! Desisto de ser diva. Prefiro continuar sendo vocalista de banda de rock de garagem em franca ascensão mesmo!
Fatia nº 3: Os TM estão sendo frequentados e comentados por gente nunca dantes vista, o que é realmente muito bom, mas me sinto meio como Wanderson, saca? "Não estou preparada para a repercussão: repórteres, não insistam por enquanto!" Um moço educado veio elogiar o sabor acentuado dos textículos que andou provando e citou que o trabalho do Skylab "vai além do grotesco e escatológico" e eu, como bufão e cachorro sarnento que sou, rosnei pro pobre, afinal a estética do grotesco é complexa, a ponto de ter que "ir além" dela. "Os bufões estão a nossa volta: inspirem-se neles", já postulava Titio Jorge Didaco. Foi mal aí, galera, mas é que o tal do "humor ácido" não é puramente performático, é a verdade mais profunda do bufão que vos fala.
Notas 'inútieis'
1- Idealismo vazio é coisa de gente burra sim, porque é exatamente aquele que não move uma palha do lugar. Eu ainda mantenho uma ponta de idealismo sim, mas com uma boa dose de cinismo.
2 - Ilustrar este textículo com O Grito, de Edvard Münch é um lugar-comum quase imperdoável, mas quem resiste à poesia dessa tela? Nem Homer Simpson se safou! Créditos da imagem: dimensaoestetica.blogspot.com/2008/01/o-grito...
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