A semana passada mereceria ser limada do calendário, caso isto fosse possível. Pudera, não teve a menor graça, mesmo com este Festival de Bobagens e Piadas Velhas que eu jorrei por aqui. Alilás, este Festival de Bobagens foi uma verdadeira vingança, uma retaliação a tanta merda concentrada. Ridendo Castigat Mores¹. E viva Gil Vicente.
Hoje, porém, o Textículo não será meu e sim do Amor da minha Vida, o Drummond. Só para que vocês saibam, meus leitores de Textículos, de onde vem meu slogan para posts toscos. O Chacrinha já dizia que nada se cria, tudo se copia, neste mundo de Piadas Velhas aos montes. Só que pego Piada Velha da maior qualidade, dá licença?
"Explicação²
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem a sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo esta cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre, sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa comercial de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era.
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem a sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo esta cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre, sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa comercial de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era.
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com esta tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.
e eu gosto bem de ter nascido com esta tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.
Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que sou senão poeta?"
Por hoje é só, pessoal. Só que hoje, essa cambalhota é para todos!
1 - "Rindo se castiga os costumes". Altamente recomendável A Farsa de Inês Pereira. "Mais vale asno que me carregue que cavalo que me derrube!"
2 - A-há! Este aqui o Oráculo não achou e então digitei letrinha por letrinha. Agora ele tem. Palmas pros Textículos! (ANDRADE, Carlos Drummond. Reunião: 10 livros de poesia. 7ª Ed., Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1976, p. 27 - Alguma Poesia)
Textículo jorrado por Flaming00 em 10/03/2008
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