Ultimamente tenho me voltado à cena nordestina da Música Brasileira. Nos ensaios da nossa banda praticamente inbatizável, temos falado muito do Mangue Beat, Nação Zumbi, Chico Science, essa coisa toda. Só que nessa semana que passou, eu descobri o blog do sujeito mais jóia saído de Fortaleza*, que me mata de rir toda vez que dá o ar de sua graça: Falcão.
Tudo tem história, então vamos lá. Primeiro eu me lembro desse sujeito cantando "I´m not dog no", versão em inglês macarrônico de "Eu Não Sou Cachorro Não", de Waldick Soriano, mestre do brega brasileiro, que morreu nesses dias (por causa disso achei o link pro blog falconesco na UOL). Depois, me vem a mente a última vez que fui "pras Paraíba" com a minha mãe, em 1995, quando minha prima me contou que o obscuro Falcão em São Paulo (mesmo daquele tamanho e com aquela indumentária minimalista só dele) fazia o parte do top10 das paradas das rádios FM de João Pessoa e me apresentou outras pérolas do repertório desse ser. Uau.
Já em 2004, no primeiro semestre da faculdade, descobri um fã de Falcão na minha sala, o igualmente pequenino Minduim (que cai na risada toda vez que eu o mando sifu). Peguei um CD* emprestado do cabra, porque eu me lembrei do que minha prima tinha me dito e fiquei curiosa pra conhecer a obra deste gênio incompreendido. Eu chego em casa e conto a novidade e meu pai "Falcão, filha?????", desacreditado que a ex-estudante de violão erudito tinha pego emprestado pra escutar. Ele também quis ouvir e teve acessos de risos - nisso eu puxei 'Seu Teodoro', que adora uma piadinha - e não tirou o CD do som enquanto esteve de férias do trabalho. (O feitiço virou contra o feiticeiro. Eu também estava de férias nessa época. Ouvi Falcão até o uc fazer bico.)
Tirando toda a gozação dessa história, o cara é crânio sim. Arquiteto de formação e de um humor finérrimo, pisa no calo de meio mundo, muito mais que muita bandinha punk de protesto que tem por aí aos montes. Por isso, vou com as fuças desse sujeito. Ridendo castigate moris*. E tenho dito.
O que prova o que estou dizendo por a-mais-bê, é o caso clássico da versão falconiana de Another Brick in The Wall, do Pink Floyd, com a letra de Atirei o Pau no Gato, canção censurada pelo PETA do folclore brasileiro. Ele conta que a gravadora dele pediu autorização para Roger Waters para liberar as música para gravação e descobre que "este corno não libera nenhuma de suas músicas". Sobre essa atitude pouco artística de Waters, Falcão foi categórico: "Não vou ceder nenhuma música minha para o Pink Floyd também!" Lei de Talião* neles.
Recomendo ler este post do blog, onde ele conta essa história bem melhor do que eu, mas eu vou colar aqui a tradução de Atirei o Pau no Gato que ele mandou pro Waters, na tentativa de convencer o mano...
Shoot the wood in the cat
But the cat not died
Mrs. Chica appreciated
Of the meow that cat gave
Hey, Chica! Leave the cat in peace.
No let's go traumatize the pitiful animal
I only play the wood in the beast, for listen the meow!
But the cat not died
Mrs. Chica appreciated
Of the meow that cat gave
Hey, Chica! Leave the cat in peace.
No let's go traumatize the pitiful animal
I only play the wood in the beast, for listen the meow!
... Que dispensa qualquer comentário. Se o leitor de textículos não gostar desse nicho jocoso da música brasileira, mesmo que ache Música Brasileira é só Bossa Nova* e MPB, ou nem isso, no mínimo vai dar boas risadas ao ler o blog deste galã bufônico. Vocês sabem, é muito raro eu gostar de Blogs (só gosto mesmo do meu, do Forrest, e o da Bozoca quando escreve), então pra eu recomendar, é porque é jóia. E féxion como o dono.
Notas 'inútieis' fora de ordem:
1 - Quem não entender o dialeto cearês em que o cantor escreve, recomendo meu textículo Léxico Nordestino, onde há endereços dos Dicionários de Pernambuquês e Cearês na rede.
2 - O CD que eu trouxe pra casa e que quase mata meu velho de rir foi o "A um passo da MPB", de 1997 e produzido por nada menos que Robertinho do Recife.
3 - Rindo se castiga os costumes. Frase de um dramaturgo zé-ruela chamado Gil Vicente, já citado por aqui.
4 - "Olho por olho e dente por dente". Esta é a Lei de Talião.
5 - É o que estou ouvindo agora-now-neste instante. O mundo é mesmo estranho.
6 - Por que a dor-de-cotovelo do Chico Buarque é chique e a do Waldick Soriano é brega? Porque o Falcão é espalhafatoso e Jimi Hendrix é "psicodélico"? É essa pergunta que motivou este textículo. I´m not dog no!