“Uma árvore que cai faz mais barulho
do que uma floresta que cresce.”
O
texto “Por uma Educação Menor”, de Silvio Gallo, foi um dos presentes que
recebi enquanto realizava a pesquisa de mestrado. Ele apresenta três conceitos
que são fundamentais para resistir e continuar promovendo uma educação
transformadora, mesmo em tempos tão sombrios como os nossos: educação maior, educação menor e professor militante. Em suma, educação maior é aquela dos referenciais
curriculares, das avaliações externas, das metas que reduzem o complexo
universo das comunidades escolares em números desconectados da(s) realidade(s).
Educação menor seria a educação
possível, aquela que efetivamente acontece nas salas de aula, no contato direto
com a realidade, entre as pessoas que compartilham desse mesmo universo. Professor militante é aquele que realiza
seu trabalho assumindo seu caráter minoritário perante a Educação Maior, aquele
que “cava seu buraco, com a alegria de um cão”.
Ontem vimos muitos buracos, cavados por muitos cães. E esses
buracos formam túneis, que se interligam e formam uma rede, um labirinto. É um
incrível mundo subterrâneo, que nem o País das Maravilhas poderia fazer frente
a um lugar tão fabuloso.
Em
verdade, o que presenciamos na entrega do Prêmio Paulo Freire de Educação
Municipal é apenas um recorte desse universo. Há mais que 80 cães ou 80
buracos. Somos muito mais, resistindo criativamente - trabalhando nas
ausências, nas carências, nas fendas, nas fissuras que a Educação Maior deixa
escapar. Isso mostra que não há neste mundo carrocinha que nos faça parar de
viver com o focinho enfiado na terra, cavando e desenterrando tesouros, e o
rabo abanando lá em cima, felizões da vida.
Faltou você, Carmen |
O
CIEJA Prof.ª Rose Mary Frasson foi representado pelo projeto “Múltiplas
Linguagens e Direitos Humanos”, coordenado pelas professoras Carmen (Artes),
Cris (Português) e eu. O PMLDH também fez parte da pesquisa que realizei no mestrado
em Artes pela UNESP entre 2015 e 2017, que resultou na dissertação “Corpoarte:
Felicidade e Resistência”. O PMLDH também fez parte da edição de 2016 do
Projeto Apoema, que existe desde 2010 e é parte importante da nossa proposta pedagógica
e do nosso currículo.
Dá
para perceber a importância de tudo isso, gente? Não de concorrer, ou de ganhar
o prêmio, mas sim de vermos e sermos vistos. De perceber, que mesmo com tantas
investidas contra uma educação pública e de qualidade, existimos e resistimos.
Ocupamos os terrenos baldios próximos às escolas, e o lugar que antes só
abrigava lixo e ratos, passa a abrigar cultura, feita por nós e para nós. Gritamos
nossas dores e alegrias com poesia. Vestimos nossos cocares, nosso batom e
salto para mostramos que a EJA existe, LGBTQ´s existem, as comunidades indígenas
existem em São Paulo.
Em
meio a tantos ataques e retrocessos na Educação Maior – Escola Sem Partido, DEforma
do Ensino Médio, retirada dos conteúdos relacionados a gênero e sexualidade no
Plano Municipal de Educação, entre outros tantos e lamentáveis absurdos – saber
de tantas iniciativas exitosas e bem fundamentadas me causa uma alegria imensa.
Ao ouvir, neste mundo subterrâneo, uma floresta crescendo, silenciosamente.