Presenciei o exato momento em que uma folha caiu da árvore e tocou o asfalto. Em uma época nem tão remota, eu e meus colegas de classe ficávamos na hora da saída no pátio externo da escola, apostando quem conseguia pegar as flores que caiam antes de tocar o chão.
E fiquei pensando no acaso. Por toda minha vida escutei que nada ocorre por acaso e que uma folha não cai de uma árvore sem que Deus permita. Esta visão fatalista influenciou a minha vida inteira. Eu sinceramente pensava a vida como um roteiro de filme, como se ela fosse assim, estética e arquitetada.
Apenas hoje vejo como tudo isso é uma grande bobagem. Somos frutos do acaso, nascemos por acaso. Por acaso era aquele óvulo, por acaso era aquele espermatozóide. Por acaso nasceu de proveta, por acaso foi clonado.
Crer que tudo é por acaso para mim é tão fatalista quanto crer que nada é por acaso. O ser humano não se conforma com isso. E tenta dominar a própria vida. Gente assim é realmente admirável, também não dá para esperar banda passar o tempo todo. Mas é preciso ter em mente que estamos só minimizando riscos e a desconfortável sensação de sermos marionetes do Destino... Aliás, isto existe?
Há algumas ocasiões em que tudo se encaixa tão perfeitamente que até parece que a vida é mesmo um roteiro arquitetado, como se fôssemos mesmo predestinados. Besteira, a gente corre atrás das experiências que precisa viver, mesmo que inconscientemente. E quando acontece, pensa-se no acaso ou no destino e não é nem uma coisa nem outra, é o anti-acaso. Quem procura, acha, oras. O ser humano tem essa necessidade de buscar sentido na vida, mas colocar essa tarefa a cargo de um destino que talvez nem exista, é fria.
Sou completa vítima do acaso. O acaso impera, o caos reina.
*Crédito da imagem: cena de Anticristo, de Lars Von Trier.