Faz tempo, mas vou tirar o atraso da série do Poéticas. A líder do bando gostou do último textículo, então não vou largar para lá a ideia de texticular com os encontros do Poéticas.
No feriado de 21 abril, fomos assistir ao espetáculo (performance?) Kikar, do coreógrafo israelense Nir de Wolff.
Não sabia quase nada a respeito sobre Nir de Wolff e sua companhia, a Total Brutal. Por isso fiquei bem satisfeita ao perceber que consegui juntar o lé com cré do processo de criação com o que é visto em cena - parte do trabalho do arte-educador é este, sabe? As características do trabalho do coreógrafo citadas na reportagem do Metrópolis (que só assisti agora para escrever este textículo retardatário) ficam evidentes na performance: o resultado é carregado - por vezes incômodo - visceral, poético.
Quando a fome surge retorcendo o estômago e a alma, não se vê mais nada na frente. Kikar significa algo como praça em hebraico, lugar público, ponto de encontro. E o espetáculo é um encontro de várias fomes - saudade, carência, desejos, necessidades - transita por todas elas, torna-as públicas, expõe a dor da ausência. Este para mim é o maior incômodo de Kikar: confrontar-se com a própria fome. Não é possível que não se tenha nenhuma: se você está vivo, está faminto.
Enquanto não se mata a fome, a gente saliva sonhando com a hora do banquete. A condição humana passa por este território nebuloso, onírico. O sonho é uma realidade em si mesma, não é somente um porvir. Sweet Dreams are made of this. Who am I to disagree? Eu que não me atrevo, que vivo com o estômago roncando.
É para todos os parceiros e parceiras do Poéticas esta cambalhota faminta! Everybody is looking for something. Quando eu encontrar eu aviso.