segunda-feira, 31 de março de 2008

Inentregáveis

Lembram do poema do Álvaro de Campos? "Todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas...Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são...ridículas."
As minhas cartas, não só de amor, eram ridículas porque eu não as entregava nunca. Tanto que Bozolina e eu pensamos na idéia de blogar só com estas cartas inentregáveis.
Há muito tempo eu não fazia isso, muito tempo mesmo. No começo deste ano fiz uma, inentregável. Não pelo seu conteúdo, mas pela sua necessidade, franqueza, pelo seu desespero contido.
É inentregável...mas perfeitamente publicável. Quem me conhece, sabe quem é o destinatário, os motivos, tudo. Publico hoje, porque me agora me sinto livre do peso das confissões que ela carrega, ela perdeu sua razão de ser. Mas não sua verdade e sua beleza. Por isso, merece estar aqui.
"SP, 07/01/2008
DR* é uma chatice, eu sei. Quando não tem mais o “R”, deixa de ser chatice para se tornar aberração, daquelas que nem Freud explica. Nossa, como eu e minha camarada Nadja Caroline Um Tanto Lispector Macabéa Charlie Brown rimos com isso. (Comprido o nome dela, né?)
Tudo isso só para dizer que eu queria muito explicar – ou tentar, que seja – as razões das reações esdrúxulas que eu tive com você nos últimos anos, o que aconteceu comigo internamente para eu surtar daquela maneira. Mas sabe o que é? Eu não acho justo com você e não conserta nada. Mesmo assim, a minha necessidade de palavrório inútil não passa. Coisa de maluco isso.
Sinto saudade, também. Já devo ter falado isso para você da maneira mais casual possível, para não assustá-lo. Porque esta saudade que sinto é muito grande, não cabe em mim direito. Tanto que demorou meses para eu entender (ou admitir) que era exatamente isso que sentia/sinto. Saudade. De teclar com você todos os dias. De chamar você de Chuchu, ou Chu. De deixar que você me chamasse assim. Do seu jeito avoado. (Porra! Olha só a minha melancolia. Logo eu, que acho que você merece o total oposto, uma alegria leve e descompromissada. Você merece ser absurdamente feliz, já disse isso? :) )
Já disse para você tanta coisa sobre amor, culpa e perdão, mas nunca falei em vergonha. As atitudes imaturas que tomei me fizeram sentir muita vergonha. Ainda fazem, é lógico. Tanto que travo os quatro pneus só de pensar em procurar você. T-R-A-V-0. Simplesmente. Mesmo sabendo que você não daria o troco. Não é de você que eu sinto medo. É de me expor. Se eu comparo a minha atitude com as suas, minha vergonha triplica. Acompanhei, mesmo à distância, as adversidades que você enfrentou nos últimos anos, e vi você fazer isso com muita dignidade, muita força. Eu disse inúmeras vezes que gosto de você, que você é querido, mas nunca disse que o admiro. Sempre gostei de enfatizar os seus defeitos, mas nunca disse que as suas qualidades tem faltado para muita gente. Fico feliz em saber que o garoto que eu conheci se tornou um cara bacana, do bem.
A DR alongou-se por demais, justamente o que eu não queria. Por favor, entenda. Fiquei um tempo considerável sem admitir essas questões sequer para mim mesma, o que dirá confessá-las todas a você. Isto se você chegar a ler essa pataquada toda. Suspeito que essa carta seja da espécie das “inentregáveis”, daquelas que a gente faz para nós mesmos. Como se fosse um espelho, talvez. Ou uma punheta, quem sabe.
Ternura. Entendi o significado desta palavra, vendo o quanto eu te quero bem, sem aquela afetação de 'Eu te amos' e coisa e tal. E tem sido assim, e como é bom. Tenho o maior carinho por você, pela nossa história, e por tudo que ela nos ensinou. Espero encontrar você em ocasiões mais alegres.
With terderness,
Flávia.

