quinta-feira, 21 de abril de 2011

Não tem graça nenhuma, Dooley

Está ficando chato essa história de trazer para os TM impressões minhas sobre o mundo exterior. É tudo tão igual, tão previsível que fico condenada à repetição de mim mesma. O Massacre do Realengo, como atração para o Império Romano, virou histeria coletiva sem um mínimo de reflexão. 

Colocar este assunto como pauta do dia com a molecada foi minha reação quase imediata, tentando dizer justamente isso: passado o susto, é preciso dissecar o que aconteceu, quem sabe possamos evitar. Só espero que eu não tenha caído para o discurso moralizante ou demagógico, e eu bem me conheço, é bem capaz que isso tenha acontecido. Tenho uma queda para o clichê piegas.(Acho até que funcionou, sem a pretensão de acabar com todos os casos de bullying da escola. Este assunto causou discussões inflamadas em algumas turmas, o que considerei bom sinal.)

Se há neste largo mundo mais leitores de textículos que sejam professores preocupados com esta questão do bullying - que definitivamente está sendo tratada como "carne de vaca" pelo PIG brasileiro - tenho duas singelas sugestões para alimentar uma discussão fundamentada sobre o assunto em sala de aula.

Uma é o documentário Tiros em Columbine, do Michael Moore, rodado em 2002. Não é exatamente uma novidade, pois este filme teve bastante projeção à época, ganhando até um Oscar. Assistir de novo, anos depois, só confirma que o estilão contestador e sarcástico do Moore presta grande serviço àquela nação de gente com cérebro de ameba autointitulada América. Só Borat escrachou melhor.

A outra é o livro Bullying: Mentes perigosas nas escolas (Fontanar), da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. Eu já tinha encomendado o livro e chegou bem na semana passada. Serve para todos: estudantes, pais, professores, gestores, porque ela esclarece bem todos os ângulos da questão e ajuda a entender. Devia ser bibliografia obrigatória para todo mundo que está envolvido na educação de crianças e adolescentes em geral. Aqui está sua entrevista no Roda Viva de alguns meses atrás,  ainda no formato antigo do programa.

Bullying é um assunto que sempre me incomodou bastante, então é bem provável que eu volte a falar nisso, mas não agora. Já temos farto material inútil na grande mídia para saciar um público sedento por sangue - ou nem tanto, mas mesmo assim o sangue é oferecido. Essa notícia mostra bem onde foi parar a "liberdade de imprensa" tão sonhada por quem viveu tempos de repressão. 

Ô séculozinho XXI de merda esse que estamos vivendo. 

Ah! E no dia 20 de abril, data em que comecei a jorrar este textículo, completaram-se 12 anos do Massacre em Columbine e ainda morrem pessoas inocentes pelos mesmos motivos. Não tem graça nenhuma, Dooley. 




quinta-feira, 7 de abril de 2011

Columbine à brasileira


Não sei se há algo novo a dizer sobre o que aconteceu hoje na escola do bairro do Realengo, no Rio de Janeiro. Toda a sorte de bobagens e coisas sensatas já foram ditas a respeito.
Primeiro pensamento que me veio a mente quando soube: é um Columbine à brasileira. Pavorosamente, uma carnificina deste porte não é mais novidade para nós. 

Então, eu dei um tempo, fiz o que eu tinha de fazer e só agora, à noite, fui me informar o melhor que eu podia sobre o acontecido, tentando evitar distorções e informações desencontradas. Para se ter uma ideia de como o PIG viaja na maionese em busca da tal da "notícia em tempo real", a primeira notícia que eu li, já retirada do ar, dizia que o assassino em questão era um fundamentalista islâmico. (Que absurdo, meu Deus. Só faltam agora responsabilizar o mundo árabe pelos terremotos do Japão...)

Não sou dada à manifestações emotivas ou afetadas frente à tragédias coletivas, mas dessa vez eu chorei. E queria ter ainda mais lágrimas para chorar a morte dessas crianças e a miséria da alma deste louco que fez isso. O que me deixa mais triste é que eu tive que provocar esse choro, como alguém que coloca o dedo na garganta para vomitar. "Isto não pode se tornar algo normal, a gente não pode se acostumar", eu pensava.

E fica o alerta: este cara foi vítima de bullying na escola. Não sou profeta, nem gênio, nem guru, mas o que eu disse no último textículo? Uma hora essas vítimas podem reagir, de uma hora para outra, anos depois, décadas depois. Boomerang blues, baby.

Este massacre pode ser chamado de carnificina, cenário de guerra, do que quiserem, menos de tragédia. Tragédia é teoria do caos, imponderável e imprevisível. Agora este banho de sangue foi forjado durante anos a fio, sem ninguém perceber. A única coisa imprevisível é quando isto aconteceria. Foi hoje.

Agnus Dei, qui tolis pecata mundi, miserere nobis,
Agnus Dei, qui tolis pecata mundi, miserere nobis,
Agnus Dei, qui tolis pecata mundi, dona nobis pacem.