quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Esperando Godot II

Agora sabemos:
O novo não substituirá o velho
Um dia e cada vez mais breve,
O novo se torna velho
E o velho se torna a coqueluche novidadadeira do ultimos tempos, como:
Cores new wave, olhos delineados, cinturas altas, óculos Ray-ban.
Tudo isso é piada velha, mas sempre se acha alguém que ainda não riu delas.

Sou mesmo ainda um velho bolachão
Feita de vinil e sulcos.
O que me toca, raspa a superfície.
É o que me faz cantar.

O que agora é virtual
Corre o risco de se perder na virtualidade dos seus arquivos.
Mp3 é o caralho.

Para meu amigo Luiz Filipe

Mais paulistana, impossível

São Paulo é uma puta velha. De longe parece feia, até repulsiva. Não foi feita para ser contemplada pelo Google Earth.

Ao aproximar-se dela, porém, ela enrosca qualquer um que passe perto com mais tentáculos que um polvo. Deve ser por isso esta cidade não é considerada turística. Se o turista demorar um pouco mais, periga ficar: mais um para reclamar da poluição, do trânsito, da sujeira, da violência... E que também nunca vai embora desse caos. Aí é que está.

Esta cidade nos serve com suas pernas quentes e úmidas há pelo menos 457 anos. No entanto, fora da alcova, é mais enxovalhada que mãe de juiz de futebol. Ninguém admite que gosta desta puta velha. E mais: que não se vive sem ela.

No meu caso, nunca tive escolha: nasci no meio deste caos às 00h20 de 13 de outubro de 1982 no bairro de Santana, filha de gente que largou outra terra e foi adotado por esta puta-velha-coração-de-mãe. E só depois de 28 anos é que tive coragem de declarar amor por esta cidade.

E o fiz porque soube que quem não mora aqui não consegue perceber o quanto esta cidade é fascinante, impressionista ao contrário: precisa chegar perto para entender. Por isso o Google Earth não lhe cai bem.
Mais gente poderia admitir que tem um caso de amor com esta puta velha. Quem sabe isto não inspire mais cuidado por parte das pessoas. Cidades são feitas de prédios, mas também de gente. Esta só tem devolvido o caos que temos dado a ela todos os dias.

Está na hora desta puta velha se cansar de ser mulher de malandro e exigir um pouco mais de cuidado de quem dela se serve. Ou que mande essa gente toda caçar quem rode a bolsinha em outra freguesia. A do Ó não serve.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Summer Soul Festival

Nem sei se faz sentido falar do Summer Soul Festival uma semana depois, quando já saiu toda a sorte de críticas e resenhas sobre ele, com todos os lugares-comuns já explorados à exaustão.

O primeiro deles: o Mayer Hawthorne fez um show bacana, mas não empolgou. E deveria? Todo artista emergente com um mínimo de elegância não vai dar uma de Ivete Sangalo e querer que todo mundo já saia pulando no show de abertura. E vai do interesse do público também, que estava de fato marcando lugar para a hora do show da Amy. Para mim, ele foi ótimo: conversou com o público, tirou uma foto nossa e pediu pose, fez piada com o fato de ser desconhecido (contando que deu um autógrafo para o cara do aeroporto, confundido com o Tobey Maguire), e a música tem um balanço vintage que é uma delícia. As baladas têm uma cara de The Manhattans que tocariam no Love Line da Radio Cidade fácil, como "I wish I would rain". I love you, Spider Man!

O segundo: Janelle Monáe é uma diva em franca ascensão. Dããã! Esses críticos fazem observações muito perspicazes, hein? Até uma garota pré-balzaquiana com um blog laranja de título duvidoso já tinha cantado essa bola. Era a aposta da noite, e cumpriu o prometido. Sem chamar a atenção, sem tentar roubar a cena, com a elegância que só uma diva totalmente segura de si é capaz de ter. Ela faz um show meio como o Ney Matogrosso, entra no personagem e fica nele, totalmente concentrada. Não fica tentando animar o público como se fosse o Silvio Santos. Ponto para ela, nem precisava. Ela escolheu o filé do The Archandroid e mandou ver. O final com Come Alive foi apoteótico, com seu topete de retroescavadeira totalmente desmanchado. Apesar de tantas críticas e chavões, o comentário do Rafa sobre a Janelle foi definitivo: "Janellinha fez a lição de casa direitinho, hein?" A única coisa ruim foi que o show foi curtíssimo: 45 minutos não dá nem pra fazer cócegas, uma artista de mão cheia como essa baixinha merecia mais. Será que tinha gosto de "Volto logo" ? Pode ser.

