Estamos na Oitava de Natal, então falar dele só agora não faz deste textículo um Benjamim Button, que já nasce velhinho. Quero falar com meus amigos, próximos e distantes, os antigos e os novos.
Gostaria de dizer que não estou nem aí para vocês. Não me importa quantas pessoas me ligam ou me escrevem, não estou nem aí para quantos amigos eu tenho em redes sociais ou coisa parecida. Não coleciono álbum de figurinhas.
Pessoas vem e vão. Algumas entram na sua vida para fazer uma ponta apenas, só uma figuração e fazem uma diferença enorme. Outras, passam uma vida inteira conosco e um belo dia a gente percebe que esteve o tempo todo ao lado de um completo estranho. Algumas nos dão imensa alegria quando vêm, outras, quando vão.
Parece mesmo que viver é lidar o tempo todo com a separação. Não adianta se apegar, a realidade da vida é o desapego.
O que realmente me é caro neste momento é estar perto de todos vocês e ao menos tentar retribuir todo o bem que a companhia de vocês faz à minha alma surrada. Com generosidade, sem moeda de troca. Descobri, um pouco velha, que isto é Espírito Natalino.
Mesmo para quem não é cristão, ou é só de nome, é muito bacana receber e enviar boas vibrações para as pessoas com quem a gente passou o ano todo. Isto sim é o que fica, isto sim é o que importa. Por essas e outras tenho vontade de matar o corno que inventou que Natal é tão somente comer feito glutões e ganhar presentes. Compra, compra, compra. Corre, corre, corre. Engorda, engorda, engorda. E faz dieta a partir de primeiro de janeiro.
Como bem disse o Estegossauro: "sejam hipócritas o ano todo e no Natal também! Até entendo e concordo com ele, mas havemos de convir que ele ainda não teve a felicidade de perceber a verdade encoberta por camadas e camadas de neve artificial.
Então meus amigos, Feliz Natal Tropical! Que o cheiro quente de dezembro esteja sempre com vocês.
O motivo? Amy estaria com medo de ser ofuscada pelo sucesso da cantora norte-americana, que tem sido considerada pela imprensa musical como a maior revelação do ano (o jornal inglês "Guardian", da terra da Amy, considerou o " "The Archandroid" , álbum de Janelle, o melhor disco de 2010). A assessoria de imprensa do evento, no entanto, nega qualquer rusga entre as cantoras.
A fazedora de textículos já tinha cantado essa bola, hein? O que não me dá nenhum mérito ou ares de gênio da lâmpada, porque este barraco era a coisa mais certa e previsível que poderia acontecer. Se este caô convencer alguém, claro.
Tenho vivido dias estranhos. À deriva, uma dor calada dentro do peito. Em outros tempos, eu jogaria garrafas no mar, mesmo que não adiantasse, mesmo que ninguém as encontrasse, eu gritaria contra esta solidão, este silêncio. Esta é a parte estranha da história. Eu nunca fui mansa o suficiente para ficar boiando ao léu, esperando por um milagre.
Quase sempre estou alegre ou triste, estressada ou eufórica, nunca neutra. E obviamente, esta neutralidade me mata de tédio, o que me fez questionar a noção de felicidade. Às vezes não estamos felizes ou infelizes, apenas estamos, boiando em alto-mar. Lembrei-me do filme do Jabor, A Suprema Felicidade. "Não dá pra ser feliz, no máximo dá pra ser alegre", diz o personagem do Marco Nanini (em entrevista, o diretor declarou que esta frase saiu da boca de Nelson Rodrigues: a cara dele, um tristonho inveterado).
Engraçado que eu quis escrever sobre este filme, quando assisti a ele, faz um mês, mais ou menos. Não sei se por preguiça, ou por falta de inspiração não o fiz. Na verdade, achei que me pegaria pelo nervo, mas como bem observou minha cara Gazela, faltou alguma coisa, não sei dizer o que. (Depois, li uma entrevista do Arnaldo Jabor, em que ele dizia que ele pensou nesse filme como uma espécie de auto-ajuda, para as pessoas encontrarem a felicidade dentro de si, ou questionarem se de fato há esta tal de Suprema Felicidade. Pensei: está explicado, ficou um pouco superficial. A arte não se explica, não cria propósitos em torno de si. Aliás, o melhor da arte - em todas as linguagens - é que é a única área do conhecimento humano que pode se dar ao luxo de não servir para absolutamente nada, caso queira. O resto é propaganda.)
