quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Stormy weather

Chamar a natureza de Mãe e crer que ela é sempre bela, poética e provedora é uma ignorância típica de quem só pensa que conhece as mulheres. Mãe pode ser Virgem Maria, ou Medéia e matar suas crias. A natureza pode ser tanto cósmica quanto caótica. E ela é linda no seu caos.

Ai, essa tempestade. Nunca a tinha visto descortinada na minha frente com tanta precisão. Conseguia ver os raios se formando bem ao longe e contava. 1, 2, 3 quilômetros, dependendo do tempo em que demorasse a chegada do trovão.

E tive medo, lógico. Quando me dei conta de que uma sala envidraçada é belíssima, principalmente em dias de sol, com colibris voando em volta, vindo sugar aquela aguinha com açúcar que costumam deixar perto dos jardins, mas que a esta mesma sala pode ser também assustadora, em dias chuvosos como este. Quando não se intui o tamanho do toró, porque ele se mostra inteiro na sua frente, feito tela de cinema, com o barulho do granizo batendo no vidro contribuindo com o realismo da cena. A imagem de revista de decoração vai embora pelos bueiros entupidos da cidade e fica apenas a exata noção da vulnerabilidade, de estar de frente para aquela vista privilegiada justamente porque estamos na frente de um barranco.

Ai, essa tempestade. Nunca ela traduziu de forma tão perfeita o meu estado mental, sala envidraçada de cara pro barranco, aprendendo a fechar as cortinas de vez em quando.


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