domingo, 31 de julho de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Poema de Natal
Para Sandra Dee
Vinicius de Moraes
Do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
http://www.releituras.com/viniciusm_natal.asp
quarta-feira, 20 de julho de 2011
A vida é um soco no estômago
"Quantas emoções você conhece que não tem nome?
Colocar nomes nas coisas é muito fácil..."
Para Adriano Ropero
Realmente, professor. É muito fácil.
Caralho, meu! VOCÊ VEM PERGUNTAR ISSO LOGO PARA MIM? Você sabe de muita coisa, professor, mas de mim você não sabe da missa a metade. Talvez não te interesse saber, mas mesmo assim eu vou contar.
Emoção, sentimento, com nome, sem nome. Que me fez sorrir, que me gargalhar, que me fez gritar de dor, chorar de desespero, gozar até me esgarçar. Muito prazer, meu nome é Montanha Russa. Não sirvo para Roda Gigante. Esta coisa de girar em torno de um eixo fixo caberia melhor para quem, um râmster de laboratório? Talvez, mas não pra mim.
Para encurtar um pouco este papo, a questão é: o que eu vivo cala fundo em mim. Não sem as avarias e escoriações inerentes a quem passeia na Montanha Russa sem cinto de segurança. Se não morri até agora, acho que não morro mais.
Visceral sim, mas não irracional. O cérebro também é uma víscera! Penso, logo insisto. Categorizar tudo isso, ou como diz você, dar nomes, era o meu brinquedo predileto. Acho que nem Sócrates gostava de pensar tanto. Aqui em casa, há quilos de papel, tinta e madrugadas que se transformaram em poemas, cartas, contos, diários, textículos. Metade da minha vida tenho passado escrevendo compulsivamente, doutor. Tem cura para isso? Só que houve uma mudança nestes últimos tempos.
Cansei do parquinho de diversões, Herr Professor. Porque a Montanha Russa guarda pelo menos uma semelhança com a Roda Gigante: ela também volta para o mesmo lugar, anda nos trilhos. Até tinha parado um pouco de escrever, ficar se repetindo para que? Para quem? Tenho precisado de lugares novos, apesar do meu talento infame para o lugar-comum. Também não gosto de andar nos trilhos. E você, gosta?
É relativamente recente esta habilidade para a reinvenção, me divirto com outras personas. É o que me permite estar em lugares novos, lugares estranhos. Aprendi a me camaleonar, antes que eu me acostume com o que eu vejo no espelho. Mas não vou mentir, eu me espanto muito. Nem eu sabia que era tão boa atriz.
Outra coisa me fez cansar da Montanha Russa: ir de zero a cem em segundos durante tantos anos estava me deixando neurastênica. Se não estou agora babando verde numa sala acolchoada, é que ao que ao beirar a loucura, antes resolvi parar na terapia. Sabe quando a gente para na padaria antes de ir para casa? Assim o zero a cem se torna uma escala, pelo menos. Igual a cantar: experimentando outros tons, aprendendo a me modular. Coisas de artista.
Como pode perceber, mein lieber Lehrer, eu posso, sem medo de parecer pretensiosa, me dar o título de Honoris Causa nesta bola que sua doutíssima pessoa levantou, e me dou. Se me cansei de colocar emoções e sentimentos em caixinhas de organizar na cabeça, nessa minha cabeça dura de mula teimosa, é porque agora está no corpo tudo o que eu vivo, na verdade sempre esteve. A vida é um soco no estômago. Igual ao que você me deu no último domingo. Não sei se seus punhos cerrados doeram, porque a impressão que eu tive por aqui é que você socou um muro de concreto. Nem eu poderia supor a existência desta força.
Flávia.
PS: Esta conversa de dar nomes para emoções me lembrou duas coisas. Uma é o Marcelo, Marmelo, Martelo: essa coisa de chamar leite de suco de vaca e cadeira de sentador. A outra é o Brasa Mora: são tantas emoções, bicho! Ah vá, eu tinha que terminar assim, fazendo piada? O negócio é sério, professor. Você mexeu num vespeiro daqueles.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
It´s 4 u, Holden Caufield
Finally, I met ya, Holden Caufield. Long time no see ya, guy! We´re both so different now. And still so equal!
You´re still lost and young. I´m not young as you, not even like I was when I first met you. But I have been confused as hell lately, just as you have been for all these years. I changed my mind, I changed my body, I changed my clothing and the color of my hair, for several times. What never change is: we´re still climbing up across the walls, refusing any security devices. We´re completely mad, man!
We´re so silly, boy! |
Anyway, we´re both so tired of always only trying! I know you are, just as me. We wanna get it, too. You went beyond your strength, nearly succumbed, I know. I share your tiredness, that bordering on despair. This is so fucking lovely and poetic! So fucking stupid, by the way. Just as you. Stupid. Blind as a bat.
I´m getting old, boy. What I´ve discovered just now, and I think you have not yet: we can live without all this crap which people are always saying that is important. It´s completely possible to do it. Be deaf, Caufield, and go on for your own way. It´s not easy, not at all, actually. But it is the only way for free yourself, to be happy, whatever you want. Nós gatos já nascemos livres. Protect your skin and go ahead.
Love,
Flávia.
Ps: I thought that you had nothing else to say to me, but boy, I'm so fucking scared! We still had too much to say to each other! You knocked me out, honey.
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