PS.: DR – discutir relação. Aquele vício chatérrimo que algumas mulheres (como eu) carregam. Mas eu sigo firme no meu tratamento de desintoxicação."

domingo, 30 de março de 2008

Até o último minuto de Sol

Tenho vocação para a felicidade. Não é por nada, mas sou boa nisso. Fico pensando no último sábado de aleluia, quando enfim consegui viajar um pouco depois de passar férias de molho em casa. Eu literalmente esperei até o minuto de Sol pra me convencer que o dia tinha acabado para me render e ir para o quarto.
Desde que me entendo por gente tenho esta gulodice pela vida, lambendo a tampa do iogurte e o papel que embala o chocolate, só saindo do banho com os dedos enrugados, indo embora da festa quando começam a varrer o salão, dançando até a última música.
É bem verdade, fomos expulsos do paraíso. Depois dos últimos anos, não veremos mais a vida com a inocência malvada de outros tempos. Sabemos de fato agora: não somos indestrutíveis. A descoberta é recente e dá medo, é muito estranho começar a considerar a própria morte. Preciso considerar também que minha melancolia me diverte, e tem gente que vai entender a teoria da relatividade e não vai entender isso.
Neste final de semana, porém, que aproveito até o último minuto deste domingo mal dormido, eu comprovei que depois da expulsão do Paraíso, é possível descer pro play e ir brincar até se esfalfar. Foi exatamente o que eu fiz e mais um monte de gente, comemorando o aniversário do Tiozé numa santa gulodice, com amigos novos e antigos. Comprovei também a existência de uma invenção do teatro grego clássico, o deus-ex-machina. A reaproximação com uma pessoa mega-querida que eu estava ensaiando há meses aconteceu sem emendas no roteiro.
Isso sem contar a ida à Sala São Paulo com meus pais. Além do concerto em si, as histórias do meu pai no centro de São Paulo, os 'zóio verde' da Betona brilhando naquela sala é uma coisa Mastercard: não tem preço, rsrsrsrsrs.
E vai ser assim...até o último minuto de Sol.
Textículo jorrado em 30/03/2008

quarta-feira, 26 de março de 2008

Leu na Veja???? Azar o seu!

Hoje vou prestar um serviço de utilidade pública. Minhas bolas voltam para esquerda, se é que saíram de lá um dia¹.

Recebo a newsletter da excelente revista Caros Amigos, e vi que o entrevistado do mês era o jornalista Luís Nassif, que tem feito uma série de matérias intitulada Dossiê Veja, onde ele analisa os descalabros cometidos por essa revista semanal que é a de maior circulação do país. Eu já tinha recebido o link deste blog, mas não tinha lido ainda. Essa edição da Caros Amigos eu pre-ci-sa-va ter, tive que comprar.

Quando chego de viagem, amigo me conta que o site do Paulo Henrique Amorim foi inadvertidamente tirado do ar do Portal IG lá pelo dia 18 ou 19 deste mês. Segundo o portal, devido a "baixa audiência", sendo esta uma página que ganhou Prêmio Ibest. Além de tirar o site do ar, o jornalista teve que resgatar seus arquivos à base de liminar judicial. Como o próprio disse, é "como se a Veja queimasse todas as edições do Mino Carta, na ocasião de sua saída da revista." O novo site do jornalista não consegue ser captado por mecanismos de busca como o Oráculo Google, por exemplo. (A-há! Peguei o Oráculo outra vez. Ele não sabe tudo, crianças.) Na real, a saída do Conversa Afiada do IG foi o resultado de "limpeza ideológica" do portal, sem se fazerem de rogados, eliminando as críticas que PHA faz a quem jamais é criticado pela mídia gorda.

Curioso que estes dois jornalistas não se declaram 'de esquerda', tão somente dois profissionais de carreira sólida que se fundamentam nas críticas a uma mídia que simplesmente não atende ao propósito de informar corretamente, que se coloca absoluta nas suas visões. Um mínimo que se espera de uma democracia (já contei pra vocês que não acredito nisso?) é pluralismo de visões, de idéias, principalmente na mídia. E uma revista que já foi alguma coisa e hoje não passa de um tablóide com tiragem se propõe a ser a única visão, manchada até o rabo de conteúdo ideológico. Adoro quando o PHA chama a Veja de "A Última Flor do Fascio".

Como eu não sou um grande meio de comunicação em massa, não me faço de rogada para deitar e rolar aqui. É para mim mesma esta cambalhota e para os que me acompanham. Esta é a grande vantagem de ser O Blog Literário Mais Sem Audiência do Ciberespaço! Este textículo é para divulgar e apoiar o trabalho dos caras. E quem não gostou que leia a Veja.

