Falta agora pouco menos de meia hora para a Virada Cultural acabar, e já rendeu bons frutos, como por exemplo, a minha vontade de matar as antas organizadoras do evento (o transporte estava uma bosta completa, mais do que nos outros dias do ano), tanto que já estou aqui texticulando sobre.
A gama de opções era tanta, mas tanta, mas tanta... que acabei indo em um evento só e perto de casa, o que não me impediu de dar uma volta pelo centro da cidade para ver o que dava pra aproveitar. Como estava tudo muito lotado, fui ao CCJ ver o Zé do Caixão e o Rogério Skylab, este último não conhecia até então, e garanto que já não vivo sem ele, hahaha.
Zé do Caixão não decepcionou, mas é muito difícil ser mito, então a surpresa da noite foi o Skylab. Sua obra é marcada pelo grotesco e pelo bizarro, não só exatamente pelo horror. Rola também uma sacanagem e um gosto pela escatologia também. Como o terror me diverte, acho que nunca dei tanta risada, perto dos muros do cemitério da Cachoeirinha, nem quando eu e a velha guarda íamos para lá tomar uns porres à meia-noite. Hoje, fui caçar informações do meu novo ídolo e sex simbol (sua reboladinha só não é mais gostosa que a do Ney) no Oráculo, obviamente.
No seu blog, descobri que ele abordou um tema que já há algum tempo me instigava, mas ainda não tinha compartilhado com a minha Seleta Audiência. Quem já leu Dom Casmurro, que não é meu caso, sabe que Bentinho deixou um soneto que só tem o primeiro e o último verso, deixando o miolo para ser preenchido por um leitor desocupado. Eu fiz o tal soneto, como um treino, já que nunca consegui obedecer métrica, número de versos, estrofes, e também pelo fato de nunca ter gostado dessa poesia romântica, fofinha. E vi que Skylab também o fez, totalmente ao seu estilo pós-vanguardista. Vi que isso era um sinal dos deuses para veicular o tal soneto. Primeiro vai a minha versão:
Soneto que Bentinho não fez
Ó, flor do céu! Ó, flor cândida e pura!
Ao ver-te, esqueço-me das mazelas
De não ter o teu amor, nem as estrelas
Do céu, que nos permite somente vê-las,
Como quem deseja os amores de uma donzela
E desvendar os mistérios da sua candura,
Impossível de penetrar na realidade mais dura.
O choque entre verdade e ilusão escancara
A fragilidade da pétala arrancada
Da flor do meu sonho, que a vida me roubara.
Por vencido não me dou, que a história inda não é acabada,
Pois o desejo de fato nunca falha.
Perde-se a vida, mas ganha-se a batalha!
E o do Rogério:
Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura
às margens de um córrego
cheio de esgoto.
O adubo que te alimenta,
te fez crescer.
Flor do brejo,
onde crianças são desovadas:
é aqui teu habitat.
Floresces em meio às fezes,
epidemias e corpos mutilados.
Tua haste delicada, tuas pétalas,
foram forjadas no inferno.
Será assim teu epitáfio:
Perde-se a vida, ganha-se a batalha.
E isso é só a ponta do iceberg... Até que estou bem, para quem detestava blogs com poesia. Se eu soubesse que participariam, até relançaria o desafio machadiano à minha seleta audiência, mas acho que esse Machado Skylábrico matou a pau, quer dizer, a machadadas, quaisquer tentativas que se façam de escrever este soneto novamente.
Beijo do Bozo!
Textículo jorrado em 03/05, 18h13.
2 comentários:
Bem vinda ao mundo de Skylab rsrs
E a impressão que eu era o único Bozo que não conhecia Rogério Skylab? rssrsrsrs
Postar um comentário