Enquanto a imprensa tagarela em torno da prisão preventiva do casal bungee-jump-sem-corda, uma notícia se espreme na mídia hoje: a absolvição do mandante do assassinato da Irmã Dorothy Stang, morta em 2005. E isso só aconteceu porque esta notícia deu mais algumas páginas de má fama brasileira na mídia estrangeira. Os conflitos de terra continuam matando muita gente no interior desse país, o pau come na Amazônia e isso não dá noticiário. Alguém aqui conhece Margarida Alves, por exemplo?
Irmã Dorothy tombou pela causa missionária e da Amazônia, disso não há dúvidas. Sua morte, porém, só ganhou repercussão porque seu país de origem era os EUA. É uma constatação meio clichê de teoria da conspiração, mas não consigo ver outra razão para o assassinato da Irmã Dorothy ter sido levado a público na época de sua morte.
O assassino propriamente dito, réu confesso, foi condenado. O mandante também tinha sido, mas recorreu e conseguiu absolvição. Isso é pior que impunidade. Significa que aqui só é assassino só quem mancha suas mãos de sangue. É algo que só posso classificar como nojento.
O que tenho como consolo é a célebre frase de outro mártir, Ernesto Che Guevara: "Podem pisar as flores, mas jamais vão conseguir acabar com a primavera." Outros mártires vão tombar, muitos batismos de sangue haverão de acontecer e ainda assim, haverá primavera.
Além de dar boletim de imprensa, não gosto também de publicar poesia. Ninguém lê ou curte essa joça. Mas creio que a Irmã Dorothy merece:
Novas Bem-Aventuranças
(À Dorothy Stang)
Benditos aqueles que desafiam o poder,
Aqueles que brincam no quintal
em dia de chuva sem medo do resfriado.
Benditos os que não agonizam calados.
Aqueles que gritam, incomodando a gorda vizinhança,
que insiste em não perder a novela.
Kyrie Eleison.
(20/02/05)
...Miserere nobis.
Textículo jorrado em 07/05/2008
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