Ps: Mesmo que seja este um Blog Mais Sem Audiência do Ciberespaço, eu faço literatura orgulhosa medíocre, depois do que aconteceu a PHA, temo pelos textículos, agora que deixei de ser engraçadinha ou poética. Vou fazer backup dos Textículos já! The Google is watching you.

quarta-feira, 19 de março de 2008

I am a youtubestar!

Imagino que quando o Glauber Rocha usou pela primeira vez a expressão "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", ele não tinha idéia de o quanto ele estava sendo profético. E não imaginou que este bordão seria desculpa para tamanho Festival de Bobagens. Em tempos de Youtube, Cinema Novo virou clichê de Hollywood.

Tenho minha participação nestes tempos de 'massificação do Cinema Novo', juntamente com a companheira de frias e enrascadas, Helga Weibfüder. A gente pretendia participar do Festival do Minuto com a nossa famigerada Dança do Acasalamento dos Flamingos Cor-de-rosa, então gravamos esta pérola em abril ou maio de 2005. Como a gente é o Bozo de Calça Amarela, não mandamos a joça do vídeo sei lá por qual razão.

Domingo último, Helga resolveu 'youtubar' nossas experimentações misturando Cinema Novo, as aulas de Expressão Corporal da Aninha totalmente viradas do avesso, os programas da National Geografic, nosso talento para tosquices e a boa vontade do Seu Thomas para filmar aquele Festival de Bobagens sem rir.

A tonta aqui ainda não consegue fazer uploads diretamente do Youtube, então mando o link. Aqui está a gênese da República dos Flamingos e o maior mico que se tem notícia, pago sem o auxílio de alcoól, drogas ou quaisquer entorpecentes.

Aqui, com um toque de Buster Keaton na edição...

http://br.youtube.com/watch?v=hayFMMdb9vs

Isto é só o começo. Flamingo Pictures se prepara para voôs maiores. Em breve, o lançamento de "Le Salsichon Obcessoire", uma revolucionária obra de Nouvelle Vague francesa, com influências de Peter Berlin, Animaniacs e os filmes russos com legenda em finlandês que só o Jorge é capaz de assistir. Em fase de pré-produção ainda, é duro ficar à parte do mainstream. Coming soon!


Por hoje é só, pessoal, é para mim mesma essa cambalhota. Quem quiser pode assistir, quem quiser que faça outra!


Textículo jorrado por Flaming00 em 19/03/2008

sexta-feira, 14 de março de 2008

Em defesa da Teoria da Jucicreide

Não, a Jucicreide não formulou teoria nenhuma, ela é o objeto de estudo em questão. Não, eu também não conheço Jucicreide alguma, nunca vi nem mais gorda. Também não se trata de nenhuma pesquisa sobre obesidade, o foco da Teoria da Jucicreide é o seu nome. Estou aqui para fazer coro à reivindicação de Bozolina Doe para que as pessoas batizem seus filhos com nomes e não com criativas invenções ridículas.

Não sei bem quando começou essa mania de querer ser original na hora de batizar seus filhos. Na minha cabeça, antigamente as pessoas se chamavam José, João, Maria, Joaquim, sei lá. Enfim, nomes para pessoas. Talvez meu pai, um anti-estadunidense nato, um caipira esclarecido, diga que isso começou com a invasão cultural norte-americana em nossas terras tupiniquins. Quando o primeiro "Clark Gable da Silva" foi registrado em algum cartório de um cu-de-judas qualquer deste país, a merda já estava feita.

Ao falar em nomes ridículos, é praticamente automático se pensar em casos esdrúxulos como o "Um Dois Três de Oliveira Quatro" e a "Maidenusa" - corruptela de "Made in USA", este último confirmando definitivamente as idéias do meu pai. É culpa dos americanos. Pau neles.Também tem aquela mania de juntar o nome do pai e da mãe, como se nome fosse uma coisa que se formasse a partir de um 24º par de cromossomos imaginários. O meu pai tem um 'causo' emblemático, perfeito para a ocasião. O pai se chamava Clementino, a mãe Creuza. Resolveram batizar o rebento com uma mistura dos nomes. Advinha o que deu? (Resposta no fim do textículo*)

Os nordestinos, coitados, levaram a má fama de ter mau gosto na hora de batizar os filhos. Eu, como filha de uma, protesto. Meu bisavô escolheu o nome de praticamente todos os netos, e nomes bonitos. Minha mãe se chama Elisabete (isso mesmo, grafado com "s" e "te" no final), minha tia se chama Cecília, um nome adorado por Bozoca. Minha avó se chamava Irene. Nomes de gente, nada de Jusivaldo, Estrongoberto ou Sinusvânia. Há também alguns nomes diferentinhos, a única Ediluze que eu conheço no mundo é a minha tia e madrinha. Mas nada se compara à Estufagnauer. Gente, este nome existe!

