quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Três de Espadas


Três sabres afiados
Cravados no peito sem anestesia.


O lombo já não sangra mais, a carne está seca.
Correndo pela arena,
Já não tem mais graça meter os chifres no toureador.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sonho de um sonho 2.0

Há tempos não falo diretamente com vocês que me leem, eu sei. Ando preferindo o discurso indireto, não quero mais falar nada. Deixo que a dor fale por si mesma, deixo que ela cante, grite, role no chão. Não dá para racionalizar este discurso, se isto for mesmo um discurso. Eu queria mesmo era dormir e já acordar em outro ano, outra vida, e que o passou antes fosse tido como uma alucinação, o sonho de um sonho ruim.

Aliás, para que servem os sonhos? Diz o Segismundo que os sonhos, sonhos são. Não necessitam de porquê. Quando a realidade é muito dura e não se consegue olhar diretamente para ela, olhe para seus sonhos. Foram eles que me salvaram de um tombo maior. O que me dói é justamente é esse contato cru com a realidade. Lucidez pura enlouquece. Bem fazia Raulito em misturar a dele com a sua maluquez. 

Falando em sonhos, vou compartilhar com vocês algo que parecem estar procurando.


O segundo texto mais acessado deste cafundó é Sonho de um sonho, mas o texto que ele apresenta é feito de partes do poema original. Era a minha versão deste poema, ou melhor, da Susi, que anda mais viva do que nunca nestes últimos tempos. 

E olha que engraçado, ele agora me retrata inteiro, que acordei que estava sonhando, que queria sonhar mais, que queria que esta realidade bizarra fosse de fato o sonho. Certas coisas nos esperam a vida toda. O Drummond, este livro, este poema, tudo. 

De: ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião: 10 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
(Está no livro Claro Enigma). 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Pedro Rocha – A manteiga derretida mais dura na queda do mundo

Eu era como Pedro, o apóstolo xará: primitivo, turrão, porém havia em mim um coração enorme. Só que não encontrei nenhum Cristo para seguir, então, segui em frente. Troquei o tênis pelo mocassim, a mochila pela pasta e me tornei corretor. De imóveis. Vendi tudo que via pela frente: quitinete, mansão, casa na praia. Ganhei uma grana razoável para estudar e me tornar o mesmo executivo detestável que era o meu patrão. Contudo, eu era jovem ainda, não estava tão preocupado assim com meu futuro. Esse papo de faculdade era mais pra dourar a pílula e manter o meu emprego.

Típico machista idiota, de tanto esquecer meu próprio coração, esqueci que as pessoas têm sentimentos. Mulheres, principalmente. Preconceito bobo esse, porque homens também sentem, mas o fato é que antes do que me aconteceu eu sinceramente acreditava que homens não choravam.

Como num conto dos irmãos Grimm, me apaixonei por uma princesa e, de tanto pisar no seu nobre coração, ela tornou-se sapo ao invés de me transformar em um. Do contrário, passei a ter peitos e sangrar mês a mês e mais do que corpo, me deu mente e coração de mulher. Fui amaldiçoado. Tornei-me objeto do meu próprio desejo e o cartão de crédito não resolvia esse problema.

Entendendo meu objeto de desejo é que começou a penosa volta ao verdadeiro Pedro Rocha, a manteiga derretida mais dura na queda do mundo, de tênis e mochilão nas costas, durango e insatisfeito.

Essa princesa me fodeu. Mas ela jura que foi pro meu bem.

Janeiro de 2005


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sexo

Cada dia mais admiro a quem resiste à passagem do tempo. Não como um fóssil ou peça de museu, eternamente saudoso, eternamente nostálgico ou celebrando canções do passado, e sim como um produto da contemporaneidade. Também tenho desconfiado bastante dos mitos póstumos. Morrer aos 27 e ficar eternamente jovem é fácil. Quero ver é ficar velho, ainda tendo lenha para queimar. A velhice não é um lugar para medrosos. 

Há algum tempo, estou devendo um textículo para o Tremendão. Ele tem me perseguido, e tenho gostado disso! Desde quando assisti a um show dele no SESC Belenzinho com meu pais em maio, ocasião em que ele não se furtou de deixar o público contente com clássicos como Festa de Arromba e Fama de Mau, mas também mostrou que seu caldo não é comida requentada de geladeira, tocando o então álbum mais recente, Rock n´Roll. Nesta feita, ele aprontou uma que foi sensacional. Lá pelo final do show, tocando Cover, eis que aparece para uma participação especial o sósia do seu amigo de fé-irmão-camarada, Robson Carlos, distribuindo rosas e tudo! Sem-querer-querendo, acabou mostrando de uma maneira bem sapeca que não está à sombra do seu amigo-mito (que faz um show muito bom, mas só com clássicos) e que fica muito à vontade como parceiro do Rei! Tremendão sabe do próprio molho. Há que ser muito seguro de si para tamanho bom humor! 


Recentemente, ele lançou outro álbum só de inéditas, Sexo. Que fôlego, hein, Tremendão! E desde que o tenho escutado fico procurando adjetivos para ele, o que já se mostrou inútil. Falar do ato em si sem rodeios, como em Kamasutra, sem cair na vulgaridade logo na primeira faixa, já é genial. E como se isso fosse pouco, no decorrer do álbum as canções adquirem outras texturas desta dança insana que move a humanidade desde que sacanagem existe no mundo. Roupa Suja, não dá nem pra explicar. Tento, mas não consigo. Se tivesse existido antes, teria me poupado um bom tempo de terapia. "Vai ver se eu tô na China, não volte nunca mais!" teria resolvido tudo muito mais rápido. 


Sem contar que nada como o tempo para refinar o nosso gosto. O bad boy metido a besta que já cantou "Ir ao cinema é uma coisa normal, mas eu tenho que manter a minha fama de mau" ou "homem tem que ser durão", agora canta "Só pra não levar porrada/ Pra não pecar por distinção/Confundi elas por elas/Santas ou não". Para os inconvenientes do passar do tempo, existe uma pilulazinha bem acessível no mercado, agora para babaquice, meu bem... Não tem remedinho azul não! Só tempo e experiência, e olhe lá! Só adianta se bem aproveitada. Ele mesmo diz isso aqui

Eu, que geralmente assino embaixo quase todas as coisas loucas e sensatas que o Skylab escreve, tenho que discordar redondamente dele no que ele disse sobre Erasmo e Roberto*:

"Bem, como vocês todos sabem, o rei está muito bem conservado. Sua voz permanece cristalina, apesar da idade. É super exigente, não erra, e teve o bom gosto de escolher suas melhores músicas para o Maracanã. Ao contrário de Erasmo. O seu amigo de fé camarada está velho, careca, sem voz e parece doente. Quando o rei olhou seu amigo é como se tivesse deparado diante do espelho. Aquele par não apresentava uma homologia, havia uma discrepância. O par não combinava. O espelho refletia uma imagem diferente do rei, como se em lapsos de segundo, Roberto tivesse compreendido a máscara e o real. "

A Roda da Fortuna ainda gira para este Tremendão, que não sentou no trono dos seus clássicos, como tem feito seu amigo-rei há anos. Ele não parece estar fazendo esforço para ser contemporâneo, simplesmente tem sido.  Então eu, que não feito, mas que tenho escutado Sexo à exaustão, não vou me furtar de dizer o que o caro colega do Eu Ovo quis dizer e depois ficou se explicando: Sexo com o Tremendão é ótimo! Bom para o corpo e para a alma!