Meninos, meninas e similares. Calipígios e onanistas,
Minha parca e seleta audiência, o silêncio de ultimamente não foi proposital. Ando calada pela dor de uma ausência banal. Como é banal, não me dei ao trabalho de chatear meus leitores por conta de uma estupidez que não é minha.
Agora, porém, vamos ao que interessa. Tenho falado muito de música ultimamente, porque é esta é uma paixão constante na minha vida, e na vida de muitas outras pessoas também. E quando eu acreditava que a música era para mim um sonho perdido, eis que ela bate à minha porta novamente - quase do nada. Eu larguei a música durante um tempo, mas ela não me largou.
Existem canções de diversas durações. Podem ser breves quanto uma canção comercial, para tocar no rádio ou durarem mais de uma hora, como uma sinfonia. Não importa a duração, canções tem que ter começo, meio e fim. Conclusão, fechamento.
Pensem em alguma música, a preferida, daquelas que são capazes de tirar a gente deste mundinho chato enquanto a gente ouve. Você está lá, pirando no seu som preferido. E de repente alguém desliga e a canção acaba, sem aquele "lá-lá-lá" do final. Simplesmente cessa. Chato, né? Um verdadeiro balde de água fria. Pois então, assim pode ser a nossa vida. Acabar antes que a canção se complete, como se do nada a pilha do rádio acabasse. Eu não tenho medo que a minha canção dure pouco e sim de que ela acabe antes do fim. Foi o que aconteceu com um colega de trabalho na última sexta. Sua canção parou de tocar de uma hora para outra. Aliás, quando ela estava apenas começando. Eu não consigo deixar de achar isso estúpido.
Por mais que a gente saiba de cor e salteado da fragilidade da nossa vida, a gente nunca aprende: sempre se acha invencível. E a nossa canção também pode acabar antes do fim, como a do Vinícius ou a do Chico (no último dia 29 fez um ano que sua canção parou de tocar). E assim, caímos sempre no mesmo erro, tal e qual um disco riscado, movidos pela mesma prepotência arrogante de sempre, o que faz a nossa canção desafinar.
Se eu falar mais alguma coisa sobre o fim da nossa canção, cairei em clichês, em melôs manjadas de Karaokê¹. Não resisto, porém, ao charme dos clichês mais piegas, por serem os mais sinceros e verdadeiros, apesar de nada criativos.
Fecho, então, com o mega-clichê sobre a morte, em uma das canções da Pitty, que não figura entre as minhas compositoras favoritas, mas vá lá: "Não deixe nada pra depois, não deixe a vida passar/ Não deixe nada pra semana que vem, porque semana que vem/Pode nem chegar."
(Espero que nossas canções cheguem até o fim. E isso não é só questão de fatalidade, inexorabilidade. Uma pequena parte da composição cabe à nós, acreditem. Os meninos não tiveram tempo de concluir as deles, mas pode ser que a gente tenha mais sorte. É melhor aproveitar.)
6 comentários:
É vizinhissima, estava sentindo a sua falta nesses dias mesmo...
Seu texto foi bastante emocionante, ainda mais por que li ele hoje, um ano depois de enterrar meu pai. Não sei se a música do seu Fernando já estava perto do final, mas sei que foi encerrada na metade. Acho que ainda faltava uns versos e pelo menos um refrão, mas a música acabou.
É, poderia ter muita coisa pela frente mesmo, e apesar de não ter citado teu pai, esse texto tem muito dele. Como já te disse, acho que a parte da composição que cabia a ele, ele fez.
Me tocou muito esse texto, ainda mais quem o inspirou era um menino muito bom, cheio de vida e esperanças... mas mesmo q ele num esteja mais aqui, ele esta numa bem melhor q nós...
é mocinha, vc realmente consegue dizer em palavras tão sinceras exatamente tudo o q sentimos e mais, faz o trágico parecer poético... sua genialidade encanta!
Meninas, assim me desconcertam! Vi pouco, conversei pouco com nosso amigo, mas sabia que ele era um menino adorável. O "Finícius" merece essa homenagem singela. Beijões!
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