Imagino que esse modismo de escolher este festival de bobagens americanizado para nomes dos filhos começou justamente para fugir dos tradicionalíssimos Raimundo, Severino e Nonato. Para fugir do estigma de nome de porteiro, dá-lhe um "Michael Stepheen", mesmo sem saber pronunciar. Em vez de "Maria Aparecida", vamos de "Marylin Victoria". Nomes fortes, praticamente uma bordoada no lugar da certidão de nascimento. Como nem tudo na vida é perfeito, moda agora é por estes "nomes de velho" nos filhos. Angélica batizou seu primeiro filho como Joaquim. Palmas pra ela. Evitou mais um "Maicow Jordan de Souza" no mundo. (Definitivamente, não estou inventando. Tirei essa pérola de uma conversa com um cara que eu conheço, justificando o nome do filho, obviamente, cafona e mal-escolhido. Ele disse que só rico batiza os filhos com "nomes de velho", porque fica "pra eles é chique", mas que pobre precisa de 'nome forte', porque se chamar "Zé", tá ferrado, vira zé-ninguém. Ai, Céus, quanta bobagem.)

Então, de uma coisa todo mundo sabe, mesmo que às vezes de uma maneira meio torta: dar um nome a alguém é praticamente dar um destino. Nome é coisa séria. Por mais que digam que gosto não se discute, quando assunto é dar nome pra gente, assim, com cabeça, tronco e membros, há que se ter um mínimo de bom gosto e senso estético. Se você por um acaso tiver uma vontade louca de criar ou usar um nome estranho, que compre um cachorro ou faça como eu e batize seus objetos. Minhas mochilas, sempre da Risca e roxas, formaram uma dinastia de "Roxonildas". Meu violão se chama Astrogildo, e ele nunca reclamou. Meu primeiro celular se chamava Segismundo, em homenagem ao protagonista da peça de Calderón de La Barca.

Bozoca defende sua teoria sobre o tema com uma pergunta impagável, que de certa maneira batiza este Textículo: "Qual as reais chances de uma pessoa chamada Jucicreide ter um destino brilhante na vida? Praticamente zero." Pode até soar reacionário, sectário até. Mas não dá pra discordar de Bozolina Doe, tanto que me convenço cada dia mais que as pessoas tem que ter os nomes mais simples e comuns possíveis. Quando a República dos Flamingos dominar o mundo, vamos copiar Portugal. Lá as pessoas só podem ser batizadas com nomes que realmente existem numa lista, e somente pertencentes ao nosso vernáculo. Lá minha mãe se chamaria Isabel em vez de Elisabete, por exemplo, porque as versões estrangeiras dos nomes são proibidas. Elisabete ou Isabel dá praticamente na mesma, os dois são bonitos. O que eu queria ver se haveria este festival de "Stéphanies" que a gente vê por aí, se essa lei pegasse por aqui, já que a versão em português deste nome é "Estefânia". Du-vi-de-o-dó!

Além do Festival de Bobagens em forma de certidões de nascimento, a gente tem que agüentar também mil grafias diferentes e ridículas para os mais simples nomes, a ponto de esquecerem a grafia correta e original. "Caíque", por exemplo, já vi escrito de tudo quanto é jeito e nenhum coloca o acento que a palavra pede. Meu amigo Gazela sempre chia se escrevem seu nome com o "h" que a princípio não existe na palavra "Tiago". Detesto quando escrevem meu nome sem acento. "Flávia" é paroxítona terminada em ditongo e por isso, precisa ser acentuada. Forest odeia quando o chamam de Felipe, seu nome é com 'i', como está na Bíblia. Engraçado que a gente reclama, e parece que é a gente que está inventando. Eu, hein?