O terceiro e principal: Amy fez um show morno. A gente é fã, mas não é idiota. Ninguém estava esperando que ela fizesse uma performance espetacular. Aliás, eu e a torcida do Curintia estávamos esperando muito mais um festival de bafões que um show de verdade, o que revela um certo sadismo por parte nossa. Mas a Amy tocou o foda-se e não deu o que o público que estava pedindo. Ela gosta de ser do contra e por isso  ela virou ícone, para o bem e para o mal. Agora, se ela resolveu surpreender poderia pelo menos fazer um  show que passasse do "Olha, eu ainda consigo cantar!" - não desafina, mas se perde nos floreios - e colocar um pouco mais de proximidade com sua própria obra. Era engraçado sua pose de diva que se economiza, como se não soubesse da sua decadência. Um tanto triste e poético, como seu olhar alheio e seus cabelos levemente movendo-se ao vento. A mídia e o público costumam ser cruéis com grandes artistas que tropeçam, logo, sua redenção provavelmente virá quando passar desta para uma melhor, tal e qual aconteceu com Elvis e Michael Jackson. Mas no caso da Amy, ela poderia pelo menos enxergar o apoio de uma plateia que topou pagar para vê-la, mesmo sabendo que ela não entregaria o seu melhor. Quem torcia por sua redenção, saiu do Anhembi convencido que ela precisa de muito mais, quem sabe uma ressurreição. Ressuscita, Amy!

Outras coisas passaram despercebidas da crítica, pelo menos não encontrei ninguém que comentasse: Miranda Kassin e André Frateschi, o casal Amy e Bowie, não conseguiam esconder que estavam felizes feito p no lixo abrindo o festival. A banda é muito boa, e fazem outros covers de clássicos do soul, já havia assistindo o show do Studio SP. Mas acabaram virando trilha sonora para a fila do caixa e da cerveja (Caaaaras, por sinal). E o show do Instituto foi bem bacana, achei melhor que o que eu vi no Contato de 2009, em São Carlos.

Pronto, já brinquei de crítica cultural hoje. Agora, o melhor de tudo isso: chegar em São Paulo e reencontrar os amigos. Como desculpa para isso, o Summer Soul foi excelente.

É para todos essa cambalhota, pessoal!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Tinindo trincando


As neuroses olharam esse mar e deram no pé
Eu sei, a vida não acontece só nas férias. Mas é que, além de mim, as velhas neuroses também saíram de férias e espero sinceramente que elas tenham uma epifania bebendo água de coco na Praia de Cabo Branco,  decidam pedir demissão de mim e saiam por aí vendendo bijuterias e dormindo ao relento. Que nunca mais voltem, felizes da vida.

Falando em felicidade, eu bem disse que felicidade permanente é neurose, mas  quando estou realmente feliz, é pra valer. Não disfarço gosto de purgante na boca. Como diria Filhutti, meu laranja tá piscando neon. Tô com tudo, no duro tinindo, tinindo tricando.

Não aconteceu nada de especial, ou pelo menos de mega-über espetacular. Só descobri um balanço entre a intensidade e a tranquilidade. A vida vai à milhão, mas a mente continua tranquila, ou pelo menos, mais do que era antes. Geralmente, comigo era o contrário. Fantasiando para driblar o tédio, dar de cara com a realidade era tão suave quanto um pouso de albatroz. Resultado: um blog chamado Textículos de Mulher.

Como estou mais preocupada em viver, racionalizar e escrever às vezes fica de lado. Mas pretendo não abandonar isso de vez, até porque escrevendo descubro coisas que já sabia. Sem esperança de ser a renovação literária da América Latina, o sabor dos textículos fica mais sapeca e menos pretensioso. Tempos Modernos, babe.

Então, calipígios e onanistas, vou tentar fatiar em fatias finas e apetitosas, a viagem para John Person e Natal, o Summer Soul Festival, uma crítica atrasada de Amélie Poulain. Descendo pro play e indo brincar, sempre.

Feliz 2011, pessoal!