Primeiro preciso dizer que este não é um artigo acadêmico, no
sentido mais estrito do termo. Não procedi com uma coleta rigorosa de dados,
para depois fazer uma análise fria dos mesmos. Aliás, como tudo que já escrevi
aqui, as reflexões de hoje vem fumegando, como bala que já cheira a sangue:
Eu tenho o maior prazer em descobrir coisas novas, sempre gostei de estudar. Então, eu simplesmente não consigo fazer nenhum curso, formação, oficina só para pontuar. (Quem é professor da Rede Municipal sabe: sempre almejamos evoluir, se não espiritualmente, ao menos na folha de pagamento. Somos verdadeiros Pokémons em busca da evolução). A maioria de nós trabalha em mais de um cargo/emprego, fazemos cursos (estão lembrados da evolução?), os casados/pais/mães tem que cuidar da casa e filhos e se sobrar algum tempo depois de tudo isso, viver. Quem sabe fazer alguma coisa que realmente nos traga prazer e satisfação. (Aliás, sobre isso, não me faço de rogada: eu gosto mesmo de estudar e de me aprimorar no meu ofício. Por incrível que pareça, diminui a angústia quando vem aquela sensação de impotência que todos nós professores experimentamos frequentemente). Justamente por gostar de estudar e pela agenda apertada, tenho que ser seletiva na hora de escolher uma formação, oficina ou curso. E posso dizer que vale a pena adotar esta postura, porque tive experiências incríveis, que realmente agregaram valor ao meu camarotezinho de professora da rede pública.
Uma delas faz parte do
arquivo dos TM, o curso de extensão universitária Poéticas da Dança na Educação Básica (IA/UNESP, 2012). A última
fase do curso - o projeto com meus alunos - nem foi relatado aqui por uma
absurda falta de tempo já citada anteriormente. Como tudo que opera no plano
real, não foi perfeito. Durou pouco tempo em relação aos objetivos que estabelecemos
na equipe, porém até hoje as crianças (que ainda são meus alunos) se lembram da
experiência e falam dela. Espero conseguir fazer meu trabalho de campo do
mestrado com alguns destes mesmos alunos. (Se isso acontecer, a professorinha
pesquisadora em formação vai ter um treco de felicidade acadêmica!).
As
três vezes em que fiz parte do Descubra a
Orquestra, da Osesp foram inesquecíveis e valeram mais que meus anos de
estudos de música no modo tradicional. Tivemos estudos teóricos, discussão e
também aprendemos ferramentas úteis para o trabalho – às vezes parecem que essas
duas coisas não combinam, mas combinam, tem
que combinar. Aliás, se não combinarem numa formação, corra: é uma cilada, Bino!
E
outra experiência recente sensacional foi o Encontro para Professores de Arte
da Rede Municipal de São Paulo em agosto do ano passado, no IA da UNESP, promovido
pelo Grupo de Pesquisa em Formação de Professores, capitaneado pela Prof.ª
Luiza Christov. Além das oficinas que podíamos escolher (fiz uma sobre Aikidô e
suas possibilidades de administrar conflitos pacificamente), o mais incrível
foi a postura de escuta adotada pelo grupo: não fomos lá simplesmente para ‘receber’
formação. As narrativas coletadas no encontro foram discutidas, documentadas e
resultaram numa ação prática: já assinou a petição online solicitando à
Secretaria Municipal de Educação mais uma aula de arte no currículo do 1º ao 5º
ano? Assina, gente!
Estas são algumas das experiências mais marcantes que tive, sem contar a epopeia pelo mestrado no Instituto de Artes da UNESP e meu contato com a Professora Sandra Batistão, que nos levou a pensar para além das questões que faziam parte da formação, que sozinha já tem tanto a se dizer e fazer (inclusão de alunos com deficiência intelectual). Mas em termos de formação continuada de professores, ainda se caminha a passos de centopeia lesa e isso me deixa beeeem irritada. Vou apontar o que considero falho e soluções possíveis. (Vai que eu seja lida e ouvida pelo ministro ou secretário da educação municipal, não é? Otimismo é tudo nessa vida, gente!)