Meu pai também reclama dessa mania de o povo colocar o nome dos filhos com trocentos 'enes', não sei quantos mil 'ipsilón', mais não sei quantos "agás". É que pra escrever dá um trabalhão. Só que, quando o assunto é nome, Seu Teodoro também não é inocente. Queria me batizar como Dejanira! Já pensou eu com nome de marca de sandália? Minha sorte é que minha mãe não gostou nem um pouco e meu pai não resolveu fazer uma traquinagem com ela na hora de me registrar. E eu sou tão bozo que minha irmã mais velha tira troça de mim por causa de um nome que nem chegou a ser meu, imagina se fosse. Perdôo meu pai porque com o resto, ele acertou em cheio. Além de Flávia, temos Cristiane e Renata. Pensa só, a Cris nasceu no Natal. Em vez de Natália, poderia ser Natalina. Ai, que meda.


Por hoje, é só, pessoal! É pra mim mesma esta cambalhota. Quem quiser pode assistir, quem quiser que faça outra!


*Ah, antes que eu me esqueça. O resultado da mistura infeliz é "Cretino
".

segunda-feira, 10 de março de 2008

Explicação

A semana passada mereceria ser limada do calendário, caso isto fosse possível. Pudera, não teve a menor graça, mesmo com este Festival de Bobagens e Piadas Velhas que eu jorrei por aqui. Alilás, este Festival de Bobagens foi uma verdadeira vingança, uma retaliação a tanta merda concentrada. Ridendo Castigat Mores¹. E viva Gil Vicente.

Hoje, porém, o Textículo não será meu e sim do Amor da minha Vida, o Drummond. Só para que vocês saibam, meus leitores de Textículos, de onde vem meu slogan para posts toscos. O Chacrinha já dizia que nada se cria, tudo se copia, neste mundo de Piadas Velhas aos montes. Só que pego Piada Velha da maior qualidade, dá licença?


"Explicação²

Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem a sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo esta cambalhota.

Eu bem me entendo.
Não sou alegre, sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.

E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa comercial de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era.
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com esta tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que sou senão poeta?"

Por hoje é só, pessoal. Só que hoje, essa cambalhota é para todos!



1 - "Rindo se castiga os costumes". Altamente recomendável A Farsa de Inês Pereira. "Mais vale asno que me carregue que cavalo que me derrube!"
2 - A-há! Este aqui o Oráculo não achou e então digitei letrinha por letrinha. Agora ele tem. Palmas pros Textículos! (ANDRADE, Carlos Drummond. Reunião: 10 livros de poesia. 7ª Ed., Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1976, p. 27 - Alguma Poesia)

Textículo jorrado por Flaming00 em 10/03/2008

domingo, 9 de março de 2008

Com Licença Poética, um Festival de Bobagens

Olha só como piada velha ainda faz rir...Duvido que você, leitor de Textículos, não vá rir de pelo menos uma dessas piadinhas toscas.

Date: Sun, 9 Mar 2008 11:45:36 -0300
Subject: As peores do mundo...
From: Helga
To: Flaming00


Batman pegou seu bat-sapato social e seu bat-blazer.
Aonde ele foi?
A um Bat-zado... (dãã)
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Dois litros de leite atravessaram a rua e foram atropelados. Um morreu, o outro não, por quê? Por que um deles era Longa Vida...(puuutz)
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Por que o elefante não pega fogo?
Porque ele já é cinza (sem comentários)
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Se o cachorro tivesse religião,qual seria?
Cão-domblé(HAHAHA!)
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O que o cavalo foi fazer no orelhão?
Passar um trote... (eu quero morrer)
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O que dá o cruzamento de pão, queijo e um macaco?
X-panzé
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O que o tomate foi fazer no banco?
Foi tirar extrato...
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O que a galinha foi fazer na igreja?
Assistir a Missa do Galo. (agüenta aí, já tá acabando!)
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Como as enzimas se reproduzem?
Fica uma enzima da outra
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Por que a Coca-Cola e a Fanta se dão muito bem?
Porque se a Fanta quebra, a Coca-Cola!
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Por que não é bom guardar o quibe no freezer?
Porque lá dentro ele esfirra. (óóó!!!)
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Por que as plantas novinhas não falam?
Porque elas são mudinhas. ( argh...)
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Por que o galo canta de olhos fechados?
Porque ele já sabe a letra da música de cor (aveeee!!)
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Por que o Batman colocou obatmóvel no seguro?
Porque ele tem medo que robin (não, não...)
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Como o Batman faz para queabram a bat-caverna?
Ele bat-palma. (noooosssa, nunca tinha ouvido esta!)
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Como se faz omelete de chocolate?
Com ovos de páscoa!
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Por que na Argentina as vacas vivem olhando pro céu?
Porque tem "Boi nos Aires"! (essa ganhou...)
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Por que o Maradona não gosta que chamem ele de craque?
Porque ele prefere cocaína...
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Pra que servem óculos verdes?
Para verde perto...(acho que vou me matar)
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Para que servem óculos vermelhos?
Para vermelhor... (é séria a história do "vou me matar")
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Por que a mulher do Hulk divorciou-se dele?
Porque ela queria um homem mais maduro... (o que eu ainda estou fazendo aqui?)
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Por que o jacaré tirou o jacarezinho da escola?
Porque ele réptil de ano. (vai ter porrada, eu juro)
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Você sabe qual e o contrário de volátil?
Vem cá sobrinho. (tá bom, já acabou?)

