domingo, 15 de agosto de 2010

Urbana Legio Omnia Vincit

Dedicado à minha irmã Renata

1980 e alguma coisa, com 5 ou 6 anos, uma música tocava na rádio e frases soltas ficavam ecoando, dançando na minha mente. Falava de pais, filhos, de amar sem amanhã. Não consigo precisar quanto tempo isso me consumiu, mas eu já estava impressionada com a letra e nem sabia disso.

Anos depois, a professora de português da 8ª série leva logo esta música para a gente analisar! Professora Miyoko, gente boníssima, me emprestou o CD, a essa altura eu já era fã da banda. No ônibus, lendo o encarte, um garoto mais ou menos da mesma idade me aborda: "Ei, você é fã de Legião?"

"Fã? Não. Doente. D-o-e-n-t-e!"

Ficamos amigos: ele tinha banda, eu escrevia. Dois roqueirinhos deslocados em salas lotadas de gente besta e insensível, cada um na sua escola, eu estudando no Derville, ele no Cedom. A gente passou a pegar o mesmo ônibus, depois, perdemos contato e nos reencontramos um ano depois, eu acho. Rolou uma paixonite aguda adolescente, lógico. Meio torta, enviesada. Como conseguir gostar de dois ao mesmo tempo? "Flávia, tô com medo. Longe de você, tenho medo de mim mesmo." Respondi: "Sete Cidades!" Foi o único beijo. "Se eu ao menos conseguisse me salvar, Lu... Não tenho como ser sua heroína..." Depois ele sumiu, como se tivesse sido somente uma viagem minha.

Meu Deus, são tantas lembranças!  Essa banda passou feito um rolo compressor pela minha vida, e sei que não sou a única. O dia em que o Renato morreu eu tenho inteiro na minha mente. Dois dias antes do meu aniversário de 14 anos, de manhã, eu tinha ido ao shopping escolher meu presente de aniversário, um tênis - em tempos de dureza extrema, usei até o bicho se desintegrar. Chegamos em casa, ouvi a notícia no rádio. "O quê??????" (Lembrem-se, ninguém sabia que ele estava doente.) Fui para escola de cara amarrada, o Gil, meu amigo, com a mesma cara. "Com tanta porcaria, morrer logo ele! Que merda!" Peguei o ônibus, mais que rápido para dar tempo de ver o Jornal Nacional. Só estava a Cris em casa, ela nem tinha se casado. No dia do meu aniversário, todo mundo aqui, até o padre legiãomaníaco que tinha acabado de chegar na paróquia. Todo mundo meio passado, cantamos Perfeição. Estranho, os bons morrem antes.

Durante a minha fase de perda de identidade, parei de ouvir Legião, sem deixar de gostar, claro. Voltei a ouvir em 2007, aninho desgraçado, cheio de perdas. E fui recuperar logo essa parte da minha vida! Comprei o primeiro álbum da Legião, o meu preferido, 10 conto nas Americanas. Sorvi no volume máximo, como sempre Dado, Bonfá e Renato recomendaram. O especial de TV Por Toda a Minha Vida do Renato também foi um marco na minha história, porque tomei consciência dos sonhos parados no meio do caminho, de que precisava voltar à minha essência, a ser aquilo que eu sempre gostei de ser. Para que ser certinha, se gosto da perturbação? Ver a Aninha, Chiquinho, Tio Nico e Seu Fernando partindo cedo demais aumentou meu desepero. Não temos tempo a perder. Se parar pra pensar, na verdade, não há. Ruuuuuuuuuuuuuuun, Forrest, ruuuuuuuuuuuuun! Não cheguei, mas tô correndo.



Semana passada, Gazela chamou a gente para assistir ao monólogo Renato Russo, em cartaz desde 2006. Como gostei da atuação do Bruce Gomslevsky no especial de TV - ele não interpreta, praticamente recebe a entidade, além do que ele naturalmente se parece muito com o Renato -  fui achando que era tiro certeiro, como bala que já cheira a sangue. De fato, foi, mas ainda havia surpresas. As soluções cênicas para resumir em duas horas uma vida de 36 anos controversa, cheia de poesia, conflitos e descobertas foram brilhantes e a produção é irretocável.

Não é só nostalgia. Legião Urbana e Renato Russo não fazem parte do meu passado. Fazem parte do meu DNA, até o fundo do osso. Ver a peça só fez aumentar essa certeza.

I´ve got you under my skin, Renato. Always, always, always. Forever.

Urbana Legio Omnia Vincit!


Ps: Renata, essa é pra você, minha irmã: UrbanaLegio...GiovannaBaby????? Kkkkkkkkkkk...

sábado, 7 de agosto de 2010

Vênus de Milo



Expressionista

Eu distante,
Sou tão mais interessante
Quando à boca da noite
Você não me vê dormir.
Com este ronco barulhento,
que chega a ser nojento
De tão anti-estético que é.

Eu distante,
Tenho a pele bem mais macia
Quando me torno retrato na parede.
Muito mais quando minhas mãos,
Ásperas como o quê, tocam as suas.

Eu distante,
Consigo ser bem mais importante
Do que estas ideias toscas sobre a vida.

Eu, que não sou nenhuma Vênus de Milo,
Não tenho talento nem para ser estátua.
Por, favor, me toque.


Veja o resto da cena de The Dreamers aqui

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Caçando ideias

Não adianta tentar prender ideias
Como se fossem fugitivas da polícia.
Ideias são passarinhos.

Não é pasta de dente nem espinha
Que se espremer um pouquinho, sai.
Que se não desistir mais um tantinho, vai.

Deixa a ideia decantar!
Deixa a ideia cantar,
Deixa o ar entrar pelos buraquinhos
Neste chapéu de pensar.