A
primeira delas consta no PME (Plano Municipal de Educação de São Paulo, rede
onde atualmente trabalho), mas possibilidades reais e avanços, eu como recente
mestranda não vejo: aumentar a quantidade de docentes mestres e doutores na
rede. Pós-graduação scrictu sensu
exige, entre outras coisinhas, dedicação em muita leitura e pesquisa, trabalho
de campo, escrever e revisar, tudo isso dentro dos prazos dos programas das
universidades (dois anos para mestrado, por exemplo). Isso demanda horários
flexíveis (as aulas dos programas quase nunca são num período só) e dinheiro.
Ou você tem bolsa, ou trabalha. O que temos de fato nas redes de ensino,
como já citei, são jornadas acachapantes e nada flexíveis. O mínimo que se
poderia fazer para aumentar a quantidade de professores pesquisadores, com pós-graduações
scrictu sensu, seria uma licença sem
prejudicar os vencimentos, específica para este fim e que nem precisaria durar
todo o tempo do programa de pós. Isto existe na nossa Rede? Ando procurando e
não encontrei ainda. O que há é uma licença para apresentar trabalhos científicos
em congressos, que já utilizei duas vezes. (Mas se não há tempo para pesquisa,
vamos apresentar o quê? Trabalhos acadêmicos não são recebidos por inspiração
divina). Ficar recebendo formações continuadas tem seu mérito, mas não é tudo.
Se quiséssemos mesmo melhorar a qualidade da educação do país, seria necessário
encorajar os docentes a buscar seus próprios caminhos, pesquisando e compartilhando
suas soluções. O sistema educacional da Finlândia por exemplo, que tanta gente
ama idolatrar, exige para o exercício docente no
mínimo o grau de mestre. Temos excelentes programas de pós-graduação em educação
aqui – inclusive mestrados profissionais em rede específicos para professores -
porque não usamos? E se usamos, temos que fazer milagres dignos de Matrix para dar conta do programa + jornada
de trabalho. Se você é um mestrando ou doutorando dentro da escola, salvo raras
exceções, será tratado como um ET. Prepare seu OVNI.
Outra
coisa que me intriga é: se o docente tiver uma real proficiência em um segundo idioma, porque não se pode entregar
sua certificação para pontuar? Isso existe em uma alguma rede pública de ensino
do país? Nas que eu trabalhei/trabalho não existe essa possibilidade. E mais:
cursos de um segundo idioma oferecidos em formação continuada só existem para
professores de LEM (língua estrangeira moderna). Ou seja, você só pode falar
inglês se for professor de inglês. If you
are not, forget it! (Será por isso que tantos alunos fazem cara de ué se descobrem que um professor que não
é de LEM ou de língua portuguesa fala outro idioma?)
O
tempo que se perde com obviedades em alguns cursos, oficinas e afins que são
um verdadeiro desperdício de tempo e energia é o que mais me indigna deste
pequeno compêndio de problemas com formação continuada de professores. Talvez seja
o que mais me irrita porque é o mais simples de resolver de todos que estou
elecando aqui e não se resolve, porque vida de professor é muito fácil e
precisa de uma emoçãozinha a mais. Desde a graduação, tenho uma coleção de
casos – que é lógico que não vou contar, para não ser decapitada - em que somos
tratados como verdadeiras bestas quadradas, nivelados previamente para baixo do
centro da terra. Então, fica a dica: parem de nos tratar como imbecis. O mundo
não é necessariamente aquilo que a gente pensa, né?
Essa
é para fechar a madrugada que logo mais tem aula. Citando Giovanni Improtta:
vamos embora que o tempo urge e a Sapucaí é grande!
(Se
você não entendeu a piada, clique.)
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