Textículo jorrado por Flaming00 em 09/03/2008

sábado, 8 de março de 2008

Piadas Velhas, O Provocador e Eu*

Hoje, tive a honra de contar uma piada velha para o Abu e ele rebateu com uma provocação das boas, tanto que ainda estou sob os seus efeitos. A sorte do velhote (e minha) é que eu me deixo provocar, assim como ele - apenas com a vantagem de ter mais tempo de Provocação pela frente, ao passo que ele precisa passar adiante suas Provocações, antes que se tornem piadas irremediavalmente velhas.
Pode até ser que ele tenha pensado que eu tentei ser agradável contando o "causo" da Carmina Burana, mas não. É que eu não bato bem do pino mesmo. Como 2008 é o Ano do Bozo, eu tenho Licença Poética para o Festival de Bobagens. Era quase uma obrigação compartilhar da minha bozice com o Provocador.
O pai da Helga diz que não existem piadas velhas. As pessoas é que não as ouviram ainda. (Concordo com isso. As piadas de Dona Irene, por exemplo, não envelhecem nunca! E faço questão de manter a linhagem de velho-piadistas da família.) Hoje, porém, terei de discordar da Teoria da Relatividade Piadística do Seu Thomas, porque o Provocador logrou êxito. Tomada por essa Provocação toda, voltei para casa pensando no Arsenal de Piadas Velhas que povoam a minha vida, mas que ainda assim, me fazem rir.
Ouvir quase todo dia a trilha sonora d´A Gata Comeu é piada velha, assim como os rockers de jacão de couro e cigarro no canto da boca, rodopiando suas garotas de saia godê. Renato Russo e Cazuza são piadas velhas. Aquele bando de barbudos sem banho bradando "É preciso instaurar a Ditadura do Proletariado!!!", também. Dançar Frenéticas na festa do Paulo no Copan no último domingo é mais velho que andar pra frente. A nossa geração 80 é inteirinha piada envelhecida em barris de carvalho. Pudera, nascemos na "Década Perdida"!
Filhos da Revolução (de qual delas eu não nem sei mais), nascemos com saudades dos anos 60, até da repressão. Ah, os presos, torturados, exilados e até os desaparecidos é que foram felizes! Eles tinham uma ideologia para viver!
Tenho a impressão de que a gente cresceu com a idéia de que não era necessário lutar por mais nada. Com esta democracia instantânea (basta adicionar água e pronto), lutar por qual causa? Tantas vezes acreditei nessa piada velha, mesmo sem achar graça. Enganada redondamente, é claro. As coisas não vão nada bem, este século XXI está sendo uma grandissíssima merda, por motivos vários que renderiam um novo Textículo.
Cheguei à conclusão que a única piada nova digna de nota que o século XXI gerou foi a Amy Winehouse, e só faz rir porque tem cara de piada velha. Seu visual retrô totalmente irreal, aquela cabelereira gigantesca; seus conflitos, suas composições desesperançadas, até seus vícios, têm sido uma antítese do policamente correto absolutamente odioso e falso do nosso tempo. Ela me faz acreditar que temos salvação, ou melhor, que ela não virá. Se vier, também, não estamos nem aí pra ela. "They tried to make me go to rehab, I say no, no, no!"
*Este Textículo seria para quinta-feira, mas como este foi um dia que não teve graça nenhuma, não fazia o menor sentido falar de Piadas Velhas. Seu prazo de validade, porém, é intedeterminado. Podem ser consumidas sem vão receio.

