No último domingo, assisti à Che 2 - A Guerrilha e gostei, mais do que o primeiro. Gosto da estética naturalista do filme, com uma ação lenta, focada na marcha da guerrilha e não nos combates, quase sem triha sonora, com iluminação natural. Benicio del Toro é um Che Guevara sem afetação nenhuma, acertou na mosca em interpretar o líder revolucionário de uma maneira humana, sem pesar para o lado do heroísmo, mesmo assim, mostrando o grande caráter do guerrilheiro.
Essas características estão nas duas partes do filme, é óbvio, mas no primeiro filme chega uma hora em que a ação se arrasta e na segunda parte isso não aconteceu, apesar do ritmo da ação ser exatamente o mesmo.
É triste você ver na sua frente uma história que você conhece bem, sabendo que o final foi desastroso. Não é nada catártico ver o fim de Ernesto Che Guevara na sua frente. Primeiro porque é História - com H maiúsculo, não tem aquela de respirar aliviado no fim porque era mentirinha, como na tregédia clássica grega. Segundo porque sabemos qual é a implicação de não termos tido uma revolução popular na América Latina. Tivemos uma série de ditaduras militares ao longo do século XX que criaram feridas que ainda não fecharam, e duvido que vão fechar, porque sempre aparece uma contrarrevolução para estancar este processo. Honduras que o diga, e isso é sim, problema nosso. O mais estapafúrdio é a justificativa para esse golpe: preservar a democracia (?!). E como um Maquiavel ao contrário, digo que pouco importam as supostas causas nobres para os fatos, e sim os métodos totalitários adotados pelo regime golpista, como por exemplo, sitiar a embaixada brasileira em Tegucigualpa, onde o presidente deposto Zelaya se encontra.
Revoltante que no caso da presença de Che na Bolívia, o próprio partido comunista de lá se opôs, não queriam estrangeiros no seu ninho e abertamente boicotaram a ação. Não sei se foi ingênuo ou corajoso da parte de Che crer que todos eram tão internacionalistas quanto ele, porém quando ele poderia sentar o traseiro em um gabiente como o segundo homem mais importante da Revolução Cubana, ele começou tudo de novo. O que prova, para mim pelo menos, que ele não estava interessado em poder e sim na transformação deste mundo de fato.
Mesmo sabendo de tudo isso, não conseguia de repetir um bocado de vezes para mim mesma, até cochichando, sozinha no cinema, que eu preferia uma revolução latino-americana triunfante, do que a figura do herói morto, tatuada na minha mente.
Depois de tudo isso, foi no mínimo indigesto sair da sala escura e dar de cara com um shopping. Não consegui tomar nem um milkshake.