segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Filme de Mulherzinha Ataca Novamente

Está provado cientificamente: comédias românticas podem estragar a sua vida. Mas eu, particularmente não estou nem aí. Quando nasci, cinto de segurança não era obrigatório e merthiolate ardia e ainda assim, estou viva, vivinha. Da Silva, Teodoro Alves, o que quiserem. Acreditem!

Tentei me recuperar, mas é inútil: o dano cerebral causado pelas comédias românticas noventistas estreladas por Meg Ryan, Renè Zellwegger, Julia Roberts e afins é acumulado. Já era, meus miolos foram indiscutivelmente carcomidos. Só restou o coração, que sem um pingo de vergonha na cara, ainda pulsa: bridget-jones, bridget-jones. Happy-end, happy-end. 

Além do mais, comédia romântica pode até estragar uma vida, mas não um blog. O textículo mais acessado deste faroeste é a resenha sobre Falando Grego, da Nia Vardalos. Aqui, elas até ajudam!

Anos depois, adicionando uma licencinha poética para o festival de bobagens que lhe são devidas, vejo que comédias românticas tem lá suas pilulazinhas de sabedoria. Tolas, inocentes, mas ainda assim válidas, verdadeiras em sua tolice. 

Como Medianeiras, Buenos Aires na Era do Amor Virtual. Em se tratando da ideia de discutir cultura digital, é uma ótima propaganda para os produtos da Mac. De tão escancarada, nem parece merchandising. Parece peça publicitária mesmo, na cara-larga. 


Gosto de filmes em que cidades são personagens. Uma Buenos Aires contemporânea, pós-crise, de longe é a personagem mais fascinante. A protagonista é arquiteta, e é dela que vem a metáfora das medianeiras, aquele lado dos edifícios que não serve para nada, a não ser para abrigar propaganda e limo. Como nas pessoas, expõe o lado mais frágil, feio e vulnerável de construções que precisam se fazer sólidas e fortes. Abra uma janela na sua medianeira, mesmo que ilegalmente. Deixe entrar luz no seu apartamento, vai te fazer bem.

Também gosto de gente neurótica nos filmes. Mitigam minha vergonha. Além do que são muito mais verossímeis: Mariana taca coisas na parede, chora por bobagem e carência, fuma mais que preto-velho no terreiro. Martin é fóbico, hipocondríaco, insone, atrapalhado. Leve seus cachorros para passear, mesmo que eles sintam medo. Eles precisam se acostumar com outros cachorros. 


Se toda essa firula ao final vendesse só iPod, eu até perdoaria. Foda é vender a ilusão de um amor único perdido na cidade, vestido com uma blusa listrada de vermelho e branco, óculos e gorro à sua espera, prontinho para ser encontrado. Se você começar a procurar onde está o Wallie com 14 anos, quem sabe você o encontre aos 30! Mas use uma lupa, porque isso é trabalho para mais de metro. 

Procurar Wallie é uma tarefa muito difícil para míopes não operados como eu, então fica para outro dia. Não comprei a ilusão, mas me diverti com a conversa mole do vendedor. Atitude típica de 1984, um duplipensar para esquentar as turbinas. Porque só agora posso começar a abrir um vitrô na minha medianeira, sair com meus cães assustados por aí. Spring is coming! 

Nenhum comentário: