Está provado: em matéria de redes sociais, o último grito da moda é o Twitter, mesmo que seja um grito de até 140 toques de teclado, só. Segundo o escritor português José Saramago , não é nem grito, é grunhido mesmo. O escritor, que gosta de lançar mão de "frases longas e bem elaboradas", declarou em uma entrevista ao jornal O Globo, sobre a nova febre: "(...)Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido."
Podem me bater, nunca li Saramago. Nada contra, é que nunca caiu na minha mão, se cair um dia, eu leio. Isso significa que não posso falar dele com profundidade, mas é interessante a minha reação à opinião dele a respeito da tendência ao monossílabo, porque tenho motivos para concordar e discordar dele em igual medida.
Concordando: estamos vivendo um tempo de esvaziamento da palavra e o pior, do seu sentido. Como bem observa Vizinhíssimo, a imagem vai ganhando contornos digitais, altíssima definição e as tecnologias sonoras, conforme avançam, vão ficando cada vez mais pobres em fidelidade (vinil - CD - mp3). Quem leu 1984, sabe a importância que a Novilíngua tinha para o regime totalitário - a ideia era tornar o idioma cada vez mais sintético, com menos palavras possíveis, para se tirar o poder de reflexão das pessoas, de perceber as nuances da realidade e exprimir essa percepção. Não pelos mesmos motivos, mas estamos vivendo essa tendência à Novilíngua hoje. Exemplo: você fala "miguxês"? Gente velhinha como eu há de convir que esse dialeto internético soa bem como grunhidinhos, bem como disse Saramago. Estou em sala de aula, então sei muito bem o sacrifício que é desenvolver um discurso mínimo que seja. A grande maioria da molecada não consegue acompanhar. Não é nem que eles julgam chato o que estou falando, a maioria para de ouvir antes de chegar a essa conclusão, simplesmente porque não conseguem, não tem o ouvido treinado para formas de comunicação mais lentas, já que o mundo digital é ultrarrápido, e deixa os dinossauros da sala de aula como eu, a comer poeira, com toda "tecnologia" disponível na grande maioria das escolas para os professores - giz, lousa, saliva e olhe lá. Então, por essas e outras, concordo com Saramago.
Discordando: apesar de ser uma verborrágica incorrigível, não creio que períodos longos sejam imprescindíveis para exprimir ideias longas, às vezes é até o oposto. Uma palavra só, deixada como um fio solto, pode deixar um monte de sentidos à solta também, e provocar muito mais que um discurso "pequenino" de Fidel Castro (diz a lenda que os menores deles tinham no mínimo umas duas horas). Para a comédia, para um hai-kai, poesia concreta ou mesmo para a composição, a concisão é sim, a alma do negócio. Na literatura dramática, é recomendado ao novo dramaturgo evitar diálogos só com monossílabos, mas Nelson Rodrigues, por exemplo, fazia isso como ninguém, sempre abusando das intenções de fala do ator e o resultado era quase sempre, fantástico. Titio Shakespeare também dizia: "A brevidade é alma da sagacidade." Então, acho até bacana ter só aqueles 140 toques para exprimir uma ideia, porque me tira do conforto de uma postagem sem fim. Quem me lê há algum tempo sabe que estes textículos de "ículos", não tem nada, mas é como eu disse no começo: sempre primando pela brevidade, prolixidade ou incoerência, ou o que vier primeiro. (Escrevi assim, porque já contava que não seguiria um padrão.)
Estou usando o Twitter faz pouco tempo: depois de uns três convites chegando na minha caixa de entrada, resolvi aderir. E como eu disse, o limite de caracteres estão me ajudando a ter 'timing' na hora de soltar a piada e também gosto de como ele pode exprimir coisas e momentos bem fugazes, aquele que quando você pára para olhar, já passou. Sem contar que gente bem bacana ajudou a "fazer" o Twitter, como o Marcelo Tas, por exemplo, que até o fechamento da edição da Continuum (revista do Itaú Cultural), tinha 118 mil e tralalá seguidores. Ainda não sei bem que bicho pega lá, mas o poder de mobilização é grande. Dizem que, em matéria de trend topics- ranking dos assuntos mais abordados no Twitter- mais que o Fora Sarney, só mesmo o Mussum Day. Cacildis!
Um textículo que começa com Saramago e termina com Mussum é no mínimo surreal, mas não é por isso que vou me furtar a conclui-lo:
Do grunhido ao sermão, o que importa é o sentido: fazer, não fazer, inventar, que seja. Palavra é subversão.
Ai! Eu não resisto a uma nota no final:
*A imagem do textículo é um verdadeiro achado. Nunca tinha me ligado que Mussum é um palíndromo! Benvindo ao maravilhoso mundo das palavras. Créditos da imagem: www.eupodiatamatando.com
2 comentários:
os orientais sempre à frente, o hay-kay é o ancestral do twitter... muito bem observadis!
Agora me veio a cabeça que resultado teria se o Mussum resolvesse escrever haikais... Interessantis!
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