domingo, 20 de fevereiro de 2011

Orientupis, judárabes e ciganagôs

Depois eu reclamo que os TM são um fracasso na blogosfera. Foi só voltar a trabalhar, que parei de alimentar meu bichinho virtual. Mas depois do meu amigo Victor me dizer que toda vez que entra nesse cafundó eletrônico,  ele pira junto comigo nessas brisas todas, lembrei para que eu me tornei fazedora de textículos. (Se você é curioso, leia o primeiro textículo.)

Uma madrugada que se estica demasiadamente - como a última, com uma hora a mais por conta do fim do horário de verão - pode ser de uma surrealidade galopante! Sei disso porque ainda sou bicho noturno.  Mesmo que ultimamente esteja aflorado meu lado solar e diurno, o encanto da noite sempre me atiça. Lua Cheia então, nem se fala! Já até escuto os cães uivando, só de falar.

Mas a cena é: sentados na porta de um supermercado 24 horas depois da balada, com um saco de salgadinhos e uma barrona de chocolate, nem sei como a gente puxa papo com um galego tomando Heineken ao nosso lado. A gente oferece nosso festival de gordura trans, ele oferece cigarros. Eu tinha esquecido os meus e aceitei um. Ele não aceita, só consome produtos kasher (!?). Pegou um Doritos depois de alguma insistência. Era uma madrugada de sábado para domingo, na minha cabeça perguntei: e o Shabbat? Vai até o pôr-do-sol do sábado. Já tinha passado faz tempo.

O garoto é completamente perdido nos seus preconceitos. Começa falando de uma garota de roupa curta, eu pergunto: "Você viu o tamanho do meu vestido? Sou vulgar por isso?". Ele: não, imagina, que isso. Desata a falar mal de católicos, eu conto para que ele está em meio a um papo multicultural e multireligioso - Ele se diz judeu, eu sou católica, o Victor é evangélico. Ele abaixa a bola. Resolve endossar o discurso de que tem nordestino demais nessa cidade, faço questão de contar: minha mãe é paraibana, tão galega quanto você. Está nessa cidade há 40 anos, não está fazendo número, muito pelo contrário: ajudou a construir esta cidade, como todos que vem para cá, de todas as partes do mundo. Ah, sua mãe é diferente.

Resultado: dando a hora do bus, o Victor se enche, levanta e a gente vai embora. Eu não fiquei ofendida em nada, na verdade, ri um bocado do menino. Vi perfeitamente o exemplo da pequeno-burguesia que se sente ameaçada nessa cidade e tenta colocar a culpa do nosso caos justamente nas classes mais pobres, e que aqui definitivamente se fodem muito mais que eles. Gente que reproduz o discurso do PIG achando que têm ideias próprias. Que concebe esse mundo imaginário que se desfaz como castelo de areia com uma madrugada sentado na rua conversando com dois estranhos.

Não gosto de ufanismo, mas senti um grande alívio de ser uma brasileira típica, com pais, avós e bisavós nascidos aqui. Sem exaltar que sou descedente de sei lá o quê, afinal a mistura é tão grande que se preocupar com isso é uma grande perda de tempo. Exaltar origens por aqui é completamente ridículo, não faz o menor sentido. Fiquei com um trecho de um poema do Amor da Minha Vida e duas canções na cabeça - todos falam por si, dispensam comentários. Cambalhota tripla para vocês, minha pequena e querida audiência.

"Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.

A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro (...)
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só (...)"

(Explicação, Carlos Drummond de Andrade)





Inclassificáveis!

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