Textículo jorrado por Flaming00 em 06/07/2008

quinta-feira, 6 de março de 2008

Isso não tem graça nenhuma

Mais uma estatística e notícias sangrentas aos montes na internet, rádio, jornais e TV. Antes de tudo isso, ele era só o pai do Raul. Isso não graça nenhuma.

terça-feira, 4 de março de 2008

2008 é o Ano do Bozo

O prazer de reclamar é da Helga¹, mas hoje é a minha vez. Eu sou o Bozo. O Bozo de Calça Amarela. Nunca vi alguém com tanto talento pra fazer merda como eu. Vai dar briga se alguém quiser medir forças comigo hoje.

Última quinta-feira, 19h30. Istituto Italiano di Cultura. Helga e eu fomos até lá, assistir a uma aula-espetáculo de Commedia Dell´Arte com um ator italiano mais o Joca Andreazza. O ator italiano em questão, nas palavras de Helga, era "inteligente (e gostoso), sabia horrores do assunto (e gostoso), bonito (e gostoso), além do que era engraçado (e gostoso)." Sem contar que usava umas argolas nas duas orelhas que atiçava meus instintos mais sacanas. Coloquei na minha cabeça que eu pre-ci-so de um italiano daqueles. Alguém me indica um bom curso de italiano, pra eu me mandar pra Veneza logo?

Pois bem, todo mundo à minha volta foi obrigado a me aguentar falando dia e noite, noite e dia, daquele fetuccine, dá até raiva. Um homem daqueles não dá pra ficar só olhando. Eu nem me lembrava do nome do cabra, constava no e-mail que eu recebi da Gabi (Rabelo), mas era difícil até prestar atenção com tanta sacanagem na cabeça, quanto mais lembrar o nome dele que estava no e-mail. Mais tarde, resgatei o tal e-mail perdido e o nome daquela lasanha estava lá: Alvise Camozzi. Perguntei ao Oráculo quem ele era. Não achei muita coisa, mas como Helga é mais competente para questões de ordem prática que eu, ela achou alguns links interessantes e me passou. O currículo dele é assim, pouca coisa, sabe? Encenou Tchecov, Wilde, Shakespeare, Pirandello, só, além de usar umas argolas que atiça meus instintos mais sacanas.

No final da aula-espetáculo, ele convidou a todos para uma peça que seria encenado no Memorial da América Latina hoje, em italiano. "Ah, eu vou", falei pra Helga. "Mas eu tenho sapateado", retrucou ela. "Ah, azar o seu, eu vou!"

Hoje, por volta das 16h00. Os alunos foram dispensados às 15h30 devido à falta de água na escola. Antes de ir, dou uma conferida na Internet. Recebo uma mensagem de uma amiga lembrando que hoje teria Teatro nas Universidades na faculdade hoje. "Puta merda, eu tinha esquecido" e saí que nem uma louca pra casa. Helga tinha me dado o convite na quinta-feira. Fui pra faculdade, fiquei enrolando no coral, entrei na fila, liguei umas quinhentas vezes pra Helga que não atendia o celular, preenchi o ingresso, olhei pra ele e...não era pra hoje, e sim amanhã! Saí da fila e fui indo pra casa. Dentro do ônibus, Helga me liga. "Você não vem pra cá, doida?". "Pra cá onde???" "Putz, pro Memorial e o Fetuccine tá aqui na minha frente, acompanhado."

"O quê??????????" Dei um grito no telefone, o ônibus todo olhou para mim. Não pela Lasanha estar acompanhada, porque um homem bonito daqueles não poderia estar sozinho mesmo. Era porque já era 10 pras 7 e a peça começaria às sete, e eu já estava já chegando em casa.

Nestas linhas está concentrado todo meu talento pra fazer merda, provando toda minha inaptidão para a vida prática. A agenda tinha ficado na escola, onde estava tudo anotado. Sem contar as bozices de ontem, de anteontem, da minha vida inteira. Ninguém é mais bozo do que eu hoje, nem a Bozolina. E 2008 é o Ano do Bozo.

Puta merda, até parece zica dessa alemã dona de puteiro. Por alguns segundos, odiei Helga. Mas que diabos ela tinha que ter me ligado dez minutos antes????


Por hoje é só, pessoal. É para mim mesma esta cambalhota. Quem quiser pode assistir, quem quiser que faça outra.



1 - http://oprazerdereclamar.wordpress.com/ . Recomendo em particular o último post, desconcertante com tanta poesia e franqueza. E eu adoro a Helga.



Textículo jorrado por Flaming00 em 04/03/2008