Para pessoas que se relacionam e se deixam transformar
Foi-me perguntado qual era a coisa mais legal do mundo. Chocolate? Montanha-russa? Praia em dia de calor? Dançar um rock n´roll? Um coelhinho fofo?
Foi-me perguntado qual era a coisa mais legal do mundo. Chocolate? Montanha-russa? Praia em dia de calor? Dançar um rock n´roll? Um coelhinho fofo?
Tudo isso é muito bom, mas não
sei se uma destas isolada pode ser A coisa mais legal do mundo. E também
acredito que coloca-las em um ranking seria bem imbecil, porque a categoria “coisa
mais legal do mundo” não dá conta da diversidade de sensações que todas essas
coisas podem nos causar e também não considera que uma mesma coisa - destas que
citei e as muitas outras que ignorei - podem ser incríveis para uns e
torturantes para outros.
É por isso que fujo de perguntas
totalizantes como esta. Tentar respondê-las da mesma maneira me aflige.
Entretanto, o exercício da reflexão pode subverter este jogo – de um pergunta
totalizante, não virá uma resposta totalizante, sequer pode vir uma resposta. O
que é interessante é que eu cheguei a uma resposta, não em caráter definitivo,
mas que para o momento me parece boa.
A coisa mais legal do mundo é o afeto,
mais especificamente a capacidade de oferecê-lo a outras pessoas. Não falo de
sentimento, que para mim é uma categoria que já caiu de podre. É só um juízo de
valor previamente estabelecido, que cada vez menos corresponde à (minha) realidade
e ao colorido das relações. Falo da nossa própria capacidade de gostar das
pessoas. É o que me deixa imensamente feliz, me faz gostar da vida com suas
montanhas-russas, chocolates, e praias em dias ensolarados.
Gosto também da solidão.
Inclusive cada vez suspeito mais de relacionamentos, de todas as ordens - entre
amigos, casais, pais e filhos - com gente que não se desgruda. Soa falso para
mim, principalmente depois de ver relação e afeto onde de fato havia só
conveniência, e pior: temporária. Tudo bem com os hiatos. Tudo bem com os
interesses divergentes. Tudo bem com o tempo escasso que a gente precisa desafiar
para estar com gente querida, para não ficar só demais.
Triste é que nem todo mundo
entende este afeto, que sendo maleável e resistente, é capaz de preencher
fissuras com delicadeza. Eu não consigo suportar esta ignorância, já suportei
por tempo demais e quase quebrei com isso. Não tenho tempo para essa gente, que
hoje em dia, corto da vida sem delongas e sem meios-termos. Do mesmo jeito que
minha avó matava galinhas para o almoço: somente um corte seco.
Viver o afeto assim, descolado de
jogos pré-estabelecidos, contratos, moedas de troca, matou um pouco da minha
carência, que agora só aparece quando me lembro desta ignorância afetiva que
citei no parágrafo anterior. É simples, mas ao mesmo tempo demanda coragem.
Viver assim é uma opção radical, mas francamente, não vejo outra. Nem sempre
acerto, mas minha própria capacidade de amar me completa.