Mesmo assim, é um filme cheio de imagens e diálogos poéticos sobre coisas que são ao mesmo tempo tão profundas e tão frugais. Ser feliz, amar sem medida, celebrar a vida - será que as pessoas à minha volta ainda se importam com isso? Estou numa idade em que amigos de infância, colegas de escola estão "dormindo de meia para virar burguês" - a adolescência já ficou para trás há algum tempo e a roda não pára de girar: a vida segue aquele roteiro pronto. "E aí, não vai casar? Ter filhos?" "E aí, já comprou seu apartamento, seu carro, sua casa no Guarujá?" Como se a vida fosse só isso. Às vezes me sinto deslocada com essas obrigações - que hoje sei que são puramente hipotéticas, possibilidades apenas. Eu me preocupo com carreira, trabalho, formar um patrimônio mínimo, mas se pensar só nisso, eu enlouqueço. Como disse minha amiga Caroline (Amorzona) uma vez: odeio ver poesia escorrendo pelo ralo. Aliás, na época em que ela disse isso, foi umas das épocas mais estranhamente felizes da minha vida: época de perdas definitivas, de luto, mas havia intensidade, a sensibilidade estava à flor da pele. Hoje, aparentemente estou bem melhor, mas este gosto de café morno me retorce por dentro.
Aí é que está: nem todo mundo tem a obrigação de ser como sou, romântica incorrigível que eternamente vê a vida como um espetáculo de vaudeville, kitsch, carregado nas tintas. Acho que a garota que vivia tudo e qualquer coisa em intensidade máxima está virando uma velha tola. Pensar nesta possibilidade me deixou um pouco triste, de ter que se adaptar aos novos tempos. Como fazer isso sem trair minha essência?
É melhor ser alegre que ser triste, disse o Poetinha, mas essa tristura me fez bem. Felicidade permanente é neurose. "Eu não tenho a obrigação moral de feliz", sempre bradou meu bufão. Esta tristurinha me lembrou o fato que não dá para ficar esperando tudo dos outros, colocar sua vida no saquinho, entregar e esperar que o mundo nos faça felizes, principalmente quando a gente se esconde dele, como eu estava fazendo. Uma hora eu pulo desse bote e saio nadando.
Toda este papo 'We are the world' me fez lembrar Beatles. Então fica de presente de Natal para minha parca seleta audiência e para todos que me ajudaram a chegar essa conclusão tão simples: All you need is love.
Finalmente, Amy Winehouse fará shows no Brasil, em uma generosa turnê passando por quatro cidades - é, acho que é isso. Nem tão generosa, se formos pensar que a nossa Terra de Tupiniquins virou uma espécie de galinha dos ovos de ouro do mercado pop - aqui, o público é simpático e topa pagar caro até por Milli&Vanilli * - é atração internacional, tamo dentro!
Bem que eu reconheci este topete...
Como sou fã, é claro que o show dessa adorável pinguça terá um sabor especial e que não vou perdê-lo por nada neste mundo. É claro também que ela virou uma sombra de si mesma, e ainda está se refazendo, mas eu tenho a sensação que estes shows da Amy por aqui serão como o show do Nirvana no Hollywood Rock - uma droga, mas mesmo assim, inesquecível.
Surpresas já estão acontecendo, em todo caso. Não conhecia as outras atrações que tocarão no Summer Festival, e caiu em meus olhos um clip da Janelle Monáe. Em poucas palavras, esta baixinha é fantástica, mermão. Algum guru escreveu em um comentário no Youtube, que Janelle é tudo que Lady Gaga não é e gostaria de ser. Apesar de gostar de LG, tenho que admitir que ela tem muito mais talento para publicidade que para a música, apesar de ser criativa.
...de algum lugar! Ghostbusters!
Intisgada com estes comentários, fui ouvir os álbuns da Janelle. Entendi o porquê. Som contemporâneo, mas que bebeu da fonte do melhor da música pop afro-americana. Produção e arranjos sofiscados, principalmente no mais recente, The Archandroid, com orquestras e samplers e temática teatral e futurista. Falar do timbre de voz, afinação e swing é chover no molhado. Que Beyoncé o quê.
And so it is, guys and girls. Aguardo ansiosamente a visita de Amy ao Brasil, torcendo que ela consiga sobreviver à caipirinha (de pinga, que é a legítima) e conferir de perto o show da irmã gêmea de topete do Egon.
Para fechar, Janelle cantando a música preferida do Michael Jackson - Smile, tema do filme Tempos Modernos, do Chaplin. Dessa, nem eu sabia:
Piadinha tosca: Você se lembra do Milli&Vanilli? Caso não se lembre, não perdeu nada.