quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O dia em que fui trabalhar na Bienal do Livro


De volta aos boletins da minha dura vida na Ilha de Caras que não interessam a ninguém, mas que insisto em fazer. A última vez que fiz isso foi quando relatei a minha emocionante estréia no mundo dos testes para atriz-teza, semi-cega, sozinha e na chuva. Nem pude ver a cara de desgosto do Hugo Possolo com meu teste, cheio de buracos de esquecimento no texto, rsrsrs.

Hoje fui à Bienal do Livro, fugindo descaradamente do instinto defenestrador de alunos que me atacou essa semana e da rouquidão -estou prestes a ficar afônica e estou sim desesperaaaaaada! Como é que vou gravar a voz da demo da nossa banda sem nome? Aulas são mero acessório nesta história - e antes dei uma passadinha no médico pra ver se dou jeito nesta tosse de cachorro. Pausa para esclarecimento - o posto não dá atestado médico, ou seja acesso negado para fugida estratégica do trabalho por vias malandras tradicionais que todo vagabundo que se preza conhece.

Na real, entrei pela porta da frente da Bienal. Porque sexta passada eu descobri que eu poderia ir à Bienal hoje, assinando ponto lá e ainda ganhando o dia de trabalho, bastava levar o holerite - atestado de pobreza e insanidade do magistério. (E nenhuma boa alma para divulgar isso na escola. Por que será??) Como eu não consegui confirmar esta notícia, eu passei no médico antes.

E essa visita ao médico merece uma parada especial, porque eu sou o Bozo de Calça Amarela. Reclamei de tosse seca por tempo prolongado e ganhei um pedido de exame de tuberculose. É, isso mesmo! Sou uma tísica em potencial. Sendo que não tive febre e tô 'gorda lisa', como diz a minha mãe. Sendo que tenho rinite e sofro com tempo seco, desde que me entendo por gente. Sendo que contei que sou professora em turno duplo e faço esforço vocal constantemente. Ainda assim, tive que cuspir no potinho - eca! (Ops, na verdade é teste de escarro, mas a minha tosse é seca. Não tem nem vapor d´água pra escarrar) e amanhã tenho que levar de novo meu cuspe para análise. Cuspe em jejum, coisa duplamente nojenta.

Livre da sina dos cuspes, eu corri pra Bienal. Com medo, afinal eu sou formiguinha, operária-padrão, com marmita e livro-ponto. Não é coisa à-toa fugir do trabalho na cara larga. Mas como eu descobri que era verdade que eu ganharia o dia na Bienal, se fosse hoje, eu não fugi do trabalho, fui trabalhar na Bienal. Com credencial e tudo, porque apresentei meu atestado de pobreza e insanidade e peguei credencial. Na sequência, fui falar com os representantes dos 'patrão' e fui muito bem recebida, diga-se de passagem. (Nota brechtiana¹: por que será que pobre adora essas pequenas provas de status, né? A 'crasse' média também gosta, então tá tudo em casa!)

Fui zanzando por lá, comprei alguns livrinhos e assisti a um bate-papo com o João Batista de Andrade, cineasta brasileiro pra lá de consagrado e diretor de O Homem que Virou Suco, filme genial, na minha modesta opinião. Comprei o livro-roteiro do filme e peguei autógrafo do cara, super boa gente. Comentei da passagem deste filme na minha vida, e como ele me influencia e tal.

Na verdade eu tinha me esquecido que ele iria participar da Bienal, fui atraída para o local da palestra por "forças estranhas". Meu destino foi desviado por um daqueles chatos que vendem livro de poesia na porta do MASP, que me assaltou com meu aval. Como eu fiquei dura, tive que sacar dinheiro para comer. Do lado do caixa eletrônico tinha uma lanchonete e o estande onde o João Batista estava.

Gosto de acreditar que a gente segue o caminho certo sem roteiro, desde que a gente saiba o que quer. Isso até me consola, já que sou uma perdida de carteirinha. É o triunfo da intuição hipertrofiada feminina que me persegue, e às vezes até me contraria. Tudo isso me fez sair do Anhembi dando pulos secretos², tal e qual uma bicha legítima presa num corpo feminino que sou³.

Saldo da epopéia: ganhei duplamente o dia, porque fiz tudo isso trabalhando!

E é para mim mesma esta cambalhota!
Notas inúteis:

1 - Princípio do Distanciamento, segundo Brecht. Se vira e vai pesquisar, estou com preguiça de explicar.

2 - Bozoca sempre sai pulando de felicidade quando consegue algo que quer muito, e eu também faço isso. Sua cunhada diz que isso é bichice pura, mas a gente pode, porque a gente É bicha, e das loucas.

3 - Tal qual Madonna e Bozoca, eu sou um viado (com 'i' mesmo) que nasceu num corpo de mulher. E tenho dito.

5 comentários:

Unknown disse...

Filhota, DO CARALHO!!!

Rê Bonifácio disse...

A Bozolina de calças vermelhas aki tbm foi à Bienal, mas como naum sou chique como vc e tenho dois empregos no estado e nenhum na prefeitura, tive que ir depois do expediente e naum encontrei ninguém legal assim.... droga!

Frida f5 disse...

...Mas não pegou nem a credencial?

Luiz disse...

Opa, estavam em débido com as leituras dos textículos. Só uma palavrinha FODA.
A sua nota número um é genial heheheh.
Beijos

Frida f5 disse...

Ah, cara, quando percebi que o negócio ia ficar mais complicado se eu explicasse...Desencanei!